30 dezembro 2019

O Descanso





Jorge F. Isah


As notícias são tão tristes e devastadoras, e se repercutem em uma profusão ainda mais angustiante, parecendo não haver solução para o caos em que o homem moderno vive. As conversas, a mídia, as leituras, em sua maioria, falam de tragédias e apontam para um beco-sem-saída, a despeito da crença quase ingênua de um mundo melhor, de um novo futuro, do homem para o homem e pelo homem. 

De alguma maneira, vivemos um mundo de faz-de-contas, onde se esperam soluções por um "passe de mágica", magia ou encanto; tudo a um passo das mãos, enquanto nenhum esforço é empreendido para se conhecer a causa e a origem da miséria na qual o homem se vê atolado até o pescoço. Vivemos um deslumbramento, em uma roda ilusionista que faz dos sonhos pesadelos. 

Ninguém, ou quase ninguém, está em busca da verdade; primeiro, interior, na sincera perspectiva do autoconhecimento, para, depois, enveredar-se no conhecimento exterior. É fato que o homem não se conhece, preocupado em tecer brumas, camuflagens, a fim de ocultar o seu verdadeiro "eu". Talvez por não suportá-lo, tal como é; talvez porque seja melhor mantê-lo escondido, para o caso de necessitar usá-lo no futuro; talvez por covardia ou medo de se defrontar com a sua própria realidade... E não faltam bajuladores, de todas as espécies, para dizer-lhe que nada a indicar-lhe uma natureza pecaminosa e inimiga é verdade. Pelo contrário, não faltam estímulo para mantê-lo em uma casca, prestes a se romper (se já não estiver rompida), a afirmar que está protegido por si mesmo, e pode se tranquilizar.  

Certo é que somos o nosso pior inimigo, e não medimos esforços para manter a hostilidade. Como se um inimigo não pudesse nos atingir, fazer mal, derrotar. É o caminho do avestruz com a cabeça enfiada no buraco: não quer ver, se recusa a ver, insiste em não ver... enquanto o sofrimento estende-se indefinidamente.

No entanto, quando se olha para Cristo, sabe-se que mesmo no terror há descanso, mesmo na guerra há paz; mesmo o pior entre todos os homens pode ser transformado, feito à semelhança do Filho, em amor e bondade. Esta promessa está disponível a todos os homens, mas apenas aqueles sujeitos à vontade do Filho podem alcançá-la, ainda que seja o Filho a trazê-lo da morte para a vida, da maldade para o bem, da fraqueza para a força, do ódio para o amor. Sim, em uma perspectiva humana, nós o aceitamos, mas não antes dEle nos aceitar primeiro. E isto é fantástico, porque Ele nos aceita quando ainda somos inimigos, transgressores.

Eu mesmo, não tão poucas vezes, deixo-me envolver pelo pessimismo, pelo abraço do mal, como se tudo estivesse perdido. Mas, na verdade, não está. Porque se olho para o meu interior, e vejo a imagem de Cristo se formando, de tal forma que Ele cresça e eu diminua, a esperança já não é mais uma expectação, tornou-se em realidade. Ainda que ela não exista para o mundo, existe para mim. Ainda que o mundo a despreze, acolho-a em meu íntimo, porque Ele me ajuntou antes a Si.

Desta forma, deixo a inimizade com Deus, o mundo, e comigo mesmo, para me tornar amigo de todos, mesmo daqueles que me odeiam, desprezam e querem-me morto. Porque o amor infinito e eterno de Cristo perpassa pelo meu corpo como a eletricidade pelos filamentos de metais. E se está capacitado a lutar o bom combate, esmagar o único inimigo verdadeiro: o pecado! E a sua derrota significa a minha vitória e daqueles que não estarão mais sujeitos à sua malignidade. Claro que tudo isso é uma subdivisão ou subseção ou derivativo da verdadeira vitória, e a única realmente meritória: Cristo e seu ministério terrestre. 

Portanto, oro para que eu, e todos os crentes, seja envolvido pelo Bem Supremo, pelo doador da vida, por Aquele que não rejeitará a mim, nem o seu povo; pois os dias são maus, mas o Senhor é fiel, e estamos guardados e preservados Nele. E nada poderá tirar-nos a paz!


"Bem-aventurado é o homem a quem tu castigas, ó Senhor, e a quem ensinas a tua lei; para lhe dares descanso dos dias maus, até que se abra a cova para o ímpio. Pois o Senhor não rejeitará o seu povo, nem desamparará a sua herança. Mas o juízo voltará à retidão, e segui-lo-ão todos os retos de coração." (Salmos 94:12-15)


23 dezembro 2019

Perseguição aos verdadeiros discípulos em "Torturado por Amor a Cristo"







Jorge F. Isah



Já no início do livro, percebe-se duas coisas:

Primeiro, o pr. Wurmbrand não tem a menor pretensão de escrever uma obra literária, antes ele nos entrega um testemunho de vida cristã. 

