29 junho 2009

NÃO HÁ MURO ONDE SUBIR
















Por Jorge Fernandes

A igreja pode mudar o mundo? Não sei se é possível, na verdade, não creio possível, pois não vejo respaldo bíblico para a afirmação de que a igreja transformará o mundo. Em especial porque, ao contrário, ela vem sendo excessivamente influenciada por ele. De certa forma, as trevas têm ganhado batalhas (não me entendam mal, as trevas jamais vencerão a luz), mas sabemos que a vitória na guerra é de Cristo, e nossa, por Cristo.
Se há algo que podemos fazer é proteger a igreja das sugestões malignas, voltar ao Evangelho, ser novamente luz e sal no mundo. Para que isso aconteça é necessário que se abandone as experiências místicas e sensitivas, a adoração superficial, e a convicção errada de que, qualquer coisa, desde que tenha uma cruz, é cristianismo; de que, qualquer um, desde que seja batizado, é cristão. Enquanto insistir-se em lutar contra o mundo, com as armas do mundo, ele sempre vencerá, ainda que nos dê, em um ou outro round, a falsa idéia de que jogará a toalha, de que está próximo de ser derrotado (entenda que, eternamente, satanás e o mal estão derrotados, mas para nós, a vitoria aconteceu no tempo, e compreenderemos a sua plenitude no Dia do Senhor). Ao usar o armamento alheio, revelamos que as armas celestiais não são as melhores, e acabamos por nos conformar aos métodos e práticas as quais queremos vencer.
Quem pode derrotá-lo? Cristo já o fez na cruz do Calvário, e ao ressuscitar no terceiro dia. Então, se Ele é o nosso general, por que temos de ouvir o inimigo irremediavelmente derrotado? Basicamente porque se abandonou a doutrina e o modo de vida cristão. Não em relação aos dogmas denominacionais de batistas, presbiterianos, assembleianos, mas a essência do Evangelho, a revelação divina nas Escrituras Sagradas, e o entendimento daquilo que Deus nos revelou como a Sua vontade.

