29 setembro 2008

CABER











Por Jorge Fernandes

Frio,
Pés em modorra,
O silêncio,
A contemplar as pás girar.
Latido,
Revolve as tripas,
O sentido,
A latejar as pontas dos dedos.
Risco,
Lança-se ao desperdício,
O sonido,
A empilhar calafrios.
Rude,
Fustiga a pedra solta,
O sólido,
A fragmentar-se no moedor.
Freio,
Pedágio em terra estéril,
O sino,
A roer o osso.
Livre,
Rende-se à dor infinita,
O sono,
A fatigar em penas.
Inferno,
Não é apenas o torpor dos delírios.

25 setembro 2008

NÃO SOIS DAS MINHAS OVELHAS

Comentário João 10.22-42








Por Jorge Fernandes Isah

A segunda seção do cap. 10 é a ratificação, o complemento de tudo o que foi apresentado na primeira seção (1-21). Novamente, estamos diante da incredulidade dos judeus, os quais resistem tenazmente em negar Cristo como Messias e Deus; acercando-se d’Ele, inquirindo-O irreverentes e céticos (v. 24). A resposta do Senhor é direta, mostrando-lhes o quão cegos estão diante de todos os prodígios que realizou, os quais testemunham a Sua filiação com o Pai, como Messias e Deus.

Diante da descrença dos seus inquiridores, fruto da arrogância que revela a ruína de todo o sistema religioso judaico, no qual os seus olhos são mantidos fechados para a Verdade das Escrituras, Ele expõe-lhes frontalmente o estado de perdição e condenação em que se encontram:
“Mas vós não credes porque não sois das minhas ovelhas, como já vo-lo tenho dito” (v. 26).

É interessante como para o homem natural a Verdade jamais penetrará nos ouvidos moucos e nos corações impenitentes, por mais que se repita, a menos que o Espírito Santo aja regenerando, dando o novo nascimento a eles, tornando o natural em espiritual. E a prova é que Jesus, por diversas vezes, afirmou aos judeus tanto a própria divindade (Jo 5.36), como a própria condenação deles (Jo 5.37-43); os quais permaneceram duros e céticos, inflexíveis em sua impiedade.


Outro ponto é que, caso quisesse, Cristo poderia abrir-lhes os ouvidos, curar-lhes os corações e mentes, tornando-os ovelhas do Seu aprisco. Mas por que não o fez? Porque eles não eram do Seu rebanho:
“As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu conheço-as, e elas me seguem; e dou-lhes a vida eterna, e nunca hão de perecer, e ninguém as arrebatará da minha mão” (v.27-28). Quão maravilhosa é a salvação! Como ela é totalmente de Deus, para que nenhuma carne se glorie, e apenas Ele seja exaltado! Como o Senhor é poderoso em misericórdia e graça para salvar e sustentar a salvação de Suas ovelhas. Ele as conhece. O Senhor não conhecerá as Suas ovelhas, mas Ele já as conhece, e dá-lhes a vida eterna: “Eu rogo por eles; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus” (Jo 17.9). Não é uma possibilidade, veja bem, mas uma certeza. Cristo não nos dá a possibilidade de sermos salvos, de virmos a ser salvos num determinado momento ou de continuarmos perdidos eternamente. Não! Cristo nos salva e nos mantêm salvos, “porque todo o que o Pai me dá virá a mim; e o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora” (Jo 6.37). A obra é toda e completamente d’Ele. Por isso, o Senhor lançava-lhes em rosto a condenação de suas almas, a perdição eterna, a qual é definitiva também, não havendo possibilidade de se reverter: “aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo depois disso o juízo” (Hb 9.27).

Ao assegurar a salvação, Cristo mostra a união que há entre o Pai e o Filho, de como são um (v.30): Ele e o Pai, ambos, garantem a salvação; estamos seguros nas mãos de Deus Pai e Deus Filho; ninguém nem nada nos arrebatará delas.


