Por Jorge Fernandes Isah
Há um ditado popular que diz: "Política, religião e futebol não se discutem". Quem o afirma, faz-no com um ar de infinita sabedoria, como se essa atitude fosse capaz de promover a paz mundial. Na verdade escondem claramente outras evidências e deficiências:
Primeiro, de não terem convicção que os capacite e qualifique a discutir esses e outros assuntos. Segundo, de que são desinformados, e desconfiam da própria capacidade de levar a conversa a um padrão mínimo de argumentação; o que provavelmente torna-los-á alvos fáceis ao ataque, sentir-se-ão vulneráveis ao raciocínio alheio.
Terceiro, proferem-na com um sorriso e olhar superiores, quando estão a afirmar apenas a própria inferioridade e apatia. É o artifício vulgar, o atestado de burrice do ignorante; mas muito mais do que isso é a covardia daquele que não quer se preparar. Por que abordar este assunto?
Por dois motivos: 1- Ao agirem assim eles estão renegando a si mesmos, e estarão renegados, à ignorância, pois dizem claramente: "não quero entender nem conhecer, e tenho raiva de quem sabe!". A consequência é que se sentarão não muito confortavelmente na escuridão, e permanerão ali cultivando a preguiça mental que aproxima-los-á cada vez mais da mediocridade; a serem facilmente dominados pela ignominia e pela imprudência.
2- Jamais se envolverão em questões pertinentes e essências à vida. A consequência é que ficarão a cargo e nas mãos de outros menos qualificados e dotados, contudo, menos medrosos, ainda que o destemor se reflita apenas na arrogância de proferir asneiras e mentiras como se fossem verdades. Os omissos terminam por transferir aos vaidosos e tolos a sua razão, ou pelo menos a possibilidade de se ser razoável, entregando-lhes o seu juízo.
Vivemos o momento em que ter convicção é sinal de radicalismo, primitivismo, e de que ela invariavelmente colocará as pessoas em pontos extremos, e isso equivale a incitar a violência, a intolerância, e o caos social. Tal assertiva é insustentável, e por si mesma algo sem pé nem cabeça. É claro que não estou a dizer que todas as opiniões arraigadas são verdadeiras; porque para tê-las como verdade é necessário possuir pressupostos que a sustentem, e que estejam de acordo com as regras da lógica. Ainda assim podem ser falsas, se as premissas estiverem erradas.
Mas como saber que um convicto está certo? O debate é uma das maneiras. Então excluir o debate é favorecer às falsas crenças, é a certeza de mantê-las intocadas em todas as suas falácias. Isso serve tanto para se discutir as questões relacionadas à origem da vida (criacionismo, D.I., darwinismo) quanto ao governo e a sociedade provocar-nos a legitimar o gay como um "terceiro" sexo (mesmo com os votos da maioria ou por decreto-lei essa provocação é irracional, estapafúrdia, e deliberadamente artificial).
Acontece que não discutir essas e outras questões está relacionado ao fato da maioria das pessoas simplesmente desconhecê-las, e não querer conhecê-las. Preferem sorver o caldinho pestilento que as ideologias diabólicas (literalmente falando) fabricam e enfiam goela abaixo dos indolentes. E isso não acomete apenas aos não crentes (o que é natural) mas, para a nossa tristeza, também aos cristãos.
Quando afirma-se que a Bíblia é a regra de fé e vida, o crente não pode desprezar suas doutrinas e ensinamentos com o risco de ser um mentiroso e um falso crente. Ao contrário, se o Evangelho é o norteador, ele será relevante e insubstituível para formar e moldar a opinião quanto ao certo e errado, em conformidade com o padrão moral divino. Assim o caráter do crente estará modelado à semelhança do caráter de Cristo; e somente se irá à sociedade defender os valores cristãos, capacitado a opor-se a tudo o que é antievangelho, combatendo o pecado e os sofismas, se a mente por trás dessas decisões for a mente de Cristo.
Se não se conhecer a Palavra, a qual foi dada uma vez aos santos (Jd 3), como diretriz, a molamestra que nos revelará a verdade em todas as questões e assuntos da vida, como pode-se ser luz em meio as trevas?
Pode-se ter a ilusão de ser qualquer coisa, até mesmo confundir essa coisa com a luz, mas jamais será luz, pois é apenas a ausência de luz... "Mas quem pratica a verdade vem para a luz, a fim de que as suas obras sejam manifestas, porque são feitas em Deus" (Jo 3.21). A verdade não se oculta ou esquiva-se, ela é a própria luz, os que são iluminados e capacitados pelo Espírito Santo a entendê-la, para proclamá-la, após o entendimento.