ENSINO DA IGREJA
Li recentemente um artigo em que o irmão opunha-se ao ensino pela igreja, no sentido de que esse não é o papel da igreja. É claro que a igreja não ensina, e sim os membros que são qualificados pelo Espírito Santo e designados por ela para tal. Senão, porque Paulo escreveria: “Ora, vós sois o corpo de Cristo, e seus membros em particular. E a uns pôs Deus na igreja, primeiramente apóstolos, em segundo lugar profetas, em terceiro doutores, depois milagres, depois dons de curar, socorros, governos, variedades de línguas” (1Co 12.27-28 – este e outros grifos são meus). Se a igreja não ensinar as doutrinas bíblicas, como o corpo terá unidade? E para que haveria doutores? “Se todo o corpo fosse olho, onde estaria o ouvido? Se todo fosse ouvido, onde estaria o olfato? Mas agora Deus colocou os membros no corpo, cada um deles como quis. E, se todos fossem um só membro, onde estaria o corpo?” (1Co 12.17-19). Fico a perguntar se a igreja a qual esse irmão é membro não tem nenhuma doutrina, nem é ensinada a verdade aos neófitos. Pelo que entendi, apenas o Espírito Santo pode ensinar, doutrinar o eleito, e Deus usará a Bíblia como única fonte de ensino. Porém, da mesma forma que foi dado dons diferente aos membros da igreja, todos poderão aprender por si só? E no caso daqueles que são analfabetos? À época da igreja primitiva, e até pouco tempo, uma minoria era capaz de ler. Nesse caso, a palavra foi-lhes lida e pregada, mas será que todos têm a capacidade de entender? E a quem não tem o Espírito (o incrédulo, p. ex.) como chegará ao conhecimento da verdade? Não será por pregação, pelo ensino? Filipe, que não era apóstolo (o irmão diz que o ensino era uma prerrogativa apostólica) ao ser levado ao deserto pelo Espírito não ensinou ao Eunuco? (At. 8.26-39). Mas alguém poderá dizer: “Bem, você faz a defesa do ensino para o incrédulo, que ainda não é parte da igreja, nesse caso, está certo. Mas aos membros do corpo, apenas o Espírito pode ensinar”. Porém a ordem do Senhor é clara: “Fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado” (Mt 28.19-20).
Isso é preservar a doutrina de Cristo, a qual se dará pelo ensino dos eleitos aos eleitos. Ou Paulo, em suas cartas, faz o quê? Ele não ensina, exorta, orienta? Mas o irmão poderia dizer: “Esse é o ensino dos apóstolos, ninguém mais pode fazê-lo”, mas os apóstolos não são membros do corpo? E eles não ensinaram a outros crentes que ensinaram a outros crentes e, assim, “o que é instruído na palavra reparta de todos os seus bens com aquele que o instrui(Gl 6.6)? Aqui a instrução é prerrogativa humana, e não do Espírito Santo, o qual capacita tanto o instrutor quanto o instruído ao entendimento, de tal forma que o instrutor será recompensado pelo instruído (o que muitos considerarão uma ofensa: a recompensa pecuniária para ensinar), logo, essa instrução não pode ser pelo Espírito, pois, o que poderíamos dar-LHE? (a alusão a bens é claramente material, e mesmo que não fosse, a obediência, o serviço, a adoração e devoção a Deus não são nenhuma forma de "paga" pelo que Ele nos dá).
