27 fevereiro 2018

Insight 1: Comentário a um comentário sobre soberania e liberdade



Jorge F. Isah


   De uma coisa eu sei: não há como eu, você, ou qualquer homem não reconhecer que os nossos atos foram nossos atos e, portanto, praticados, exercidos, executados, laborados por nós.

  No seu primeiro comentário você abordou a questão da "liberdade" que todos os homens, em maior ou menor grau, querem ter hoje. É o desespero de se ver livre de Deus, e um ato deliberado de rebeldia contra ele. Mas há também um sistema maligno de "tirar" do homem qualquer culpa que ele tenha, e transferi-la aos pais/família, igreja, sociedade, etc. 

   Ora, pais podem ser culpados pelo que fazem, mas os filhos não. A sociedade pode ser culpada pelos atos individuais dos seus membros, mas o indivíduo não. As instituições podem ser condenadas pelos erros cometidos, mas os seus membros não. Ou seja, visa-se inocentar o verdadeiro culpado para penalizar, e cobrar a conta, de quem não moveu um dedo para o mal produzido¹. É um esquema muito louco e doentio, que visa inocentar o homem e culpar a humanidade, tirando a realidade objetiva e transferindo-a a um ser "abstrato" que não pode ser culpado e condenado. A própria impraticabilidade de se julgar, demonstra a sua irrealidade e patologia. É mais uma prova do desespero e loucura humana (genérica à medida em que se vai instalando na mente de cada um de nós), mas também do próprio homem.

   Por isso, tenho a certeza de que, mesmo dentro do decreto divino, do soberano poder de Deus controlar e determinar todas as coisas, o homem não tem como se esquivar da sua responsabilidade, pois é ele quem os faz, através da sua vontade livre, mas jamais livre de coação interna e/ou externa, ou seja, a vontade é livre enquanto escolha individual, mas jamais livre no sentido de isenta de influência, coerção ou sujeição (o apelo à neutralidade, que via de regra, não pode produzir nada, nem o bem, nem o mal). Não há como desvinculá-la, desatrelá-la, da nossa condição pós-Queda, ao pecado. Ele exerce uma preponderância fundamental sobre a vontade, de maneira a conduzi-la ao seu bel-prazer, mas sempre na direção do mal, ao descumprimento da vontade e dos conselhos de Deus. 

    Contudo, como o homem foi criado à imagem e semelhança divina (mesmo o pecado exercendo forte corrupção à natureza originalmente criada em pureza), ninguém é 100% todo o tempo mau, pois há resquícios do Imago Dei a operar, ainda que minimamente, em suas decisões.

   Outro ponto a salientar é que Deus exerce o seu governo, através da providência, sobre todas as pessoas e coisas, coibindo o mal, impedindo que todos sejam exclusivamente nocivos, do contrário, certamente, a humanidade não mais existiria, se a natureza pecaminosa exercesse seu poderio em potência máxima. 

     De qualquer forma, a tentativa moderna de não reconhecer no homem o pecado, de "livrá-lo" da ideia de responsabilidade diante social, mas sobretudo, de Deus, de anistiá-lo da culpa pelos seus erros, de estimulá-lo a permanecer em estado de rebelião e desordem, de anular seus atos maléficos por meio de artifícios ideológicos, filosóficos, sociológicos, psicológicos, etc, imputando a outrem aquilo que lhe é condenatório, não surtirá efeito em tempo algum, pois, cedo ou tarde a justiça cobrará o seu preço, pela injustiça praticada, e acalentada. 

   Não se pode transferir a outros o que é responsabilidade estrita e individual de outrem. Assim como alguém não pode transferir para mim a responsabilidade pelo que fez, sem que seja acusado de injustiça, Deus cobrará, de cada um, o mal cultivado, e o bem não desejado e praticado. 

    Como a Bíblia sabiamente afirma, cada um dará conta de si mesmo diante de Deus (Rm 14.12).

Notas: 
1-Nesse caso, as instituições (igrejas, escolas, governo, etc) pagam pelos erros cometidos, implicando em ônus para o cidadão comum que será exigido a arcar com a conta, através dos impostos, quando ele não produziu ou desejou ou laborou para a construção do mal. Enquanto isso, especialmente no serviço público, raramente se vê a condenação ou punição do infrator, ressarcindo, na mesma medida, o mal praticado. Quase sempre, ele sairá impune, e não perderá os benefícios, mesmo sendo um péssimo agente público. 

2-Apenas o Senhor Jesus, por ser completamente Deus e homem, pode levar sobre si o mal e o pecado praticado pelos eleitos, a fim de redimi-los, livrando-os da condenação eterna. Mais do que isso (que já é gigantescamente maravilhoso), ele retirou, com o seu sacrifício, a barreira intransponível, para nós, que nos mantinha afastados de Deus, unindo-nos eternamente a ele. 
Estabeleceu a comunhão perdida, como a ponte, a única ponte, pelo qual o seu povo  finalmente achegou-se ao Pai.   










