Jorge F. Isah
Sócrates descreveu como exceção, para todos os tempos, mas tornou-se regra nos últimos cem ou mais alguns anos, e é quase unanimidade nos dias atuais, seja por dolo, seja por ignorância e incapacidade de muitos percebê-lo; seja por descuido, apatia ou o desejo de copiar o "espírito" do senso comum. Vamos, então, a ela!
Ao mesmo tempo em que afirmou o "Imago Dei" no homem, ele também descreveu que, quanto mais o homem se afasta de Deus e de sua santidade, mais o "Imago Dei" se esvanece e sucumbe à natureza pecaminosa. Ou seja, aquilo que Agostinho reproduziu séculos depois, e que foi afirmado por profetas, apóstolos, pela igreja em geral e, especial e necessariamente por Cristo, era uma ideia compartilhada com o filósofo gregos.
Evidente que o povo de Deus tem a melhor resposta, na verdade, a única resposta: pois o Deus bíblico e pessoal, na pessoa do Pai, Filho e Espírito Santo é o único Deus. Todos que se aproximarem dele, verdadeiramente (não vale a adesão nominal, quando o coração está voltado e focado no serviço ao pecado), estarão mais distantes dos efeitos noéticos, e do mal a sucedê-lo.
Infelizmente os tolos pensam que não pagarão pelos seus desvios, enquanto um bando de medrosos alisam sua própria vaidade, distraídos o suficiente para não se aperceberem tolos e ludibriados pelo próprio orgulho e presunção.
Mas é, contudo, a imagem de Deus que neutraliza o mal, segundo Sócrates. O que, mesmo não sendo dito dessa maneira pelo Cristianismo, acaba por ser uma percepção cristã: mais próximo de Deus, mais distante do mal. Mais distante de Deus, mais próximo do mal.
Vale a pena a reprodução do trecho do livro:
"Sócrates: As demais aparências de habilidade e de sabedoria, quando se mostram no exercício do poder público, são conhecimentos grosseiros, nas artes, vulgaridade. Assim, quando alguém é injusto ou ímpio, por ações ou palavras, será melhor não conceder-lhe que todo o seu êxito se baseia na astúcia, pois esse indivíduo se envaideceria com o reparo, muito ancho por ter ouvido dizer, segundo crê, que não é néscio ou fardo inútil sobre a terra, porém homem como terão de ser os que melhor sabem vencer na vida pública. A esses tais é preciso dizer-lhes a verdade: que são tanto mais o que julgam não ser, quanto menos sabem o que são. De fato, todos eles desconhecem qual seja o castigo da injustiça, o que menos do que tudo não se pode ignorar. Não é o que todos pensam; castigos corporais e morte, de que os malfeitores muitas vezes escapam, sendo penalidade a que ninguém se exime.
Teodoro: A que penalidade te referes?
Sócrates: Na própria ordem das coisas, amigo, há dois paradigmas: um divino e bem-aventurado; outro, contrário a Deus e miserabilíssimo. Porém nada disso eles percebem; a enfatuação e a demência em grau máximo os impedem de sentir que com suas ações injustas eles se aproximam do segundo e cada vez mais se afastam do primeiro. São castigados pela vida que levam, conforme ao modelo de sua preferência. E se lhes dizemos que se não renunciarem àquela habilidade, depois de mortos não serão recebidos no local estreme de maldades e aqui em baixo terão de levar vida conforme seu caráter; os maus convivendo com a maldade; tudo isso eles escutam, sabidíssimos e astuciosos, como palavreado vazio, de pessoas desprezíveis".
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Livro "Teeteto"
Autor: Platão
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