21 setembro 2013

Estudo sobre a Confissão de Fé Batista de 1689 - Aula 52: Dízimos e ofertas


Por Jorge Fernandes Isah


Sabemos que a vida cristã é, sobretudo, uma vida na qual devotamo-nos a servir, servir a Deus, à igreja, ao irmão, e ao próximo. O servir está ligado diretamente à humilhação e sujeição do crente, tanto a Deus, como à igreja, como ao irmão e ao próximo. Muitos pensam que o servir está limitado a algumas questões, mas quase sempre não incluímos em seu rol o auxílio ou ajuda financeira. O ponto em que estudaremos agora parece-me estar diretamente ligado ao conceito cristão de servir, humilhar-se e sujeitar-se: o dizimar e o ofertar, o tem toda a relação com submissão e, não somente a Deus, mas ao próximo também. Porém, antes de entrarmos nessa questão, vamos caminhar um pouco, do ponto de vista bíblico e histórico, sobre a questão do dízimo.

1) Primeiramente, o que é o Dízimo? E, o porquê do Dízimo?
Bem, a palavra dízimo, originária do hebraico "asar", deriva da palavra "dez" e também significa "ser rico". O princípio básico do dízimo está em se reconhecer que Deus é o Senhor de todas as coisas, inclusive dos nossos bens, sejam quais forem as posses, das quais somos mordomos, guardiões e beneficiários diretos. De forma que, ao dizimar, testemunhamos em reconhecimento, honra e louvor a Deus, a quem tudo pertence.

Era destinado ao sustento dos sacerdotes e levitas que tinham uma função religiosa, mas também social [cuidavam da educação e eram responsáveis pela distribuição do bens aos necessitados].

2) Onde aparece, pela primeira vez, a prática do Dízimo?
Em Gn 14.20 cf Hb 7.4-10: Abrãao dá a Melquisedeque, sacerdote do Senhor, o dízimo de todos os bens conquistados em Quedolaomer. 

[Penso que uma das coisas que desagradou a Deus foi o fato da oferta de Caim não ter sido proporcional aos 10%, no que Abel fez corretamente. Mas isso é uma inferência, apenas uma especulação, mas que bem pode ser verdadeira].

“Ouvindo, pois, Abrão que o seu irmão estava preso, armou os seus criados, nascidos em sua casa, trezentos e dezoito, e os perseguiu até Dã. E dividiu-se contra eles de noite, ele e os seus criados, e os feriu, e os perseguiu até Hobá, que fica à esquerda de Damasco. E tornou a trazer todos os seus bens, e tornou a trazer também a Ló, seu irmão, e os seus bens, e também as mulheres, e o povo. E o rei de Sodoma saiu-lhe ao encontro (depois que voltou de ferir a Quedorlaomer e aos reis que estavam com ele) até ao Vale de Savé, que é o vale do rei. E Melquisedeque, rei de Salém, trouxe pão e vinho; e era este sacerdote do Deus Altíssimo. E abençoou-o, e disse: Bendito seja Abrão pelo Deus Altíssimo, o Possuidor dos céus e da terra; E bendito seja o Deus Altíssimo, que entregou os teus inimigos nas tuas mãos. E Abrão deu-lhe o dízimo de tudo” [Gn 14:14-20].

Abraão deu o dízimo ao sacerdote em agradecimento a este ou a Deus? Em honra deste ou de Deus? Claro que Melquisedeque era merecedor de honra, mas, primeiramente, Abraão o fez como agradecimento e reconhecimento por Deus ter-lhe dado vitória sobre os seus inimigos e resgatado a Ló e seus bens.

3) O dízimo não era somente dos frutos da terra? Se era, por que temos de dar dinheiro em espécie?