23 fevereiro 2018

Sermão em Tiago 4.7-8: Ao invés de encontrá-lo, é Cristo quem o achará! - Parte 2




Jorge F. Isah







INTRODUÇÃO:


- Não existe uma separação entre sagrado e profano, ao menos na vida cristã. Quem considera que ir ao culto, fazer evangelismo, tomar a ceia, são aspectos completamente diferentes do trabalho, estudo, convivência social, está muito enganado. 

- Para o crente, não há esse tipo de separação, visto que toda a sua vida, e todos os aspectos pertencentes a ela devem ser santos e sagrados. 

- Quem imagina poder cultuar a Deus na igreja, aos domingos, enquanto durante a semana participa de todas as formas carnais de satisfação, mentindo, furtando, cobiçando, etc, está ainda mais enganado. 

- A vida cristã é uma, e o que chamamos de aspectos seculares da vida não estão separados dos aspectos espirituais. Na verdade, a espiritualidade, ou a sua ausência, no sentido bíblico do termo é o norte, a guiar o homem em sua integralidade psíquica, corporal e espiritual. 

- O mesmo Paulo que costurava tendas ou barracas para sustentar-se era o mesmo que pregava o evangelho, foi apedrejado, espancado, e viu a Cristo no caminho de Damasco. 

- Entretanto, muitos confundem a dicotomia sagrado/profano, afirmando que o cristão pode fazer qualquer coisa, pois essa separação não existe. Este é o engano dos enganos, pois a Escritura nos mostra claramente que existe separação entre o bem e o mal, o santo e o profano, o azeite e a água, céu e inferno, vida e morte. 

- O cristão deve, portanto, buscar as coisas sublimes e sagradas, afastando-se das vis e maculadas. 

- O que alguns fazem é, porque o homem vive, em si mesmo, um estado dicotômico, em que o espírito digladia com a carne, acabar entendendo que isso é natural, inevitável, e não há como fugir dessa situação. 

- Paulo alerta os gálatas quanto a essa distinção na vida cristã: 

“Porque vós, irmãos, fostes chamados à liberdade. Não useis então da liberdade para dar ocasião à carne, mas servi-vos uns aos outros pelo amor.
Porque toda a lei se cumpre numa só palavra, nesta: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo.
Se vós, porém, vos mordeis e devorais uns aos outros, vede não vos consumais também uns aos outros.
Digo, porém: Andai em Espírito, e não cumprireis a concupiscência da carne.
Porque a carne cobiça contra o Espírito, e o Espírito contra a carne; e estes opõem-se um ao outro, para que não façais o que quereis.
Mas, se sois guiados pelo Espírito, não estais debaixo da lei.
Porque as obras da carne são manifestas, as quais são: adultério, fornicação, impureza, lascívia,
Idolatria, feitiçaria, inimizades, porfias, emulações, iras, pelejas, dissensões, heresias,
Invejas, homicídios, bebedices, glutonarias, e coisas semelhantes a estas, acerca das quais vos declaro, como já antes vos disse, que os que cometem tais coisas não herdarão o reino de Deus.
Mas o fruto do Espírito é: amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança.
Contra estas coisas não há lei.
E os que são de Cristo crucificaram a carne com as suas paixões e concupiscências.
Se vivemos em Espírito, andemos também em Espírito.
Não sejamos cobiçosos de vanglórias, irritando-nos uns aos outros, invejando-nos uns aos outros.”

- Como está escrito, nem tudo nos é permitido. O próprio Paulo diz, em outro verso: 

“Não sabeis que os injustos não hão de herdar o reino de Deus?
Não erreis: nem os devassos, nem os idólatras, nem os adúlteros, nem os efeminados, nem os sodomitas, nem os ladrões, nem os avarentos, nem os bêbados, nem os maldizentes, nem os roubadores herdarão o reino de Deus.
E é o que alguns têm sido; mas haveis sido lavados, mas haveis sido santificados, mas haveis sido justificados em nome do Senhor Jesus, e pelo Espírito do nosso Deus.
Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas convêm. Todas as coisas me são lícitas, mas eu não me deixarei dominar por nenhuma.”

- E o que Tiago tem a nos dizer sobre o assunto?


UM OU DOIS SENHORES? 

- A Escritura nos diz que não podemos servir a dois senhores, pois amaremos a um e odiaremos o outro, agradaremos a um e desprezaremos o outro. Não dá para servir a um e outro (Lc 16.13). 

- Mas muitas pessoas acreditam que podem levar uma vida dupla, e assim enganar a Deus. Usando a desculpa de que, por ainda convivermos com a natureza pecaminosa, devemos reservar a santidade apenas para os lugares santos, já que o mundo jaz no maligno, e não podemos fugir dele, então devemos nos conformar e cumprir as regras que nos são possíveis cumprir, ao menos nos trabalhos religiosos. 

- Isso é uma outra maneira de se viver uma falsa religiosidade. Aquela que é incapaz de mudar a vida, aproximando-o de Deus e afastando-o do mal e do pecado. 

- Outro ponto interessante no que Tiago diz, é que existe Satanás ou o diabo. E de que ele está a nos fustigar, influenciar, a fim de satisfazermos os seus desejos perversos. 