O mesmo Paulo se qualifica como doutor dos gentios na fé e na verdade” (1Tm 2.7); exorta Timóteo a que mande “estas coisas e ensina-as (1Tm 4.11); de que “se alguém ensina alguma outra doutrina, e se não conforma com as sãs palavras de nosso Senhor Jesus Cristo, e com a doutrina que é segundo a piedade, é soberbo, e nada sabe, mas delira acerca de questões e contendas de palavras” (1Tm 6.3-4); “ao servo do Senhor não convém contender, mas sim, ser manso para com todos, apto para ensinar, sofredor; instruindo com mansidão os que resistem, a ver se porventura Deus lhes dará arrependimento para conhecerem a verdade” (2Tm 2.24-25) ; “Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste, e de que foste inteirado, sabendo de quem o tens aprendido (2Tm 3.14).
Não há nenhuma referência ao ensino sobrenatural do Espírito, mas ao ensino humano, segundo o poder divino de capacitar, operar e confirmar a Palavra no coração eleito, revelando-lhe a Sua vontade.
Portanto, a igreja, não como entidade institucional (Vaticano, Concílios, Dioceses, etc), é responsável por aquilo que Cristo lhe deu: o Evangelho, mantendo-o na pureza em que Ele o proclamou, na santidade da revelação escriturística. E isso é realizado através de cada um dos membros do corpo, sob a supervisão e autoridade do Espírito Santo, mas também da igreja, a qual é inspirada por Ele.

VOLTA AO EVANGELHO
Sem a proclamação da doutrina bíblica, como será possível influenciar o mundo?* Sem que os membros sejam ensinados à obediência escriturística, negligenciando-a, haverá vida cristã? Enquanto os alicerces, os fundamentos da doutrina, não estiverem arraigados na igreja (verdades como a Trindade Santa, a Queda, a Depravação Humana, a Expiação Vicária de Cristo, o Arrependimento e a Regeneração do incrédulo, a Santificação... doutrinas que já são realidade na vida do eleito, e não uma promessa futura), está-se a proclamar qualquer outra coisa menos o Evangelho.
É indispensável e urgente voltar-se à pregação expositiva, à prática cristã do estudo bíblico individual e nos lares, à Escola Dominical, para que sejamos instruídos na verdade revelada, capacitados a entendê-la, praticá-la e ensiná-la aos novos e velhos crentes, não a confundindo com a falsa doutrina e o antievangelho. Sem nos esquecer da oração diária e a intercessão por todos, crentes ou não.
O reflexo será o despertar da consciência em Deus, da redenção em Cristo, das promessas que nos aguardam na eternidade, mas, também, uma vida terrena que testemunhe o amor e a graça divinas, através de atitudes que traduzam ao mundo como é a mente de Cristo: fazendo o bem, perdoando as ofensas, confortando os aflitos, suprindo as necessidades do próximo (material e espiritual), não nos conformando com o mundo e a nossa vontade, mas resignados à vontade santa e soberana de Deus.
Assim é que demonstraremos o interesse verdadeiro pelas pessoas e a obediência sincera a Deus. Como diz o ditado: "Palavras são palavras, nada mais que palavras", e se não são acompanhadas por atitude e comportamento que as corroborem, continuarão sendo palavras; ao que o apóstolo exorta-nos: “Meus filhinhos, não amemos de palavra, nem de língua, mas por obra e em verdade” (1Jo 3.18).
Cristo proclamou o Evangelho, ensinou-o, dando-nos o exemplo de como viver santa, justa e perfeitamente segundo a Sua palavra. Não há meio termo, nem muro, no qual haja neutralidade e se possa subir. Então, onde você está? Em Cristo? No mundo? Se sim, não. Se não, sim. Pois o Senhor é quem definirá: onde Ele estiver, ali o eleito estará.
* Como disse, não me iludo na transformação do mundo secular em cristão, mas piamente acredito que a Igreja influencia-lo-á, tirando das trevas aqueles que Deus predestinou eternamente à luz.

