31 julho 2008

O ÚNICO SACRIFÍCIO








Por Jorge Fernandes

Ao me converter, Deus colocou em meu coração o desejo de ler a Bíblia integralmente, começando por Gênesis, claro! Ao caminhar por suas páginas, descobri a soberania, a graça, o amor de Deus para com os homens, o que não O impediu de julgar povos, tribos e indivíduos rebeldes a Si. Contudo, ao atingir o livro de Levítico entristeci-me por todos aqueles sacrifícios (fruto da minha ignorância e imaturidade espirituais), e o que muitos julgam fazer parte do "mar de sangue" do Antigo Testamento (igualmente fruto da ignorância e cegueira espiritual alheias). Foi difícil lê-lo e entender o porquê de tudo aquilo, ainda que Deus já tivesse colocado no meu coração que aquelas páginas eram fruto da Sua sabedoria, e como tal, eu deveria crer na sua urgência.

Em Levítico, vemos a providência de Deus para o Seu povo, a misericórdia com que Ele nos deu o escape, ainda que para isso o Seu Filho Amado tivesse de padecer em nosso lugar, para não sermos condenados à perdição eterna. E esta é a maior prova do Seu amor.

Hoje, passados três anos, estou novamente lendo o terceiro livro da Bíblia, e maravilhando-me. Ao invés de provar a "crueldade", vejo a manifestação da graça e misericórdia de Deus. Em suas páginas, a descrição detalhada dos sacrifícios de animais a fim de que sacerdotes, indivíduos e o povo de Israel expiassem os pecados, levá-nos até a crucificação do Cordeiro de Deus, Jesus Cristo, a Segunda Pessoa da Trindade Santa. O ritual de purificação era um prenúncio, um sinal, a indicar o que ocorreria quando o eterno Filho de Deus encarnasse, se fazendo homem igual a nós e, na cruz do Calvário, nos substituisse pagando os nossos pecados e reconciliando-nos com Deus [2Co 5.18-21]. O sangue dos animais ali derramado significava o sangue imaculado do Senhor que se verteria por nós. Aqueles animais, primogênitos e perfeitos em sua natureza (macho, sem manchas ou defeitos) anunciavam o Cristo, o unigênito Filho de Deus, perfeito e sem pecado [Hb 7.26], que por Seu muito amor, fez-se iniquidade para que os Seus eleitos fossem salvos.

Ao escolher o animal conforme Lv 1.2-3, o ofertante colocava a mão sobre a cabeça do animal, numa simbologia a qual o animal "recebia" os pecados dele, e então, era sacrificado, e os sacerdotes aspergiam o sangue da vítima em redor do altar para expiação dos pecados. Parece cruel e injusto um inocente, ainda que seja um animal, ser morto para que os pecados do homem fossem purgados... Mas não foi o que aconteceu com o Senhor? Sendo Deus, eterno, puro, santo e justo, Cristo fez-se como nós, e escolheu padecer na cruz para que tivéssemos a vida eterna [Fl 2.6-8]. Não é injusto?... Não! Pois assim aprouve a Deus fazer [Is 53.10]. Era necessário que a nossa iniquidade, os nossos pecados, a desobediência e a afronta a Ele fossem pagas. E como não fomos capazes de cumpri-la, Ele decidiu fazê-lo por nós [Jo 10.17]. Há algo mais maravilhoso? Saber que mesmo imerecidamente, ainda que sejamos iníquos, que não possuamos nada com o qual Deus se alegre, merecendo a condenação eterna no fogo do inferno, somos feitos justos por Ele, justificados eternamente pelo sangue derramado do Cordeiro no Calvário! Que Deus maravilhoso! Que grande libertação! Glória eterna ao Senhor!

As religiões pagãs sacrificam seus filhos. Milhões de bêbes foram mortos e ainda são em favor dos seus deuses; esposas foram sacrificadas juntamente com seus maridos mortos; virgens foram ofertadas para aplacar suas "iras"; velhos, doentes e aleijados encontraram a morte para afugentar os "maus espíritos" e as consequências de tudo o que eles representavam... Em meio as densas trevas que satanás impos a esses povos, eles continuaram e continuam sob a ira de Deus, e se tornaram apenas em assassinos frios e cruéis; pois a ignorância que os conservou não servirá de desculpa para os seus crimes diante do Tribunal de Cristo.

