07 maio 2009

COMENTÁRIO A JÓ 1.13:22 - PARTE 2




















Por Jorge Fernandes



Após saber da morte dos filhos, "Jó se levantou, rasgou o seu manto, rapou a sua cabeça, e se lançou em terra, e adorou" (v. 20). Ele se sujeitou à vontade do Senhor de uma forma tão resignada, que somente alguém dominado pelo Espírito Santo de Deus poderia assim agir. É fantástica a assertiva bíblica de que "e adorou", mesmo diante de todas as terríveis notícias, de ver o seu mundo virado ao avesso, de sofrer e entristecer; o coração submisso de Jó contemplou a soberania de Deus, Seu poder e sabedoria, restando-lhe, inevitavelmente, adorá-lO; reconhecendo a sua finitude e dependência, confessando por legítimo o que foi dito do homem: "porquanto és e em te tornarás" (Gn 3.19). 

E mais, convencido de que não tinha nenhum direito diante de Deus, de que não poderia apelar a nada, nem mesmo como homem justo, e de que Deus detinha todas as prerrogativas sobre ele como o genuíno Senhor de tudo o que possuia, inclusive, o de dispor até mesmo da sua vida. Não é isso o que Jó nos disse? "Nu saí do ventre de minha mãe e nu tornarei para lá; o Senhor o deu, e o Senhor o tomou: bendito seja o nome do Senhor" (v.21).
 
Ele reconheceu que o mal, ainda que seminalmente, é o bem nas mãos de Deus. "Provai, e vede que o Senhor é bom; bem-aventurado o homem que nele confia" (Sl 34.8). Não foi o que José constatou, de que Deus transformara o mal em bem (Gn 50.20)? E Paulo não se convenceu do mesmo? Ao escrever que "todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito" (Rm 8.28)? Mesmo que seja o mal? E se o mal concorre para o bem, logo o mal não é o bem também? Usando as palavras do Natan Oliveira: "Para nós é mal... Mas para Deus, tudo concorre para o bem, logo até o mal visa um bem, logo não é mal..."

O mal não é mal quando procede de Deus, porque tudo quanto Deus faz é bom, isso é algo que há de se entender: por definição escriturística, Deus não pratica o mal. O mal é criação de Deus e está no nível das criaturas, portanto, somente pode ser realizado por elas. Somos nós, o diabo, e os anjos caídos que exercem e exercitam o mal, predestinado pelo Deus pessoal da Bíblia que o determinou inteligente e imutavelmente como todos os demais eventos no universo. 

Quando Deus diz que faz o mal (p.ex., Is 45.7), usa de um antropomorfismo que é a forma de se fazer entender pela linguagem humana; e ao dizê-lo confirma que é o Supremo Soberano sobre tudo, e de que nada escapa-lhe, pois tudo procede da sua vontade, a qual é plenamente realizável, não havendo chance de ser frustrada. Portanto, não há outra força ou poder; Deus tem o poder absoluto, e tanto o bem como o mal são controlados por Ele. 

Para nós há o mal e o bem porque Deus assim o estabeleceu através da Lei Moral. Mas a Lei Moral não vale para Deus, somente para as suas criaturas, pois está no nível da criação, sobre a qual Ele exerce autoridade, o pleno direito que tem como Criador de sujeitar todas as coisas à Sua vontade, sendo sempre benigno. Assim, Deus não está sujeito à Lei, visto tê-la criado para os homens, e não para Si (como o Criador pode se sujeitar ao objeto criado?); então, é impossível a Deus pecar, Ele não pode pecar, o pecado não exerce nenhuma influência sobre Deus (negativamente) que, como Juiz, pune o pecador (reação positiva contra a rebeldia), o qual é quem efetivamente comete o pecado, e sobre quem está a autoridade justa e santa de Deus.