Em Deuteronômio 14:22-29, Deus estabelece a forma de como será recolhido o dízimo:

“Certamente darás os dízimos de todo o fruto da tua semente, que cada ano se recolher do campo. E, perante o SENHOR teu Deus, no lugar que escolher para ali fazer habitar o seu nome, comerás os dízimos do teu grão, do teu mosto e do teu azeite, e os primogênitos das tuas vacas e das tuas ovelhas; para que aprendas a temer ao SENHOR teu Deus todos os dias. E quando o caminho te for tão comprido que os não possas levar, por estar longe de ti o lugar que escolher o SENHOR teu Deus para ali pôr o seu nome, quando o SENHOR teu Deus te tiver abençoado; Então vende-os, e ata o dinheiro na tua mão, e vai ao lugar que escolher o SENHOR teu Deus; E aquele dinheiro darás por tudo o que deseja a tua alma, por vacas, e por ovelhas, e por vinho, e por bebida forte, e por tudo o que te pedir a tua alma; come-o ali perante o SENHOR teu Deus, e alegra-te, tu e a tua casa; Porém não desampararás o levita que está dentro das tuas portas; pois não tem parte nem herança contigo. Ao fim de três anos tirarás todos os dízimos da tua colheita no mesmo ano, e os recolherás dentro das tuas portas; Então virá o levita (pois nem parte nem herança tem contigo), e o estrangeiro, e o órfão, e a viúva, que estão dentro das tuas portas, e comerão, e fartar-se-ão; para que o SENHOR teu Deus te abençoe em toda a obra que as tuas mãos fizerem”. 

Um dos argumentos mais usuais, atualmente, de que o dízimo foi prescrito para a igreja, é afirmar que ele era recolhido apenas na forma de grãos, carne, leite e outros frutos da terra. Acima, temos que a prática de vender o que se havia produzido e entregá-lo ao lugar escolhido por Deus [um local distante que impossibilitasse o transporte de gado e dos frutos da terra, p. ex.] na forma de dinheiro, foi estabelecido na própria palavra. Então, a bobagem de que você deve dar o dízimo na forma de frutos ou gado não é verdade. Pois, qual de nós vive da terra? Qual de nós planta e vive apenas daquilo que se planta? Ou cria-se gado e subsiste-se apenas dessa fonte? Ninguém! Por que? Não vivemos em uma sociedade rural, como os judeus viviam no período veterotestamentário. A sociedade israelense era basicamente rural. Mesmo nas cidades, havia a prática de se trocar um produto pelo outro: trigo por carne, azeite por roupas, etc. Quase tudo era produzido artesanalmente e, por isso os produtos eram a moeda corrente da época. No contexto geral, se tirava a décima parte de tudo e entregava-a, anualmente, no Templo.

Hoje, como a maior parte dos produtos são industrializados e produzidos em larga escala, o dinheiro é a melhor forma utilizada para se vender ou adquirir algo; o sistema de trocas não é funcional, por vários motivos [a distância, por exemplo]. Vivemos em uma sociedade cosmopolita, e todos nós trabalhamos e recebemos em dinheiro, por isso, aventar a hipótese de que teremos de pegar esse dinheiro, ir a um supermercado ou armazém, comprar abóboras, trigo e toucinho para levar à igreja, é simplesmente estúpida. Agora, se alguém vive exclusivamente da terra, sem negociar, comprar ou vender, se ela produz tudo o que precisa para viver, roupas, alimento, etc, produzindo para si própria, sem utilizar-se do comércio para manter suas necessidades, ela pode pegar parte do que ela produz e entregar como forma de dízimo. Acontece que ninguém vive assim; nós não produzimos o calçado que usamos, nem as roupas que vestimos, nem mesmo o arroz e a carne que comemos, tudo o que dispomos para a nossa subsistência, para suprir as necessidades, e, até mesmo para o nosso conforto, origina-se do dinheiro que ganhamos e desembolsamos para custear esse dispêndio. A própria obrigatoriedade de se pagar os impostos [sem os quais o ruralista perderá a sua terra e os seus bens] implica na necessidade de comercialização, venda de produtos e o recebimento respectivo do seu valor em espécie. 

A Escritura, então, encarrega-se, em sua sabedoria, de destruir esse falso argumento, malignamente colocado como prática bíblica. 

4) O verso mais famoso sobre o dízimo é Ml 3.8-11. Mas ele fala apenas do dízimo?

“Roubará o homem a Deus? Todavia vós me roubais, e dizeis: Em que te roubamos? Nos dízimos e nas ofertas. Com maldição sois amaldiçoados, porque a mim me roubais, sim, toda esta nação. Trazei todos os dízimos à casa do tesouro, para que haja mantimento na minha casa, e depois fazei prova de mim nisto, diz o SENHOR dos Exércitos, se eu não vos abrir as janelas do céu, e não derramar sobre vós uma bênção tal até que não haja lugar suficiente para a recolherdes. E por causa de vós repreenderei o devorador, e ele não destruirá os frutos da vossa terra; e a vossa vide no campo não será estéril, diz o SENHOR dos Exércitos”.