Mas Deus não escolheu sacrifícios e sacrificados para Si [Hb 10.8]. Ele mesmo se fez sacrifício por nós, imolando-se a Si mesmo em favor dos Seus escolhidos. Ele não quis nada de nós, antes nos deu tudo. Não exigiu nada, e nem esperou que fóssemos capazes de atender a alguma exigência, pelo contrário, "E aos que predestinou a estes também chamou; e aos que chamou a estes também justificou; e aos que justificou a estes também glorificou" [Rm 8.30] ; capacitando-nos pelo Espírito Santo a crer, sermos fiéis, e instrumentos para a realização da Sua boa obra no mundo. Nem quis nossos corpos autoflagelados, nem autopenitentes, nem que "pagássemos promessas" a fim de agradá-lO, nem o cumprimento de qualquer ritual, nem peregrinações e romarias, nada, absolutamente nada! Porque? Simplesmente por que não há algo que possamos fazer que Cristo não fez. Nem há nada que agrade mais ao Pai que Cristo não tenha feito. Se Ele, o Filho Amado, cumpriu todas as exigências da justiça divina, como melhorar o que já é perfeito? Se pensamos em fazê-lo, desmerecemos a obra consumada do Senhor Jesus, e queremos nos fazer iguais a Ele, e estamos condenados, porque jamais alcançaremos a salvação por mérito próprio. Antes, devemos nos rejubilar pelo que o Senhor fez em nosso favor, quando éramos inimigos de Deus [Ef 2.5;Cl 1.21]. Os sacrifícios não são mais necessários [Hb 7.27], pois o próprio Deus se encarregou de fazê-lo em nosso lugar [Ef 5.2]. Cristo nos substituiu, pagando a dívida que tínhamos para com Deus e a Sua justiça. Somos livres, e estamos livres unicamente pela Sua graça e amor.

Se você, como eu no passado, não compreendia os sacrifícios de animais em Levítico, saiba que os pagãos o achariam simples em demasia para os seus padrões de impiedade, e saiba que isso é fruto da corrupção da alma; e de que somente através da obediência, da subserviência e da entrega total de nossas vidas ao Senhor, encontraremos finalmente a paz, reconciliando-nos com o Princípe da Paz [Is 9.6], Rei dos reis e Senhor dos senhores [1Tm 6.15]. Pois não é necessário mais nenhum sacrifício, porque Cristo é o único holocausto que satisfez a Deus [Hb 10.12]... agora há somente o gozo de saber que Ele jamais se lembrará dos meus pecados e iniquidades... e desfrutar da Sua glória e salvação eternas.

