18 julho 2008

ECO'S











Por Jorge Fernandes

No fim do sec. XIX e durante o XX, os direitos individuais foram as bandeiras políticas dos movimentos sociais e civis. Povos colonizados viram-se independentes; plebeus puderam escolher o seu “rei” pelo voto majoritário; escravos foram libertados; empregados tiveram direitos assegurados; mulheres engrossaram as fileiras do mercado de trabalho; consumidores ganharam leis que os protegessem; filas para idosos, gestantes... Um período onde o homem foi aparentemente beneficiado, onde obteve conquistas, e uma ilusória igualdade foi alardeada como vitória, o que, contudo, não passou de retórica.
A cada novo “triunfo”, outros se faziam necessários; e cada vez mais grupos de novos privilegiados subjugavam grupos de ex-privilegiados. Foi um período de lutas, de sangue, de gritos, de ruas pichadas, nervos à flor da pele... e ainda que alguns esforços fossem legítimos, houve muita injustiça.
Hoje, nada disso é passado! As antigas formas de mobilização persistem. Há os “paneleiros” em Buenos Aires, as prostitutas em São Paulo, os sem-teto em BH, e outras tantas reinvindicações espalhadas pelo Brasil e o mundo. Mas, nenhum movimento ganhou mais visibilidade e força em nossa época do que a “eco-panfletagem”. Existem mais "ong’s" no planeta em defesa da natureza do que, por exemplo, em prol das crianças abandonadas e famintas. A ecologia é a indústria político-social do novo milênio; substituindo a racial, a marxista-comunista, operária, indígena, feminista... Então, devemos nos engajar nessa nova causa? Ou ignorá-la?... O que a Bíblia fala acerca disso?
Paulo diz: “Porque sabemos que toda a criação geme e está juntamente com dores de parto até agora” [Rm 8.22]. Muito antes das ong’s, do greenpeace, e de toda a parafernália eco-militante, o apóstolo afirmava que a natureza sofria. Porque? “Na esperança de que também a mesma criatura será libertada da servidão da corrupção”; e, como nós, a natureza se aflige, dolorida, corrompida, aguardando “a liberdade da glória dos filhos de Deus” [(Rm 8.21].
A queda do homem no Éden trouxe o caos e a desordem ao universo. Adão, ao pecar, desobedeceu a Deus e, portanto, opôs-se à Sua santidade. O Deus santo não pode conviver com o pecado e nem com o pecador. Por isso, após criar todas as coisas, Deus aprovou-as, por estarem acabadas e refletire
m a Sua perfeição: “E viu Deus tudo quanto tinha feito, e eis que era muito bom” [Gn 1.31].
O homem foi criado em perfeição, à imagem e semelhança de Deus [Gn 1.27]; mas a rebeldia e a descrença o fizeram cair, e juntamente com ele, caiu toda a criação. A queda do homem significou a morte, a transitoriedade e o fim de tudo.
E como se deu?... Deus entregou ao homem e a mulher para alimento “toda a erva que dê semente, que está sobre a face de toda a terra; e toda a árvore, em que há fruto que dê semente” [Gn 1.29]; e “fez brotar da terra toda a árvore agradável à vista, e boa para comida” [Gn 2.9], e deu-lhas ao homem para delas comer livremente, menos uma: a árvore do conhecimento do bem e do mal; “porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás” [Gn 2. 16-17].
Igualmente, o Senhor proferiu que “a todo o animal da terra, e a toda a ave dos céus, e a todo o réptil da terra, em que há alma vivente, toda a erva verde será para mantimento; e assim foi” [Gn1.30]. Logo, tanto o homem quanto os animais alimentavam-se exclusivamente de ervas e frutos; eram todos herbívoros, e não havia carnívoros.
Deus ainda deu ao homem o poder de sujeitar e dominar sobre toda a criação [Gn 1.28]; ele era uma espécie de administrador, um zelador, ao qual tudo lhe foi submetido. Até esse momento, o sangue de animais não havia sido derramado; mas ao transgredir a ordem do Senhor e pecar [ao comer o fruto da árvore do bem e do mal (Gn 3.6)], o homem e a mulher viram-se nus, e para cobrir-lhes a nudez, Deus fez túnicas de peles de animais, significando que ocorrera a primeira morte no mundo [Gn 3.21].
A perfeição e o equilíbrio criados por Deus haviam-se rompido, e, a partir daquele momento, a criação sofreria as conseqüências danosas da transgressão de Adão [Gn 3.17].
Por isso, Paulo afirmou: “a criação ficou sujeita à vaidade, não por sua vontade, mas por causa do que a sujeitou” [Rm 8.20], e de que “a ardente expectação da criatura espera a manifestação dos filhos de Deus” [Rm 8.19]. O que o apóstolo quer nos dizer? Que apenas quando formos completamente restaurados, “a saber, a redenção do nosso corpo”, recebendo corpos glorificados como o do nosso Senhor Jesus Cristo, onde o pecado não mais habitará, e sermos santos como santo é o nosso Deus; nesse dia, a criação será redimida e não mais gemerá “com dores de parto”, pois, “Onde está, ó morte, o teu aguilhão? Onde está, ó inferno, a tua vitória? Ora, o aguilhão da morte é o pecado... Mas graças a Deus que nos dá a vitória por nosso Senhor Jesus Cristo” [1Co 15.55-57]. Somente Ele detém o poder de restaurar a ordem inicialmente rompida, e que existiu quando da criação do mundo: “Porque em esperança fomos salvos”; e, “nós, segundo a sua promessa [de Cristo], aguardamos novos céus e nova terra, em que habita a justiça” [Rm 8.24; 2Pe 3.13].
Ao contrário, o movimento pró-ecologia quer fazer da natureza um deus, assim como o marxismo quis fazer dos seus líderes deuses e o Estado o deus supremo, e cultuá-lo, e alçá-lo ao trono divino, intentando usurpar o lugar que jamais lhe pertenceu.
A natureza não quer assumir o lugar do Senhor, ela quer, como boa criação de Deus, servir-nos, cumprindo o propósito do Criador. E nós, cumpramos o nosso: de dar glórias somente a Deus, e, como servos, render-nos ao senhorio de Cristo nosso Senhor; entendendo que tanto o homem como o universo somente encontrarão a paz quando entrarem na plenitude da Sua glória, a qual durará por toda a eternidade, será infinita, e em gozo contínuo, “porque para mim tenho por certo que as aflições deste tempo presente não são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada” [Rm 8.18].
Portanto, não é o caso de se rejeitar ou aderir à causa ecológica [o que qualquer um pode fazer, ao aceitá-la ou não], nem ignorá-la, mas de esperar em Cristo, crendo na Sua justiça, a qual não se pode escolher, mas render-se.

14 julho 2008

HOUVE












Por Jorge Fernandes


Há carne,
E sentidos,
Há ferida,
E mortes
Há dor,
E repetições,
Há teimosia,
E ilusões,
Há vão,
E abismos,
Há imoralidade,
E anuências,
Há loucura,
E omissões,
Há sinistro,
E pretextos,
Há retórica,
E impassividades,
Há treva,
E armadilhas,
Há pecados,
E inferno,
Há cegos,
E coiós,
Há obstinados,
E insanos,
Há desertores,
E desgraçados,
Há caídos,
E condenados,
Há criminosos,
E culpados,
Haverá a eternidade,
E mais nenhuma chance,
Pois o passado,
Se houve.

10 julho 2008

COROA DA VIDA













Por Jorge Fernandes

A palavra de Deus é verdadeira, e nela está contida toda a verdade. Porque, então, temos tanta dificuldade em aceitar partes dela, e compreendermos que Deus nos deu a Sua revelação como um todo; e não para escolhermos apenas e tão somente o que nos agrada, ou melhor, somente o que nos satisfaz egoisticamente, e acomoda a nossa fé? E nos leva a uma vida confortável, sem compromisso, riscos ou percalços; ensimesmados em nós mesmos por falsas promessas e conceitos distorcidos? Que nos torna no pior tipo de fariseu, ou no melhor tipo de irresponsável e negligente, dito "cristão"?
Quando as provações vêem, qual a nossa reação? Murmurar e nos rebelar contra Deus? Imputar-lhE injustiça e fazer-nos de vítimas? Ou aproximar-nos obedientes e submissos do Seu trono, aceitando a Sua santa vontade, sabendo que estamos sob os cuidados de um Deus sábio e reto?
Ao ouvir-lhE a voz, e sermos chamados à conversão, a obra de Deus inicia-se em nós, e conduz-nos até o dia do Senhor: "tendo por certo isto mesmo, que aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até o dia de Jesus Cristo" [Fp 1.6]. Aceitando-O como Senhor e Salvador, adquirimos o passaporte que nos levará ao gozo eterno, numa viagem sem retorno; que, contudo, não está isenta de dificuldades, muitas vezes, dolorosas. Ainda assim, nada está à Sua revelia; em cuja soberania e perfeição Ele não se permite surpreender, nem se decepcionar, visto que todo o curso da história [inclusive a nossa história pessoal] encontra-se determinado eternamente por Seus decretos.
Não podemos ver a provação apenas como um castigo por algo que fizemos de errado, por causa do pecado ["Porque o Senhor corrige o que ama, e açoita a qualquer que recebe por filho" (Hb 12.6)]; mas devemos vê-la como um instrumento de Deus para a nossa santificação ["Segui a paz com todos, e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor" (Hb 12.14)], a qual nos levará à perfeição ["Para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra"(2Ti 3.17)]; e, portanto, sentirmos gozo nas aflições, a fim de perseverarmos, mantendo-nos firmes nas promessas do Senhor, mesmo quando tudo parece conspirar contra nós.
Assim Deus estará colocando em nós o caráter do Seu Filho Jesus Cristo, e nos fará semelhante a Ele. Como Paulo disse: "Em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados. Perseguidos, mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos; trazendo sempre por toda a parte a mortificação do Senhor Jesus no nosso corpo, para que a vida de Jesus se manifeste também nos nossos corpos" [2Co 4.8-10].
Devemos crer firmemente que Deus dirige a nossa vida, que Ele cuida de cada detalhe do nosso dia-a-dia, mesmo os aparentemente insignificantes, mesmo aqueles que sequer notamos. E assim, temos a confiança de que, ainda que sem entender, sabemos que Deus não nos abandona, e de "que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito" [Rom 8:28]. Se O amamos, somos obedientes, e submetemo-nos aos Seus desígnios. E teremos conforto na Sua palavra, a qual promete que Jesus nos dará a paz que o mundo não pode nos dar [João 14:27].
Portanto, sigamos firmes no Senhor, "que é poderoso para guardar o meu depósito até àquele dia" [2Ti 1.12]; entregando a nossa vida em confiança ao Deus eterno e santo, o qual nos purificará como o ouro é purificado pelo fogo [1 Pe 1.7], a fim de nos apresentarmos diante do Seu trono irrepreensíveis, aprovados em Cristo Jesus, "para uma herança incorruptível, incontaminável, e que não se pode murchar, guardada nos céus para nós" [1 Pe 1:4].; pois, "Bem-aventurado o homem que sofre a tentação; porque, quando for provado, receberá a coroa da vida, a qual o Senhor tem prometido aos que o amam" [Tg 1.12].