22 junho 2009

FRANKENSTEIN TEOLÓGICO























Por Jorge Fernandes Isah

Há tempos me pergunto por que os crentes insistem em enviar tantas mensagens tolas, despropositadas e contra o Evangelho de Cristo a outros irmãos, e o que é pior, a incrédulos também. Falta-lhes sabedoria? “Não sabeis então discernir este tempo?” (Lc 12.56). Ou ainda não se converteram do seu mau caminho? (Jr 3.19). É possível identificar os motivos. Primeiro, o desconhecer escriturístico. Segundo, o prazer em propalar o mundanismo, afinal, ele aguça a delicadeza e os sentidos da carne. Terceiro, uma vida cristã sem Cristo. Este ponto deveria ser o primeiro, mas coloquei-o em último para abordá-lo detidamente, pois, de certa forma, pode-se falar em dois tipos de vida cristã: a verdadeira, proporcionada pelo novo-nascimento e pela ação do Espírito Santo na vida do convertido, e a falsa, onde há o engano e uma pretensa submissão a Deus. Quer saber sobre o novo-nascimento? Leia o texto “A Morte da Morte”.
Porém, é possível haver uma conversão ao contrário? O pecador aparentemente converte-se a Cristo, batiza-se, participa dos trabalhos na igreja (às vezes torna-se evangelista, diácono, pastor), alcançando a liderança para, sutilmente, corromper o Evangelho? Essa é a capacidade da heresia de se reformular e aproximar da verdade, fazendo com que as diferenças pareçam insignificantes, e o pior é que ela vem acompanhada de um compêndio de justificativas insanas e perigosas, que a torna ainda mais diabólica. O que antes era doutrina bíblica agora não é mais, e o que não era doutrina bíblica transforma-se na própria maldade pelas bocas de seus defensores. Eles acreditam ser possível redefinir as palavras do Senhor: “Assim, toda a árvore boa produz bons frutos, e toda a árvore má produz frutos maus. Não pode a árvore boa dar maus frutos; nem a árvore má dar frutos bons” (Mt 7.17-18). Nessa linha de raciocínio, seriam capaz de pular da Torre Eiffel em pêlo e sair voando como pássaros. Mas se apenas os morcegos, pássaros e insetos têm o dom natural de voar, é crível uma árvore má dar bons frutos ? Pelo contrário, ela será cortada e lançada no fogo (Mt 7.19); porque é impossível, sem conversão, que o homem natural dê “frutos de justiça, que são por Jesus Cristo, para glória e louvor de Deus” (Fp 1.11).
Não contente em ter o inferno, querem dividi-lo com o máximo de irmãos, e num jogo demoníaco, promoverem as obras da carne, “as quais são: adultério, fornicação, impureza, lascívia, idolatria, feitiçaria, inimizades, porfias, emulações, iras, pelejas, dissensões, heresias, invejas, homicídios, bebedices, glutonarias, e coisas semelhantes a estas, acerca das quais vos declaro, como já antes vos disse, que os que cometem tais coisas não herdarão o reino de Deus” (Gl 5.19-21). Mas esquecem-se de que, “tudo o que o homem semear, isso também ceifará” (Gl 6.7). Crêem plantar para outros a condenação, mas acabam por plantá-la a si mesmos. Assim, com o objetivo de combater a verdade, incitam, pregam e vivem a mentira, enquanto a verdade é desprezada, tornando-a antiquada, obsoleta e irrelevante.
Infelizmente, esses falsos mestres penetram nas igrejas como
crentes estabelecidos, são aceitos pela comunidade cristã, e seus ensinos enganosos espalham-se como erva daninha, cujos objetivos importunos, nocivos e artificiosos intentam trair a credulidade irrefletida da igreja. Sutilmente a heresia contamina as pessoas, pouco a pouco, tornando-a popular exatamente por ser quase a verdade, e se amoldar perfidamente à natureza corrompida e pecaminosa do homem, o qual é incapaz de vê-la, e mesmo os que a vêm, por sua perspicácia, acabam por considerá-la inofensiva ou uma verdade recriada, uma espécie de Frankenstein teológico.
Para eles, existe a verdade sem Deus ou Deus sem a verdade; mas a verdade sem Deus não existe, nem Deus sem a verdade, porque a primeira não passa de abstração, a loucura máxima a que o homem pode atingir, enquanto a segunda é a blasfêmia em sua forma mais virulenta, a treva mais densa em que o homem pode penetrar; porque a verdade para ser real e não uma fantasia leviana, tem de provir de Deus, o qual é a única verdade
(Jo 14.6).
Para eles, a verdade não precisa ser defendida nem proclamada, mas escondida a
sete chaves como um tesouro secreto do qual não se sabe o esconderijo nem se tem o mapa. Graças a Deus por nos dar a Sua revelação, a Bíblia, a qual “é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redargüir, para corrigir, para instruir em justiça; para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra” (2Tm 3.16-17).
Para eles, a igreja não precisa da verdade; como Paulo diz, não suportão a sã doutrina,
“mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si doutores conforme as suas próprias concupiscências; e desviarão os ouvidos da verdade, voltando às fábulas” (2Tm 4.3-4). Para que crer na verdade? Se pelo humanismo é possível acomodar o homem no redil das incertezas, incitá-lo ao pecado, à apostasia e ao nominalismo religioso?
Para eles, o que importa é a aparência, a reputação, o sucesso e a covardia de jamais admitir a cumplicidade com o mal, tolerando-o utilitariamente a fim de obter seus interesses pessoais (o Evangelho beneficia o indivíduo, no caso, o escolhido de Deus, mas jamais o indivíduo poderá impedir que os demais eleitos sejam igualmente beneficiados pela palavra), permitindo que todo o tipo de heresia substitua os princípios bíblicos, afastando-se da revelação divina (não são precisas todas as heresias; uma ou duas, e o trabalho estará feito).