25 julho 2008

AVIVAMENTO








Por Jorge Fernandes

É um tema morto entre nós cristãos hoje. Quase ninguém fala de avivamento, ou, quando o fazem, referem-se a um suposto “avivamento”, o qual não é nada mais nada menos do que uma espécie de coceira nos pés, nas mãos e nos quadris dos freqüentadores de igrejas "calientes". Toca-se a rumba, rock, samba ou forró, gritam-se aleluias num frenesi à moda dos doidivanos, em altíssimos decibéis, e pronto! O que poderia chamar-se tranquilamente de “baderna”, adquire a corruptela de “louvor”; e muitos o confundem com avivamento.
Dizem que o Brasil está em meio a um avivamento; que há uma “onda brazilis”; que a igreja nunca cresceu tanto em um país como aqui e agora, onde o número de evangélicos ultrapassou os 30 milhões; as igrejas e seus grandes templos estão cheios, onde o "povo de Deus" aplaude, pula, grita, rosna, late, rola pelo chão, e está afeito a tantas outras esquisitices ditas do "Espírito", que somente alguém cegado por satanás seria incapaz de reconhecer esse grande evento. Não é assim... “O meu povo foi destruído, porque lhe faltou o conhecimento” [Os 4.6]. O quê, e em quê, a igreja cristã tem influenciado o país? Qual o testemunho que esse "avivamento" tem levado para os descrentes? Tem havido arrependimento, temos nos desviado do pecado, e honrado o nome do Senhor? Há uma busca pelo servir a Deus e ao próximo, ou pela satisfação egoísta e pessoal dos prazeres mundanos? Pois, “os cuidados deste mundo, e os enganos das riquezas e as ambições de outras coisas, entrando, sufocam a palavra, e fica infrutífera" [Mc 4.19].
Essa é, mais ou menos, a contribuição de Charles Finney. Ao construir o pragmatismo na igreja [a igreja de resultados a “ la Ricky Warren”], ele criou todo um sistema de apelo humanista, e de rejeição aos princípios bíblicos; onde, para que algo seja verdadeiro, tem de dar certo, tem de funcionar [no sentido mais primitivo que o homem conceber]. Por isso, a pregação tem de ser emotiva, a música sentimentalóide, as luzes hipnóticas, banners com frases estimulantes... um ritmo quase como os dos comícios políticos, ou seja, tudo a fim de agradar e satisfazer a carne, permeado por técnicas de psicologia e auto-indução. Então, o que se vê hoje são crentes “nominais” invandido templos à procura de distração para as suas consciências; e comoção, êxtase para os sentidos; uma cartaxe onde extravasar as emoções, desopilar, é o mesmo que fãs fazem em shows musicais, "raves", em orgias, ou em grupos de auto-ajuda; cujo objetivo é trazer um bem estar momentâneo, um alívio imediato, ao invés de arrependimento, perdão, reconciliação com Deus, e o novo nascimento em Cristo.
Onde houve avivamento, a sociedade foi mudada, sobretudo, porque os crentes refletiam uma vida cristã, nas quais as pessoas olhavam-nos e via revelado neles o caráter de Cristo; “para que possais andar dignamente diante do Senhor, agradando-lhe em tudo, frutificando em toda a boa obra, e crescendo no conhecimento de Deus” [Cl 1.10]. Havia o desejo de servir a Deus, de reverenciá-lO com suas próprias vidas, não apenas com palavras, porque um homem somente poderá refletir a Cristo exteriormente se o seu brilho vier do coração. Mas a maioria, como o Senhor disse, “se aproxima de mim, e com a sua boca, e com os seus lábios me honra, mas o seu coração se afasta para longe de mim e o seu temor para comigo consiste só em mandamentos de homens, em que foi instruído” [Is 29.13]. Hoje, quase não se dá para distinguir um crente de um não-crente, a não ser aos domingos, quando estamos com nossas Bíblias, empunhando-as como a um adorno, e assim, desonrando ainda mais o evangelho, pois “o nome de Deus é blasfemado entre os gentios por causa de vós” [Rm . 2.24].
Infelizmente, não creio num avivamento no Brasil. Estamos anos-luz do viver e testemunhar os princípios bíblicos [a sociedade manifesta, irrefutavelmente, o desprezo para com Deus, e agoniza, sofre e faz sofrer] preocupados em demasia conosco para que isso aconteça. Creio, porém, no avivamento de uma igreja, de um grupo de igrejas, num local específico, onde aqueles que buscam verdadeiramente a face do Senhor serão cheios do Espírito Santo, abundando no amor, graça e misericórdia de Cristo, servindo-O. A história mostra que os avivamentos são isolados, e ocorrem em determinadas regiões ou grupos, como os puritanos na Inglaterra do Sec. XVII, ou os EUA, de Jonathan Edwards, no Sec. XVIII.
Contudo, devemos orar para que Deus, na sua misericórdia, avive a nossa igreja [primeiro, a nós e à nossa congregação], e, sobretudo, que tenhamos uma vida cristã, obediente aos princípios bíblicos, em amor para com todos [crentes ou não], em oração constante, para que a misericórdia e a graça do Senhor se manifestem em nós, como Ele disse: “Não te hei dito que, se creres, verás a glória de Deus?” [Jo 11.40]; e, Paulo: “portanto, quer... façais outra qualquer coisa, fazei tudo para glória de Deus” [1Co 10.31].

24 julho 2008

CULPADO

Por Jorge Fernandes

O pão a seu pai;
O grão à terra;
Vida e morte;
O campo se pesa;
Recolha-se os filhos;
A boca a comer,
Fartar-se do que não juntou,
Antes do sol se pôr.