04 julho 2008

NÃO SEJA IGUAL AOS OUTROS












Por Jorge Fernandes Isah


Vi uma propaganda de um produto na internet em que a mensagem era exatamente esta: “Não seja igual aos outros”. Havia um apelo à diferença, ao não conformismo, a não se parecer ou ser uma repetição de outras pessoas.
No primeiro momento, pensei: “Puxa, é mais uma tentativa de se vender algo que não diferencia ninguém ou nada neste mundo... que pelo contrário, o fará parecido ou igual à maioria”. É claro que não somos inteiramente iguais, nem mesmo na família é possível encontrar pessoas idênticas. Não falo de clonagem, nem de uma massa de indivíduos fisionômica e psicologicamente análogos. Mas é que, cada vez mais os nossos comportamentos, gostos e vontades estão-se massificando. E a publicidade dos produtos, a fim de distingui-los, procura fisgar o consumidor com a idéia de exclusividade, ou quando muito, adentrá-lo a um grupo “seleto” de privilegiados.
Se o objetivo é conquistar o maior número de pessoas para a sua causa, consequentemente, um número maior delas se parecerá com outros adeptos catequizados pela mesma cartilha. No fundo, a idéia é vender, quanto mais a um maior número de pessoas, e nada melhor do que dizer que você é singular, e fazê-lo adquirir o produto como outros tantos milhões o farão, crendo no mesmo ardil.
É a prova do quanto há de insatisfação, pois, o que as sandálias da Gisele Bundchen ou a cerveja do “Zeca” ou o carrão do Kiefer Sutherland podem fazer para me transformar em alguém como eles? A Gisele é única não pelas sandálias. O Zeca, o Kiefer, idem. O que nos torna diferentes é exatamente a medida daquilo que Deus nos deu, e que deu a cada um. É possível que eu cante tão bem como o Chat Baker? Ou venda tantos softers como o Bill Gates? Ou componha como Bach? E jogue como o Cristiano Ronaldo? Talvez eu tenha até mesmo algumas das suas habilidades, talvez eles não tenham algumas das minhas; mas jamais serei eles, e vice-versa.
Deus deu a cada um [crente ou não] habilidades, dons e talentos que são exclusivos; não no sentido de únicos, de que apenas uma pessoa os possui, mas no sentido de que, no conjunto de nossas aptidões e características não há alguém como nós [é um milagre, visto que evidencia a nossa complexidade, e a impossibilidade de sermos apenas fruto do “acaso”]. E devo não apenas conformar-me, mas alegrar-me com aquilo que Ele me deu, sabendo que, segundo a Sua santa e reta vontade pode dar mais ou menos a quem Ele quiser.
O homem natural [e mesmo o crente] pode não se satisfazer com o que Deus lhe dotou, e cobiçar o que não lhe pertence, seja material, espiritual ou intelectual; incorrendo em pecado, pois, agindo assim, estamos dizendo que o Senhor errou ao não me capacitar como fez a outro. Isso vale para tudo, para todas as nossas insatisfações; e, devemos reconhecer que ao agir assim, estamos em flagrante oposição a Deus, que é perfeito, e não erra. Paulo afirmou: “Em tudo dai graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco” [1Tes 5.18].
Ao buscarmos ser como o outro, deixamos de encontrar em nós exatamente aquilo que Deus nos confiou, não para o nosso proveito próprio, mas para a Sua glória: “Portanto, quer comais quer bebais, ou façais outra qualquer coisa, fazei tudo para glória de Deus”[1Co 10.31].
Mas, em seguida, veio-me uma questão: “A Bíblia não afirma que devo ser como o meu Senhor Jesus Cristo?"... “Mas todos nós, com rosto descoberto, refletindo como um espelho a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor”[2Co 3.18]. Então percebi o quanto estava errado. E o quanto deveria anelar a conformidade do meu Senhor e Salvador, na expectação de um dia ser como Ele: “Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não é manifestado o que havemos de ser. Mas sabemos que, quando ele [Jesus] se manifestar, seremos semelhantes a ele; porque assim como é o veremos”[1Jo 3.2]. Deus o Pai prometeu que seremos como o Seu Filho Amado, porque um dia Jesus Cristo se fez semelhante a nós [“Que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens” (Fl 2.6-7)], por amor a nós [Ef 5.2], para nos salvar da condenação eterna [At 4.10-12;Rm 5,8], e nos dar vida [Jo 20.31;Rm 6.23]; portanto, devemos buscar ardentemente parecer-nos com Cristo, e orar para que esse dia não demore, e possamos, como Paulo, dizer: “Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim” [Gl 2.20]; e ainda: “Como, pois, recebestes o Senhor Jesus Cristo, assim também andai nele” [Cl 2.6].
E então, a Gisele, o Zeca e o Kiefer poderão ser iguais a nós, se assim aprouver a Deus, chamando-os para a Sua glória, onde todos seremos um só Corpo; sem nos preocupar mais em “não ser igual aos outros”.

30 junho 2008

MALABARISMOS












Por Jorge Fernandes

Atualmente, há uma preocupação excessiva em se ser pragmático, onde todos os meios justificam os fins, mesmo que não sejam éticos, honestos e morais. E eles têm de ocorrer imediatamente, senão todo o projeto iniciado vai por água abaixo, e é prontamente abandonado. A igreja tem refletido esse comportamento nas suas várias áreas de atuação, inclusive, no evangelismo. Portanto, tentarei responder à seguinte questão: Carece de malabarismos e subterfúgios a pregação para “ganhar” almas a Cristo?
Primeiramente, faz-se necessário alguns esclarecimentos. Nem eu, nem você, nem qualquer indivíduo é mais importante do que o Senhor, nem mesmo os perdidos. Então, o que faço, seja na pregação, no escrever, no cantar, no viver como testemunha da fé, tem de objetivar a glorificação de Deus; e o Evangelho a ser pregado, é o de Cristo nosso Senhor [não se esqueça do que Paulo afirmou, de que o importante é pregar a Cristo, e Cristo crucificado, escândalo para os judeus e loucura para os gregos/gentios/nós (1Co 2.2;1Co 1.23)].
Se as pessoas vão aceitá-lo ou não, se vão escandalizar-se ou não, taxar-me de burro, medieval, bárbaro ou qualquer outro adjetivo menos cortêz, isso é irrelevante. O mundo jamais entenderá a Cristo e ao Evangelho [a esmagadora maioria das pessoas, para ser bem redundante], e de que, contemporizar, ficar em cima do muro, condescender ou buscar o meio termo em nada os ajudará, e em nada nos ajudará [Dr. Lloyds-Jones diz que na Palavra de Deus não há cinza, apenas preto e branco], e o nome do Senhor será aviltado [“Porque, como está escrito, o nome de Deus é blasfemado entre os gentios por causa de vós” (Rm 2.24)].