Não! Fala também de ofertas. Ou seja, fala que o servo de Deus deve dizimar e ofertar. Não é uma questão de escolha entre um e outro; ou uma questão terminológica, de que um substitui o outro como sinônimos ou aplicados em épocas diferentes, sendo pactos diferentes, dispensações diferentes ou alianças diferentes, mas uma questão de reconhecer a ambas. A Bíblia trata das duas formas, onde elas não se excluem. As ofertas não são um conceito neotestamentário, mas verotestamentário. Elas não surgiram como substitutas do dízimo na nova aliança, implicando na extinção daquele, mas ambos caminham lado a lado, dentro daquele padrão de sujeição, louvor e glória a Deus por tudo o que ele é, mas também nos dá. 

5) A ideia da extinção do dízimo não remete a uma descontinuidade entre o AT e o NT?

Não há descontinuidade do AT e NT [a Bíblia é um livro só, não dá para dizer que a Igreja deve seguir apenas o NT, pois o que está revelado no AT apenas se faz mais claro no NT. Se dizemos que apenas o NT é a revelação, desprezamos o próprio Deus que se revelou primeiramente no AT. Para mim, a melhor forma de interpretação, se um princípio válido no AT prevalece no NT, é a sua expressa anulação ou renúncia; caso contrário, o princípio subsiste e não foi revogado.

Então, penso que o dízimo, ao não ser abolido expressamente no NT, é atual. Por exemplo, a circuncisão estabelecida por Deus em Gn 17.23-27 [logo, antes da Lei Mosaica] é combatida veementemente por Paulo em várias passagens, em suas epístolas. Temos então uma grande diferença, pois, enquanto a circuncisão é combatida e mesmo proibida, como algo ineficiente, já que Deus fez de judeus e gentios um só povo [e o próprio Paulo diz que judeu não é todo o que é de Israel, os circuncidado na carne, mas os da descendência de Isaque, os circuncidados no coração - Rm 9.6-7]. 

Como não há nenhum versículo no NT que expressamente abrogue o dízimo, e este me parece o melhor método para interpretar as Escrituras, de que aquilo que não foi explicitamente anulado no texto continua prevalecendo, ele conserva-se intacto como revelação e prática para toda a igreja. 

6) Por que Jesus, Paulo e os demais apóstolos não falaram ou confirmaram o princípio do dízimo e sim das ofertas?

Penso que o princípio do dízimo não oferecia problemas de entendimento para a igreja. Ele era claramente delineado em sua forma e essência, além de ser de conhecimento geral. Já as ofertas não são claramente especificadas no AT. Talvez, por isso, especialmente Paulo se preocupou em dar contornos objetivos ao ato de ofertar, e não se deteve nos dízimos que eram praticados de maneira corrente e sem dubiedade.

Veja bem, não temos aqui uma nova regra, que impõe à igreja a oferta e exclui o dízimo. A questão é muito mais de foco, de ajustar e colocar em seu devido lugar aquilo que não está claro e pode ser incluído entre as “sombras” que se dissipam diante da luz. O ensino à igreja é de que as ofertas são tão importantes quanto ao dízimo. Mas alguém, dirá: “isso é colocar um fardo ainda maior sobre os nossos ombros!”. Bem, o Senhor nos diz que não nos será dado carregar o que não podemos suportar. E se entendemos que o dízimo e ofertas é um fardo, não o fazemos segundo o princípio estabelecido por Paulo, de tê-lo como medida do amor e de nossa prosperidade.

No Sermão do Monte, o Senhor Jesus eleva a um nível ainda mais superior os princípios estabelecidos na Lei, de forma que a nossa incapacidade de cumpri-la se torna mais patente e evidente. Então, não basta matar, mas até mesmo o odiar é pecado. Não basta adulterar, mas cobiçar na mente a mulher alheia é pecado. Parece que a Escritura também estabelece um nível superior ao cristão? No sentido de dizimar e ofertar? Não. Creio que a prática de ofertas era negligenciado entre os judeus, e o que temos é a sua afirmação, assim como descrito no AT, como prática para todos os santos em todos os tempos.