Porém, diante de tudo o que o Senhor diz à assistência judaica, os seus corações endurecem-se ainda mais, não lhes sendo suficiente acusá-lo de blasfêmia, mas matá-lo (v.31-33). Tomam em pedras para lhe atirarem, como fizeram em Jo 8.59. O que os levou a essa atitude? Os judeus, erroneamente, acreditavam que Jesus blasfemava contra Deus, ao fazer-se como Ele, portanto, em cumprimento a Lv 24.16, caber-lhe-ia a punição de morte.



Muitos dizem que Jesus Cristo jamais se proclamou Deus. O que, no mínimo, é uma mentira grosseira. Iludem-se crendo que Ele não passa de um iluminado, um mestre, um guru, contudo, à luz das Escrituras, é flagrante e patente a Sua condição de Segunda Pessoa da Trindade, o Deus Filho. Cristo possui todos os atributos de Deus: onisciência, onipresença, onipotência; Ele é justo (1Pe 3.18), santo (Hb 7.26), sem pecado (Hb 4.15)... e somente Ele é capaz de dar-nos a salvação (Jn 2.9; At 4.12; Rm 1.16; 2Ti 2.10; )*.

Há ainda de se entender que o Senhor veio cumprir a profecia de Isaías 53, onde o Cristo é descrito como o “Servo Sofredor”, o qual veio cumprir fiel e plenamente a vontade do Pai (Jo 6.38), culminando com o Seu sacrifício salvífico na cruz do Calvário, e três dias após, a Sua gloriosa ressurreição.
Em resposta à acusação de blasfemo, o Senhor lança-lhes ao rosto o próprio ceticismo com que o indagam, citando a lei:
“Vos sois deuses” (Sl 82.6); “pois, se a lei chamou deuses àqueles a quem a palavra de Deus foi dirigida, e a Escritura não pode ser anulada, aquele a quem o Pai santificou, e enviou ao mundo, vós dizeis: Blasfemas, porque disse: Sou Filho de Deus?” (v.34-35). O significado do Salmo 82.6 não é o de equiparar-nos a deuses. Não somos deuses, nem o seremos. A alusão é feita ao próprio Deus como o juiz supremo, o qual está sobre tudo e todos, e que estabeleceu juizes, magistrados, no meio do Seu povo a fim de julgar com justiça os conflitos entre os homens (Dt 1.16-17). Portanto, Cristo imputa aos seus inquiridores a sentença de que, ao acusá-lO, o fazem injustamente, pois aparentam cumprir a lei ao querer matá-lo com pedras, porém, descumprem a própria lei ao julgá-lO injustamente, por desejar condenar o inocente, e, agindo assim, pecam contra o próprio Deus.

Cristo, de acusado, torna-se juiz daqueles homens, ao apontar-lhes incisivamente os seus pecados; porque, como disse:
“Quem me rejeitar a mim, e não receber as minhas palavras, já tem quem o julgue; a palavra que tenho pregado, essa o há de julgar no último dia” (Jo 12.48). Portanto, a lei que os judeus usavam para acusá-lO é a mesma que os condenará, pois, ao invés de buscar a justiça, agem segundo o seu coração endurecido, distorcendo a Verdade com o propósito de alcançar os seus perversos e ímpios intentos.

Ao confrontá-los com as obras que realizou, das quais eram testemunhas, e por intermédio delas conheceriam que o Pai está no Filho, e o Filho no Pai, revelando-lhes a unidade de Deus, e de que Cristo é Deus (v.38-39), e de que, ninguém a não ser Ele poderia realizar as obras que são de Deus; os judeus procuraram matá-lO. E a obstinação dos seus corações em agir iniquamente, confirma Marcos 4.12:
“Para que, vendo, vejam, e não percebam; e, ouvindo, ouçam, e não entendam; para que não se convertam, e lhes sejam perdoados os pecados”. Em João 12.40, Jesus cita Isaias 6.10: “Cegou-lhes os olhos, e endureceu-lhes o coração, a fim de que não vejam com os olhos, e compreendam no coração, e se convertam, e eu os cure”.
A soberania de Deus sujeita todas as coisas a Ele. Nada lhe escapa, e tudo lhE é submisso. Os judeus, como muitos hoje, estão cegos, surdos e em profundas trevas; inflexíveis em seus pecados, teimosos em sua rebeldia, trazendo sobre si a ira vindoura e a condenação eterna ao inferno.