Vê-se o exemplo de hoje: a igreja atual se assemelha com a igreja primitiva? Ou à época dos puritanos? O senhor Jesus afirmou que somos sal e luz no mundo [Mt 5.13-14], mas a igreja contemporânea, ao invés de influenciar o mundo, deixa-se cada vez mais influenciar por ele. As trevas entraram onde devia haver luz, e “quão grande serão tais trevas” [Mt 6.23].
Em 2Co 6.14 Paulo diz: Pode a luz coexistir com as trevas? E o mal com o bem? “Não vos prendais a um jugo desigual com os infiéis; porque, que sociedade tem a justiça com a injustiça?”. O crente é separado para Deus, e separado do mundo. A palavra santo quer dizer a mesma coisa: separado. Santo é aquele que foi escolhido desde a eternidade para ser filho de Deus[Jo 1.12], para ser sacerdócio santo [1Pe 2.5], e instrumento de justiça para a Sua glória [Rm 6.13]. Reportando-nos a Cristo, ele disse: “Quem não é comigo é contra mim; e quem comigo não ajunta, espalha” [Lc 11.23]. Pode alguém servir a dois senhores? “Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de odiar um e amar o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro” [Mt 6.24]. O homem será sempre servo. Ele jamais será senhor de nada. Então, a questão é: a qual dos senhores servirá? A Deus, ou a Satanás e o pecado?
O cuidado que se deve ter ao escrever, falar ou comentar qualquer assunto é o de buscar a verdade nas Escrituras. E se tenho dúvidas, preciso orar e estudar ainda mais o assunto, a fim de que o Senhor o elucide e o esclareça; para que eu não tropeçe na Palavra, e seja desobediente [1Pe 2.8]; “levados em roda por todo o vento de doutrina, pelo engano dos homens que com astúcia enganam fraudulosamente” [Ef 4.14]. E assim, não seja pedra de tropeço a ninguém [Lc 17.2], nem pregue sofismas e leve as pessoas ao erro, a manterem-se rebeldes a Deus e a Sua palavra; muito menos, a tentar impedi-las de se salvarem [como se fosse possível!].
Então, não posso me preocupar com o que os outros falam ou pensam em oposição ao Evangelho [contudo, devo tratá-los com e em amor], porque agindo assim, estarei negando o meu Senhor e a minha consciência; e chegará o momento em que, talvez, em favor da vontade alheia [ou da minha própria vontade em não me desagradar, comprometer, ou ser incompatibilizado de certas relações, situações e lugares], exclua completamente Deus da minha vida, ou então o acomode num cantinho do quarto de despejo, para as horas em que precisar, quando precisar [Daniel 1 a 6 revela-nos como é ser separado do mundo].
O mandamento supremo é: “amarás, pois, o Senhor teu Deus de todo o coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças” [Dt 6.5 - a alusão é a amar a Deus com todo o meu ser (física, racional, intelectual e em disposição total), e não apenas "senti-lo”].
É que preocupa-nos muito mais ser aceitos... Humanamente falando, estamos sempre inclinados a isso. A aceitação faz parte da nossa vida; e forma, na maioria das vezes, o nosso caráter, para o bem ou para o mal. E esquecendo-nos dos devaneios psicológicos, sigamos a Pedro, o qual disse diante do sinédrio: “Mais importa agradar a Deus do que aos homens” [At 5.29].
Pergunto-lhe: É possível alguém afastar-se de Deus? O Senhor soberano, perfeito e eterno pode ser rejeitado por um simples mortal? Pense racionalmente, apesar do que, melhor é pensar biblicamente: o homem ao nascer JÁ está separado de Deus. Ele não nasce em Cristo e depois morre para Cristo. Ele, ao ser concebido, já está morto para Deus [Rm 3.23;5.12], portanto, não se é possível afastar quem nunca esteve próximo. Por exemplo: se sou um esquimó, e nunca ouvi falar do pecado, da redenção em Cristo, do arrependimento, etc, não posso me separar de Deus, pois, na verdade, já estou separado Dele. Se um missionário ou evangelista não for até a mim e pregar o Evangelho, ou a Palavra não me for entregue pelo meio que aprouver ao Senhor, apenas me manterei afastado Dele, e ao morrer, nada poderá me unir mais a Ele.
A importância da pregação do Evangelho é esta: de levá-lo a todos que estão separados e mortos para Deus [o Evangelho verdadeiro de Cristo, que fala do pecado, da condenação, da morte eterna, do inferno; mas também fala do amor de Deus, da salvação, da redenção, do sacrifício do Senhor, da eterna glória que está por vir; e não o evangelho psicológico que me acomoda à pregação assistencialista de que Deus me ama de qualquer jeito, e de que sou um coitadinho!]; e aos vivos para que sejam ainda mais vivificados.
A Bíblia está repleta de exemplos de homens sinceros que, mesmo cheios de boa-fé, foram castigados por Deus, ao não cumprirem a Sua vontade. É o caso de Caim. Ele deu a Deus uma oferta, a qual Deus rejeitou, pois não era a oferta segundo o padrão de Deus, como Ele estabelecera; ao contrário do seu irmão Abel que “trouxe dos primogênitos das suas ovelhas, e da sua gordura; e atentou o Senhor para Abel e para a sua oferta, mas para Caim e para a sua oferta não atentou” [Gn 4.3-5].

Uzá, quando este conduzia a Arca da Aliança para a cidade de Davi, tentou impedi-la de cair, segurando-a, quando ela desequilibrou-se. E morreu na hora, porque Deus havia proibido qualquer um de tocá-la: “Então a ira do Senhor se acendeu contra Uzá, e Deus o feriu ali por esta imprudência; e morreu ali junto à arca de Deus” [2 Sm 6.7].
Moíses, ao irar-se contra o seu povo, feriu com a vara duas vezes a rocha fazendo jorrar água [Deus lhe disse para TOMAR a vara e FALAR à rocha], por isso, não pôde entrar na terra prometida, ainda que a tenha visto de longe [Nm 20.2-13]. Há muitos outros exemplos... Mas sejamos como João o Batista, o qual disse, quando alguns dos seus discípulos questionaram-no pelo fato de todos o abandonarem e irem seguir a Cristo: “É necessário que ele cresça e que eu diminua”[Jo 3.30]. E como Paulo: “Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim” [Gl 2.20].
O esquimó só se reconciliará com Deus, se Deus criar os meios e condições para que ele se reconcilie. Trocando em miúdos: eu não posso ir a Deus, se Deus não me chamar, e o Espírito Santo não me regenerar; não posso aceitar a Cristo se não for uma de suas ovelhas escolhidas [Jo 10.14]; não posso ir até Cristo se o Pai não me der a Ele! [Jo 6.37].
Então, não há nenhuma chance deu aproximar ou afastar alguém de Deus, ainda que eu faça muita força, ainda que eu me empenhe ao máximo, ainda que eu faça todos os malabarismos possíveis, e use todos os métodos disponíveis, mesmo que eu morra por um deles; se esta não for a vontade de Deus. Sou um instrumento, como um bisturi nas mãos do cirurgião, mas é o cirurgião quem opera através do bisturi; e a vontade é toda e completamente do cirurgião, e o bisturi é apenas objeto da vontade do cirurgião. É claro que estou colocando a coisa toda de uma forma hiperbólica, visto que o bisturi não tem vontade alguma, e no nosso caso temos uma vontade não livre como muitos pregam [pois o livre-arbítrio implica numa escolha sem qualquer influência, ausente de qualquer motivação, o que é uma fábula, pois todas as nossas decisões estão PRESAS a algo; portanto, não são neutras o suficiente para que decidamos livremente].

Para concluir, não é preciso “pantominas” para que as pessoas cheguem-se a Cristo, porque “não me escolhestes vós a mim, mas eu vos escolhi a vós, e vos nomeei, para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça” [Jo 15.16]. Ele, através da Sua igreja e da proclamação do Seu Evangelho, pela ação do Espírito Santo, é quem chamará, regenerará e justificará o pecador, o qual se encontra apartado de Deus, pois, “vós tendes por pai ao diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso pai”[Jo 8.44]. Mas os escolhidos eternamente, desde sempre, já são filhos de Deus.

26 junho 2008

MOTEJO







Por Jorge Fernandes



Não conheci,
Não encontrei,
Já é muito,
Os fiz abandonar,
Agora venha sem cargas.

Não há palhas,
Nem cascas,
Colha o grão seco dos galhos ociosos,
E ocupe-se com palavras vãs.

Nada diminuiu,
Nem o restolho se espalhou,
Apanhei-o como jóia acabada,
Enquanto a aflição veio ao avançar da noite.

Julguei as mãos vazias,
A culpa abandonada,
Ontem foi apenas outro dia...

Os braços estendidos,
O nome marcado,
Nenhum som aos ouvidos,
Nem sangue nos lábios,
No torpor ficou claro,
O que as moscas haviam dito.

