07 junho 2009

AUTORIDADE E BONDADE [Comentário a Jó 2.1-3]










Por Jorge Fernandes Isah



Os versículos 1 e 2 repetem a situação descrita em 1.6-7, e os meus comentários podem ser lidos aqui.
A primeira parte do verso 3 também foi registrada em 1.8, mas desejo reafirmar alguns conceitos ali presentes.


“ E disse o Senhor a Satanás: Observaste o meu servo Jó? Porque ninguém há na terra semelhante a ele, homem íntegro e reto, temente a Deus e que se desvia do mal”.


Esta declaração somente será irrefutável:


1) Se Deus controlar completamente todo o processo da vida, incluindo os pensamentos e ações de Jó.


2) Se Deus preordenar infalivelmente todos os eventos na vida de Jó. A presciência não garante que a Sua declaração seja verdadeira, e de que nem mesmo esse conhecimento seja verdadeiro, em vista de que, no decorrer do tempo e da história, os homens (como co-autores dos eventos na visão arminiana) poderão alterá-la através da mudança de opinião, postura e ações.


3) Se Deus for imutável (Tg 1.17); porque Ele é perfeito, e somente os seres imperfeitos estão sujeitos a mudanças e variações.


4) Se Deus for completamente soberano. A soberania de Deus não pode ser compartilhada nem mesmo conosco (o que é um escândalo para os humanistas). Ou Ele é completamente Todo-Poderoso (o que representa controlar 100% de tudo o que há, seja físico ou espiritual) ou não é, e, portanto, não é Deus (a idéia diabólica de que Deus “abriu” mão de Sua soberania como afirmam os proponentes do teísmo-aberto ou relacional é antibíblica e não encontra nenhum versículo que a corrobore). Qualquer teologia que retire de Deus a soberania completa e total sobre tudo e todos, inclusive sobre o homem, é maligna, herética e blasfema.


5) Se Deus assegurar a eficácia dos eventos. Para que Deus afirme categoricamente que Jó é homem íntegro e reto, é necessário que a sua integridade e retidão sejam garantidas, não sejam alteradas, nem haja uma mudança de vontade, o que exclui a idéia de livre-arbítrio. Se ele é livre para se tornar no que quiser, podendo ser hoje um homem reto e amanhã um homem iníquo (ou ainda hoje à noitinha), é possível Deus ter convicção da sua equidade? Quem garante a integridade e retidão de Jó? Deus ou ele? Pode Jó garantir alguma coisa a Deus de forma que seja totalmente confiável? Quem é fiel, Deus ou o homem? Se o homem é fiel, Deus pode se tranqüilizar. Se o homem não é fiel, Deus há de se preocupar. Mas não é o que acontece, porque o Senhor é fiel e mais nada ou ninguém é (1Co 1.9). Ele é quem garante a integridade e retidão de tal forma que Jó jamais se desviará delas sendo confirmado justo diante do Senhor, o qual o capacita, move e opera em sua vida ativa e positivamente (inclusive nas causas secundárias, terciárias, ou quantas existirem) a fim de que O tema e desvie-se do mal. Do contrário, estaremos falando de qualquer outra coisa menos do Deus Vivo, e apelaremos para conceitos extra-bíblicos, os quais não foram sumariados pelo Senhor como verdadeiros e infalíveis, mas sendo pura especulação e improbidade da mente caída e nociva do homem.


Parênteses: Há quem diga que me preocupo demasiadamente com a soberania de Deus, e esqueço-me de refletir em Sua bondade. Ao que replico: Por que o fato de se subordinar todas as coisas à soberania de Deus fa-lO-á menos bom? É a bondade conflitante com a soberania? Elas são excludentes? Para que uma exista é necessário que a outra seja fragilizada? Deus não pode ser completamente soberano e completamente bom? O que uma coisa tem a ver com a outra?