Porém, àqueles aos quais o Filho revelou o Pai, pois
“ninguém conhece o Pai, senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar” (Mt 11.27), esses creram n’Ele (v.42), receberam a salvação, e participarão da Sua eterna glória.
Como Pedro disse:
“Arrependei-vos, pois, e convertei-vos, para que sejam apagados os vossos pecados, e venham assim os tempos do refrigério pela presença do Senhor” (At 3.19)... Porque é chegado o Reino dos Céus (Mt 3.2).

* Sobre a divindade de Cristo ler http://tabernaculobatista.blogspot.com/2008/09/cristo-deus.html

20 setembro 2008

VOCÊ ESTÁ MORTO?

















Por Jorge Fernandes Isah
 
A morte é inevitável. Todos morrerão um dia, a menos que, antes o nosso Senhor volte em glória para unir-se à Sua igreja. Enquanto isso, não damos muita importância a ela, ou fingimos não dar, mas sentimo-la rondar-nos. Sua presença é constante, seja nos noticiários, nos filmes, livros, no trabalho, nas ruas, na mente...

Às vezes é alardeada pelas sirenes, pelas multidões nos velórios, pelas páginas dos jornais, pelos gritos de desespero... Outras vezes, uma manchinha de sangue na calçada, uma lágrima furtiva, ou um aperto silencioso no coração impedem que ela passe despercebida... Em alguns casos, ocorre anônima sem que alguém note, sem que haja um nome, e mesmo um corpo.

A morte pode vir súbita como num acidente, ou prolongada por uma doença dolorosa; pode nos atingir prematuramente, mesmo no ventre materno, como muito avançada em idade; não escolhe sexo nem cor, peso nem altura, fortes nem débeis, ricos nem pobres; acomete tanto na terra, no ar, ou mar... quase alcançou os tripulantes da Apolo XIII, em pleno espaço sideral.

Ela está a rondar solerte, pairando sobre nossas cabeças, pronta para decepá-las. Pode vir como uma brisa prolongada, ou como uma borrasca instantânea, mas, invariavelmente, não será precedida por uma festa ou alegria [mesmo contida] do candidato a morto; e revelará aos vivos a transitoriedade da vida.

Por falar em vida, o que ela é? [esquecendo-nos um pouco da morte]. Podemos defini-la como existência, animação, tempo, estilo ou um modo de se subsistir. Mas em todas essas definições ou alusões temos um estado finito, efêmero, no qual ela estará sujeita à temporalidade, o que levará muitos a crer apenas na sua materialidade, numa realidade exclusivamente terrena; e esta conclusão nem mesmo é uma ínfima fração da verdade.
 
Definição precisa [ainda que amarga] nos deu um homem sobre a vida terrena: “Os meus dias são mais velozes do que a laçadeira do tecelão, e acabam-se, sem esperança. Lembra-te de que a minha vida é como o vento” [Jó 7.6-7]. Moíses concluiu: “Passamos os nossos anos como um conto que se conta” [Sl 90.9]... “Porque, que é a vossa vida? É um vapor que aparece por um pouco, e depois se desvanece” [Tg 4.14]. Portanto, a vida é algo fácil de perder, pode nos ser tirada a qualquer momento, ainda que a julguemos segura, e esforcemo-nos em propiciá-la. O alento de sustentá-la nunca será suficiente, mesmo que o dispensemos diligentemente... Diante da mais sutil ameaça, a angústia sobrevirá, pois o fim de todas as coisas é a morte: “Que homem há, que viva, e não veja a morte? Livrará ele a sua alma do poder da sepultura?” [Sl 89.48].
 