Para eles, é fundamental abandonar a objetividade da Palavra e uma vida santa, e substituí-las pela subjetividade, o egoísmo, o individualismo, o sentimentalismo e o hedonismo como filosofias de vida, onde a dissolução e a falsa liberdade os manterá em prisão, indo
“de mal para pior, enganando e sendo enganados” (2Tm 3.13).
Por quê? Qual a finalidade? Ao diluírem a palavra de Deus a fim de torná-la aceitável aos descrentes (muitos falsos mestres não se esquivam de reescrevê-la ao bel prazer dos seus corações perversos), esses líderes buscam a aprovação dos homens, negando a autoridade bíblica, tornando-a o mais agradável possível ao mundo, e com isso rejeita-se toda a verdade escriturística: Cristo, o Espírito Santo, a expiação vicária, a salvação, regeneração, santidade e todo o conjunto de doutrinas cristãs (inclusive a Igreja), pois a negação de qualquer um deles implicará na recusa inevitável do próprio Deus.
Em nome da verdade, todo crente deve lutar contra a heresia e o engano perpetrado por satanás e seus discípulos; porque sempre teremos a segurança pela fé, e como ovelhas ouvimos a voz do Bom Pastor, somos conhecidos dEle, e seguimo-lO, o qual nos dá a vida eterna e nunca haveremos de perecer e ninguém nos arrebatará de Suas mãos (Jo 10.27-28), como a mais indubitável e sublime verdade. Somente Cristo pode nos libertar através do Evangelho; sem Ele tudo é permitido, mas nada possível; sem Ele a condenação é certamente a mais pura verdade.
A heresia é uma conversão contrária, o caminho inverso pelo qual a igreja trilhará ao se afastar da verdade, ao opor-se ao Evangelho, desprezando Cristo, o qual revelou-lhe a própria desobediência:
“O homem bom, do bom tesouro do seu coração tira o bem, e o homem mau, do mau tesouro do seu coração tira o mal, porque da abundância do seu coração fala a boca. E porque me chamais, Senhor, Senhor, e não fazeis o que eu digo?” (Lc 6.45-46).
Se crê no Evangelho mas não o proclama, se crê em Cristo como Senhor e Salvador mas não o obedece, se vê a igreja como uma extensão do mundo (e tanto faz um como o outro), se não se preocupa em dar bons frutos, nem com a conversão dos ímpios, cuidado! Abandone as mensagens tolas, psicológicas, de auto-ajuda, despropositadas, sentimentalóides; renuncie a ideologia satânica que o quer preso às armadilhas do mundo, proclamando um reino superior quando está nas profundezas abissais do inferno, mantendo-se perdido em si mesmo como um cão cego e epilético a perseguir o próprio rabo.
Entregue-se à suave palavra de Deus, e não faça pouco caso da sua consolação, arrependa-se, e põe fim aos seus pecados e às suas iniquidades, praticando a justiça
(Dn 4.27).
Ouça o alerta: onde os princípios bíblicos encontram-se corrompidos e demolidos, não sobra muito mais o que destruir.
E você estará morto!

15 junho 2009

LOUVOR: COMO IMPLODIR A DOUTRINA


















Por Jorge Fernandes Isah


A afirmação de que o louvor pode ser qualquer coisa, de qualquer forma, e de que Deus nos aceita como somos, remete-nos à seguinte questão: O Senhor aceita o pecador inconvertido e sem arrependimento que mantém-se em rebeldia, rejeitando a Cristo como único e suficiente Salvador? Ou será necessário que, primeiro, esse pecador seja regenerado por Cristo e transformado pelo Espírito Santo para arrepender-se e receber o perdão divino, e então ser aceito? Da mesma forma, qualquer coisa que se faça em nome da Igreja e na Igreja somente será reconhecida por Deus se obedecer aos preceitos definidos na Escritura, os principios estabelecidos pelo próprio Deus.


É possível uma adoração santa quando se apela para ritmos sensuais, com o único objetivo de entreter e saciar a carne? É possível que se execute igualmente danças muito parecidas com a
"dança-do-ventre" nos cultos, e crer que se está agradando a Deus? É possível agradá-lO com um discurso humanista, que exalta o homem, em detrimento da pregação expositiva bíblica que exalta a Deus? É possível uma diversidade de técnicas mundanas subir ao púlpito (o pragmatismo, o servilismo ao pecado, a acomodação aos padrões do mundo), e agradar a Deus? É possível agradá-lO sem ser bíblico? Baseado apenas nas sensações e tentativas humanas? O homem natural certamente não verá problemas, e responderá acertivamente. Contudo, o homem espiritual, aquele que tem a mente de Cristo e foi regenerado, dirá não. Porque o princípio da verdadeira adoração não são os efeitos pirotécnicos, nem a multidão de gestos, nem o grito tronitruante, nem o suor, nem calafrios, nem comoção pública, nem o cair ou cacarejar, ou qualquer outro fenômeno bizarro. O preceito da verdadeira adoração é a obediência a Deus e a Sua palavra, as Escrituras Sagradas.