23 junho 2008

DESPLUGAR










Por Jorge Fernandes Isah


O que aconteceria se você ficasse exposto à radiação nuclear? Como os habitantes de Goiania ao Césio 137? Ou os russos em Chernobyl? E arriscar-se, por anos, aos perigos dos agrotóxicos sem qualquer tipo de proteção? A nada no Tietê somente de sunga? Ou tomar arsênico no café da manhã?
Sem entender muito do assunto, qualquer um de nós saberia a resposta: a morte imediata, a morte após algum tempo, doenças, ou sequêlas irreversíveis por toda a vida. O nosso corpo não suportaria um ataque como esses sem que houvesse meios adequados de proteção, e se degeneraria, e seria destruído. Em alguns casos, não se é necessário anos e anos de exposição às toxinas para sermos minados, mas apenas alguns minutos, às vezes, segundos, e somos derrotados.
Agora, imagine-se diante de uma tv, uma hora, duas, três, quatro... dia após dia, semana a semana, durante anos... seria o mesmo que oferecer-se como cobaia numa experiência de transmutação de cérebros, ou candidatar-se a homem-bomba palestino. Ao sujeitar-nos a todo o tipo de miséria humana: degradação, perversão, injustiça, cobiça, estupor, infâmia... expomo-nos a uma programação abjeta, que revela o quão próximo se está de atingir o suícidio moral, a destruição da família, e por fim, a eutanásia social... O espírito necrosa muito mais rapidamente do que o corpo.
A tv não é inocente, enquanto a maioria de nós finge ser, pois sabemos muito bem o que vemos, sabemos quais são as consequências, e o quanto somos afetados. Mas a disposição para o mal encarrega-se de embrutecer a consciência, e somos arrastados pelas imagens e sons, cores e movimentos, glória, poder e ruína, como folhas no tsunami. Alguns segundos: suficientes para nos levar ao engano da “máquina de sonhos”, a ter entorpecidos os sentidos, e agir como “eles” programaram: chorar quando se é para chorar, rir quando se é para rir, xingar quando não se pode calar, dormir e acordar vazio como um balão sem ar... Já não é questão de tempo... estamos vencidos, cativos na própria alma, produzida na fábrica de abstração.
“E não sede conformados com este mundo, mas sede transformados pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus” (Rm 12.2).
O alerta é para não sermos conformados com este mundo, e a tv é a síntese do que ele é. Mas Cristo diz-nos: “Porque não são do mundo, assim como eu não sou do mundo. Não peço que os tires do mundo, mas que os livres do mal” (Jo 17.14-15). Não ser deste mundo representa não se conformar com ele; se o fazemos, é porque pertencemos a ele, e não somos o alvo da oração do Senhor. “Não ameis o mundo, nem o que no mundo há. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele... E o mundo passa, e a sua concupiscência; mas aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre” (1Jo 2.15;17).
O seu monitor ainda está ligado?
Em João 12.46 lemos: “Eu sou a luz que vim ao mundo, para que todo aquele que crê em mim não permaneça nas trevas”. Quer dizer que há trevas e há luz; o mundo e tudo o que ele representa são trevas: “adultério, prostituição, impureza, lascívia, idolatria, feitiçaria, inimizades, porfias, emulações, iras, pelejas, dissensões, heresias, invejas, homicídios, bebedices, glutonarias, e coisas semelhantes a estas, acerca das quais vos declaro, como já antes vos disse, que os que cometem tais coisas não herdarão o reino de Deus” (Gl 5.19-21). Estes são os frutos da carne, as concupiscências da carne, ou pecados; e por acaso não é a eles que estamos submetidos diariamente? E se propagam através de nós?
É um massacre a persuadir-nos, inclinando-nos às transgressões. São os recheios das novelas, reallity-shows, programas de auditório, filmes e peças de teatro em cartaz ou fora dele, das músicas tocadas em casas e ruas, da literatura de ficção e na maioria dita acadêmica; são os conteúdos da internet, das revistas e jornais, onde grassa o pecado contra Deus, e contra o próximo. “Porque da abundância do seu coração fala a boca” (Lc 6.45); e, “se alegram de fazer mal, e folgam com as perversidades dos maus” (Pr 2.14).
Ao contrário, quantas vezes viu ou manifestou a luz, ou os frutos do Espírito? “Amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança” (Gl 5.22)?
Então, a Palavra de Deus mantém-nos livres do domínio do pecado; com os olhos no mundo, contudo, sem nos deleitar e conformar com ele. Através dela, conhece-se o que se é, e o que se pode ser em Cristo nosso Senhor: “Porque a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais penetrante do que espada alguma de dois gumes, e penetra até à divisão da alma e do espírito, e das juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração” (Hb 4.12).
Que a nossa vida seja o produzir frutos do Espírito, contra os quais não há lei (a lei de Deus, pois, a lei humana quer impedir que esses frutos se reproduzam), e “os que são de Cristo crucificaram a carne com as suas paixões e concupiscências. Se vivemos em Espírito, andemos também em Espírito” (Gl 5.24-25). Porque Cristo veio ao mundo, o qual foi feito por Ele, e o mundo não o conheceu (Jo 1.10).
Plugar-se ao mundo, é desligar-se de Deus.

17 junho 2008

RUTILAR













Por Jorge Fernandes

Por toda a Bíblia vemos a glória de Deus revelada em magnitude, autoridade, onipotência, santidade, perfeição, amor, misericórdia, graça, soberania... na criação do universo; do homem à Sua imagem e semelhança; na queda da humanidade; nas alianças com o Seu povo; na redenção definitiva pela morte sacrificial e substitutiva do Seu Filho Amado Jesus Cristo; nas promessas de vida eterna aos Seus escolhidos; na condenação igualmente eterna de Satanás e seus demônios, e de todos aqueles que rejeitaram a Palavra da Vida... em inúmeros outros aspectos, fatos, execuções e promessas é visível a glória de Deus, manifestada em tudo que existiu, subsiste e existirá.
Mas há duas passagens que nos mostram, de uma forma especial, o que nos espera na eternidade, quando estaremos diante de toda a majestade do nosso Deus. A primeira, encontra-se em Êxodo 33 e 34, quando é impossível não se emocionar com as narrativas escritas ali. Moíses, um dos grandes profetas de Deus, foi contemplado com o privilégio de falar com Ele. Durante a jornada de 40 anos até Canaã, ele presenciou todos os feitos realizados pelo Senhor em favor do Seu povo; mas, também, presenciou o quanto esse povo era rebelde, de dura cerviz para com Deus. Moíses viu a glória de Deus, e a hediondez dos seus semelhantes. Contudo, não é disso que quero falar...
Por quarenta dias, o profeta Moíses esteve em comunhão íntima com o Senhor. Pisou em terreno santo, e pôde vislumbrar a santidade Dele. Durante quarenta dias, ele esteve exposto à glória de Deus, de uma forma fantástica e única, a qual poucos homens tiveram entrada. Deus se revelou a Moíses como poucas vezes o fez: “E falava o Senhor a Moíses face a face, como qualquer fala com o seu amigo” (v.33.11). É claro que o profeta não ficava “cara a cara” com Deus, “frente a frente” com Ele. O próprio Senhor alertou-o: “Não poderás ver a minha face, porquanto homem nenhum verá a minha face, e viverá”(v.33.20). A idéia a se passar é a de que havia uma comunhão íntima, um relacionamento pessoal entre o Senhor e Moíses; e de que esta era a vontade de Deus, de que o Seu povo compreendesse como era prazeroso e santo o relacionar-se com Ele. Através da submissão e obediência aos Seus mandamentos, o povo hebreu reverenciaria-O em adoração pura e santa. Nada parecido com a adoração pagã aos deuses mortos dos seus inimigos; “E habitarei no meio dos filhos de Israel, e lhes serei o seu Deus”(v.29.45).
A glória de Deus resplandecia no rosto do profeta, quando este desceu do monte Sinai, para levar as duas tábuas do testamento, a aliança de Deus com o povo de Israel: “Moíses não sabia que a pele do seu rosto resplandecia, depois que falara com ele”(v.34.29). O povo temeu chegar-se a Moíses; e ele era uma miniatura, quase um nada diante da santidade divina; e ainda assim, temeram, porque a iniquidade do povo estava manifestada frente ao testemunho do seu líder. Essa ínfima demonstração da glória de Deus, obrigou o profeta a pôr um veu sobre o rosto diante da congregação, até que entrasse para falar com Deus novamente (v.34.35).
Diante de um povo rebelde, inclinado ao mal, e sem arrepender-se (v.32.22; 33.3; 34.9), Deus em sua muita misericórdia não podia permanecer no meio dele, a fim de que a Sua glória não os consumisse, destruindo-os (v.33.5). E poderia fazê-lo, se não fosse a Sua graça, e a aliança que estabelecera com os patriarcas, “porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus” (Rm 3.23) . Então, ordenou o Senhor a Moíses que erguesse uma tenda fora do arraial, e ali, “todo aquele que buscava o Senhor saía à tenda da congregação” (v.33.7).
Moíses exultou, proclamou o nome do Senhor, ao vê-lo descer numa nuvem e se pôr ali junto a ele, apressou-se, inclinou a cabeça à terra, e adorou-O (v.34.5;8).
A segunda passagem, encontra-se no cap. 9 de Lucas. Estando Jesus orando, “transfigurou-se a aparência do seu rosto, e a sua roupa ficou branca e mui resplandecente. E eis que estavam falando com ele dois homens, que eram Moisés e Elias, os quais apareceram com glória, e falavam da sua morte, a qual havia de cumprir-se em Jerusalém. E Pedro e os que estavam com ele... viram a sua glória e aqueles dois homens que estavam com ele” (v.29-32).
Vimos que Moíses teve o rosto, apenas o rosto, resplandecente. Ele fora como um espelho, um reflexo, a revelar minimamente a glória de Deus; uma glória que não era sua, que não podia gerar, mas que pela graça de Deus, unicamente pela Sua vontade soberana, passou a pertencer-lhe; e pertence a cada um de nós que fomos predestinados, chamados, justificados e glorificados em Cristo Jesus (Rm 8.30).
Então, agora parece que vemos uma repetição do que aconteceu com Moíses, quando da transfiguração do Senhor Jesus Cristo. Mas ao contrário do profeta que refletia a glória de Deus, Cristo é a própria glória de Deus. Vemos Jesus transfigurado, e a palavra transfigurar significa transformar, modificar a figura. Moíses apreendeu um fragmento do esplendor de Deus, e o seu rosto resplandecia, e o povo o temeu. Imagino o que seria de Moíses se não fosse a graça de Deus. Ele seria destruído. E o que seria de nós? As misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos, porque as suas misericórdias não têm fim” (Lm 3.22).
Cristo é a própria glória de Deus, não um reflexo, um poder indireto, nem apenas um indicativo da fonte, aquele que aponta para Deus; mas o próprio Deus em unidade com o Pai e o Espírito Santo. A glória de Deus estava Nele, e era Ele (e está, e é Ele eternamente): “para que em tudo Deus seja glorificado por Jesus Cristo, a quem pertence a glória e poder para todo o sempre” (1Pe 4.11).
Pedro, extasiado com o que via, clamou ao Senhor para que se armassem três tendas, uma para Jesus, uma para Moíses, e outra para Elias (v.33). Mas a Bíblia afirma que ele não sabia o que dizia, mostrando a incapacidade de se compreender e absorver a vontade de Deus, quando o fazemos por nós mesmos, deliberados por nossa natureza corrompida.
“E, dizendo ele isto, veio uma nuvem que os cobriu com a sua sombra; e, entrando eles na nuvem, temeram”(v.34). Novamente, não resta ao homem mais nada diante da santidade e magnitude de Deus, do que o temor, em reverência e adoração.
“E saiu da nuvem uma voz que dizia: Este é o meu amado Filho; a ele ouvi”(v.35).
Moíses era o interprete de Deus junto ao povo de Israel. Ele transmitia-lhes tudo o que Deus lhe ordenou. Foi assim em relação aos mandamentos, à construção do tabernáculo, aos sacrifícios e cerimônias de consagração, às festas, ao sacerdócio dos levitas... aos trabalhos mínimos, como o cozer o pão sem fermento e a confecção de cortinas. Mas em tudo havia a vontade do Senhor para que assim fosse, e a tudo santificava; eram ordens a se cumprir, destinada ao Seu povo. Moíses, portanto, era o interlocutor da parte de Deus ao povo de Israel.
Cristo é o próprio Deus falando-nos. Sem a necessidade de um intermediário, por isso, o Pai exorta os discípulos a ouvi-lO. Não que Jesus seja uma voz solitária, individualista, não. Ele fala em conformidade com o Pai, porque tudo quanto o Pai faz, o Filho o faz igualmente (Jo 5.19): “Eu falo do que vi junto de meu Pai” (Jo 8.38), afirmou o Senhor; e exultamo-nos diante da harmonia eterna existente entre as pessoas da Trindade Santa.
Alguns estudiosos afirmam que Moíses viu a Jesus no monte Sinai, e que agora, diante dos discípulos, testemunhava a Sua divindade; o que João 5.46, parece confirmar: “Porque, se vós crêsseis em Moíses, creríeis em mim; porque de mim escreveu ele”. Por analogia, aceitamos que Moíses viu no monte Sinai a glória de Cristo, a qual Pedro, Tiago e João se deleitaram em contemplar (v.32).
Sem nos esquecer de que Moíses e Elias apareceram “com glória”, ao contrário de Jesus Cristo, pois Pedro e os demais ao despertarem, viram a “sua” glória. E regozijemo-nos; pois, na eternidade, receberemos a mesma glória que coube aos profetas, pela graça e para a glória de Deus.