Mesmo a vida, num determinado momento, se sujeita a ela...
 
Não quero trazer-lhe tristeza, nem angústia, nem apressar o que talvez demore ainda muito tempo a acontecer. Ao tocar neste assunto, quero falar é da esperança e da certeza que nem mesmo ela, a morte, é capaz de destruir.
 
A Bíblia afirma que o último inimigo ao qual o Senhor Jesus derrotaria seria a morte [1Co 15.26] , “porque todas as coisas sujeitou debaixo de seus pés” [v.27].
 
Como homem, Cristo padeceu e morreu na cruz do Calvário, para expiar os nossos pecados, e nos dar vida eterna; “porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna, por Cristo Jesus nosso Senhor” [Rm 6.23]. Cristo morreu para que tivéssemos vida, não apenas por alguns anos ou décadas, mas por toda a eternidade.
 
Por Sua graça e misericórdia substituiu-nos, recebendo a ira divina que nos seria destinada; “porque assim como a morte veio por um homem, também a ressurreição dos mortos veio por um homem. Porque, assim como todos morrem em Adão, assim também todos serão vivificados em Cristo” [1Co 15.21-22].
 
Ao terceiro dia, Ele ressuscitou, e então, o jugo da morte não mais prevaleceria sobre o Seu corpo; Ele venceu-a: “tendo sido Cristo ressuscitado dentre os mortos, já não morre; a morte não mais tem domínio sobre ele” [Rm 6.9].
 
Assim todo o que reconhece o Seu sacrifício na cruz herdará a vida, e jamais morrerá, porque a primeira morte é física, mas a segunda morte é a completa e eterna separação de Deus, quando os que se mantiveram rebeldes a Ele serão lançados no lago de fogo inextinguível, ou seja, a morte definitiva, inexorável. Cristo, através da Sua morte, deu-nos a vida, a qual nem mesmo o tempo será capaz de destruir, porque, como disse, “se alguém guardar a minha palavra, nunca verá a morte” [Jo 8.51], “não entrará em condenação, mas passou da morte para a vida” [Jo 5.24].
 
Portanto, não há o que temer, antes, ansiar o momento em que encontraremos o nosso Senhor e Salvador, como Paulo disse ao referir-se à própria morte: “tendo desejo de partir, e estar com Cristo, porque isto é ainda muito melhor” [Fl 12.3].
 
Deus é o protetor da vida; devemos depositá-la em Suas mãos, o qual é fiel para conservá-la, “porque eu sei em quem tenho crido [Cristo], e estou certo de que é poderoso para guardar o meu depósito até àquele dia” [2Tm 1.12], quando O vislumbraremos face a face, “porque assim como é o veremos” [1Jo 3.2]. Porquanto, os efeitos dos nossos inimigos, o pecado e a morte, foram anulados por Jesus Cristo, tragados por Sua vitória [1Co 15.54].
 
Então, a morte torna-se inofensiva diante da gloriosa vida que Deus nos concede; não a todos, mas para os que confessarem Cristo, pois, “qualquer que me negar diante dos homens, eu o negarei também diante de meu Pai, que está nos céus” [Mt 10.33]; porque “Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim" [Jo 14.6].
 
Sem Cristo, você já está morto!