As igrejas começam sempre abrindo uma exceção em suas práticas, as quais consideram sem importância. E, normalmente, começa-se pela liberalidade na música, no louvor. Acontece que os bodes precisam de diversão constante, e estão ali para distrair e, num golpe final, destruir o rebanho (como objetivo, porém não alcansável, visto que as ovelhas de Cristo são salvas e jamais destruídas pelo inimigo). E como isso se dá? Primeiro, corrompe-se o louvor, onde a santidade dá lugar a toda prática profana, com a apropriação dos sentimentos e valores do mundo para depois, progressivamente, implodirem a doutrina e a validade escriturística. 


É esse o caminho que os ímpios impõem à igreja enquanto irmãos sinceros, mas iludidos com as falsas promessas de
resultados (e a ignorância escriturística é fundamental para se manter crentes em estado de coalizão com as forças malignas; os quais veem erroneamente os valores humanos como sendo de Deus), permitem-se cair na blasfêmia, no mundanismo, na rebelião e no desprezo ao Senhor. 

A igreja que acredita louvar a Deus na carne (repito: com ritmos sensuais, contagiantes, eletrizantes, danças profanas, e técnicas do
show business) está assentada no lamaçal do pecado, e receberá a disciplina ou a ira divina. Porque a verdadeira adoração não é uma isca para fisgar espectadores através da musicalidade profana, da pregação artificiosa e antibíblicas; a verdadeira adoração é a submissão do crente a Deus, sujeitando-se à Sua vontade, e porque não, trabalhar para manter os bodes e ímpios fora da igreja ao invés de chamá-los para um acordo de paz, onde os bodes não cumprirão a parte assumida, mas dissimuladamente buscarão dispersar as ovelhas, se possível fosse, destruí-las. 

Infelizmente a maioria dos adoradores modernos enquadram-se na sentença de Paulo:
"Segundo a tua dureza e teu coração impenitente, entesouras ira para ti no dia da ira e da manifestação do juízo de Deus" (Rm 2.5).

07 junho 2009

AUTORIDADE E BONDADE [Comentário a Jó 2.1-3]










Por Jorge Fernandes Isah



Os versículos 1 e 2 repetem a situação descrita em 1.6-7, e os meus comentários podem ser lidos aqui.
A primeira parte do verso 3 também foi registrada em 1.8, mas desejo reafirmar alguns conceitos ali presentes.


“ E disse o Senhor a Satanás: Observaste o meu servo Jó? Porque ninguém há na terra semelhante a ele, homem íntegro e reto, temente a Deus e que se desvia do mal”.


Esta declaração somente será irrefutável:


1) Se Deus controlar completamente todo o processo da vida, incluindo os pensamentos e ações de Jó.


2) Se Deus preordenar infalivelmente todos os eventos na vida de Jó. A presciência não garante que a Sua declaração seja verdadeira, e de que nem mesmo esse conhecimento seja verdadeiro, em vista de que, no decorrer do tempo e da história, os homens (como co-autores dos eventos na visão arminiana) poderão alterá-la através da mudança de opinião, postura e ações.


3) Se Deus for imutável (Tg 1.17); porque Ele é perfeito, e somente os seres imperfeitos estão sujeitos a mudanças e variações.


4) Se Deus for completamente soberano. A soberania de Deus não pode ser compartilhada nem mesmo conosco (o que é um escândalo para os humanistas). Ou Ele é completamente Todo-Poderoso (o que representa controlar 100% de tudo o que há, seja físico ou espiritual) ou não é, e, portanto, não é Deus (a idéia diabólica de que Deus “abriu” mão de Sua soberania como afirmam os proponentes do teísmo-aberto ou relacional é antibíblica e não encontra nenhum versículo que a corrobore). Qualquer teologia que retire de Deus a soberania completa e total sobre tudo e todos, inclusive sobre o homem, é maligna, herética e blasfema.