Na verdade não posso tecer nenhuma afirmação legítima e verdadeira de Deus se não apregoar a Sua total soberania e total bondade. Se tento excluir ou minimizar qualquer desses conceitos escriturísticos, estarei construindo ou imaginando outra coisa menos o Deus bíblico. E quando se diz que Deus é bom, e que todos os Seus demais atributos estão subordinados à Sua bondade, e que por isso deu liberdade de escolha ao homem, e que por isso abriu mão de Sua soberania para “penetrar” no tempo e vivê-lo, sofrê-lo, e surpreender-se como qualquer criatura, anelamos o pecado por deliberadamente suprimir parte do que Deus é; à revelia do que nos foi revelado, do que declarou de Si mesmo (por isso os liberais e heréticos precisam suprimir das Escrituras a sua infabilidade, inerrância e inspiração divina, para acrescentar suas mentiras e perversões).


Não vejo em que os proponentes apenas do amor (ainda que completo, total) tenham o verdadeiro conhecimento de Deus. Da mesma forma que os proponentes apenas da soberania também desconhecem-nO.


A segunda parte do verso 3 diz:


“e que ainda retém a sua sinceridade, havendo-me tu incitado contra ele, para o consumir sem causa”.


O verbo incitar é a palavra chave no texto e, segundo o dicionário Priberam, quer dizer: 1. Excitar (alguém) a (outrem) levar a efeito alguma coisa. 2. Despertar, aguilhoar. 3. Provocar. 4. Desafiar. 5. Açular.


A partir dessas definições pode-se entender o texto de duas formas:


1) Satanás instigou Deus a consumir Jó. Pergunto: Quem pode instigar, provocar ou desafiar Deus? Digamos que isso seja possível. Provaria então que Deus não é sábio o suficiente em tomar decisões; que se deixa influenciar pelas tentações; quis inocentar-se diante do diabo; e afligiu um homem sem causa. Em suma: provaria que Deus é fraco, imperfeito, injusto, e pode ser manipulado por suas criaturas. Seriam descrições de Deus? NÃO! A Bíblia diz que Ele é Todo-poderoso, Soberano (Gn 17.1; Ap 1.8), Perfeito (Sl 18.30), Bom (1Cr 16.34; Sl 100.05; Mc 10.18), Sábio (Rm 16.27; 1Tm 1.17; Jd 25), Justo (Sl 11.7, 145.17; 1Pe 3.18), e, finalmente, não pode ser tentado (Tg 1.13*).
Qualquer interpretação que se aproxime minimamente da concepção infame e falaciosa de que Deus atendeu à provocação, de que se submeteu ao teste diabólico, é herética, absurda e contrária a todo o ordenamento bíblico, devendo ser abominada e repelida prontamente.


2) Deus está a confrontar o diabo, o qual desejando a destruição de Jó e duvidando da capacidade do Senhor preservá-lo em integridade e retidão, ouviu que mesmo assim Jó “ainda retém a sua sinceridade”. Ou seja, os argumentos que levaram o diabo a pedir a Deus que tocasse no servo (sendo ele quem o tocou), não foram suficientes para Jó pecar. Assim expôs-se a fragilidade, inutilidade e insuficiência do argumento maligno, e sua flagrante derrota, o que certamente levou-o a odiar ainda mais Jó e a desejar ainda mais a sua ruína. De igual forma, o Senhor manifestou o Seu poder de preservar o servo da blasfêmia e do mal, a despeito de toda a incredulidade perversa de satanás.


Veja bem como é reconfortante e nos dá segurança saber que Deus peleja por nós (Dt 3.22), de que jamais cairemos da graça (At 20.32; 2Tm 1.9), estamos seguros na Rocha, Cristo (Sl 62.6 c/ Mt 7.25), e de que satanás cumpre exatamente o que Deus preordenou como sua área de atuação. Deus revelou-lhe a autoridade pela qual ele foi expulso dos céus (Is 14.12; Lc 10.18; Ap 12.7-9), e pela qual está submetido ao controle de empreender exatamente os desígnios divinos. Todas as suas ações foram planejadas por Deus, bem como as ações de toda a criação, e como ela, o diabo está subordinado ao eterno decreto pelo qual o Senhor ordenou todo o universo, a fim de que se cumpra inexoravelmente a Sua vontade.