Mas muitos dirão: "E a ira de Deus, é boa?". Para Deus (e devia ser para nós também), tudo o que Ele faz é e sempre será, em todas as situações, santo, perfeito e bom. Porque tanto a santidade, como a perfeição e a bondade têm em Deus o seu padrão único, não apenas máximo, mas singular. A ira de Deus é boa porque faz parte da Sua natureza, e por ela conhecemos a Sua justiça. Veja bem, se Deus não tivesse criado o pecado e o mal, como seria possível que conhecêssemos a Sua santidade e retidão, e assim pudesse manifestar a Sua ira? Sem o mal criado seria possível ver o bem em Deus? Sem o pecado criado seria possível reconhecê-lO santo e imaculado, e por ele manifestar a Sua equidade? Não. A menos que Deus criasse uma outra criatura que não fosse o homem. Então, por que escolheu criar o homem? Por que assim Ele quis, e ponto. A revelação bíblica não pode ser questionada quanto mais Deus; como Paulo deixou patente, inapelável: "Ó homem, quem és tu, que a Deus replicas? Porventura a coisa formada dirá ao que a formou: Por que me fizeste assim?" (Rm 9.20). É preciso dizer mais alguma coisa?
 
Jó entendeu que a sua condição diante de Deus, como criatura, o tornava integralmente submisso à Sua autoridade e vontade, e de que devia render-se em completa humildade, e assumir a sua inferioridade face ao Deus sábio e bom. Por isso o texto anuncia que, decisivamente, ele em tudo não pecou. Qual era o seu pecado possível? Contestar a vontade divina. Contestar os atos divinos. Contestar a sabedoria de Deus. E como muitos fazem, contestar a soberania de Deus sobre tudo e todos. Esses são pecados, porque ofendem o Ser de Deus, a Sua natureza, pela falta de fé, e a desconfiança de que Ele é capaz de decidir justamente.
 
Murmurar é, nada mais nada menos, o queixar-se de Deus, é considerar os Seus propósitos falhos, imperfeitos, injustos, e de que, em nossa soberba, podemos fazer melhor do que Ele faz. Jó poderia ter murmurado, porém não teve o mesmo pensamento que derrubou satanás e 1/3 dos anjos do céu; que levou Adão e Eva ao pecado; e que destruirá a cada um dos rebeldes que se atrever a intentá-lo. 

Jó não pecou, porque assim Deus quis que agisse.
 
Portanto, mesmo rasgando suas vestes, rapando a cabeça, pranteando, e sofrendo como poucos, não atribuiu "a Deus falta alguma" (v.22).

Para ler a Parte 1 do comentário click AQUI
 
Para ler o comentário a Jó 1.1-12, click AQUI
 

4 comentários:

  1. Você disse: "O mal não é mal quando procede de Deus, porque tudo quanto Deus faz é bom, isso é algo que há de se entender: por definição escriturística, Deus não pratica o mal. O mal é criação de Deus e está no nível das criaturas".
    Não entendi. Pode explicar?