5) Se Deus assegurar a eficácia dos eventos. Para que Deus afirme categoricamente que Jó é homem íntegro e reto, é necessário que a sua integridade e retidão sejam garantidas, não sejam alteradas, nem haja uma mudança de vontade, o que exclui a idéia de livre-arbítrio. Se ele é livre para se tornar no que quiser, podendo ser hoje um homem reto e amanhã um homem iníquo (ou ainda hoje à noitinha), é possível Deus ter convicção da sua equidade? Quem garante a integridade e retidão de Jó? Deus ou ele? Pode Jó garantir alguma coisa a Deus de forma que seja totalmente confiável? Quem é fiel, Deus ou o homem? Se o homem é fiel, Deus pode se tranqüilizar. Se o homem não é fiel, Deus há de se preocupar. Mas não é o que acontece, porque o Senhor é fiel e mais nada ou ninguém é (1Co 1.9). Ele é quem garante a integridade e retidão de tal forma que Jó jamais se desviará delas sendo confirmado justo diante do Senhor, o qual o capacita, move e opera em sua vida ativa e positivamente (inclusive nas causas secundárias, terciárias, ou quantas existirem) a fim de que O tema e desvie-se do mal. Do contrário, estaremos falando de qualquer outra coisa menos do Deus Vivo, e apelaremos para conceitos extra-bíblicos, os quais não foram sumariados pelo Senhor como verdadeiros e infalíveis, mas sendo pura especulação e improbidade da mente caída e nociva do homem.


Parênteses: Há quem diga que me preocupo demasiadamente com a soberania de Deus, e esqueço-me de refletir em Sua bondade. Ao que replico: Por que o fato de se subordinar todas as coisas à soberania de Deus fa-lO-á menos bom? É a bondade conflitante com a soberania? Elas são excludentes? Para que uma exista é necessário que a outra seja fragilizada? Deus não pode ser completamente soberano e completamente bom? O que uma coisa tem a ver com a outra?


Na verdade não posso tecer nenhuma afirmação legítima e verdadeira de Deus se não apregoar a Sua total soberania e total bondade. Se tento excluir ou minimizar qualquer desses conceitos escriturísticos, estarei construindo ou imaginando outra coisa menos o Deus bíblico. E quando se diz que Deus é bom, e que todos os Seus demais atributos estão subordinados à Sua bondade, e que por isso deu liberdade de escolha ao homem, e que por isso abriu mão de Sua soberania para “penetrar” no tempo e vivê-lo, sofrê-lo, e surpreender-se como qualquer criatura, anelamos o pecado por deliberadamente suprimir parte do que Deus é; à revelia do que nos foi revelado, do que declarou de Si mesmo (por isso os liberais e heréticos precisam suprimir das Escrituras a sua infabilidade, inerrância e inspiração divina, para acrescentar suas mentiras e perversões).


Não vejo em que os proponentes apenas do amor (ainda que completo, total) tenham o verdadeiro conhecimento de Deus. Da mesma forma que os proponentes apenas da soberania também desconhecem-nO.


A segunda parte do verso 3 diz:


“e que ainda retém a sua sinceridade, havendo-me tu incitado contra ele, para o consumir sem causa”.


O verbo incitar é a palavra chave no texto e, segundo o dicionário Priberam, quer dizer: 1. Excitar (alguém) a (outrem) levar a efeito alguma coisa. 2. Despertar, aguilhoar. 3. Provocar. 4. Desafiar. 5. Açular.


A partir dessas definições pode-se entender o texto de duas formas:


1) Satanás instigou Deus a consumir Jó. Pergunto: Quem pode instigar, provocar ou desafiar Deus? Digamos que isso seja possível. Provaria então que Deus não é sábio o suficiente em tomar decisões; que se deixa influenciar pelas tentações; quis inocentar-se diante do diabo; e afligiu um homem sem causa. Em suma: provaria que Deus é fraco, imperfeito, injusto, e pode ser manipulado por suas criaturas. Seriam descrições de Deus? NÃO! A Bíblia diz que Ele é Todo-poderoso, Soberano (Gn 17.1; Ap 1.8), Perfeito (Sl 18.30), Bom (1Cr 16.34; Sl 100.05; Mc 10.18), Sábio (Rm 16.27; 1Tm 1.17; Jd 25), Justo (Sl 11.7, 145.17; 1Pe 3.18), e, finalmente, não pode ser tentado (Tg 1.13*).
Qualquer interpretação que se aproxime minimamente da concepção infame e falaciosa de que Deus atendeu à provocação, de que se submeteu ao teste diabólico, é herética, absurda e contrária a todo o ordenamento bíblico, devendo ser abominada e repelida prontamente.