11 setembro 2008

100% SOBERANO

Comentário de João 10.1-21












Por Jorge Fernandes

Diante da dureza dos corações e da incredulidade do povo judeu, Cristo revela-lhes que somente há um pastor, o qual é Ele. Não há outro. Muitos se dizem pastores... há mesmo uma idéia relativista de que todos os caminhos levam a Deus. Mas somente um caminho pode levar o homem a Deus: Cristo nosso Senhor (Jo 14.6). O Senhor aponta o sistema religioso judaico como os falsos pastores, lobos na verdade, o qual foi contaminado por filosofias, tradições e o legalismo, tornando-o um sistema corrompido em que, supostamente, o esforço do homem em cumprir certas regras garantir-lhe-ia a salvação.
Em contraste a esse esquema extrabíblico e que glorifica o homem, os patriarcas e profetas depositavam as suas almas em Deus, creditando a Ele, por Sua graça e misericórdia, o poder de serem salvos e alegrarem-se na salvação que vinha apenas do Senhor (Sl 18.2, 35.9, 118.14; Is 61.10).
Portanto, Jesus Cristo é o único pastor, o qual me faz deitar em verdes pastos, e guia-me mansamente a águas tranqüilas, refrigera a minha alma; guia-me pelas veredas da justiça (Sl 23.2-3).
É surpreendente como o apóstolo João deixa clara a atividade, a ação positiva do Senhor, e a nossa passividade. Ovelhas são animais que carecem de extremos cuidados. Se não tiverem uma atenção especial, tornam-se presas fáceis do inimigo. Logo, necessitam de um pastor. O qual está disposto a morrer por elas; se preciso for, dar a vida por elas. Cristo morreu por seu rebanho. Ele não morreu pelo rebanho do vizinho, nem por todas as ovelhas do mundo, mas exclusivamente por Suas ovelhas, as quais O seguem porque conhecem a Sua voz. Por isso, Ele se proclama o bom Pastor, aquele que conhece as Suas ovelhas, e delas é conhecido. “Como o pastor busca o seu rebanho... assim buscarei as minhas ovelhas; e livrá-las-ei de todos os lugares por onde andam espalhadas” (Ez 34.12). A ação de buscar as ovelhas é totalmente do Senhor, e não a nossa de ir até Ele, o que evidencia claramente a Sua soberania em escolher aqueles que farão parte do Seu rebanho, porque “o Senhor conhece os que são seus” (2Tm 2.19).
A idéia de que Cristo morreu por todos é enganosa. Se Ele morreu por todos, então todos são ovelhas do Seu rebanho, portanto, ninguém se perderá. Isso é universalismo, é heresia, e se opõe flagrantemente às Escrituras, que não afirmam que todos serão salvos, antes que “muitos são chamados, mas poucos escolhidos” (Mt 20.16, 22.14).
Cristo disse que o Seu rebanho não era formado exclusivamente de judeus, mas de outras ovelhas que ainda não faziam parte do Seu aprisco. Novamente a ação é completa do Senhor, porque “também me convém agregar estas, e elas ouvirão a minha voz, e haverá um rebanho e um Pastor” (v.16). Fica claro que Jesus não veio exclusivamente para os judeus, mas também para os gentios, pois, “vindo, ele evangelizou a paz, a vós que estáveis longe, e aos que estavam perto. Porque por ele ambos temos acesso ao Pai em um mesmo Espírito” (Ef. 2.17-18); não vindo apenas para a nação de Israel, mas também para os gentios, “para reunir em um corpo os filhos de Deus que andavam dispersos” (Jo 11.52).