13 junho 2008

SUSTER








Por Jorge Fernandes


A vida cristã não é uma simples teoria, filosofia ou utopia, como já disse anteriormente; um processo exclusivamente racional que me levará, invariavelmente, a compreender a Deus. A vida cristã é para ser vivida, praticada, senão, não haveria a necessidade de santificação, e nem de se permanecer aqui na terra; tão logo convertéssemos, seríamos arrebatados ao Céu.
Tanto você como eu vivemos o mesmo dilema: como ser santo? Como agir como um cristão? Como esperar apenas em Deus, e nos confortar com a promessa de que Ele cuida e zela por nós? Como deixar de crer que somos capazes de cuidar de nós mesmos? Como abrir mão da imaginária segurança que supostamente temos quando quase o tempo todo somos afligidos pela intranquilidade? Se sequer obtemos êxito em parecer-se com um cristão bíblico?
Creio que apenas quando me entregar completamente ao senhorio de Cristo, colocando-me total e integralmente em Suas mãos, deixando de manter-me no centro enquanto Ele encontra-se periférico, serei capaz de compreender e de viver uma vida cristã. Essa é a promessa que Cristo nos dá: “Examinais as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de mim testificam; e não quereis vir a mim para terdes vida(Jo 5.40).
Em Gálatas 6.3, Paulo diz: "Porque, se alguém cuida ser alguma coisa, não sendo nada, engana-se a si mesmo". Não é isso que fazemos o tempo todo? Tentando ser alguma coisa, quando não somos nada? Buscando uma glória pessoal quando não há nada em nós do que se gloriar? Mas quando entendermos, pelo poder do Espírito Santo, que a subserviência a Cristo, que o lançar-me à periferia e Ele ao centro, cumprindo assim os propósitos de Deus para nossa vida me fará um servo fiel, então estarei apto por Deus a distribuir neste mundo e aos homens os dons que me foram dados pelo meu Senhor. Mas ainda assim, não há nada em que me orgulhar, não tenho mérito algum, visto que fiz apenas e tão somente aquilo que Ele ordenou: “Somos servos inúteis, porque fizemos somente o que devíamos fazer” (Lc 17.10). Como o barro nas mãos do oleiro, que segundo a sua vontade o modelará para a finalidade e o propósito que ele quiser, assim somos diante do Senhor (Rm 9.20-21).
Cada vez mais descubro que não há solução além de Deus. Não apenas para o mundo, as nações, culturas diferentes, os meus concidadãos, vizinhos e parentes, mas sobretudo, para mim mesmo. Como obtê-la? Esta talvez seja a nossa maior dificuldade: entender que o Evangelho não é somente para os outros, não é uma espécie de publicidade do tipo “faça o que eu digo, não faça o que faço”; mas a sua mensagem e o seu poder transformador foi dado pelo Altíssimo, em primeiro lugar, a mim mesmo. E é algo que tenho de vivê-lo para o meu próprio bem, e gozo; “Na verdade, tenho também por perda todas as coisas, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; pelo qual sofri a perda de todas estas coisas, e as considero como escória, para que possa ganhar a Cristo” (Fp 3.8).
Outra questão é a de que vivemos com o coração conturbado, atemorizado... “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo a dá. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize”(Jo 14.27). É preciso confiar no Senhor mesmo quando tudo estiver de cabeça para baixo, mesmo quando não há uma esperança aparente; quanto mais quando as coisas estiverem bem.
Hoje, as pessoas se afligem por qualquer bobagem: um cabelo que cai, o gol contra do zagueiro, o vizinho ranzinza, o latido do cão... tudo é motivo para nos inquietar, nos tornar infelizes, amargurados. Fico a imaginar se estivéssemos no lugar de Pedro, à noite, acorrentado, guardado na prisão por 16 soldados de Herodes, à espera da execução na manhã seguinte... Dormiríamos profunda e tranquilamente como ele, esperando apenas em Cristo nosso Senhor (At 12.5)?
Este é apenas um exemplo de como estamos mais suscetíveis às intempéries, ainda que não passem de uma inofensiva brisazinha. O homem está e é cada vez mais infeliz, porque encontra-se em desobediência a Deus, e não há temor de Deus diante dele (Rm 3.11;18). O homem está em guerra constante consigo mesmo. É um dilema, uma luta interior a qual a sua natureza o impele à rebeldia contra o Senhor, a opor-se às coisas de Deus, mesmo quando não é possível achar em si algo que o alegre; e o que encontra, lança-o em trevas profundas, na desilusão, na tristeza, na amargura, refletindo a sua natureza caída, pecaminosa: "maldito o homem que confia no homem, e faz da carne o seu braço, e aparta o seu coração do Senhor!" (Jr 17.5). E isso traz consequências trágicas para a sua vida (Gl 6.7-10), mantendo-o preso às cadeias que o tornarão mais e mais miserável; é um fardo insuportável de se levar, porque a “aflição e angústia se apoderam de mim”; mas, não se pode esquecer da esperança, a qual está unicamente em nosso bom Deus, pois “os teus mandamentos são o meu prazer”(Sl 119.143).
Portanto, o cristão é aquele que pode repetir a Paulo: “Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim” (Gl.2.20); e: “Porque para mim o viver é Cristo, e o morrer é ganho” (Fl 1.21), ainda que se saiba o miserável homem que é (Rm 7.24).

08 junho 2008

GRAÇA










Por Jorge Fernandes


O rosto dissolve-se em lágrimas,
Uma dor lacerante no peito,
Ergo o punho e soco o ar raivoso,
Há um grito difuso a teimar em não sair,
Estende-se por todos os músculos a agonia de tê-lO desprezado.


A alma miserável e imperfeita,
Tenta avançar em passos capengantes,
Apenas recua num grande esforço,
Deslizando na ladeira escorregadia,
Onde a carnalidade interior,
Soçobra os inexpressivos feitos.


Exaurido na inércia estéril,
Como ramo extirpado há dias da árvore,
A definhar numa terra infrutífera,
E o rigor da vergonha afugenta-me de Ti.


A vida despedaçada,
Partes largadas no caminho,
Repulsiva tentação que me arrasta a vasa,
Sem rogos, a cair em densas trevas.


No fôlego último,
Lembrei-me da Tua palavra,
“Fiz reverdecer a árvore seca”,
E derribado, elevou-me.


Disse.
E fez.