Alguém poderá dizer: "você está errado. Somente Jesus é a luz". Sim, Cristo é a luz! E nós, o que somos? "Vós sois a luz do mundo; não se pode esconder uma cidade edificada sobre um monte; nem se acende a candeia e se coloca debaixo do alqueire, mas no velador, e dá luz a todos que estão na casa" (Mt 5.14-15). Ao chamar-nos de luz, Cristo o faz não porque somos capazes, santos e salvos por nossa própria honra e mérito, mas porque não nascemos do "sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus" (Jo 1.13). Somos capacitados, feitos santos e redimidos pelo Seu sangue e poder que operam em nós, tirando-nos das trevas e conduzindo-nos a Si mesmo, a fim de não sermos como os incrédulos, nos quais o deus deste século cegou o entendimento "para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus" (2Co 4.4). Note que Cristo é luz, o Evangelho é luz, e somos luz (não luzes, porque a única luz se reflete nos eleitos), pois Cristo a produz em nós, pelo poder da revelação da palavra de Deus.
Sem a compreensão das doutrinas bíblicas é possível pregar o Evangelho de Cristo? E algo ainda pior: é possível conhecê-lO? Como? Pela sensação, misticismo, subjetivismo? Ou seria o medo de ser confrontado pela verdade, pela revelação objetiva da palavra, e manter-se diante de um cristo que se afigura ser o que Cristo não é? E se o cristo seguido é uma miragem, como pode o discípulo viver como santo? Se não é santo, não é bíblico, porque a palavra de Deus é a verdade, e somente os santos são santificados na verdade (Jo 17.17). Portanto, a revelação acolhida é proveniente de outra fonte, do próprio pai da mentira, o maligno, que, sob os trajes de santo, insufla as pessoas a relegar a doutrina à irreflexão, através do falatório irracional de que se há debate, então a teologia não presta, nem ao menos deve ser considerada. Então, "tende cuidado, para que ninguém vos faça presa sua, por meio de filosofias e vãs sutilezas, segundo a tradição dos homens, segundo os rudimentos do mundo, e não segundo Cristo" (Cl 2.8).
O esquema de satanás é frágil mas eficaz, já que os descuidados aventuram-se a acreditar na primeira bobagem que lhes é contada e, imprudentemente, sem o escrutínio do texto bíblico, numa fé cega e tola, afastam-se mais e mais da realidade do Evangelho, numa falsa idéia da verdade, o engano mental. Por isso, "ninguém vos engane com palavras vãs; porque por estas coisas vem a ira de Deus sobre os filhos da desobediência" (Ef 5.6); mas o diabo não precisará de muito esforço para manter os seus corações entorpecidos; eles mesmos se encarregarão de colocá-los em bandejas e servi-los com requintes de zelo ao inimigo.
Então, àquele que diz servir não serve, e de quem quer fugir se submete, num esforço inútil de construir enquanto destrói o que não foi construído. Essa mente está completamente obliterada pelo pecado, e urge-nos ouvir a ordem do Senhor: "Não deis aos cães as coisas santas, nem deiteis aos porcos as vossas pérolas, não aconteça que as pisem com os pés e, voltando-se, vos despedacem" (Mt 7.6).
Referindo-se a Si mesmo, Cristo declarou: "conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará" (Jo 8.32). Cristo libertará os eleitos de todo o engano, dúvida, prisão e mentira, e da falsa suposição de que Deus quis se revelar fora da Escritura. Logo, é possível se opor à verdade sem se opor a Cristo? Ou seria a impossibilidade de conhecê-lO que o faz opositor da verdade?
Pense nisso antes de refugar uma discussão. Há as que não valem realmente a pena; mas se não tentar, como saber? Como e quando se deve aplicar a exortação de Paulo? "Ao homem hereje, depois de uma e outra admoestação, evita-o, sabendo que esse tal está pervertido, e peca, estando já em si mesmo condenado" (Tt 3.10-11). Depois de uma e outra admoestação... isso não representa uma disputa excessiva, interminável; mas o hereje há de ser advertido primeiramente antes de ser abandonado.
Há tempo para tudo, e "tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu" (Ec 3.1). E o tempo se expirou. Porque "o que é, já foi; e o que há de ser, também já foi" (Ec 3.15). Não se cale, ore; para, naquela hora, o Espírito Santo ensinar o que se convenha falar (Lc 12.12).
* Uma abordagem diferente, e muito melhor, pode ser lida no Frases Protestantes, do Ranieri Menezes.
Ou seja, não devemos nos omitir...
ResponderExcluirÉ isto o que desejas refletir?
Faz dois anos que eu tenho enfrentado de frente os meus "adversários", mas por incrível que parece, os encontro muito mais na igreja do que fora dela.
Fora dela, eles emudecem pois nada entendem das escrituras.
Na igreja, eles arrogantemente se dizendo entendidos, se negam a discutir o que quer que seja que lhes contrarie.
É uma luta difícil, mas vamos levando crendo que a VITÓRIA NÃO É NOSSA, ou seja, lutamos mas temos plela consciência de que não é por força (nossa), nem por capacidade (nossa) que o Reino prosperará.
Vamos lutando e semeando como semeadores cegos, jogando para sementes para tudo quanto é lado, e de vez em quando somos surpreendidos em saber que de lugares o mais improvavéis e de pessoas as mais improvavéis Deus faz prosperar a semente.