Desce ao seu lugar em roupas novas,
O coração lacerado,
O choro como lavoura sem sega,
Nada sobra,
Nem se buscou,
Diante dele o silêncio,
O ai! de dor é quase um alívio.

A palavra amorfa caída entre o vazio da manhã,
O pouco da velhice restou,
Esteve conosco no pedaço desarraigado,
O desastre lhe coube,
Em vestes rasgadas no corpo sem perdão,
Se ausentou,
E não o tenho visto até agora.

18 julho 2008

ECO'S











Por Jorge Fernandes

No fim do sec. XIX e durante o XX, os direitos individuais foram as bandeiras políticas dos movimentos sociais e civis. Povos colonizados viram-se independentes; plebeus puderam escolher o seu “rei” pelo voto majoritário; escravos foram libertados; empregados tiveram direitos assegurados; mulheres engrossaram as fileiras do mercado de trabalho; consumidores ganharam leis que os protegessem; filas para idosos, gestantes... Um período onde o homem foi aparentemente beneficiado, onde obteve conquistas, e uma ilusória igualdade foi alardeada como vitória, o que, contudo, não passou de retórica.
A cada novo “triunfo”, outros se faziam necessários; e cada vez mais grupos de novos privilegiados subjugavam grupos de ex-privilegiados. Foi um período de lutas, de sangue, de gritos, de ruas pichadas, nervos à flor da pele... e ainda que alguns esforços fossem legítimos, houve muita injustiça.
Hoje, nada disso é passado! As antigas formas de mobilização persistem. Há os “paneleiros” em Buenos Aires, as prostitutas em São Paulo, os sem-teto em BH, e outras tantas reinvindicações espalhadas pelo Brasil e o mundo. Mas, nenhum movimento ganhou mais visibilidade e força em nossa época do que a “eco-panfletagem”. Existem mais "ong’s" no planeta em defesa da natureza do que, por exemplo, em prol das crianças abandonadas e famintas. A ecologia é a indústria político-social do novo milênio; substituindo a racial, a marxista-comunista, operária, indígena, feminista... Então, devemos nos engajar nessa nova causa? Ou ignorá-la?... O que a Bíblia fala acerca disso?
Paulo diz: “Porque sabemos que toda a criação geme e está juntamente com dores de parto até agora” [Rm 8.22]. Muito antes das ong’s, do greenpeace, e de toda a parafernália eco-militante, o apóstolo afirmava que a natureza sofria. Porque? “Na esperança de que também a mesma criatura será libertada da servidão da corrupção”; e, como nós, a natureza se aflige, dolorida, corrompida, aguardando “a liberdade da glória dos filhos de Deus” [(Rm 8.21].
A queda do homem no Éden trouxe o caos e a desordem ao universo. Adão, ao pecar, desobedeceu a Deus e, portanto, opôs-se à Sua santidade. O Deus santo não pode conviver com o pecado e nem com o pecador. Por isso, após criar todas as coisas, Deus aprovou-as, por estarem acabadas e refletire
m a Sua perfeição: “E viu Deus tudo quanto tinha feito, e eis que era muito bom” [Gn 1.31].
O homem foi criado em perfeição, à imagem e semelhança de Deus [Gn 1.27]; mas a rebeldia e a descrença o fizeram cair, e juntamente com ele, caiu toda a criação. A queda do homem significou a morte, a transitoriedade e o fim de tudo.
E como se deu?... Deus entregou ao homem e a mulher para alimento “toda a erva que dê semente, que está sobre a face de toda a terra; e toda a árvore, em que há fruto que dê semente” [Gn 1.29]; e “fez brotar da terra toda a árvore agradável à vista, e boa para comida” [Gn 2.9], e deu-lhas ao homem para delas comer livremente, menos uma: a árvore do conhecimento do bem e do mal; “porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás” [Gn 2. 16-17].