Não há meio-termo naquilo que Jesus diz. Ele não cogita algo “provável” que pode vir a ser improvável, nem faz conjecturas, nem deixa ao ouvinte qualquer dúvida sobre o que diz; sempre encontramos n’Ele a certeza de que tudo dito se cumprirá, porque é completa e totalmente a Verdade. Por que tudo o que se realizará depende exclusivamente da Sua vontade, e a vontade de Deus não é um mero desejo que pode ou não se concretizar, que está dependente das circunstâncias; e esses “reveses” poderiam frustrá-lo. Ao contrário, o Deus Eterno e Único é quem faz as circunstâncias para que os Seus eternos decretos sucedam-se tal qual os planejou. Então, não há como algo ou alguém (mesmo uma criatura poderosa como satanás) malograr os desígnios divinos, porque “bem sei eu que tudo podes, e que nenhum dos teus propósitos pode ser impedido” (Jó 42.2).
Cristo revela-nos que ao servir o Pai e os Seus eleitos, o faz livremente, assim Ele quer: “porque dou a minha vida para tornar a tomá-la. Ninguém ma tira de mim, mas eu de mim mesmo a dou” (v. 17,18). Claramente o Senhor diz que o poder de dá-la e tomá-la lhE pertence (v. 18), portanto, não resta dúvida quanto ao cumprir-se fielmente Seus propósitos: Cristo é 100% soberano, como Senhor que é.
Jesus se dirige claramente ao grupo de escolhidos, os quais chama de amigos: “ninguém tem maior amor do que este, de dar alguém a sua vida pelo seus amigos” (Jo 15.13). Ele não o faz pelos seus inimigos, mas aos amigos, ainda que temporalmente o amigo não saiba sê-lo, mas o Senhor o sabe antes da fundação do mundo, quando desde sempre somos feitos Seus amigos.
Outra evidência é de que Deus Pai e Deus Filho são um, e a salvação é dada àqueles que são entregues a Cristo pelo Pai: “Pai santo, guarda em teu nome aqueles que me deste, para que sejam um, assim como nós” (Jo 17.11).
Da mesma forma que os judeus questionavam a Jesus àquela época (alguns o achavam louco ou endemoniado), hoje, igualmente, muitos pregam e crêem em um senhor menor, que nem sempre é Deus, ficando à mercê da vontade caída e frágil do homem. Esses proponentes do “deus menor” se apegam ferrenhos à necessidade de liberdade plena e completa para que a responsabilidade humana seja “funcional”. Para que o homem seja condenado é necessário que tenha o famigerado livre-arbítrio, o qual é tão poderoso em si que o próprio Deus se curvaria à sua autoridade, se fosse possível. A justiça está no próprio homem e não em Cristo que é quem nos justifica; “porque, ainda que eu fosse justo, não lhe responderia; antes ao meu Juiz pediria misericórdia” (Jó 9.15); porque “ele levou sobre si o pecado de muitos, e intercedeu pelos transgressores” (Is.53.12).
Não crer na soberania plena de Deus, a qual é claramente exposta em João 10.1-21, é desmerece-lO, menosprezá-lO, é torna-lO frágil, omisso, dependente e submisso à vontade humana (ainda que o seja apenas em nossa mente); porque o Senhor não pode ser guiado ou impelido a se conformar ao nosso desejo; o fim de tudo não é Deus seguir os nossos conselhos, mas levar “cativo todo o entendimento à obediência de Cristo” (2Co 10.5); porque “o conselho do Senhor permanece para sempre; os intentos do seu coração de geração em geração” (Sl 33.11).
Aquele sem entendimento louva a si mesmo, mede-se a si mesmo fora da medida, e não segundo a reta medida que Deus deu; a qual é: “aquele que se gloria, glorie-se no Senhor” (2Co 10.17).

