Jorge F. Isah
Já no início do livro, percebe-se duas coisas:
Primeiro, o pr. Wurmbrand não tem a menor pretensão de escrever uma obra literária, antes ele nos entrega um testemunho de vida cristã.
O livro é simples na linguagem e, de certa forma, em alguns aspectos, rústico, porém a objetividade tem um significado, o de expressar correta e fielmente o período em que a Romênia, terra natal do autor, esteve dominada pela ideologia marxista, e foi uma "colônia" soviética, controlada pela extinta U.R.S.S.
Os relatos de prisões arbitrárias, de torturas, mortes, confinamentos e das práticas mais cruéis de persuasão, a fim de que os presos delatassem amigos, parentes e irmãos de fé, e a tentativa de "convertimento" ao comunismo, são dignas dos períodos mais bárbaros que a humanidade já vivenciou.
Apenas como reflexão, não é interessante como todo esquerdista acusa os EUA de colonialista, enquanto a antiga URSS e os atuais países comunistas, incluindo-se Cuba, são tratados como centros democráticos e que não se interessam pela expansão de suas ditaduras mundo afora? Como Lênin definiu a estratégia do seu governo: acuse-os daquilo que você mesmo defende e é!¹
Segundo, os relatos da fé e do preço pago pelos cristãos por não se sujeitarem à ditadura do Estado marxista (isto mesmo, cristãos são perseguidos pelos esquerdistas em todos os lugares, exatamente por não se sujeitarem à idolatria Estatal, à "onipresença" da burocracia, como um "deus" a cuidar de todos os aspectos do indivíduo, tornando-o em menos do que um escravo, um objeto descartável e descartado ao bel-prazer do governante), pois, um dos objetivos do marxismo é a criação de uma "nova sociedade", de "um mundo perfeito", e, para isso, a tradição judaico-cristã, a família, a propriedade privada, a moral, e tudo o que fundamentou a civilização ocidental, tem de ser destruído; afinal, o Estado não é laico, mas ateísta. O Cristianismo é o principal empecilho, já que os cristãos verdadeiros não terão como Senhor ninguém além de Cristo e, para os ideólogos de esquerda, tal convicção é simplesmente inaceitável.²
Em tempos de cristãos-marxistas (a incoerência e imoralidade das imoralidades e incoerências), defendendo governos que perseguem, torturam e matam cristãos por todo o mundo, visando destruir a Igreja e a ideia de Deus, pergunto: a quem esses religiosos servem?
De maneira demoníaca, tem-se alastrado em nosso meio os chamado "evangelho social", uma porta para a entrada do marxismo em suas formas mais dissimuladoras, virulentas e perversas, colocando cristãos contra cristãos, num mundo onde o discurso e não a evangelização ganha cada vez mais "relevância", uma palavra sempre a sair da boca dos defensores da esquerda, como um dogma.³
O número de testemunhos de fé e amor a Cristo, ao Evangelho e ao próximo, relatados pelo pr. Wurmbrand é comovente (e em muitos aspectos deixam-nos envergonhados), e deve servir de um "despertar" para a maioria de nós, cristãos, adormecidos e embalados por um discurso de acomodação e leniência em relação ao pecado, à moral, e a um Inferno cada vez mais cheio, onde as pessoas não têm a oportunidade de ouvir o verdadeiro evangelho, a palavra divina e inspirada de Deus, contentando-se com uma diluição maligna da sua mensagem, em favor de "um mundo melhor", onde as vidas, via de regra, estão cada vez piores e mais afastadas de Deus.
Desde já, ainda no início do livro, aconselho a cada um dos cristãos, e mesmo os não cristãos, a comprarem o livro e lerem-no, avaliando-se, a si mesmos, se são aquilo que imaginam ser ou se estão, verdadeiramente, sendo formados em Cristo e por Cristo.
Leitura mais do que recomendada; necessária, essencial, vital!
Alguns trechos pinçados do livro:
"Era um trabalho dramático e muito comovente. Nunca me esquecerei do meu primeiro encontro com um prisioneiro russo. Ele me havia dito que era engenheiro. Perguntei-lhe se cria em Deus. Se ele houvesse dito "não", jamais me incomodaria tanto. É direito de cada homem crer ou descrer. Porém quando lhe perguntei se cria em Deus, ele levantou os olhos para mim, sem me entender, e disse: "Não tenho ordem militar para crer. Se eu tiver uma ordem, crerei".
Lágrimas correram no meu rosto. Senti meu coração quebrantado. Diante de mim estava um homem com uma mente morta, um homem que havia perdido o maior dom que Deus dera à humanidade - o de ser um indivíduo. Ele havia passado por uma lavagem cerebral e se tornado um instrumento nas mãos dos comunistas, preparado para crer ou não em uma ordem. Não podia mais pensar por si próprio. Era um russo típico depois de todos esses anos de domínio comunista!"
2) Definindo a experiência sobre o poder comunista, em relação à experiência sobre o poder nazista (lembre-se, Wurmbrant é um nome judeu):
"A partir do dia 23 de agosto de 1944, um milhão de soldados russos entraram na Romênia e logo após os comunistas assumiram o poder do nosso pais. Então começou um pesadelo que fazia o sofrimento sob o Nazismo parecer nada."