Como exemplo (e apenas como tal), digamos que Deus seria o General do exército, o planejador, e satanás um soldado raso que pensa, exercita e age como um militar, sem ter acesso à totalidade do plano do comandante. O soldado somente sabe a parte que lhe cabe no plano, aquilo que lhe foi ordenado fazer e, seguramente, não é capaz de controlar nem mesmo o que executa se não lhe for propiciado os meios para cumpri-lo. Quem planeja, condiciona, dispõe e estabelece as funções de cada um dos soldados e das tropas, de cada um dos armamentos, a forma como, onde e quando atacar e defender, os deslocamentos dos blindados, e ainda todas as minúcias envolvendo o combate, é a autoridade do General. É ele quem determinará a melhor estratégia, e estabelecerá os meios necessários para que a vitória seja alcançada.O soldado não pode organizar um plano e colocá-lo em ação, pois além de não deter autoridade, está sob ordens superiores.


Alguém perguntará: Por que Deus afligiu Jó? Ele não era um homem justo e temente a Deus? Qual o motivo do seu sofrimento?


No decorrer do livro, esses e outros questionamentos serão clarificados pela própria palavra de Deus. Por hora, ficamos aqui.

* O texto de Tiago é complexo, porque pode nos levar a pensar que o mal e o diabo são forças criadoras, autoexistentes, independentes de Deus. E nada é independente ou livre de Deus, porque se assim fosse, Deus não seria soberano e o Todo-Poderoso. Tiago não disse isso, e o que disse está em conformidade com toda a Escritura. Explicando, Tiago diz que a autoridade de Deus é suficiente para que ninguém se absolva (e se considere escusável) com a desculpa de que foi tentado por Deus. Como está escrito em Ezequiel 18.4: "a alma que pecar, essa morrerá". Este é o princípio, o da autoridade de Deus sobre as Suas criaturas. E isso basta para que a condenação sobrevenha sobre elas, ao descumprirem a Lei Moral, pecando e se rebelando contra Deus (Tiago confirma Paulo em Rm 9.16-21. Os textos, para mim, tratam da mesma questão).

14 comentários:

  1. Se puder me explique por favor.
    Se não existe o livre-arbítrio como é que posso ser condenado por algo que fiz? Nesse caso se Deus controla a minha vontade a ponto de eu pecar, não é Deus quem peca ao me levar ao pecado? E não sou inocente? e isto não prova que Deus é mal? Sou uma marionete na mão de Deus?

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  2. Fernando,
    Primeiro, o homem não tem livre-arbítrio. O livre-arbítrio representa que você está "livre" de qualquer influência interna ou externa, e suas decisões são neutras, não sofrendo consequências de nenhum tipo de ações. Isso revela que a pessoa é livre de Deus; mas quem pode ser livre de Deus?
    Segundo, você é condenado não porque tem liberdade, mas porque a autoridade de Deus estabeleceu que aquele que pecar, morrerá. Simples. Deus disse que se o homem pecar será condenado, e estará definitivamente morto, por toda a eternidade. Então, o princípio não é o da liberdade humana, mas da Lei que nos acusa, revelando o nosso pecado e, portanto, a pena que cumpriremos.
    Terceiro, Deus não peca jamais, porque é perfeito e santo. O pecado é criação de Deus, está no nosso nível, o nível das criaturas. Deus não está sujeito à Lei Moral, ao pecado, à morte, porque todas essas coisas estão sujeitas a Ele que as criou, condicionou, estabeleceu-as, e não o contrário. Tanto a Lei Moral, o pecado, a morte e todas as outras coisas criadas são para nós, seres imperfeitos, e referem-se a nós. Deus não está "preso" a elas, porém, Ele as aprisiona conforme a Sua vontade.
    Quarto, se Deus diz que se você pecar é culpado, então, você é culpado, e pronto. Ainda que seja uma marionete, você é culpado. Porque o princípio não é de que o homem será responsabilizado somente se for livre para escolher, mas ele será responsabilizado se infringir uma das leis de Deus, se pecar. O fato de você ser livre ou não, marionete ou não, é irrelevante.
    O importante é que, se Cristo for o seu Senhor e Salvador, você já passou da morte para a vida (Jo 5.24); nenhuma condenação há para você que não anda segundo a carne, mas segundo o Espírito (Rm 8.1); e verá na eternidade o Senhor face a face. Porque "Cristo Jesus veio ao mundo, para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal" (1Tm 1.15).
    Volte sempre.
    Abraços.
    PS: Estou à disposição caso tenha outras dúvidas.