Igualmente, o Senhor proferiu que “a todo o animal da terra, e a toda a ave dos céus, e a todo o réptil da terra, em que há alma vivente, toda a erva verde será para mantimento; e assim foi” [Gn1.30]. Logo, tanto o homem quanto os animais alimentavam-se exclusivamente de ervas e frutos; eram todos herbívoros, e não havia carnívoros.
Deus ainda deu ao homem o poder de sujeitar e dominar sobre toda a criação [Gn 1.28]; ele era uma espécie de administrador, um zelador, ao qual tudo lhe foi submetido. Até esse momento, o sangue de animais não havia sido derramado; mas ao transgredir a ordem do Senhor e pecar [ao comer o fruto da árvore do bem e do mal (Gn 3.6)], o homem e a mulher viram-se nus, e para cobrir-lhes a nudez, Deus fez túnicas de peles de animais, significando que ocorrera a primeira morte no mundo [Gn 3.21].
A perfeição e o equilíbrio criados por Deus haviam-se rompido, e, a partir daquele momento, a criação sofreria as conseqüências danosas da transgressão de Adão [Gn 3.17].
Por isso, Paulo afirmou: “a criação ficou sujeita à vaidade, não por sua vontade, mas por causa do que a sujeitou” [Rm 8.20], e de que “a ardente expectação da criatura espera a manifestação dos filhos de Deus” [Rm 8.19]. O que o apóstolo quer nos dizer? Que apenas quando formos completamente restaurados, “a saber, a redenção do nosso corpo”, recebendo corpos glorificados como o do nosso Senhor Jesus Cristo, onde o pecado não mais habitará, e sermos santos como santo é o nosso Deus; nesse dia, a criação será redimida e não mais gemerá “com dores de parto”, pois, “Onde está, ó morte, o teu aguilhão? Onde está, ó inferno, a tua vitória? Ora, o aguilhão da morte é o pecado... Mas graças a Deus que nos dá a vitória por nosso Senhor Jesus Cristo” [1Co 15.55-57]. Somente Ele detém o poder de restaurar a ordem inicialmente rompida, e que existiu quando da criação do mundo: “Porque em esperança fomos salvos”; e, “nós, segundo a sua promessa [de Cristo], aguardamos novos céus e nova terra, em que habita a justiça” [Rm 8.24; 2Pe 3.13].
Ao contrário, o movimento pró-ecologia quer fazer da natureza um deus, assim como o marxismo quis fazer dos seus líderes deuses e o Estado o deus supremo, e cultuá-lo, e alçá-lo ao trono divino, intentando usurpar o lugar que jamais lhe pertenceu.
A natureza não quer assumir o lugar do Senhor, ela quer, como boa criação de Deus, servir-nos, cumprindo o propósito do Criador. E nós, cumpramos o nosso: de dar glórias somente a Deus, e, como servos, render-nos ao senhorio de Cristo nosso Senhor; entendendo que tanto o homem como o universo somente encontrarão a paz quando entrarem na plenitude da Sua glória, a qual durará por toda a eternidade, será infinita, e em gozo contínuo, “porque para mim tenho por certo que as aflições deste tempo presente não são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada” [Rm 8.18].
Portanto, não é o caso de se rejeitar ou aderir à causa ecológica [o que qualquer um pode fazer, ao aceitá-la ou não], nem ignorá-la, mas de esperar em Cristo, crendo na Sua justiça, a qual não se pode escolher, mas render-se.