04 setembro 2008

DESCONTINUIDADE RADICAL*












Por Jorge Fernandes Isah


Há uma tese que defende a distinção extremada entre o Deus do AT e o Deus do NT, chamada Descontinuidade Radical, a qual despreza o AT como Escritura divinamente inspirada, a reputar Deus como um ser “irado” em contraste com o Deus do NT, o qual é “complacente”, quase um cúmplice do homem. Este é um conceito distorcido, herético e diabólico, que leva à incredulidade e a fé em um deus irreal, distorcido, utópico e feito à imagem do homem; e o grande problema é exatamente este: querer explicá-lO através dos nossos olhos, da nossa mente e dos nossos corações caídos e enganosos.
Desqualificar o AT como parte do Cânon, não crendo na sua inspiração divina, inerrância e infalibilidade, a fim de amoldar Deus segundo os conceitos e percepção errados do homem é excluir o que não se enquadra à mente, pensamentos e suposições nitidamente corrompidos. Portanto, parte das Escrituras (no caso o AT) devem ser negadas para que o homem e sua filosofia sejam confirmados. É uma impostura, um blefe, um sofisma que lança em densas trevas os seus defensores, afastando-os cada vez mais da verdade do Evangelho.
O AT é parte das Escrituras juntamente com o NT, e disso, ninguém pode duvidar sem incorrer em blasfêmia contra o Espírito Santo, que é o seu autor.
Numa clara inversão de valores o pecado do homem é transferido para Deus, lançando-se sobre Ele a culpa exclusivamente humana. É uma espécie de auto-absolvição-condenatória, em que os perfeitos desígnios de Deus são impossíveis de se realizar diante da “justiça” e do conceito erroneamente humano do bem e do mal. Se fossemos capazes de discernir entre o bem e o mal naturalmente, porque Deus nos daria a Lei Moral? Por ela, Ele estabeleceu o padrão de certo e errado, de justo e injusto, de bem e mal, de moral e imoral.
Ainda assim, com todos os alertas, baseados em uma falsa justiça, pecamos ao desobedecê-lO. Como então podemos questionar as ações de Deus? Ao que Paulo diz: "Mas, ó homem, quem és tu, que a Deus replicas? Porventura a coisa formada dirá ao que a formou: Por que me fizeste assim?" (Rm 9.20).
Baseiam o seu “deus” no amor que dizem Cristo ter, não o amor real e eterno que o Senhor tem, mas um amor conivente, condescendente, preso e afeito à vontade do homem. Este tipo de amor tão alardeado e propalado entre os cristãos em nossos dias não é o amor de Deus revelado nas Escrituras, antes é extra-bíblico e claramente enganoso, um artifício maligno de satanás, que o vem repetindo de tempos em tempos nas mentes e corações incautos. Pois afirmam que Deus seria incapaz de fomentar a destruição, a matança e o extermínio dos povos inimigos de Israel (por conseguinte, inimigos de Deus, visto que Israel era o Seu povo eleito), como fez com os cananeus, os amorreus, os amalequitas... Então, os relatos veterotestamentários não são condizentes com a “imagem” que fazem de Deus, logo, o AT não é parte do Cânon divino.
Por outro lado, apegam-se a um tipo de amor que as Escrituras não revelam. Cristo é corporalmente a plenitude, a completude de Deus (Cl 2.9), portanto, Ele é amor, mas é igualmente, santidade, justiça, retidão... Senão,vejamos:
1) Não foi com a autoridade e santidade de Deus que Jesus condenou Cafarnaum ao afirmar: "E tu, Cafarnaum, que te ergues até aos céus, serás abatida até aos infernos; porque, se em Sodoma tivessem sido feitos os prodígios que em ti se operaram, teria ela permanecido até hoje" (Mt 11.23)? E o que pode ser pior? O extermínio físico dos cananeus e outros povos, ou a condenação eterna ao inferno?
2) Paulo diz a Timóteo que Jesus julgará o mundo: “Conjuro-te, pois, diante de Deus, e do Senhor Jesus Cristo, que há de julgar os vivos e os mortos, na sua vinda e no seu reino” (2Ti 4.1).