02 junho 2008

UM CORPO

Por Jorge Fernandes

Sabemos que há muitos irmãos perseguidos mundo afora. Neste momento, muitos estão privados da sua liberdade, da sua saúde, do sustento, do convívio famíliar, e, acabam de perder as próprias vidas por amor a Cristo (Mt 16.25) . Sabemos, igualmente, que os tempos estão difíceis, mas devemos guardar a nossa fé e esperança como um tesouro no nosso coração que nos foi entregue pelo nosso Senhor, o qual o manterá protegido do maligno.
É nosso dever, portanto, orar pelos crentes afligidos e perseguidos pelas trevas, implantadas por governos, comunidades, religiões e homens; em especial, por aqueles que residem nos paises comunistas e islâmicos. Mas não é preciso ir-se à China, Coreia do Norte ou Irã para vê-los. Muitas vezes, ao nosso lado, bem mais próximos do que imaginamos, irmãos sofrem em aflição, em angustia, em tormentos, sem que encontrem qualquer esperança. Devemos orar por eles, mas sobretudo, auxiliá-los naquilo em que Deus nos capacitou e tem capacitado a fazer, a fim de distribuirmos generosamente a Sua graça e justiça. Ore, mas sobretudo, aja. Não seja insensível, omisso e desobediente, para que não se ache ocioso nem estéril no conhecimento do nosso Senhor Jesus Cristo. Ele nos exortou a um só mandamento: “E, respondendo ele, disse: Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças, e de todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo” (Lc 10.27).
O apóstolo João, seguindo fielmente ao nosso Senhor, afirmou: “Se alguém diz: Eu amo a Deus, e odeia a seu irmão, é mentiroso, pois quem não ama a seu irmão, ao qual viu, como pode amar a Deus, a quem não viu?” (1Jo 4.20).O Evangelho do nosso Senhor não é um estratagema para o entendimento apenas intelectual. Muitos até compreendem-no mentalmente, como uma teoria, mas jamais serão tocados pela Palavra de Deus, porque ela não desceu ao seu coração. E para isso, é necessário que o Espírito Santo faça a obra de regeneração e transformação nesse coração, convertendo-o em carne, quando ele está endurecido como pedra. Portanto, o fazer, o agir são consequências dessa regeneração, do novo nascimento. Se você ainda não compreendeu essa necessidade, saiba que Deus o chama para as fileiras do Seu exército, para a luta, não para a arquibancada, como um mero espectador (ainda que seja um torcedor fanático).
Assim, compadecendo-nos do próximo, o nosso amor crescerá mais e mais em ciência e em todo entendimento, cheios de frutos de justiça para a glória e louvor de Deus (Fl 1.9;11); tendo ânimo para falar a Palavra confiadamente, sabendo que assim, testemunhamos o amor, a graça e a salvação que há em Jesus Cristo nosso Senhor.
“Regozijai-vos sempre. Orai sem cessar. Em tudo dai graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco. Não extingais o Espírito. Não desprezeis as profecias. Examinai tudo. Retende o bem. Abstende-vos de toda a aparência do mal. E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo; e todo o vosso espírito, e alma, e corpo, sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo. Fiel é o que vos chama, o qual também o fará” (1 Tes 5.16-24).

· Saiba mais sobre os irmãos perseguidos pelo mundo (e no mundo), e que necessitam de oração no endereço
www.portasabertas.org.br e www.martirescristaos.blogspot.com
· Leia a pregação do pr. Luiz Carlos Tibúrcio sobre os talentos (Usando os Talentos Para a Glória de Deus) , como um dom do Senhor, no endereço
www.tabernaculobatista.blogspot.com
· Estude o livro de Atos, as cartas Paulinas e as cartas Universais. Lá encontra-se o manual de ação da Igreja, e de todo crente, pela vontade de nosso Senhor.

31 maio 2008

DUREZ





Por Jorge Fernandes


Por quantas vezes,
Ouvirei aquela palavra,
E me sentirei morto,
Como um corpo conservado no gelo,
A alma intacta não se alui,
Insensível como ouvidos moucos,
Ao troar da lima no metal?

Quantas vezes ainda,
A espada me ferirá,
O sangue a jorrar anêmico,
Jaz-se em poça, se esvanece,
E nem mancha forja?

A quantas vezes,
Irei tropegar,
Qual velho a mover-se no pântano,
A resvalar a ponta do dedo,
Em algo que julga bálsamo,
Mas sequer pode-se entrever?

Dores a fustigar;
Entre golpes acolhidos,
A pasmar a consciência suína,
Não é ainda o nocaute...
Nem o espírito sepultado.

26 maio 2008

IRMÃO X IRMÃO














Por Jorge Fernandes

Recentemente travei um “embate” com um irmão a respeito do constante julgamento que nós, crentes, fazemos uns dos outros. E nos demos mal, ambos. Não que não haja nada a se discutir; nem que se deva mascarar os erros doutrinários e contemporizar com os falsos ensinos e testemunhos de muitos “evangélicos”. Mas é que, enquanto travamos uma batalha entre denominações, a guerra vai sendo vencida pelas forças inimigas. O apóstolo Pedro nos adverte de que “já é tempo que comece o julgamento pela casa de Deus; e, se primeiro começa por nós, qual será o fim daqueles que são desobedientes ao evangelho de Deus?”.
Mas o que se vê são reformados acusando batistas de heréticos por não batizarem crianças, que, em contrapartida, acusam os reformados de heréticos por realizarem o pedobatismo. Calvinistas não toleram arminianos, que consideram os calvinistas “filhos das trevas”. Pré-milenistas repelem pós-milenistas, que, por sua vez, desejam exorcizá-los. Então, a denominação a qual pertenço é a melhor, tanto na doutrina, como na pregação, como no serviço a Deus. Ando com um “neon” preso à testa com os dizeres “batista”, ou “presbiteriano”, ou “metodista”, ou o de outra congregação. As igrejas acabam parecidas com clubes de futebol, com agremiações esportivas, onde torcer e distorcer é o que importa:
“No domingo, vamos à 21a igreja?”.
“Que isso, mano! Eles não tão com nada! Vamo lá na 58a ! Eles são da hora!”.
E assim é só organizar a charanga, as teenleader, o mestre-de-cerimônias, os comes-e-bebes, e se tem um grande evento. Uma festa de arromba. E Cristo nosso Senhor? Onde Ele entra?... Nesse clube, o Santo de Deus não tem lugar; apenas a idolatria.
A carne grita tão desesperamente em nós, que a despeito de uma suposta espiritualidade e zelo para com as coisas de Deus, desprezamos irmãos que igualmente foram levados a Cristo pelo Pai (Jo 17.24), e com os quais passaremos toda a eternidade. No fundo, há muitos cristãos que se consideram melhores do que outros. Há muitos de nós que não querem se misturar; que em sua soberba e vaidade se julgam os únicos salvos pelo nosso Senhor, e vislumbram em si méritos suficientes para que Deus os escolha, ainda que não assumam, ainda que digam que são salvos apenas pela graça do Senhor. Muitas vezes, em nossa arrogância, pecamos, odiando e desprezando homens, lançando-os no fogo do inferno (se possível fosse), investidos de uma autoridade que não possuímos, nem nos foi dada. Como Paulo disse aos coríntios: “Todavia, a mim mui pouco se me dá de ser julgado por vós, ou por algum juízo humano; nem eu tampouco a mim mesmo me julgo. Porque em nada me sinto culpado; mas nem por isso me considero justificado, pois quem me julga é o Senhor. Portanto, nada julgueis antes de tempo, até que o Senhor venha, o qual também trará à luz as coisas ocultas das trevas, e manifestará os desígnios dos corações; e então cada um receberá de Deus o louvor... Já estais fartos! já estais ricos! sem nós reinais! e quisera reinásseis para que também nós viéssemos a reinar convosco!” (1Co 4.3-5;8).
O Senhor Jesus, porém, nos diz: “Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem; para que sejais filhos do vosso Pai que está nos céus”(Mt 5.44); e se devo amar aos meus inimigos quanto mais aos irmãos na fé; e não cometer a ofensa de me sentar em um trono de santidade e dignidade para falar mal de quem quer que seja, e viver dessa forma dissoluta; “porque para mim, o viver é Cristo”(Fil. 1.21).
Enquanto discutimos qual de nós é o melhor, caindo no mesmo pecado que os discípulos do Senhor cairam, indignamo-nos mutuamente (Mt 20.20-24), copiando-os naquilo que havia de pior. Em contrapartida, negligenciamos a exortação que o nosso Senhor nos deu: “E, qualquer que entre vós quiser ser o primeiro, seja vosso servo”(Mt 20.27). Por que é sempre mais fácil imitarmos o erro dos filhos de Zebedeu do que imitarmos a Jesus Cristo, o qual veio servir e não ser servido? Ainda que as Escrituras nos alertem, ainda que o Espírito Santo nos oriente, sempre tendemos a assumir o orgulho e a soberba diante de Deus e dos homens. Alguém se candidata a servo? A serviçal do seu irmão? “Todo aquele que quiser entre vós fazer-se grande seja vosso serviçal”(Mt 20.26). Pouquíssimos de nós anseiam esse posto, antes queremos manter a dignidade, a pompa de distinção, amando “os primeiros lugares nas ceias e as primeiras cadeiras nas sinagogas”(Mt 23.6). O holofote não é para o crente. Nem honrarias. Nem aplausos. Nem tapetes vermelhos. Aqui neste mundo, o qual nos odeia como odiou ao nosso Senhor (Jo 15.18), não buscamos nem esperamos honras, “porque a vós vos foi concedido, em relação a Cristo, não somente crer nele, como também padecer por ele”(Fp 1.29). Mas muitos se enganam com os tapinhas nas costas, com os títulos beneméritos, com as placas, medalhas, comendas e distinções insignes, e, sendo ilustres, estão no topo do Reino de Deus, assegurando-lhes o direito de tripudiarem sobre os ossos e carnes humanas, escarnecendo, ridicularizando e detratando-os, sem que aja qualquer amor, pois não há arrependimento. É como no boxe, onde os lutadores desejam, cada um a “desgraça” do outro, subjugando-o, impondo-se. Pelo menos, ao fim da luta, se cumprimentam... se um deles não for à UTI ou ao necrotério.
Não era para ser assim...
A Bíblia nos exorta a sermos santos, como é santo o nosso Pai que está nos céus (1Pe 1.15-16); a amarmos cordialmente uns aos outros com amor fraternal (Rm 12.10); a amarmos ardentemente uns aos outros com o coração puro(1Pe 1.22); unidos em um mesmo pensamento e em um mesmo parecer (1Co 1.10); e admoestando-nos uns aos outros, certos de que estamos cheios de bondade e de conhecimento (Rm 15.14); mas nós mesmos fazemos a injustiça e o dano, e isto a irmãos (1Co 6.8).
Se ainda estivéssemos na Idade Média, certamente muitos de nós condenariam à fogueira outros irmãos. Apenas porque ele não é batista, ou presbiteriano, ou metodista, ou assembléiano. Fica a parecer que não foi Cristo quem morreu por mim, que não foi Ele quem me redimiu e salvou-me da condenação, à qual eu merecia completa e justamente. Parece que foi uma denominação que padeceu na cruz por meus pecados.
Não será a hora de se parar com esta guerra estúpida de egos, de partidarismo religioso, e nos propormos a saber senão a Cristo, e este crucificado? (1Co 2.2). Foi o Senhor Jesus quem tomou o meu lugar, levando sobre Si a minha iniquidade, morrendo, ressuscitando, me salvou. A Ele prestarei contas, inclusive, do tempo mal gasto aqui, perdido em nulidades, vaidades, que em nada glorificam o santo nome de Deus.
Não proponho um neo-ecumenismo ou coisa parecida; nem é isso o que faço aqui. Muito menos que nos unamos debaixo de uma “bandeira”, de uma proposta ou meta, a fim de exercitar o pragmatismo. Nem mesmo a idéia de convenções, concílios, me agrada. Mas se cada um se preocupar em proclamar o Evangelho, em defender a fé, em honrar e glorificar o nome do Senhor ao invés de disputas inócuas de poder e do ser [“tende sal em vós mesmos, e paz uns com os outros”(Mc 9.50)]; o mundo não será insípido mas temperado, para a glória de Deus.
Enquanto isso, o movimento GLBT se une aos SEM-TERRA, que associa-se aos PRÓ-ABORTO, e aos PEDÓFILOS, à DASPU, aos MATERIALISTAS, à PESQUISA COM EMBRIÕES, aos IMORAIS, aos CORRUPTOS, aos ESQUERDISTAS, à MAFIA, aos LEGALISTAS, à PORNOGRAFIA, aos POLITICAMENTE CORRETOS, aos LIBERAIS, aos HIPÓCRITAS, às FEMINISTAS, aos MACHISTAS, aos LADRÕES, aos ASSASSINOS, aos TRAFICANTES, a PAIS que não educam SEUS FILHOS, a FILHOS que não respeitam SEUS PAIS...
O que esperamos? Que eles desistam? Que se unam a nós, e lutemos juntamente pelos princípios cristãos? Ou aguardamos o melhor momento para unir-nos a eles, e assim, desobedecer ao nosso bom Deus? Ou desistimos nós?
Assim evidencia-se o mal, o qual age livremente, enquanto viro a cara e torço o beiço ao irmão de Bíblia em punho.
Somente quando se vislumbra a cruz e a mensagem de Cristo, crendo que também é necessário que se morra para si mesmo, vive-se para Deus; e não se é mais instrumento de injustiça, mas justo como o nosso Senhor; e se é capaz de amar como Ele ama.

