23 junho 2020

Um jardim quase real em "Flores Artificiais"






Jorge F. Isah



Este é o primeiro livro de Luis Ruffato que li. Se considerar que “Eram muitos Cavalos” passou por duas tentativas, mas foi impossível conclui-la, “Flores Artificiais” é o meu livro de estreia no universo “Ruffatoniano”. Aquele era um livro por demais experimental, na pior concepção do termo (travado, caótico, impermeável), e que não consegui prosseguir. Ainda penso em uma terceira investida, mas não sei quando se dará ou se dar-se-á.

Em “Flores Artificiais”, o texto flui, porque existe uma história, ainda que a narrativa não seja convencional. Nada de novo debaixo do céu, mas sem invencionices estilísticas e herméticas que mais afastam do que aproximam o leitor, existe uma sobreposição de relatos. Alguém pode considerar que a minha experiência é a de um leitor comum, mas comum ou incomum (não sei a que os termos se referem), certos livros são chatos, demasiadamente chatos, pretenciosos, e não contam uma boa história, se é que contam.

Ruffato parece se preocupar com a linguagem e o estilo mais do que a narrativa, ao menos foi uma das primeiras impressões que tive com essas duas obras. Não há nada de mal, mas muitas vezes compromete o relato. Ainda sou daqueles que apreciam uma boa história e bem contada, aos moldes de Dickens, Machado, Dostoievski, Faulkner e Mann, para citar alguns. Quando o estilo ou a forma prevalecem sobre o relato, é sinal de uma história ruim embalada em uma prosápia.

O livro é basicamente composto de histórias dentro de uma história. O personagem principal, Dório, é um funcionário do Banco Mundial, sem residência fixa, um “homem do mundo”, sem identidade, sem pátria, sem um porto seguro. Vive de trabalhar em vários continentes (nunca sabemos ao certo o que faz), e acaba por descrever a vida das figuras que o cercam. Seria um “voyeur”, a viver a vida através das vidas alheias. Ao menos, quanto ao objetivo de narrá-las, ou um “resumo” de vida.

Tudo começou quando, por conselho da sua psiquiatra, decidiu escrever suas “memórias”, a fim de colaborar no tratamento da solidão ou isolamento. Na meia-idade, solteiro, sem amigos ou parentes, encontrava-se em estado de letargia; então a resolução em compilar muitas das histórias que presenciou, e faziam parte da sua própria história. Por isso, disse, que este era um livro de histórias dentro da história. Na verdade, pouco se sabe sobre o personagem em si, porque a narrativa se atém mais ao que ele vê, e interage, do que propriamente seus sentimentos e pensamentos.

Com o material em mãos, envia-o ao autor (Ruffato?) para aprimorá-las e dá-las um toque final, romanesco; ciente da incompetência em escrevê-las, do ponto de vista literário. Prova é que, na introdução, o autor diz não ter aproveitado nem metade do material enviado.

Não o classificaria como um romance, ainda que o façam. Se aproximaria mais de um livro de contos, já que as narrativas não têm conexão, a não ser na figura do intérprete ou narrador.

Quanto a Dório, ainda que o autor tente convencer o leitor da sua existência, como um personagem real e não fictício, não há como não entender a sua presença longe do escopo virtual. Dório é criação de Ruffato, fruto da sua imaginação, ainda que jure não ser.

E o livro, como ficção, é bom, mas nada além do comum, porque Ruffato quer comunicar o comum, a vida comum, pessoas comuns, mesmo com algum malabarismo estilístico e formal. E consegue, as vezes, manter o equilíbrio entre elas. Criando um jardim quase real de flores artificiais. 