3) Quando necessário, Cristo usou de sua autoridade divina para julgar os fariseus e sacerdotes: “Serpentes, raça de víboras! Como escapareis da condenação do inferno?” (Mt 23.33).
4) Igualmente, Ele agiu conforme os Seus atributos de santidade e justiça ao irar-se contra os mercadores no templo: “E entrou Jesus no templo de Deus, e expulsou todos os que vendiam e compravam no templo, e derribou as mesas dos cambistas e as cadeiras dos que vendiam pombas” (Mt 21.12).
Dizer que Cristo revelou-se apenas em amor é mentira, é distorcer a Bíblia. Porque Cristo é a 2a. pessoa da Trindade Santa, e, portanto, igualmente justo, reto, santo e inimigo do pecado tanto quanto o Pai e o Espírito Santo. Quando voltar, Cristo não voltará como servo sofredor, mas como Juiz, Senhor, Rei e Guerreiro, o qual aniquilará definitivamente o mal, o pecado e todos os rebeldes que se utilizam indevidamente do amor de Cristo para tentar torná-lO cúmplice dos seus pecados.
Deus não age como o homem, nem tem as limitações do homem, portanto, ainda que não entendamos (muitas vezes porque queremos fazer Deus igual a nós), a Sua justiça e santidade podem ser percebidas ainda que na "aparente" injustiça do massacre dos povos inimigos de Israel (e porque não, no próprio sofrimento do povo de Israel). Afinal, não são elas conseqüências do pecado e da rebeldia contra o Todo-Poderoso? As quais faz-se necessário julgá-las? Pode o pecado ficar impune? Sem castigo? E o castigo ao pecador impenitente não denota a santidade e justiça de Deus, e o amor por Si mesmo e por Seus eleitos?
Por isso, Ele deu o Seu Filho Amado para expiação dos pecados do Seu povo, dos Seus eleitos, para que sobre eles não viesse a condenação.
Infelizmente, a visão distorcida do homem faz de Deus um ser suscetível, impotente, frágil diante do pecado, da desobediência, do diabo e da vontade humana. Segundo eles, Deus somente pode ir aonde o pecado, o diabo e a rebeldia do homem não chegaram. Ali, a Sua soberania pára, e dá lugar à ação dessas criaturas. Como explicar, então textos como Dt 32.39-43 e Is 45.7?
Jamais podemos olhar-nos e, através da nossa imagem, do que vemos em nós, de nós mesmos, explicar a Deus. Antes, é Ele quem nos define, explica, transforma, e um dia, nos manifestará como é em plenitude, em glória; porque, pela revelação das Escrituras, todos os atos de Deus são bons, justos, santos e retos, mesmo os que não entendemos, aceitamos ou julgamos maus, pois "quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis os seus caminhos" (Rm 11.33).
A falta de humildade, de se reconhecer o quanto somos imperfeitos, e a necessidade de nos justificar perante Deus, cria esse "mar" de distorções, de enganos e mentiras. Bastaria ao homem reconhecer em Deus aquilo que Ele nos revelou de Si no Cânon. E se não o aceito, jamais conhecerei ao Deus Único, Vivo e Eterno.
A falta do conhecimento bíblico e de Deus leva o incauto a julgar que Deus não é "páreo" para as convicções humanistas e liberais, como se a filosofia pudesse anular o que Ele é; e ao invés de julgar o homem em sua pecaminosidade, volta-se contra Deus e sua Palavra, julgando-O a partir de falsas e frágeis premissas, sem reverenciá-lO e glorificá-lO como o Deus revelado nas Escrituras (e naquilo que Ele quis nos revelar).
O discurso é restritivo, pois apresenta apenas um dos atributos de Deus: o amor. Mas e a justiça, santidade, retidão...? E a aversão ao pecado? E a necessidade de se condenar o pecador?
Posso afirmar que o adepto da “descontinuidade radical” é alguém que flerta com a apostasia, a heresia; é um lobo em pele de cordeiro com sua pretensa bondade, pois, não há outro termo para se referir a quem questiona, despreza e incita vergonhosa e fraudulentamente a rejeição ao AT, à Palavra de Deus: "Por isso saí do meio deles, e apartai-vos, diz o Senhor" (2Co 6.17).


*Síntese dos meus comentários ao livro "Deus mandou matar?" em http://kiestoulendo.blogspot.com/2008/08/deus-mandou-matar.html