17 maio 2008

FUNERAL











Por Jorge Fernandes


Hoje chorei a morte dela,
Chorei por seus filhos,
Chorei a sua juventude carcomida pelo mal,
Chorei a vontade que ela tinha de viver,
Hoje seus lamentos e súplicas calaram-se,
Chorei a maligna doença a definhá-la,
Chorei a esperança posta na santa,
Chorei a TV ligada ao pé da cama.


O céu azul difuso,
A grama pálida,
O vermelho da terra surde do chão,
Há risadas,
Há lágrimas,
A sapiência dos silenciosos,
A tolice vulgar e infame dos tagarelas,
O desacato no olhar indiferente,
O alívio amparado nas colunas e paredes.


Quis o abraço fraterno,
Quis que me sentissem em dor,
Quis vê-los, e visto,
Quis o melhor que não dei,
Quis o afeto, o afago simples,
Quis, sem poder.


Achei que precisavam de mim,
De algo que não conjeturava,
Sem persuadir-me do meu papel,
O seu Nome exaltado,
Ainda que sem O proclamar.



Ali estava o desamparo,
A indulgência,
O amor desertor,
Qual cego numa ilha deserta,
A espera da noite chegar,
Para não se defrontar com a luz.


Em meio ao murmurio orei,
E seguiu um hino,
Errei dois ou três versos,
Esqueci mais alguns,
Encontrei-me no refrão:
“Entregarei tudo a Ti”, diz.
Era o certo, e único a fazer.


Quando a cova se abre,
O esquife desce,
Entoa-se um cântico à Maria,
A dor é insuportável,
Em vê-Lo desprezado.
E não sei se amá-Lo é suficiente,
Ou o amor é que não o é,
Não sei se os amo na dor,
Nem na alegria ou hora qualquer.
Numa prova, passaria?
Qual sacrifício disporia?
O corpo, a alma...
Algumas lágrimas a sobrevir.


Não para Ele,
Nem para eles.
No que sou, é que me guardo,
Para o dia em que revelado O veja,
Aos Seus pés me arrependa,
E chore por não pregar as Boas Novas;
E nos túmulos,
Muitos ficaram sem tê-las.


Onde está o sal?
E a luz?
Não passo de trevas,
E insosso.


A resposta,
Debaixo da cama,
Jaz oculta,
Porquanto Cristo,
Não passa de digressão,
E contento em me ver,
Como sepulcro caiado.


E chorei,
Também por mim.

10 maio 2008

O CÉU REINA












Por Jorge Fernandes


“...entregando para a morte, quem é para a morte; e quem é para o cativeiro, para o cativeiro; e quem é para a espada, para a espada” (Jr.43.11)

Deus é soberano! Certamente, a maioria dos crentes concordará com esta afirmação. Mas de que forma Ele exerce esse poder? Muito se tem discutido até que ponto Deus é soberano, ou como a Sua soberania se manifesta. E em grande parte, a doutrina bíblica se mistura à filosofia, à cultura e tradições, prejudicando ainda mais o seu entendimento, e porque não, o seu real significado; ainda que, aparentemente, tudo pareça mais fácil e digerível para o homem e seu humanismo, ao não desejar abrir mão da sua liberdade, mesmo que ele não a possua no sentido de sê-la livre de influências, e o livre-arbítrio não passe de uma utopia proveniente do nosso coração rebelde.
Há uma enorme diferença entre o que acreditamos possuir e o que verdadeiramente temos; geralmente, fica mais fácil aceitar prontamente o que nos parece verdade (ainda que suspeita), o que se molda melhor com os nossos conceitos, se acomoda ao nosso ego, e nos traz alívio mesmo que apenas momentaneamente; fruto da indolência e desleixo com que tratamos a nossa relação com Deus (sobre o assunto da liberdade humana, ver o post
Senhor ou Escravo? ).
A Bíblia afirma, categórica e extensamente, que Deus é soberano, e de que, nada, mas absolutamente nada afasta-se do Seu propósito e vontade (Ef 1.11). Deus domina sobre todas as coisas, e todas as coisas estão sujeitas a Ele (1Tm6.15; Dn 4.35; Jó1.12; Sl 89.9; Mc 4.39); nada pode frustá-lO e a Sua vontade, sendo ela a causa final de tudo (veja bem: tudo! E não uma parte ou alguns itens).
No livro de Daniel, o Rei Nabucodonosor tem um sonho, e pede ao profeta para interpretá-lo: “Esta é a interpretação, ó rei; e este é o decreto do Altíssimo, que virá sobre o rei, meu senhor: Serás tirado dentre os homens, e a tua morada será com os animais do campo, e te farão comer erva como os bois, e serás molhado do orvalho do céu; e passar-se-ão sete tempos por cima de ti; até que conheças que o Altíssimo tem domínio sobre o reino dos homens, e o dá a quem quer. E quanto ao que foi falado, que deixassem o tronco com as raízes da árvore, o teu reino voltará para ti, depois que tiveres conhecido que o céu reina (Dn 4.24-26). E todas estas coisas vieram sobre ele, pois se cumpriu a palavra de Deus, a qual havia determinado acontecer ao rei Nabucodonosor, transcorridos 12 meses (Dn 4.28-33).
No Salmo 33, o salmista proclama a glória e a soberania de Deus como o criador de todas as coisas, como Aquele que controla e subjuga todas as coisas; mas também Aquele através do qual o crente alegra-se em esperar e confiar, pois é o seu auxílio, escudo e refúgio (v.20-22).
O domínio do Senhor antes de ser o motivo para o pânico (semelhante ao de uma ameaça terrorista), deve ser a causa do nosso júbilo(v.1-3; 12; 21), sabendo que somos sustentados por Ele, protegidos pela Sua misericórdia (v.18), guardados em Sua sabedoria, santidade e perfeição; O qual zela por nós, e nos mantém firmados na Rocha que é Cristo. Como o profeta Jeremias afirmou judiciosamente: “Bendito o homem que confia no Senhor, e cuja confiança é o Senhor... meu refúgio és tu no dia do mal” (Jr.17.7;17); e Paulo, extasiado, proclamou um cântico de louvor a Deus: “Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis os seus caminhos!” (Rm 11.33).
Ainda que não entendamos tudo sobre a vontade divina, e em muitos aspectos os Seus desígnios sejam inescrutáveis, não há como não aceitá-la, e reconhecer que os caminhos do Senhor são muito mais altos do que o nosso, e os Seus pensamentos mais altos do que os nossos, e que Ele fará o que lhe apraz (Is.55.8-11).
Há questões que vão além da nossa mente finita e corrompida, das quais não temos solução nem somos capazes de entender, que fogem ao nosso controle, e julgamos dissociáveis: como a soberania de Deus e a responsabilidade humana. A Bíblia afirma a existência de ambas: tanto Deus é soberano, como somos responsáveis por nossos atos. Contudo, não compreendemos como uma ação aparentemente livre, pode ser operada pela vontade de Deus e assim ser determinada. Resta-nos resignar, admitindo o quanto somos limitados; e humildemente reconhecer a nossa incapacidade para desvendar aquilo que o Senhor não quis nos revelar, contudo, estejamos confiantes, seguros e confortados com o que Ele quis nos manifestar através da Sua santa palavra, o que já é por demais grandioso e glorioso para a nossa exiquidade.
Infelizmente, parece mais fácil adequar os atributos divinos à nossa imperfeita e caída natureza do que avaliar submissa e espiritualmente os ensinamentos bíblicos, com temor e reverência, sabendo que se trata de algo muito elevado, muito além dos meros preceitos humanos, muito além do nosso juízo.
O importante é crer que as Escrituras são a fidedigna palavra de Deus, revelada ao Seu povo, e de que o Senhor é o Deus soberano e supremo de todo o universo; o que não exclui eu, você, ou qualquer outra coisa (seja mineral, vegetal, animal ou espiritual), de sujeitar-se à vontade divina, “porque falou, e foi feito; mandou, e logo apareceu” (Sl. 33.9).
Como Davi cantou, ao reconhecer sabiamente o que o Altíssimo fizera ao elegê-lo, libertá-lo e entronizá-lo como o rei de Israel:“ O Senhor é o meu rochedo, e o meu lugar forte, e o meu libertador; o meu Deus, a minha fortaleza, em quem confio; o meu escudo, a força da minha salvação, e o meu alto refúgio... Porque quem é Deus senão o Senhor?... O Senhor vive; e bendito seja o meu rochedo, e exaltado seja o Deus da minha salvação. É Deus que me vinga inteiramente, e sujeita os povos debaixo de mim” (Sl 18.2;31;46-47).