- A ideia moderna de que o diabo é um conceito cultural, e de que ele é apenas o mal que o homem faz a si mesmo, como uma simples alegoria para o estado do homem sem Deus, mas nunca foi um ser real, com identidade, vontade e atitudes que o colocam em oposição a Deus e os homens (quanto aos homens, de maneira geral, visto que ele é o nosso principal inimigo, como a Bíblia nos diz, ele é o opositor, que se opõe à Deus, à verdade, à vida, à santidade, ao bem; mesmo que arregimente aqui e acolá homens a fim de servi-lo, os quais servem também ao seu propósito odioso de os destruir). 

- Portanto, não há como servir a Deus e ao pecado ou diabo, ao mesmo tempo. Como a minha avó dizia: 

“Não dá para acender uma vela para Deus e outra para o demônio!” 

- E quem serve ao pecado, não serve a Deus. É o que o Senhor nos diz no trecho a seguir: 

"Jesus dizia, pois, aos judeus que criam nele: Se vós permanecerdes na minha palavra, verdadeiramente sereis meus discípulos;
E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.
Responderam-lhe: Somos descendência de Abraão, e nunca servimos a ninguém; como dizes tu: Sereis livres?
Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo que todo aquele que comete pecado é servo do pecado."

- E complementa um pouco mais à frente: 

"Vós tendes por pai ao diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso pai. Ele foi homicida desde o princípio, e não se firmou na verdade, porque não há verdade nele. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso, e pai da mentira.
Mas, porque vos digo a verdade, não me credes."

- O que muitos de nós fazem é tentar viver as duas esferas da vida espiritual, quando é impossível. Ou se crê verdadeiramente no Filho de Deus, e deseja-se honrá-lo e glorifica-lo, ou não. 


TEMOS UM ADVOGADO 

- Com isso, não estou dizendo que o cristão não pecará, não é isso. Convivemos com a natureza caída e pecaminosa, mas somos novas criaturas, pelo poder do Espírito. Portanto, não podemos nos conformar com as quedas, nem com os pecados cometidos. Eles devem nos encher de tristeza, nos fazer arrepender, e buscar no Senhor a força e a graça necessária para não mais cairmos, nem sermos seduzidos pelo pecado. 

- Sabendo que temos um Advogado diante do Pai, o Filho Eterno, que nos limpa de todas as máculas e transgressões, pelo seu sangue derramado na cruz, e somente por ele. 

- É o que João escreve em sua primeira carta: 

"Meus filhinhos, estas coisas vos escrevo, para que não pequeis; e, se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o justo.
E ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo.
E nisto sabemos que o conhecemos: se guardarmos os seus mandamentos.
Aquele que diz: Eu conheço-o, e não guarda os seus mandamentos, é mentiroso, e nele não está a verdade.
Mas qualquer que guarda a sua palavra, o amor de Deus está nele verdadeiramente aperfeiçoado; nisto conhecemos que estamos nele.
Aquele que diz que está nele, também deve andar como ele andou."

- Não somos totalmente perfeitos para não pecarmos. Ainda teremos de nos entristecer, amargar, e clamar por perdão, pelas transgressões que ainda cometeremos; porque a obra de Deus está em curso, transformando-nos dia a dia à semelhança de Cristo. 

- A perfeição completa acontecerá somente naquele glorioso dia, quando estivermos face a face com o Senhor, e não mais haverá dúvidas, nem mais nada perguntaremos. Seremos perfeitos como perfeito é o Senhor Jesus; sem chance de pecarmos, porque seremos santos como ele, e o pecado não exercerá mais nenhuma influência sobre nós. 

- Mas isso não pode representar uma passividade ou conivência com o pecado; se assim agimos, não somos filhos, mas bastardos. 

- Uma coisa é o Senhor nos aperfeiçoar, nos humilhar, nos perdoar, e nos levar à estatura do Filho. Outra coisa é eu entender isso como um salvo-conduto para o pecado, para uma vida devassa e destrutiva. Não. O que nos temos é a constatação de uma realidade, na qual o bom Deus se utilizará inclusive do pecado para nos aperfeiçoar, e nos levar à santificação. Mas em contrapartida temos também a ordem de resistir ao pecado, resistir a satanás, e eles, se afastarão de nós. 

- Porque a ordem divina, claramente revelada para o seu povo, é: 

"Como filhos obedientes, não vos conformando com as concupiscências que antes havia em vossa ignorância;
Mas, como é santo aquele que vos chamou, sede vós também santos em toda a vossa maneira de viver;
Porquanto está escrito: Sede santos, porque eu sou santo."

- Na próxima semana, concluiremos esta exposição em Tiago 4, tendo mostrar como aplicar estes ensinamentos em nosso dia-a-dia, a fim de servirmos corretamente a Deus, aproximando-nos dele e fugindo rechaçando o diabo e o pecado. 

Notas: 

1-Para ouvir o primeiro sermão desta série, clique AQUI

2- Sermão ministrado no Tabernáculo Batista Bíblico. Visite a página AQUI