Se atentarmos para toda a Escritura e não apenas em algumas de suas partes, veremos que a exigência da igreja se torna ainda maior do que aquela aplicada à nação de Israel. Somos chamados, após a doutrina da oferta ser explicada em seus pormenores, a não somente dizimar, mas a também ofertar, como prova do amor e da gratidão que devemos a Deus. Muitos se especializaram em distorcer o ensino bíblico e afirmar que a nova aliança ou o pacto da graça [e não vou entrar no mérito da questão, mas deixar claro que não há um pacto de obras, pois a salvação é somente pela graça de Deus, através da obra salvadora e redentora do Senhor Jesus, tanto no AT, desde Adão, como no NT, e até hoje] aboliu qualquer exigência em relação ao dízimo, e muitos chegam ao extremo de dizer que nem mesmo as ofertas fazem parte do novo acordo pactual. Chega-se mesmo a dizer que a obra de Deus deve ser custeada com o suor de uns poucos, no sentido de que devem se conformar em trabalhar sem qualquer expectativa de retorno financeiro, fazendo-o por abnegação e sacrifício, inclusive, se necessário, com a privação de refeições e um teto para morar. Afinal, Cristo disse que não tinha onde inclinar a cabeça, e qualquer um que se "aventure" ao trabalho pastoral ou missionário deve se convencer de que também está no mesmo nível. Acontece que essa é uma inverdade, pois como vimos no estudo sobre o sustento pastoral, há uma advertência direta para que a igreja sustente aqueles que laboram na palavra e no evangelismo. O mais interessante é perceber que os defensores desse argumento demoníaco não se dispõem a doar, nem a abrir mão do seu conforto e se integrar ao rol daqueles que devem viver apenas da fé, na esperança de que o Senhor mande cair do céu o maná e as codornizes que os alimentarão. Na verdade, eles defendem um discurso que nada tem de bíblico, e de prático, pois não se dispuseram a experimentá-lo a fim de que ficasse comprovada a sua eficácia. 

Não podemos nos esquecer também de que, na igreja primitiva, vendia-se tudo e depositava o total do valor aos pés dos apóstolos; e de que todos tinham tudo em comum [At 2.42-47; 3.32-37].

E é aqui, neste exato ponto, que voltarei à introdução sobre este assunto. Não seria essa atitude, a dos primeiros cristãos, um caso de sujeição, de se humilhar, preferindo-se ao outro ao invés de si mesmo? Para que serviram aquelas ofertas, que representavam o todo do que os nossos irmãos tinham? Para o sustento dos necessitados. Para o sustento da igreja. Para que os apóstolos e discípulos pudessem espalhar a mensagem do Evangelho, o "ide!" ordenado pelo Senhor. Isso não é sujeição, em amor? Isso não é preferir o outro ao invés de si mesmo? E, também, confiar na providência divina? O que você pensa a respeito? O que tem a dizer sobre o assunto?

Lembremo-nos daquela senhora que, no templo, deu tudo o que tinha, duas moedas. Ela simplesmente não tirou duas moedas de muitas, mas colocou ali todo o seu sustento. Enquanto os outros deram do que lhes sobravam [mesmo sendo muito dinheiro], ela abriu mão de tudo o que tinha [Mc 12:41-44].

E de Zaqueu, que deu metade dos seus bens aos pobres [Lc 19:1-10].

Pense nisto...

Notas: 1- Pontos não abordados no texto são discutidos na aula, e, outros aqui expostos são melhor explicados.
2- Aula realizada na EBD do Tabernáculo Batista Bíblico
3- Baixe o áudio desta aula em Aula 63 Dizimo.MP3

13 setembro 2013

Como ler livros, e fugir da desonestidade intelectual



 Por Jorge Fernandes Isah

A edição de que disponho não é a da "É realizações", mas uma antiga, da extinta "Agir", cujo título é "A Arte de Ler", e não a literalização do título em inglês: "How to read a book".


Como não há, no momento, outra edição além da publicada pela "É realizações", coloquei a capa e o link para a editora, a fim de que os interessados comprem-no [até, porque, as edições antigas somente podem ser adquiridas em sebos, como eu fiz, e, muitas vezes, por um preço absurdo].