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  2. Anônimo,
    A Bíblia afirma, de capa a capa, que Deus é bom. E jamais diz que Deus é mal. Portanto, por definição do próprio Deus (o qual é o autor da Escritura), Ele é bom e não é mal.
    Deus criou tudo, ou seja, sem deixar escapar nada, a partir da Sua vontade, a qual foi estabelecida antes da fundação do mundo pelo Seu eterno decreto.
    Tanto o bem como o mal são controlados por Deus, como o comentário de Jó deixa claro, nem mesmo satanás tem "liberdade" de fazer o que lhe "der na telha", ele, como todos nós (sejam eleitos ou reprovados), é servo de Deus, e cumpri o Seu santo propósito, estabelecido para cada uma das Suas criaturas.
    Como não há outra "força" que se rivalize ou se oponha a Deus, por que há um só Deus, o Deus bíblico, e todo o restante são criaturas (anjos eleitos e reprovados, homens eleitos e reprovados, animais e a matéria inanimada), o mal é algo criado por Deus. Leia Isaías a partir do cap. 42 (como exemplo, visto que TODA a Bíblia assevera a autoridade e soberania de Deus sobre tudo e todos inclusive o mal) e você entenderá como o Senhor atua no universo.
    Resumindo: O mal é criação de Deus, o mal não existia paralelamente a Deus (como um outro absoluto), pois, antes da fundação do mundo, havia apenas a Trindade Santa, e mais nada. Deus criou o universo a partir do nada (ex-nihilo), o que não quer dizer que o mal tenha sido criado do nada. Logo, se o mal é criação de Deus e não uma força autônoma, independente (o contrário nos remeteria ao dualismo, que é antibíblico), ele está sujeito à vontade de Deus, que o usará conforme o Seu propósito eterno.
    Por isso Deus não pode praticar o mal, Ele é bom, santo e justo por definição da Bíblia, e como o mal é criação de Deus está no nível das criaturas, e somente pode ser praticado por elas, assim como o pecado (que também é criação de Deus).
    Abraços.

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  3. Jó conhecia de Deus,a parte mais linda e preciosa,que Ele é soberano em tudo e em todos,somente à Ele devemos adorar por tudo e em qualquer situação.Porque ELE È PERFEITO,em tudo,em amor, fidelidade.Nele só há somente AMOR. Em Isias 43.26 ELE disse: Procura lembrar-me;entremos em juízo juntamente:apresenta as tuas razões,para que te pssa justificar.
    Jó não conhecia esta parte que devemos falar com Deus,reivindicar a ELE as promessas,o que fomos e somos para com ELE,como o Rei Ezequias fez.Ao receber noticia que iria morrer anuciada pelo profeta Isaias.Lembrou o Senhor dos teus feitos,como ele foi e ganhou mais 15 anos de vida.Assim eu tenho feito e Deus tem me honrado.Pois,o Senhor não é homem para que minta.O que ELE prometeu, ELE nos concede.Eu reconheço e sei com certeza que Deus é o meu TUDO!

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  4. Anônimo,
    Você fez uma exaltação a Deus quase perfeita, e com a qual concordo, e na qual me alegro no Senhor.
    1) Ele é soberano sobre tudo e todos. Amém!
    2) Ele é perfeito. Amém!
    3) Ele é bom e benigno (está nas suas entrelinhas). Amém!
    4) Deus honra aqueles que ama (não porque somos honrados ou tenhamos algum mérito, mas porque Ele é benigno, fiel, gracioso e misericordioso). Amém!
    5) Deus não mente, porque Ele é a Verdade. Amém!
    6) O que Deus promete, cumpre. Amém!
    7) Ele é tudo para você. Amém!
    São afirmativas com as quais concordo, e compartilho do mesmo entendimento. Contudo, afirmar que Deus é somente amor, é distorcer o que Ele mesmo diz de Si. Como fica a questão da ira de Deus sobre os pecadores? A ira não é a manifestação da Sua santidade (que é outro atributo de Deus? Assim como a justiça?). Deus não pode ser limitado por um entendimento erroneo que tenhamos da Escritura. A Bíblia é a fonte que nos revelará aquilo que lhE aprouve tornar conhecido da Sua natureza. E ela afirma que Deus é eterno, imutável, amoroso, justo, santo e que se ira. Dizer que Deus é apenas amor ou que o amor controla e está acima dos demais atributos de Deus é ir além daquilo que Ele mesmo revelou de Si na Escritura. E isso, jamais podemos fazer.
    A Bíblia afirma que Deus odeia tanto o pecado como o pecador (veja Rm 1.18, 9.22-23; p. ex.), e ódio não é amor, concorda?
    Agora, o fato de Deus irar-se e odiar não O torna menos santo, perfeito ou justo. Pelo contrário, essas manifestações de Deus revelam exatamente a Sua santidade, perfeição e justiça.
    Obrigado pela visita.
    Abraços.

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