15 março 2021

Um pouco sobre o cristão, políticas sociais e salvação

 




Jorge F. Isah


    Li o seguinte comentário no facebook, cuja autoria foi apontada ao Ariovaldo Ramos (não há indicação da fonte; mas, como foi um comentário elogioso, não vejo motivos para duvidar da autoria. Entretanto, esquivar-me-ei de aludir ao seu nome como arquiteto do comentário, a fim de não fazer-lhe injustiça, caso não seja o seu mentor. O chamarei apenas de "Ideólogo").
    Farei um pequeno comentário ao final do texto copiado:
    Mateus 25.31-40:  O grande julgamento

    "Quando vier o Filho do Homem na sua majestade e todos os anjos com ele, então, se assentará no trono da sua glória; e todas as nações serão reunidas em sua presença, e ele separará uns dos outros, como o pastor separa dos cabritos as ovelhas; e porá as ovelhas à sua direita, mas os cabritos, à esquerda; então, dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai! Entrai na posse do reino que vos está preparado desde a fundação do mundo. Porque tive fome, e me destes de comer; tive sede, e me destes de beber; era forasteiro, e me hospedastes; estava nu, e me vestistes; enfermo, e me visitastes; preso, e fostes ver-me. Então, perguntarão os justos: Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer? Ou com sede e te demos de beber? E quando te vimos forasteiro e te hospedamos? Ou nu e te vestimos? E quando te vimos enfermo ou preso e te fomos visitar? O Rei, respondendo, lhes dirá: Em verdade vos afirmo que, sempre que o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes."
    Agora, o Ideólogo interpreta a exortação do Senhor Jesus à "luz" de Marx:
    "Somos salvos pela graça, logo, esse texto não se enquadra na perspectiva da salvação pessoal. Este texto é sobre o juízo das nações.
    O Senhor Jesus julgará as nações, e o critério será o que chamamos de políticas públicas.
    Será acolhida a nação que tiver desenvolvido políticas de socorro aos mais vulneráveis.
    As demandas divinas exigem contrapartida: tive fome - política de segurança alimentar; tive sede - política de saneamento; era forasteiro - política de direitos humanos; estava nu - política de moradia, transporte e educação; enfermo - política de saúde; preso - política penitenciária.
    O Senhor Jesus está atento aos movimentos em relação aos mais necessitados.
    Há uma demanda de Jesus por políticas que diminuam a desigualdade social, e que promovam um tratamento justo, e que promova recuperação do ser humano, inclusive aos que estão em estado prisional.
    Em tempo de voto, estes são elementos a serem levados em conta, diante da urna indevassável" (grifo em amarelo para acentuar o comentário do Ideólogo) .
    Bem, não me assusta tal discurso, demonstrando uma completa ignorância bíblica, na qual o Ideólogo distorce o Texto Sagrado para enquadrá-lo ideologicamente em suas convicções pessoais (algo que Pedro condenou como "particular interpretação"¹).
     Cristo está a falar de amor e piedade individuais, de cada crente para com o seu próximo, assim como ele também ensina na parábola do Bom Samaritano; mas o Ideólogo consegue colocar palavras na boca do Senhor que jamais disse, a favor de "políticas sociais" patrocinadas pelo estado (se não é essa a sua intenção, por que aludir ao julgamento de nações, como se o Brasil ou EUA ou Cuba pudessem ir para o Inferno; e ao "voto" em época de eleição?). Novamente, a mente marxista (e que nada tem de Cristo) remete a responsabilidade individual do cristão ao estado (um deus?!!), transferindo algo inalienável e sem o direito de fazê-lo a um terceiro que não é cristão nem pode sê-lo, não tem vontade própria nem pode tê-la.
    Outro aspecto a ser notado é que o Senhor Jesus está a falar de salvação, sim. Por "ovelhas" temos não um arranjo social/governamental/político ou algo que o valha. Por "ovelhas" temos aquelas pelas quais o sumo Pastor juntou para Si, pela sua morte expiatória e redentora na cruz. "Ovelhas" jamais podem ser nações, ongs, partidos políticos, embaixadas, cortes, parlamentos ou qualquer outra invenção humana. Assim como, por cabritos, está a falar daqueles pelos quais não morreu na cruz, nem levou sobre Si os pecados desses, e jamais teve o objetivo de ajuntá-los.
    Outrossim, o bem em ajudar o próximo é prerrogativa das "ovelhas", pois são as únicas capazes de cumprir adequadamente (em fé, propósito e meios necessários) a vontade de Deus. Cujo fim sempre é a glória do próprio Deus. O que sabem disso nações, estados, congressos ou repartições governamentais? Já que são eles, em sua maioria, os proponentes de mortes, miséria, torturas e injustiças? Muitas com a alegada falsa piedade de fazer justiça?². Mas ainda assim, não são as repartições e órgãos a serem responsabilizados, pois não haverá nações e países no Tribunal de Cristo, nos últimos dias. Serão os homens condenados pelo que fizeram ou deixaram de fazer, não como causa, mas consequência do desprezo e pouco caso com a obra redentora do nosso Senhor. Ou seja, em última instância, homens e mulheres sem a fé salvadora, e que jamais creram em Jesus como único e suficiente Salvador e Senhor. E o juízo, por mais que possa ser coletivo, no sentido de multidões serem lançadas no inferno ou mesmo sujeitas às desgraças mundanas, é sempre individual, mesmo estando muitas delas juntas ou agrupadas. Não serão as ações estatais, corporativas ou legais a salvar o homem do juízo vindouro; o estado apenas pode empurrá-lo um pouco mais para dentro do fogo.
   Então, mesmo o Ideólogo tentando, de todas as maneiras, fazer malabarismo e distorcendo vergonhosamente as palavras de Cristo, a ideia de justiça social nada mais é do que uma construção humana bem moderna, diga-se, e nada tem a ver com o Evangelho e a missão de resgatar vidas. Em outras palavras, o Ideólogo está estabelecendo dois tipos de salvação; equivalente a dois tipos de redenção; dois tipos de sacrifícios; indicando haver dois tipos de salvadores, cuja eficiência, se não é a mesma em termos sobrenaturais, é em termos práticos: absolver as pessoas da ira divina através de ações e justiça social, seja lá o que isso represente na mente confusa de pastores impregnados por ideologias, e que nada tem a ver com piedade, perdão e misericórdia, no fim das contas. É, quase sempre discurso para "boi dormir"; e fazer os adeptos dessa diabólica teologia presas da própria presunção, orgulho e pedantismo.
     A própria igreja institucional, cuja missão é reunir os crentes para realizar o obra de Deus, não pode salvar, muito menos aplacar a ira sobre aquele que, mesmo sendo membro local, não é eleito, não foi regenerado nem salvo, mas permanece morto em seus delitos e pecados, porque nunca teve o encontro pessoal com Cristo. Portanto, resta condenar a mentira descarada do Ideólogo, condenável em todos os aspectos, digno de ser colocado no rol dos falsos-mestres, daqueles que, caso Deus não os converta das trevas à luz, serão alvos da sua santa e justa ira, sem que possam apelar para o estado e seus pares, incapazes de lhe dar qualquer escudo ou proteção.
    
Notas: 1- II Pedro 1:20;
2-"Tendo aparência de piedade, mas negando a eficácia dela. Destes afasta-te." (2Tm 3.5)
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