04 maio 2008

ONDE ESTÁ O SEU TESOURO?











Por Jorge Fernandes


“E tinha esta uma irmã chamada Maria, a qual, assentando-se também aos pés de Jesus, ouvia a sua palavra. Marta, porém, andava distraída em muitos serviços; e, aproximando-se, disse: Senhor, não se te dá de que minha irmã me deixe servir só? Dize-lhe que me ajude. E respondendo Jesus, disse-lhe: Marta, Marta, estás ansiosa e afadigada com muitas coisas, mas uma só é necessária; e Maria escolheu a boa parte, a qual não lhe será tirada”(Lc 10.39-42)

A Bíblia afirma que o crente é um ser separado. Separado para Deus, e do mundo. Estamos no mundo, mas não pertencemos a ele (Jo 17.16); antes, somos de Deus, propriedade Sua, comprados por alto preço (1Co 6.20). Então, porque a maioria de nós “devota” a totalidade do seu tempo, das suas energias, dos seus dons e talentos, do seu dinheiro, da sua atenção, do seu estudo, e de tudo o mais que o cerca, a fim de satisfazer-se no mundo, pelo mundo e para o mundo?
Vejo muitos falando de Cristo. Muitos o chamam de “senhor”. Alguns choram, emocionados. Outros demonstram uma confiança parecida com a que se deposita em um talismã. Como se o nome de Cristo fosse uma ferradura ou um pé-de-coelho, ou na melhor das hipóteses, uma chave que abrirá todas as portas... as que eu quero abrir, as quais me satisfarão. Crêem que o nome de Jesus tem um poder imanente, bastando proclamá-lo para que, num passe de mágica, tudo ao nosso redor se transforme em satisfação pessoal. E isso é mais do que o suficiente para elas. Falar de Cristo vez ou outra, sem compromisso. Pensar Nele como um “gênio da lâmpada”, pronto a realizar todos os nosso caprichos, como se nós fóssemos deuses, e Ele, criatura. Será isso conhecê-lO verdadeiramente?
Jó entendeu que o conhecimento de Deus é muito mais do que ouvir falar Dele, e repetir aos quatro cantos, como um papagaio, o que ouviu: “Por isso relatei o que não entendia; coisas que para mim eram inescrutáveis, e que eu não entendia. Escuta-me, pois, e eu falarei; eu te perguntarei, e tu me ensinarás. Com o ouvir dos meus ouvidos ouvi, mas agora te vêem os meus olhos” (Jó 42.3-5). Reconhecendo a dimensão do seu erro, ele concluiu: “Por isso me abomino e me arrependo no pó e na cinza” (Jó 42.6).
Estar no mundo não é pertencer a ele. Nem ao menos se agradar com ele, quanto mais viver em função dele. Essa não é a nossa glória. Nem a nossa atribuição. O nosso dever é o de obedecer ao nosso Senhor, proclamar o Seu Evangelho e glorificá-lO. Parece simples, e talvez por isso, negligenciamos tanto essa incumbência dada-nos por Cristo. Em muitos casos, desprezamo-la, em favor da nossa glória pessoal. Quantos não se empenham até o sangue por um diploma? Pelo cargo de executivo? Pelo carro novo, viagem, ou pelo novo desejo que se seguirá a outro desejo realizado? É um círculo vicioso, que nos domina, nos consome, e tira-nos do privilégio supremo de servir ao nosso bom Deus.
Quantos de nós não se encontram “encantados” pela tv, pelo sexo, pelo futebol, pelas festas e shows, que não têm um momento sequer para ler, ouvir e meditar na Palavra de Deus? Quantos de nós oram numa fração de segundo, enquanto passam horas e mais horas diante da tela do computador ou da tv envenenando-se, repetida e maciçamente, com as toxinas do mundo? Não ficam um dia sem eles, mas podem ficar semanas, meses e até anos sem ouvir uma pregação, sem comunhão com os santos, sem confortar um irmão, sem contribuir para a obra de Deus, sem interceder pelos que sofrem, pelos que morrem, e pelos condenados eternamente.
Pelo contrário, como luzes que deveriam iluminar o mundo, não o fazemos (Mt 5.14), antes nos misturamos às trevas, tornando-nos participantes dela (Lc 11.35). Seduzidos como o marido infiel pela amante (na verdade, seduzidos pelo nosso pecado, pela nossa rebeldia, pelo desprezo a Deus), voltamo-nos para o mundo, como se jamais tivéssemos saído dele.
No texto acima, Marta era uma discípula do Senhor. O amava, reconhecendo-O como o Cristo (Jo 11.27), queria agradá-lO naquele momento em que O recebia em casa. Estava atarefada, preocupada com os seus afazeres, distraída em muitos serviços; provavelmente, suas intenções eram as melhores, queria servir correta e adequadamente ao Senhor, queria que Ele se sentisse confortável e que desfrutasse da sua hospitalidade; inebriada em seu trabalho não percebeu como estava errada, e de como desperdiçava não somente o seu tempo, mas a sua energia, em ansiedade e cansaço. Marta, certamente, seria uma “workaholic” dos nossos dias, uma viciada no que faz, vivendo para o que faz, e não pelo que faz; ela seria uma das vítimas do stress, da estafa, talvez até mesmo da depressão pós-moderna. Por isso, o Senhor nos adverte: “Mas os cuidados deste mundo, e os enganos das riquezas e as ambições de outras coisas, entrando, sufocam a palavra, e fica infrutífera... Pois, que aproveitaria ao homem ganhar todo o mundo e perder a sua alma?” (Mc 4.19; 8.36). Paulo exorta-nos a não sermos conformados com este mundo, mas sermos transformados pela renovação do nosso entendimento, para que experimentemos qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus (Rm 12.2).
Marta não compreendeu o mesmo que sua irmã Maria, de que, ao invés de proporcionar conforto ao Senhor, era ela quem deveria desfrutar do Seu consolo. Como alguém que não vê além do próprio nariz, queixou-se a Jesus por “reter” a Maria que O ouvia, enquanto ela, pobre-coitada, se desdobrava em servi-lO. Foi, sem dúvida, um atrevimento da parte de Marta, uma repreensão tola e mal-educada (especialmente porque ela parecia querer agradar ao Senhor... ou queria mostrar a sua eficiência?), peculiar às mentes dominadas e minadas pelo pecado do individualismo, do egocentrismo. Marta, literalmente, “pisou na bola”. Em sua agitação despropositada, interessada em ser uma boa anfitriã, em atingir suas metas e obter os resultados pelos quais se esforçava, ela se esqueceu do mais importante: adorar ao Deus vivo. O seu erro foi agravado ainda mais pelo fato de considerá-lO um insensível: “Senhor, não se te dá de que minha irmã me deixe servir só?”. E a aflição e a insensatez da sua alma, levaram-na a julgá-lO equivocado na forma em que agia: “Dize-lhe que me ajude”.
Quantas vezes ignoramos, ou somos tentados a duvidar de Deus? E em outras a censurá-lO? Com qual direito agimos assim? “Ó homem, quem és tu, que a Deus replicas? Porventura a coisa formada dirá ao que a formou: Por que me fizeste assim?” (Rm 9.20).
Mas a Cristo coube uma advertência amorosa, pacífica, repleta de compaixão e misericórdia; contudo, imperativa, reveladora o suficiente para que ela pudesse aperceber-se de seu grave erro: “Maria escolheu a boa parte, a qual não lhe será tirada”.
A comunhão com Deus é a única indispensável a nossas vidas. Devemos buscar sempre, e em primeiro lugar, o Seu reino e a Sua justiça (Mt 6.33). O mundo e tudo o que nele há, passará. O que plantamos agora, daqui a pouco, de nada servirá, tornando-se inútil. E muito do que nos esforçamos em alcançar continuamente é irrelevante, supérfluo; “porque, onde estiver o vosso tesouro, ali estará também o vosso coração” (Lc 12.34).
Pois, se alguém ama a Deus, é conhecido dele (1Co 8.3); e para os filhos de Deus, somente isso é necessário... Como Maria entendeu gloriosamente, ao deleitar-se em conhecer o seu Senhor.