3) Na cooptação da igreja:
"Desde que os comunistas assumiram o poder, cuidadosa e astutamente para os seus propósitos, têm seduzido a igreja".
4) Sobre o Congresso de cristãos, no Parlamento Romeno:
" Ali estavam quatro mil padres, pastores e ministros de todas as denominações. Esses quatro mil padres e pastores escolheram Joseph Stálin como presidente honorário do Congresso. Ao mesmo tempo era presidente do Movimento Mundial dos Ateus e assassinos dos cristãos. Um após outro, bispos e pastores se levantou ao nosso Parlamento e declararam que Comunismo e Cristianismo são fundamentalmente a mesma coisa e podem muito bem coexistir. Um após outro, os ministros ali presentes pronunciaram palavras laudatórias ao Comunismo e asseguraram ao novo governo a lealdade da igreja... Então me levantei e falei ao Congresso, exaltando não aos matadores de cristãos, mas a Cristo e Deus, e afirmei que nossa lealdade é devida em primeiro lugar ao Senhor... Depois tive de pagar por isto, mas valeu a pena!"
5) Sobre as traições:
"Aqueles que se tornaram servos do Comunismo, em lugar de servos de Cristo, começaram a denunciar os irmãos que os não acompanhavam".
CONCLUSÃO
Uma leitura reflexiva quanto ao sofrimento e martírio dos santos modernos, mas que revelam o amor a Deus, e o cuidado e amor sobrenatural dEle para com os seus filhos. E um alerta para a igreja acomodada, e agarrada ao conforto, de que o inimigo está sempre à espreita, pronto a nos infligir dor e perseguição (Jo 15.20).
Porém, como está escrito: as portas do inferno não prevalecerão contra a igreja!
Notas: 1- Não estou apontando a "perfeição" ou superioridade dos EUA, mas a incoerência de homens, eivados pelo veneno marxista, acusarem e condenarem a América, enquanto inocentam e silenciam-se diante das atrocidades cometidas em nome de uma suposta "liberdade" e "democracia" prometida por governos de esquerda.
2- Não tenho qualquer intenção de polarizar a questão ideológica, no sentido de afirmar a supremacia da direita e dos conservadores sobre o marxismo. Em momento algum, falei disso. Quero apontar, com o texto, a incoerência de quem se diz "cristão" e ainda assim defende governos que perseguem, torturam e matam cristãos (ideologia que tem como princípio, desde as primeiras formulações, destruir qualquer noção de fé no Deus bíblico e nos fundamentos do Cristianismo).
3- Pelo contrário, afirmo, sim, a superioridade inconteste do Cristianismo sobre todas as formas de governo humanas, posto estabelecida pelo próprio Deus. E nós, salvos pela graça infinita e eterna de Cristo, experimentaremos o verdadeiro governo: justo, santo, pacífico, perfeito; erguido pelo amor igualmente infinito e eterno de Deus.
3- Pelo contrário, afirmo, sim, a superioridade inconteste do Cristianismo sobre todas as formas de governo humanas, posto estabelecida pelo próprio Deus. E nós, salvos pela graça infinita e eterna de Cristo, experimentaremos o verdadeiro governo: justo, santo, pacífico, perfeito; erguido pelo amor igualmente infinito e eterno de Deus.
Avaliação: (****)
Título: Torturado Por Amor a Cristo
Editora: Voz dos Mártires
No. Páginas: 160
Sinopse:
"O Pastor Richard Wurmbrand foi o pastor evangélico que passou quatorze anos como prisioneiro dos comunistas, torturado em sua própria terra natal, a Romênia. Poucos nomes são tão conhecidos naquele país, onde ele é um dos mais reconhecidos cristãos, como líder, autor e educador.Em 1945, quando os comunistas tomaram o poder na Romênia e tentaram submeter as Igrejas aos seus propósitos, Richard Wurmbrand imediatamente deu início a um ministério “subterrâneo” – eficiente e vigoroso – destinado à pregação do Evangelho tanto a seus compatriotas escravizados quanto aos soldados russos que invadiram o país. Foi preso em 1948, com sua esposa, Sabina, que cumpriu pena de trabalhos forçados por três anos, no Canal do Danúbio. O Pastor Richard passou três anos na solitária, sem ver ninguém a não ser seus torturadores comunistas. Depois foi transferido para uma cela comum, onde as torturas continuaram por mais cinco anos.
Devido a sua posição internacional como líder cristão, diplomatas de embaixadas estrangeiras questionaram o governo comunista acerca da segurança de Wurmbrand, dizendo que ele fugira da Romênia. Agentes da polícia secreta, fingindo-se de ex-companheiros de prisão, disseram a Sabina terem assistido ao funeral de seu marido no cemitério da prisão. Recomendaram à família na Romênia e aos amigos de outros países que o esquecessem, porque já estava morto.
Após oito anos e meio de prisão, ele foi libertado e imediatamente retomou seu trabalho com a Igreja Subterrânea. Dois anos depois, em 1959, ele foi preso mais uma vez, e sentenciado a vinte e cinco anos de prisão.
Wurmbrand foi libertado quando de uma anistia geral ocorrida em 1964, e novamente continuou seu ministério clandestino. Levando em consideração o grande perigo de ser preso pela terceira vez, cristãos noruegueses negociaram com as autoridades comunistas sua permissão para deixar a Romênia."
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