Um grande abraço
Natan,
ResponderExcluirÉ isso mesmo. Ao nosso redor as pessoas parecem muito espirituais ou sábias quando refugam alguma discussão, em especial, as discussões teológicas (é claro que me referi no texto a discussões em geral), quando na verdade demonstram desconhecimento (no caso das Escrituras) ou falta de argumentos que pautem a sua posição (uma aceitação sem bases, sem reflexão, instantânea, automática).
De forma geral, está quase proibido pensar, e a maioria, ainda que não aceite, quando o faz, pensa com a cabeça do outro. E isso permite que a ignorância se transforme num atrativo, onde a acomodação e o descuido servem para manter posições não-bíblicas dentro da igreja, a serviço do diabo.
Do lado de fora, faz um grupo de tolos e vaidosos guiarem o "resto" ao matadouro (sendo que eles mesmos apenas não são os primeiros, mas também se lançam debaixo do machado algoz).
O texto combate a ignorância, não que o conhecimento trará a salvação como os gnósticos acreditam, mas sem o conhecimento bíblico, jamais o homem reconhecerá e conhecerá o Deus vivo e único.
Abraços.
Os apostolo naõ tinham conhecimento, eram ignoantes segundo o seu pensamento, como explica eles falaram diante dos poderosos do seu tempo?
ResponderExcluirJ.G.
JG,
ResponderExcluirSe entendi direito a sua colocação, você disse que os apóstolos eram homens simplórios, sem instrução, e como então foram capazes de pregar o Evangelho?
Todos eram pescadores, a exceção de Mateus que era publicano e, provavelmente, tinha uma instrução muito superior aos dos demais.
Contudo, por 3 anos, eles convíveram diariamente com o Senhor Jesus, aprendendo com Ele, sendo ensinados e discipulados por Ele.
E, após Pentecostes, tornaram-se cheios do Espírito Santo, e proclamavam o Evangelho diante dos sacerdotes, dos governantes e outros homens de destaque na sociedade pelo poder de Deus.
Isso não invalida o conhecimento secular, os quais provavelmente Mateus e Paulo aplicaram em suas pregações e conversas, mas, sobretudo, o crente tem o dever de conhecer as Escrituras, porque, senão, como ele combaterá o bom combate? Como se oporá às heresias, e proclamará o Evangelho de Cristo? É possível pregar o que não se conhece? Há alguma outra forma de se conhecer Deus sem a revelação que Ele faz de Si mesmo na Biblia? Não!
Portanto o conhecimento escriturístico é fundamental para o viver santo, para a vida cristã, sem ele, somos incapazes de explicar a razão da nossa fé.
Espero tê-lo respondido.
Obrigado por sua visita.
Abraços.
Oi
ResponderExcluirVoltei!
Quando eu disse que A VITÓRIA NÃO É NOSSA na realidade estava a dizer que o RESULTADO da vitória não é nosso.
Mas certamente EM CRISTO a VITÓRIA É NOSSA e somos mais do que vencedores e participantes delas.
Sobre o questionamento feito pelo outro colega, os apóstolos "humildes" receberam de Deus sobrenaturalmente os dons de conhecimento e de palavra de sabedoria, ou seja, sem estudar ficaram conhecedores da verdade por revelação sobrenatural do próprio Deus.
Mas é bom lembrar que Paulo, apóstolo igualmente, era Doutor na Lei e formato por Gamaliel.
E dele Paulo é de longe o maior número de epístolas que temos na Bíblia.
E Atos dos Apóstolos além do livro de Lucas, de onde temos conhecimento de muitas das ações dos outros apóstolos, foi escrito por Lucas, um médico letrado, naquela época já uma posição de estudo e de ciência.
Enfim... na realidade pouco importa o muito ou o pouco conhecimento para que Deus nos use, mas a fé vem pelo ouvir e pelo conhecer a PALAVRA.
A salvação será por fé, ignorantes aos milhares serão salvos, mas é também uma benção não ficar parado no conhecimento das escrituras pois ela mesmo declara que bem aventurado é aquele que medita nela de dia e de noite, e ela também afirma que devemos crescer na graça e no conhecimento.
Só conhecimento nos tornamos frios e infrutíferos.
Só "graça" (fervor piedoso) nos tornamos fanáticos.
Um grande abraço
Natan (Oliveira),
ResponderExcluirEntendi quando você disse que a vitória não era nossa, mas de Deus, o qual opera em nós para que, como instrumentos, sejamos usados para proclamar o Evangelho de Cristo, salvar almas e ampliar o Reino (veja bem, tudo isso ocorre seguindo rigorosamente o que Deus determinou e estabeleceu na eternidade, antes da fundação do mundo. Os resultados já são conhecidos de Deus antes deles acontecerem no tempo).
Em relação ao restante do seu comentário, assino embaixo. Claríssimo.
Forte abraço para você, amigo.