O livro é simples na linguagem e, de certa forma, em alguns aspectos, rústico, porém a objetividade tem um significado, o de expressar correta e fielmente o período em que a Romênia, terra natal do autor, esteve dominada pela ideologia marxista, e foi uma "colônia" soviética, controlada pela extinta U.R.S.S.

Os relatos de prisões arbitrárias, de torturas, mortes, confinamentos e das práticas mais cruéis de persuasão, a fim de que os presos delatassem amigos, parentes e irmãos de fé, e a tentativa de "convertimento" ao comunismo, são dignas dos períodos mais bárbaros que a humanidade já vivenciou.

Apenas como reflexão, não é interessante como todo esquerdista acusa os EUA de colonialista, enquanto a antiga URSS e os atuais países comunistas, incluindo-se Cuba, são tratados como centros democráticos e que não se interessam pela expansão de suas ditaduras mundo afora? Como Lênin definiu a estratégia do seu governo: acuse-os daquilo que você mesmo defende e é!¹

Segundo, os relatos da fé e do preço pago pelos cristãos por não se sujeitarem à ditadura do Estado marxista (isto mesmo, cristãos são perseguidos pelos esquerdistas em todos os lugares, exatamente por não se sujeitarem à idolatria Estatal, à "onipresença" da burocracia, como um "deus" a cuidar de todos os aspectos do indivíduo, tornando-o em menos do que um escravo, um objeto descartável e descartado ao bel-prazer do governante), pois, um dos objetivos do marxismo é a criação de uma "nova sociedade", de "um mundo perfeito", e, para isso, a tradição judaico-cristã, a família, a propriedade privada, a moral, e tudo o que fundamentou a civilização ocidental, tem de ser destruído; afinal, o Estado não é laico, mas ateísta. O Cristianismo é o principal empecilho, já que os cristãos verdadeiros não terão como Senhor ninguém além de Cristo e, para os ideólogos de esquerda, tal convicção é simplesmente inaceitável.²

Em tempos de cristãos-marxistas (a incoerência e imoralidade das imoralidades e incoerências), defendendo governos que perseguem, torturam e matam cristãos por todo o mundo, visando destruir a Igreja e a ideia de Deus, pergunto: a quem esses religiosos servem?

De maneira demoníaca, tem-se alastrado em nosso meio os chamado "evangelho social", uma porta para a entrada do marxismo em suas formas mais dissimuladoras, virulentas e perversas, colocando cristãos contra cristãos, num mundo onde o discurso e não a evangelização ganha cada vez mais "relevância", uma palavra sempre a sair da boca dos defensores da esquerda, como um dogma.³

O número de testemunhos de fé e amor a Cristo, ao Evangelho e ao próximo, relatados pelo pr. Wurmbrand é comovente (e em muitos aspectos deixam-nos envergonhados), e deve servir de um "despertar" para a maioria de nós, cristãos, adormecidos e embalados por um discurso de acomodação e leniência em relação ao pecado, à moral, e a um Inferno cada vez mais cheio, onde as pessoas não têm a oportunidade de ouvir o verdadeiro evangelho, a palavra divina e inspirada de Deus, contentando-se com uma diluição maligna da sua mensagem, em favor de "um mundo melhor", onde as vidas, via de regra, estão cada vez piores e mais afastadas de Deus.

Desde já, ainda no início do livro, aconselho a cada um dos cristãos, e mesmo os não cristãos, a comprarem o livro e lerem-no, avaliando-se, a si mesmos, se são aquilo que imaginam ser ou se estão, verdadeiramente, sendo formados em Cristo e por Cristo.

Leitura mais do que recomendada; necessária, essencial, vital!



Alguns trechos pinçados do livro:

1) Richard, conversando com um preso russo, na Romênia ocupada pelos nazistas, durante a II Grande Guerra:
"Era um trabalho dramático e muito comovente. Nunca me esquecerei do meu primeiro encontro com um prisioneiro russo. Ele me havia dito que era engenheiro. Perguntei-lhe se cria em Deus. Se ele houvesse dito "não", jamais me incomodaria tanto. É direito de cada homem crer ou descrer. Porém quando lhe perguntei se cria em Deus, ele levantou os olhos para mim, sem me entender, e disse: "Não tenho ordem militar para crer. Se eu tiver uma ordem, crerei".

Lágrimas correram no meu rosto. Senti meu coração quebrantado. Diante de mim estava um homem com uma mente morta, um homem que havia perdido o maior dom que Deus dera à humanidade - o de ser um indivíduo. Ele havia passado por uma lavagem cerebral e se tornado um instrumento nas mãos dos comunistas, preparado para crer ou não em uma ordem. Não podia mais pensar por si próprio. Era um russo típico depois de todos esses anos de domínio comunista!"

2) Definindo a experiência sobre o poder comunista, em relação à experiência sobre o poder nazista (lembre-se, Wurmbrant é um nome judeu):
"A partir do dia 23 de agosto de 1944, um milhão de soldados russos entraram na Romênia e logo após os comunistas assumiram o poder do nosso pais. Então começou um pesadelo que fazia o sofrimento sob o Nazismo parecer nada."