14 julho 2008

HOUVE












Por Jorge Fernandes


Há carne,
E sentidos,
Há ferida,
E mortes
Há dor,
E repetições,
Há teimosia,
E ilusões,
Há vão,
E abismos,
Há imoralidade,
E anuências,
Há loucura,
E omissões,
Há sinistro,
E pretextos,
Há retórica,
E impassividades,
Há treva,
E armadilhas,
Há pecados,
E inferno,
Há cegos,
E coiós,
Há obstinados,
E insanos,
Há desertores,
E desgraçados,
Há caídos,
E condenados,
Há criminosos,
E culpados,
Haverá a eternidade,
E mais nenhuma chance,
Pois o passado,
Se houve.

10 julho 2008

COROA DA VIDA













Por Jorge Fernandes

A palavra de Deus é verdadeira, e nela está contida toda a verdade. Porque, então, temos tanta dificuldade em aceitar partes dela, e compreendermos que Deus nos deu a Sua revelação como um todo; e não para escolhermos apenas e tão somente o que nos agrada, ou melhor, somente o que nos satisfaz egoisticamente, e acomoda a nossa fé? E nos leva a uma vida confortável, sem compromisso, riscos ou percalços; ensimesmados em nós mesmos por falsas promessas e conceitos distorcidos? Que nos torna no pior tipo de fariseu, ou no melhor tipo de irresponsável e negligente, dito "cristão"?
Quando as provações vêem, qual a nossa reação? Murmurar e nos rebelar contra Deus? Imputar-lhE injustiça e fazer-nos de vítimas? Ou aproximar-nos obedientes e submissos do Seu trono, aceitando a Sua santa vontade, sabendo que estamos sob os cuidados de um Deus sábio e reto?
Ao ouvir-lhE a voz, e sermos chamados à conversão, a obra de Deus inicia-se em nós, e conduz-nos até o dia do Senhor: "tendo por certo isto mesmo, que aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até o dia de Jesus Cristo" [Fp 1.6]. Aceitando-O como Senhor e Salvador, adquirimos o passaporte que nos levará ao gozo eterno, numa viagem sem retorno; que, contudo, não está isenta de dificuldades, muitas vezes, dolorosas. Ainda assim, nada está à Sua revelia; em cuja soberania e perfeição Ele não se permite surpreender, nem se decepcionar, visto que todo o curso da história [inclusive a nossa história pessoal] encontra-se determinado eternamente por Seus decretos.
Não podemos ver a provação apenas como um castigo por algo que fizemos de errado, por causa do pecado ["Porque o Senhor corrige o que ama, e açoita a qualquer que recebe por filho" (Hb 12.6)]; mas devemos vê-la como um instrumento de Deus para a nossa santificação ["Segui a paz com todos, e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor" (Hb 12.14)], a qual nos levará à perfeição ["Para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra"(2Ti 3.17)]; e, portanto, sentirmos gozo nas aflições, a fim de perseverarmos, mantendo-nos firmes nas promessas do Senhor, mesmo quando tudo parece conspirar contra nós.
Assim Deus estará colocando em nós o caráter do Seu Filho Jesus Cristo, e nos fará semelhante a Ele. Como Paulo disse: "Em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados. Perseguidos, mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos; trazendo sempre por toda a parte a mortificação do Senhor Jesus no nosso corpo, para que a vida de Jesus se manifeste também nos nossos corpos" [2Co 4.8-10].
Devemos crer firmemente que Deus dirige a nossa vida, que Ele cuida de cada detalhe do nosso dia-a-dia, mesmo os aparentemente insignificantes, mesmo aqueles que sequer notamos. E assim, temos a confiança de que, ainda que sem entender, sabemos que Deus não nos abandona, e de "que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito" [Rom 8:28]. Se O amamos, somos obedientes, e submetemo-nos aos Seus desígnios. E teremos conforto na Sua palavra, a qual promete que Jesus nos dará a paz que o mundo não pode nos dar [João 14:27].
Portanto, sigamos firmes no Senhor, "que é poderoso para guardar o meu depósito até àquele dia" [2Ti 1.12]; entregando a nossa vida em confiança ao Deus eterno e santo, o qual nos purificará como o ouro é purificado pelo fogo [1 Pe 1.7], a fim de nos apresentarmos diante do Seu trono irrepreensíveis, aprovados em Cristo Jesus, "para uma herança incorruptível, incontaminável, e que não se pode murchar, guardada nos céus para nós" [1 Pe 1:4].; pois, "Bem-aventurado o homem que sofre a tentação; porque, quando for provado, receberá a coroa da vida, a qual o Senhor tem prometido aos que o amam" [Tg 1.12].