________________________ 

Avaliação: (***)

Título: Flores Artificiais

Autor: Luiz Ruffato

Editora: Cia das Letras

No. Páginas: 152

Sinopse: 

"O escritor Luiz Ruffato recebe em sua casa a correspondência de um desconhecido. Trata-se de um manuscrito, uma compilação de memórias que Dório Finetto, funcionário graduado do Banco Mundial, redigiu a partir de suas muitas viagens de trabalho. Como consultor de projetos na área de infraestrutura, Finetto percorreu meio mundo numa sucessão de simpósios, reuniões e congressos. A mente de engenheiro, no entanto, esconde um observador arguto e sensível, uma dessas pessoas capazes de se misturar com naturalidade num grupo de desconhecidos. De Beirute a Havana, passando por Hamburgo, Timor Leste, Buenos Aires e incontáveis lugares mundo afora, Finetto colecionou grandes histórias e pequenos acontecimentos. Foi tão capaz de se misturar à vida local quanto de saber a hora exata em que o prudente é tomar distância e não se envolver. Por alguns momentos, fez parte da vida dessas pessoas. Em outros, foi protagonista involuntário do drama alheio. Às vezes, assistiu a essas realidades quase como de um periscópio. Foi a partir dessas observações que Finetto compôs seu Viagens à terra alheia, o manuscrito que mandou ao conterrâneo Luiz Ruffato. E é este livro dentro do livro que Ruffato irá transformar no romance Flores artificiais. Partindo de um esqueleto ficcional, Ruffato - o autor, e não o personagem do próprio livro - irá embaralhar as fronteiras entre ficção e realidade, sem jamais perder de vista a força literária que é a grande marca de sua obra."





04 junho 2020

Os loucos não reconhecem a própria loucura!







Jorge F. Isah
 


Em matéria de Cristianismo, os chamados "cristãos-marxistas" não entendem nada do que seja o Evangelho, desconhecendo o seu real significado e objetivo que é não tornar o homem perfeito na terra, nem criar o homem ideal, mas que os cristãos sejam exatamente aquilo para o que foram chamados: imitadores de Cristo. 

Em qual mundo é possível se defender uma ideologia que, em sua história, massacrou e ainda massacra milhões de irmãos? Cuja única culpa é amarem o Senhor de suas vidas? Culpados por professarem a fé indestrutível? Culpados por não se sujeitarem a "rezar" na cartilha esquerdista? Ou de qualquer governo, ou ideologia, ou movimento, a torná-los idólatras? E não adorarem o deus-estado? E não crerem num falso-salvador?

Seria o mesmo que cristãos primitivos defendessem a prisão e execução dos irmãos pelo governo romano, ou, ainda defendessem a crucificação de Cristo. Alguém pode dizer que devemos amar os nossos inimigos, mas não estou falando de amá-los, porque o amor pressupõe o desejo de levá-los à compreensão do "bem supremo. Pregando-lhes Cristo como Senhor e Salvador, mas também aquele que mudará a natureza do pecador, tornando-o santo e conformando-o à sua imagem. Quando evangelizamos um criminoso queremos que ele, conhecendo a Cristo, liberte-se dos crimes e faça o bem. 

Amar o próximo e amar o mal que ele produz não é amor ao próximo, mas amor ao que ele faz. Para amá-lo verdadeiramente desejamos a sua transformação, a sua conversão, e de que ele tenha a mente de Cristo, abandonando o mal para apegar-se ao bem. 

Ao defendermos governos e pessoas malignas, no mal que praticam, negamos qualquer efeito do Evangelho sobre elas. De que adiantaria proclamar a verdade se apoiamos as suas mentiras?

Somente neste mundo caído, e miserável, e cego, e nu, no qual vivemos, essa incoerência é possível. Em que vale mais dizer o que se quer ser, como uma possibilidade ainda que irreal, do que viver o que se diz ser... ou deveria ser. 

Utopia regada a sangue inocente e fundamentada no mal que dizem combater. Terminando por solapar e destruir também inúmeras almas. 

Como diz o Senhor Jesus: 

"Por que não entendeis a minha linguagem? Por não poderdes ouvir a minha palavra. Vós tendes por pai ao diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso pai. Ele foi homicida desde o princípio, e não se firmou na verdade, porque não há verdade nele. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso, e pai da mentira" (João 8.43-44)

Os loucos nunca reconhecem a própria loucura!