2) Deus está a confrontar o diabo, o qual desejando a destruição de Jó e duvidando da capacidade do Senhor preservá-lo em integridade e retidão, ouviu que mesmo assim Jó “ainda retém a sua sinceridade”. Ou seja, os argumentos que levaram o diabo a pedir a Deus que tocasse no servo (sendo ele quem o tocou), não foram suficientes para Jó pecar. Assim expôs-se a fragilidade, inutilidade e insuficiência do argumento maligno, e sua flagrante derrota, o que certamente levou-o a odiar ainda mais Jó e a desejar ainda mais a sua ruína. De igual forma, o Senhor manifestou o Seu poder de preservar o servo da blasfêmia e do mal, a despeito de toda a incredulidade perversa de satanás.


Veja bem como é reconfortante e nos dá segurança saber que Deus peleja por nós (Dt 3.22), de que jamais cairemos da graça (At 20.32; 2Tm 1.9), estamos seguros na Rocha, Cristo (Sl 62.6 c/ Mt 7.25), e de que satanás cumpre exatamente o que Deus preordenou como sua área de atuação. Deus revelou-lhe a autoridade pela qual ele foi expulso dos céus (Is 14.12; Lc 10.18; Ap 12.7-9), e pela qual está submetido ao controle de empreender exatamente os desígnios divinos. Todas as suas ações foram planejadas por Deus, bem como as ações de toda a criação, e como ela, o diabo está subordinado ao eterno decreto pelo qual o Senhor ordenou todo o universo, a fim de que se cumpra inexoravelmente a Sua vontade.


Como exemplo (e apenas como tal), digamos que Deus seria o General do exército, o planejador, e satanás um soldado raso que pensa, exercita e age como um militar, sem ter acesso à totalidade do plano do comandante. O soldado somente sabe a parte que lhe cabe no plano, aquilo que lhe foi ordenado fazer e, seguramente, não é capaz de controlar nem mesmo o que executa se não lhe for propiciado os meios para cumpri-lo. Quem planeja, condiciona, dispõe e estabelece as funções de cada um dos soldados e das tropas, de cada um dos armamentos, a forma como, onde e quando atacar e defender, os deslocamentos dos blindados, e ainda todas as minúcias envolvendo o combate, é a autoridade do General. É ele quem determinará a melhor estratégia, e estabelecerá os meios necessários para que a vitória seja alcançada.O soldado não pode organizar um plano e colocá-lo em ação, pois além de não deter autoridade, está sob ordens superiores.


Alguém perguntará: Por que Deus afligiu Jó? Ele não era um homem justo e temente a Deus? Qual o motivo do seu sofrimento?


No decorrer do livro, esses e outros questionamentos serão clarificados pela própria palavra de Deus. Por hora, ficamos aqui.

* O texto de Tiago é complexo, porque pode nos levar a pensar que o mal e o diabo são forças criadoras, autoexistentes, independentes de Deus. E nada é independente ou livre de Deus, porque se assim fosse, Deus não seria soberano e o Todo-Poderoso. Tiago não disse isso, e o que disse está em conformidade com toda a Escritura. Explicando, Tiago diz que a autoridade de Deus é suficiente para que ninguém se absolva (e se considere escusável) com a desculpa de que foi tentado por Deus. Como está escrito em Ezequiel 18.4: "a alma que pecar, essa morrerá". Este é o princípio, o da autoridade de Deus sobre as Suas criaturas. E isso basta para que a condenação sobrevenha sobre elas, ao descumprirem a Lei Moral, pecando e se rebelando contra Deus (Tiago confirma Paulo em Rm 9.16-21. Os textos, para mim, tratam da mesma questão).