04 julho 2008

NÃO SEJA IGUAL AOS OUTROS












Por Jorge Fernandes Isah


Vi uma propaganda de um produto na internet em que a mensagem era exatamente esta: “Não seja igual aos outros”. Havia um apelo à diferença, ao não conformismo, a não se parecer ou ser uma repetição de outras pessoas.
No primeiro momento, pensei: “Puxa, é mais uma tentativa de se vender algo que não diferencia ninguém ou nada neste mundo... que pelo contrário, o fará parecido ou igual à maioria”. É claro que não somos inteiramente iguais, nem mesmo na família é possível encontrar pessoas idênticas. Não falo de clonagem, nem de uma massa de indivíduos fisionômica e psicologicamente análogos. Mas é que, cada vez mais os nossos comportamentos, gostos e vontades estão-se massificando. E a publicidade dos produtos, a fim de distingui-los, procura fisgar o consumidor com a idéia de exclusividade, ou quando muito, adentrá-lo a um grupo “seleto” de privilegiados.
Se o objetivo é conquistar o maior número de pessoas para a sua causa, consequentemente, um número maior delas se parecerá com outros adeptos catequizados pela mesma cartilha. No fundo, a idéia é vender, quanto mais a um maior número de pessoas, e nada melhor do que dizer que você é singular, e fazê-lo adquirir o produto como outros tantos milhões o farão, crendo no mesmo ardil.
É a prova do quanto há de insatisfação, pois, o que as sandálias da Gisele Bundchen ou a cerveja do “Zeca” ou o carrão do Kiefer Sutherland podem fazer para me transformar em alguém como eles? A Gisele é única não pelas sandálias. O Zeca, o Kiefer, idem. O que nos torna diferentes é exatamente a medida daquilo que Deus nos deu, e que deu a cada um. É possível que eu cante tão bem como o Chat Baker? Ou venda tantos softers como o Bill Gates? Ou componha como Bach? E jogue como o Cristiano Ronaldo? Talvez eu tenha até mesmo algumas das suas habilidades, talvez eles não tenham algumas das minhas; mas jamais serei eles, e vice-versa.
Deus deu a cada um [crente ou não] habilidades, dons e talentos que são exclusivos; não no sentido de únicos, de que apenas uma pessoa os possui, mas no sentido de que, no conjunto de nossas aptidões e características não há alguém como nós [é um milagre, visto que evidencia a nossa complexidade, e a impossibilidade de sermos apenas fruto do “acaso”]. E devo não apenas conformar-me, mas alegrar-me com aquilo que Ele me deu, sabendo que, segundo a Sua santa e reta vontade pode dar mais ou menos a quem Ele quiser.
O homem natural [e mesmo o crente] pode não se satisfazer com o que Deus lhe dotou, e cobiçar o que não lhe pertence, seja material, espiritual ou intelectual; incorrendo em pecado, pois, agindo assim, estamos dizendo que o Senhor errou ao não me capacitar como fez a outro. Isso vale para tudo, para todas as nossas insatisfações; e, devemos reconhecer que ao agir assim, estamos em flagrante oposição a Deus, que é perfeito, e não erra. Paulo afirmou: “Em tudo dai graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco” [1Tes 5.18].
Ao buscarmos ser como o outro, deixamos de encontrar em nós exatamente aquilo que Deus nos confiou, não para o nosso proveito próprio, mas para a Sua glória: “Portanto, quer comais quer bebais, ou façais outra qualquer coisa, fazei tudo para glória de Deus”[1Co 10.31].
Mas, em seguida, veio-me uma questão: “A Bíblia não afirma que devo ser como o meu Senhor Jesus Cristo?"... “Mas todos nós, com rosto descoberto, refletindo como um espelho a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor”[2Co 3.18]. Então percebi o quanto estava errado. E o quanto deveria anelar a conformidade do meu Senhor e Salvador, na expectação de um dia ser como Ele: “Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não é manifestado o que havemos de ser. Mas sabemos que, quando ele [Jesus] se manifestar, seremos semelhantes a ele; porque assim como é o veremos”[1Jo 3.2]. Deus o Pai prometeu que seremos como o Seu Filho Amado, porque um dia Jesus Cristo se fez semelhante a nós [“Que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens” (Fl 2.6-7)], por amor a nós [Ef 5.2], para nos salvar da condenação eterna [At 4.10-12;Rm 5,8], e nos dar vida [Jo 20.31;Rm 6.23]; portanto, devemos buscar ardentemente parecer-nos com Cristo, e orar para que esse dia não demore, e possamos, como Paulo, dizer: “Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim” [Gl 2.20]; e ainda: “Como, pois, recebestes o Senhor Jesus Cristo, assim também andai nele” [Cl 2.6].
E então, a Gisele, o Zeca e o Kiefer poderão ser iguais a nós, se assim aprouver a Deus, chamando-os para a Sua glória, onde todos seremos um só Corpo; sem nos preocupar mais em “não ser igual aos outros”.