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  3. Caro Jorge

    Sobre a parte "inclusive nas causas secundárias, terciárias, ou quantas existirem" eu ri um pouco, pois já li muito este tipo de argumento mas a minha burrice nunca permitiu entender.

    Sobre a parte "Parênteses: Há quem diga que me preocupo demasiadamente com a soberania de Deus, e esqueço-me de refletir em Sua bondade."... sou acusado da mesma coisa... risos...

    Sobre as peguntas do outro colega, minhas tentativas de resposta são:

    1. Se não existe o livre-arbítrio como é que posso ser condenado por algo que fiz?
    1. Resposta: O que nos condena não é a liberdade de escolha, mas a presença do pecado em nós, e mesmo recém nascido e de poucos dias sem ter ainda feito algum pecadão, já somos e estamos totalmente em pecado, e se a Graça não refrear a nossa natureza pecaminosa de lindos bebês nos transformaremos em Hitle´s, afinal ele também foi um meigo bebê... só que a Graça não atuou nele na mesma intensidade do que em nós. Enfim, somos condenados pois já nascemos condenados em pecado. Por isto a necessidade do novo nascimento.

    2. Se Deus controla a minha vontade a ponto de eu pecar, não é Deus quem peca ao me levar ao pecado?
    2. Resposta: Da mesma forma que o escritor de um livro é o autor do personagem mas não é ele diretamente que peca na história e sim o personnagem. Da mesma forma o homem está subordinado a vontade soberana de Deus, mas não é diretamente Deus quem peca e sim o homem. A este colega eu recomendo a leitura da história de Davi, onde Deus incita o coração de Davi para contar o povo, Davi toma a iniciativa de contar o povo, Deus não gosta... e castiga Davi por ter contado o povo... Difícil não?

    3. E não sou inocente?
    3. Resposta: Mesmo um bebê inocente, se não foi vivificado pelo ES e eu creio que é possível inclusive ser vivificado ainda no ventre, casos excepcionais como o de João Batista, mesmo assim o bebê não vivificado mesmo não tendo feito nem bem nem mal, já é condenado justamente ao inferno e não é inocente. Não pelo fazer, pois não fez nada, mas pela natureza que lhe é inerente, pois se deixado a crescer fará atrocidades e só não faz mais pois a Graça Comum de Deus impede que ele seja tão mal quando sua natureza permitirá que seja.

    4. E isto não prova que Deus é mal?
    4. Resposta: Deus não é mal, pois ele criou o mal... e usa do mal enquanto ferramenta para mostrar o seu poder e a sua justiça nos vasos de desonra. Leia Romanos capítulos 8, 9 e 10.

    5. Sou uma marionete na mão de Deus?
    5. Resposta: É muito pior, pois a marionete é manipulada pelo seu controlador por pequenos e contáveis fios, mas nós criaturas de Deus, somos controlados por ele por incontáveis mecanismos, muito mais poderosos do que poucos fios. É muito pior do que ser meramente uma maionete.

    Um abraço e desculpe ser muito longo.