3) Na cooptação da igreja:
"Desde que os comunistas assumiram o poder, cuidadosa e astutamente para os seus propósitos, têm seduzido a igreja".

4) Sobre o Congresso de cristãos, no Parlamento Romeno:
" Ali estavam quatro mil padres, pastores e ministros de todas as denominações. Esses quatro mil padres e pastores escolheram Joseph Stálin como presidente honorário do Congresso. Ao mesmo tempo era presidente do Movimento Mundial dos Ateus e assassinos dos cristãos. Um após outro, bispos e pastores se levantou ao nosso Parlamento e declararam que Comunismo e Cristianismo são fundamentalmente a mesma coisa e podem muito bem coexistir. Um após outro, os ministros ali presentes pronunciaram palavras laudatórias ao Comunismo e asseguraram ao novo governo a lealdade da igreja... Então me levantei e falei ao Congresso, exaltando não aos matadores de cristãos, mas a Cristo e Deus, e afirmei que nossa lealdade é devida em primeiro lugar ao Senhor... Depois tive de pagar por isto, mas valeu a pena!"

5) Sobre as traições:
"Aqueles que se tornaram servos do Comunismo, em lugar de servos de Cristo, começaram a denunciar os irmãos que os não acompanhavam".


CONCLUSÃO

Uma leitura reflexiva quanto ao sofrimento e martírio dos santos modernos, mas que revelam o amor a Deus, e o cuidado e amor sobrenatural dEle para com os seus filhos. E um alerta para a igreja acomodada, e agarrada ao conforto, de que o inimigo está sempre à espreita, pronto a nos infligir dor e perseguição (Jo 15.20). 

Porém, como está escrito: as portas do inferno não prevalecerão contra a igreja!


Notas: 1- Não estou apontando a "perfeição" ou superioridade dos EUA, mas a incoerência de homens, eivados pelo veneno marxista, acusarem e condenarem a América, enquanto inocentam e silenciam-se diante das atrocidades cometidas em nome de uma suposta "liberdade" e "democracia" prometida por governos de esquerda. 

2- Não tenho qualquer intenção de polarizar a questão ideológica, no sentido de afirmar a supremacia da direita e dos conservadores sobre o marxismo. Em momento algum, falei disso. Quero apontar, com o texto, a incoerência de quem se diz "cristão" e ainda assim defende governos que perseguem, torturam e matam cristãos (ideologia que tem como princípio, desde as primeiras formulações, destruir qualquer noção de fé no Deus bíblico e nos fundamentos do Cristianismo).


3- Pelo contrário, afirmo, sim, a superioridade inconteste do Cristianismo sobre todas as formas de governo humanas, posto estabelecida pelo próprio Deus. E nós, salvos pela graça infinita e eterna de Cristo, experimentaremos o verdadeiro governo: justo, santo, pacífico, perfeito; erguido pelo amor igualmente infinito e eterno de Deus. 


____________________________

Avaliação: (****)

Título: Torturado Por Amor a Cristo

Editora: Voz dos Mártires

No. Páginas: 160

Sinopse:

"O Pastor Richard Wurmbrand foi o pastor evangélico que passou quatorze anos como prisioneiro dos comunistas, torturado em sua própria terra natal, a Romênia. Poucos nomes são tão conhecidos naquele país, onde ele é um dos mais reconhecidos cristãos, como líder, autor e educador.Em 1945, quando os comunistas tomaram o poder na Romênia e tentaram submeter as Igrejas aos seus propósitos, Richard Wurmbrand imediatamente deu início a um ministério “subterrâneo” – eficiente e vigoroso – destinado à pregação do Evangelho tanto a seus compatriotas escravizados quanto aos soldados russos que invadiram o país. Foi preso em 1948, com sua esposa, Sabina, que cumpriu pena de trabalhos forçados por três anos, no Canal do Danúbio. O Pastor Richard passou três anos na solitária, sem ver ninguém a não ser seus torturadores comunistas. Depois foi transferido para uma cela comum, onde as torturas continuaram por mais cinco anos.

Devido a sua posição internacional como líder cristão, diplomatas de embaixadas estrangeiras questionaram o governo comunista acerca da segurança de Wurmbrand, dizendo que ele fugira da Romênia. Agentes da polícia secreta, fingindo-se de ex-companheiros de prisão, disseram a Sabina terem assistido ao funeral de seu marido no cemitério da prisão. Recomendaram à família na Romênia e aos amigos de outros países que o esquecessem, porque já estava morto.

Após oito anos e meio de prisão, ele foi libertado e imediatamente retomou seu trabalho com a Igreja Subterrânea. Dois anos depois, em 1959, ele foi preso mais uma vez, e sentenciado a vinte e cinco anos de prisão.

Wurmbrand foi libertado quando de uma anistia geral ocorrida em 1964, e novamente continuou seu ministério clandestino. Levando em consideração o grande perigo de ser preso pela terceira vez, cristãos noruegueses negociaram com as autoridades comunistas sua permissão para deixar a Romênia."