A atual edição tem mais de 400 páginas, enquanto a minha dispõe de quase 300. Não houve acréscimo, ao que parece, mas uma redisposição editorial do texto.

Quanto ao livro, é o seguinte: ao começar a leitura, constatei o que já sabia e que vivia tentando não me lembrar: eu não sei ler um livro! Para quem tem um blog de livros, isso é uma realidade dura e trágica. Mas era o que eu percebia a cada frase ou texto que me apresentava incompreensível. É claro que, como há péssimos leitores, também há os péssimos autores. Aqueles que aparentam ser intelectuais, mas não passam de enganadores. Escrevem frases enigmáticas, misteriosas, complexas, que o único intuito de não serem inteligíveis, pois, na verdade, não sabem a mínima do que estão falando, e preferem mesmo enganar. São os "picaretas", que aparentam sofisticação e hermetismo, quando não passam de ignorantes, iletrados e fraudadores. 

Mas há aqueles autores que estão degraus acima da nossa compreensão, não porque eles são desonestos, mas porque nós é que deixamos a honestidade de lado, ao considerarmo-nos capazes de compreender o que escrevem, quando não somos. Nesse caso, a fraude se torna no próprio leitor. Quantas vezes nos deparamos com um texto complexo, e simplesmente o abandonamos, considerando-o chato ou pedante? Sempre temos uma desculpa para a própria ignorância e má-leitura, infelizmente. E a culpa não é do autor, nesse caso; mas a transferimos a ele, indevidamente.

Fato é que, ao iniciar o livro do Adler, percebi-me não um leitor mediano, a quem o autor dirige a sua obra, mas abaixo do mediano. Sempre evitei livros técnicos, um pouco por preguiça, outro tanto por ignorância. E sempre considerei suficiente entender um pouco do livro, mesmo que esse pouco fosse muito pouco mesmo. As vezes, nos contentamos em apreender nada e a considerar o aprendizado como qualquer coisa que vem à mente. Passamos de leitores a reescritores, dizemos aquilo que o autor não disse como se fosse ele dizendo. Em todos esses casos, eu, você, e em quem mais a carapuça servir, agimos desonestamente.

Ainda não cheguei ao ponto em que Adler revelará, por completo, como fazer uma boa leitura, mas estou ansioso[1]. Até mesmo porque quero ler melhor, e, na verdade, abandonar as fileiras do analfabetismo funcional. O que seria bom se, até muitos chamados intelectuais, refletissem e vissem como são maus-leitores, muitos, como eu, no analfabetismo.

Interessante que, ao dizer à minha esposa que eu era um leitor ruim, ela disse: se você é mau-leitor, o que eu sou, então?... Bem, não me consolou em nada, mas me deu a certeza de que estamos num período negro na intelectualidade, e isso tudo reflete-se na sociedade, onde um ex-presidente, semianalfabeto, se gaba de não gostar de ler, e temos cada vez mais leitores preguiçosos, que consideram possível o conhecimento por osmose, aumentando a legião de palpiteiros e "chutadores", aqueles que atiram para todos os lados sem ter alvo algum.

Pelo pouco que li, algo em torno de 60 páginas, "Como ler livros" ou a "A arte de ler", é leitura fundamental. Agora, fica a pergunta: não se sabendo ler, é possível aprender a ler, lendo? [rsrs]... Descubra, por si mesmo. 

Notas: 1- Com isso, não estou dizendo que a "A Arte de Ler" é um manual infalível, e que todos passarão a ler conforme as técnicas ali expostas. Não é isso! Mais do que ensinar como fazer, ele nos mostra o que não devemos fazer enquanto bons leitores. A partir daí, pode-se traçar um "roteiro' de como se obter o melhor de uma leitura, pois há várias, não se podendo ler da mesma maneira uma obra de ficção [que está pronta e acabada, nos dando todo o caminho a percorrer] e uma de não-ficção, em que temos de preencher as "lacunas" deixadas pelo autor. É claro que as "dicas" nos guiarão a meditar nos objetivos, métodos e o porquê de se ler determinado livro, o que vale dizer que não há um padrão único ao qual todos devem seguir para "aprender a ler". Porém, há um mínimo a se saber, e, sem ele, não se caminhará muito nesse conhecimento.