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  4. Natan,
    Como poderia desculpá-lo? Seus comentários me colocaram no "chinelo"; não sei se sou capaz (rsrsrs)...
    Puxa, fico feliz sempre com a sua participação, pois elas são bíblicas e acrescentam muito em entendimento daquilo que não fui claro em escrever ou mesmo do que não escrevi.
    A sua resposta ao Fernando foi didática, objetiva e escriturística, não há o que acrescentar ou discordar.
    Escreva o quanto quiser (parece que o blogger está limitando o número de caracteres nos comentários, mas não tenho certeza), é sempre um prazer lê-lo.
    Abraços.
    PS: Lendo um comentário no seu blog descobri que além do tenis e violão, o irmão gosta de F1 (como eu). Foi aquele texto (F1 e a Soberania) que o levou a ler o meu minifúndio virtual?

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  5. Caro Jorge

    A isca foi o texto da fórmula 1 ou um outro que falava sobre soberania e eu lhe perguntei sobre estupro, quando você me enviou a resposta sem fugir da "pegadinha", eu gostei da sua postura, e pensei "ele é coerente com a soberania mesmo quando fica chocado com ela"... então valerá a pena ler seus textos. A partir dai fui ficando... ou melhor fui lendo...

    Sim gosto de fórmula 1, e sofredor, pois sou torcedor do Rubens... sempre estou a acreditar que ele vai conseguir se superar... mas o sofrimento sempre persiste... risos...

    Um grande abraço

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  6. Caro Jorge

    Esqueci de dizer, que se você gostou das minhas tentativas de resposta, provavelmente irá gostar desta reflexão também:

    http://oliveira-reflexoes-reformadas.blogspot.com/2008/03/reflexo-to-malvolo-quanto-possvel.html

    Um abraço

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  7. Natan,
    Já havia lido esse seu texto, e reli-o com o coração quebrantado.
    Não é fantástico e inefável saber que nada nos separará do amor de Deus que está em Cristo nosso Senhor? (Rm 8.39).
    Deixei um comentário no seu blog.
    Forte abraço.

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  8. Amigo, Jorge

    Competente como sempre em afirmar e reafirmar as verdades reformadas em alto e bom tom. O que talvez faltou em seu artigo (embora não saiba sua intenção), seria discutir se na soberania divina cabe a responsabilidade humana, o que na perspectiva teológica não tem o arminianismo como amante oculto. Muitos reformados defendem a dupla (soberania divina e responsabilidade humana) como possíveis. Nosso irmão chinês, Vincent Cheung discorda e diz que justamente os 100% de Deus elimina tal possibilidade dessa suposta responsabilidade, que seria uma espécie de co-participação. Sendo assim, foi sua intenção em afirmar tal ponto de vista, ou seja, do irmão chinês?

    Deus o abençoe

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  9. Leonardo,
    Desculpe-me a demora em responder, mas é que o dia foi puxado no trabalho.
    O meu comentário a Jó trata da soberania de Deus, a qual considero completa e total, inclusive agindo ativamente no pensamento e ações humanas. Foi o que levou o Fernando a cogitar se ele era uma marionete nas mãos de Deus.
    Sem entrar nesse campo de discussão (de marionete ou não), creio que Deus demonstra nas Escrituras o seu completo domínio sobre tudo e todos, desde os grandes eventos até os mínimos e mais insignificantes atos o Senhor age ativamente a fim de que eles se realizem exatamente conforme o Seu eterno decreto. Isso é predestinação.
    O homem e suas ações estão incluídos no decreto de Deus, e, portanto, sujeitos à vontade de Deus.
    Como expliquei ao Fernando (e o irmão Natan reafirmou) a responsabilidade humana não está ligada ao livre-arbítrio do homem, mas à autoridade de Deus que disse: aquele que pecar, esse morrerá. Então, a responsabilidade humana não tem nada a ver com o fato do homem ser livre, mas com o fato de que, se o homem pecar (não importa se livremente ou não) ele será responsável pelo seu pecado, e sofrerá as consequências do pecado, a punição.
    Portanto, na minha visão (e creio bíblica) o homem é responsável e condenado não porque escolhe livremente, mas porque Deus decretou que se pecasse, seria responsável e condenado pelo seu pecado; isso é a autoridade divina de fazer com suas criaturas o que bem quiser.
    Os calvinistas compatibilistas acreditam que Deus é soberano e decretou tudo na eternidade (as causas primárias) mas, de certa forma, o homem é livre para escolher realizar as causas secundárias, as quais os levarão a cumprir as causas primárias que Deus estabelecera na eternidade.
    O problema é que se Deus não controla as causas secundárias como terá certeza de que as causas primárias acontecerão? Então, os compatibilistas apelam para o "mistério" ou paradoxo para dizer que a Bíblia não revela como isso se dá: harmonizar a completa soberania de Deus com a completa responsabilidade humana.
    Para mim, Deus controla inclusive as causas secundárias, e o homem não é livre de Deus, estando totalmente sujeito a Deus (inclusive ao pecar e fazer o mal).
    Pelo que sei, a posição do Cheung é a que descrevi acima, ele crê na responsabilidade decretada pela autoridade divina, e não pela liberdade humana.
    A visão que o Cheung e o Gordon Clark têm é chamada de determinismo bíblico, a qual considero a resposta correta para a questão da soberania divina e a responsabilidade humana.
    Não sei se fui claro, mas em suma, o homem é responsável porque Deus determinou que ao pecar o homem seria condenado pelo seu pecado. Isso é autoridade, e não tem nada a ver com liberdade humana de escolher pecar ou não pecar.
    Forte abraço.
    PS: Agradeço a Deus pela nossa amizade que se iniciou recentemente.
    Cristo o abençoe!

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  10. Caro Jorge

    Me permita um comentário novamente.

    Não lembro de ter lido Cheung dizer que não existam ao mesmo tempo soberania e responsabilidade.

    Pelo que lembro ele afirma as duas coisas, ou seja, Deus é soberano 100% e o homem é responsável pelo que faz.

    O que diferencia Cheung dos outros que você chamou de seguidores da palavra "paradoxo" é que estes dizem que "não sabem" e afirmam as duas verdades bíblicas, e aquele (Cheung) diz que sabe e explica.

    A sua explicação (Cheung) é que o homem é responsável não por causa da liberdade de agir, mas por causa da sua SUBORDINAÇÃO a um Deus soberano.

    Ou seja (na realidade nunca entendi totalmente este argumento de Cheung), o homem por estar subordinado a Deus e devendo satisfação a Ele, e respondendo a Ele hierarquicamente... é responsavel pelos atos.

    Desta forma, entendo que Cheung também é compatibilista... até porque a Bíblia afirma as duas verdades.

    Assim respondendo ao seu leitor, eu diria que sim... na soberania divina cabe a responsabilidade humana.

    Para Cheung, CABE devido a questão da subordinação. (Acho que li isto na Teologia Sistemática dele).

    Para mim, CABE também, mas não sei responder... risos... afirmo assim pois são bíblicas as duas afirmações: Deus é soberano. O homem é responsável moral pelas suas ações.

    Minha tentativa de responder é aquele texto sobre o autor, os personagens, etc...

    Gostei da expressão do arminiano como amante oculto... risos... de fato agora é que fui entender (pela sua explicação) a explicação das causas secundárias e primárias.

    E fico rindo... rindo porque parece que Calvino o grande Calvino tinha este (na sua época ainda não nominado) amante oculto.

    Mas eu discordo, que petulânica discordar de Calvino, pois se Deus não sabe ainda as minhas ações secundárias pois eu ainda não me decidi a escolhê-las... então ele não é totalmente soberano, logo não é um Deus que saiba TODAS as coisas.

    Para mim Deus é soberano sobre todas as coisas primárias, secundárias, terciárias, quaternárias... risos...

    Falando sério, lendo Cheung, entendo que os 100% de Deus eliminam a possibilidade do LIVRE ARBÍTRIO do homem, mas de forma alguma eliminam a possibilidade da RESPONSABILIDADE HUMANA, por que para ele responsabilidade tem haver com subordinação e não com livre escolha.

    Eu gosto de dizer que temos escolha... mas que ela não é livre de Deus.

    Um abraço

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  11. Natan,
    O Cheung, pelo que sei, e como disse ao Leonardo, crê tanto na soberania total e completa de Deus como na responsabilidade total e completa do homem (o que você afirmou). Acontece que ela não está firmada na pseudo liberdade do homem, na decisão que o homem tem de escolher entre fazer o bem e o mal (sendo regenerado ou não), mas na autoridade divina que determinou o que seria pecado, e no caso do homem cometendo-o (livremente ou não) seria responsável pelo seu pecado, e receberia a condenação por ele, e a aplicação da punição por desrepeitar a Lei de Deus (a morte física nesta vida, e a morte eterna e definitiva na eternidade).
    Então, reafirmando, apenas para não deixar dúvidas, a responsabilidade humana não tem nada a ver com o livre-arbítrio (o qual sequer é mencionado na Bíblia), mas a ver com o fato de Deus determinar essa responsabilidade ao estabelecer a Lei, e a infração da Lei é que faz o homem responsável por infringi-la.
    Será que fui claro ou confundi mais ainda?
    Abraços, e Cristo o abençoe!

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  12. Claríssimo!
    Ficou chateado?

    Eu só estava "participando" a minha impressão de que o Cheung defende tanto a soberania quanto a reponsabilidade.

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  13. Natan,
    Você é um grande amigo, e mesmo que pudesse me chatear (no que não acredito), ainda assim não me sentiria chateado, o que não é o caso.
    Simplesmente perguntei se estava claro porque tenho o péssimo hábito de complicar as coisas (pelo menos é o que a minha esposa diz...), e não queria deixar nenhuma dúvida quanto à posição que o Cheung tem (no meu entendimento).
    Na última resposta esqueci-me de tocar no assunto do compatibilismo. Na verdade, o Cheung não é compatibilista, o compatibilista acredita que Deus traçou um plano, predeterminando-o na eternidade (o decreto eterno), mas que algumas ações humanas são "livres", no sentido de que o homem escolhe-as internamente, e de que sem essa capacidade de escolha ele não poderia ser responsável por seus atos. Ou seja, se apenas a vontade de Deus (a qual é externa) me levasse a tomar atitudes, eu não poderia ser responsável por essas atitudes. Portanto, ainda que o calvinista compatibilista não creia no "livre arbítrio", ele crê na "livre agência" do homem, que, no fim das contas, é uma liberdade menor, mas ainda liberdade.
    Para mim, há uma incoerência gritante ao se afirmar que Deus é soberano, predestina, preordena e decreta tudo o que aconteceu, acontece e acontecerá, e depois dizer que o homem tem uma certa liberdade naquilo que faz. Como? Fica a interrogação.
    No fundo, o compatibilista afirma tanto quanto o arminiano que se o homem não for livre na escolha de suas decisões, ele não poderá ser imputado por elas.
    O que nos leva a refletir: o homem é independente de Deus? Pode o homem ser livre de Deus?
    Abraços, e Cristo o abençoe!
    PS: Um bom texto do Cheung que aborda essa questão pode ser lido
    em http://www.monergismo.com/textos/livre_arbitrio/agostinho_compatibilismo_cheung.htm

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  14. Caro Jorge

    Agora ficou ainda mais claro.

    Gostei principalmente do detalhamento do que seria compatibilismo e suas considerações sobre a diferença entre livre-arbítrio e livre-agência... diferença esta com a qual eu nunca fui simpático.

    Tal diferença (entre arbítrio e agência) é o tal do amante o culto que o seu leitor citou.

    Um abraço
    Vou ler o texto que recomendas.

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