25 setembro 2008

NÃO SOIS DAS MINHAS OVELHAS

Comentário João 10.22-42








Por Jorge Fernandes Isah

A segunda seção do cap. 10 é a ratificação, o complemento de tudo o que foi apresentado na primeira seção (1-21). Novamente, estamos diante da incredulidade dos judeus, os quais resistem tenazmente em negar Cristo como Messias e Deus; acercando-se d’Ele, inquirindo-O irreverentes e céticos (v. 24). A resposta do Senhor é direta, mostrando-lhes o quão cegos estão diante de todos os prodígios que realizou, os quais testemunham a Sua filiação com o Pai, como Messias e Deus.

Diante da descrença dos seus inquiridores, fruto da arrogância que revela a ruína de todo o sistema religioso judaico, no qual os seus olhos são mantidos fechados para a Verdade das Escrituras, Ele expõe-lhes frontalmente o estado de perdição e condenação em que se encontram:
“Mas vós não credes porque não sois das minhas ovelhas, como já vo-lo tenho dito” (v. 26).

É interessante como para o homem natural a Verdade jamais penetrará nos ouvidos moucos e nos corações impenitentes, por mais que se repita, a menos que o Espírito Santo aja regenerando, dando o novo nascimento a eles, tornando o natural em espiritual. E a prova é que Jesus, por diversas vezes, afirmou aos judeus tanto a própria divindade (Jo 5.36), como a própria condenação deles (Jo 5.37-43); os quais permaneceram duros e céticos, inflexíveis em sua impiedade.


Outro ponto é que, caso quisesse, Cristo poderia abrir-lhes os ouvidos, curar-lhes os corações e mentes, tornando-os ovelhas do Seu aprisco. Mas por que não o fez? Porque eles não eram do Seu rebanho:
“As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu conheço-as, e elas me seguem; e dou-lhes a vida eterna, e nunca hão de perecer, e ninguém as arrebatará da minha mão” (v.27-28). Quão maravilhosa é a salvação! Como ela é totalmente de Deus, para que nenhuma carne se glorie, e apenas Ele seja exaltado! Como o Senhor é poderoso em misericórdia e graça para salvar e sustentar a salvação de Suas ovelhas. Ele as conhece. O Senhor não conhecerá as Suas ovelhas, mas Ele já as conhece, e dá-lhes a vida eterna: “Eu rogo por eles; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus” (Jo 17.9). Não é uma possibilidade, veja bem, mas uma certeza. Cristo não nos dá a possibilidade de sermos salvos, de virmos a ser salvos num determinado momento ou de continuarmos perdidos eternamente. Não! Cristo nos salva e nos mantêm salvos, “porque todo o que o Pai me dá virá a mim; e o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora” (Jo 6.37). A obra é toda e completamente d’Ele. Por isso, o Senhor lançava-lhes em rosto a condenação de suas almas, a perdição eterna, a qual é definitiva também, não havendo possibilidade de se reverter: “aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo depois disso o juízo” (Hb 9.27).

Ao assegurar a salvação, Cristo mostra a união que há entre o Pai e o Filho, de como são um (v.30): Ele e o Pai, ambos, garantem a salvação; estamos seguros nas mãos de Deus Pai e Deus Filho; ninguém nem nada nos arrebatará delas.


Porém, diante de tudo o que o Senhor diz à assistência judaica, os seus corações endurecem-se ainda mais, não lhes sendo suficiente acusá-lo de blasfêmia, mas matá-lo (v.31-33). Tomam em pedras para lhe atirarem, como fizeram em Jo 8.59. O que os levou a essa atitude? Os judeus, erroneamente, acreditavam que Jesus blasfemava contra Deus, ao fazer-se como Ele, portanto, em cumprimento a Lv 24.16, caber-lhe-ia a punição de morte.



Muitos dizem que Jesus Cristo jamais se proclamou Deus. O que, no mínimo, é uma mentira grosseira. Iludem-se crendo que Ele não passa de um iluminado, um mestre, um guru, contudo, à luz das Escrituras, é flagrante e patente a Sua condição de Segunda Pessoa da Trindade, o Deus Filho. Cristo possui todos os atributos de Deus: onisciência, onipresença, onipotência; Ele é justo (1Pe 3.18), santo (Hb 7.26), sem pecado (Hb 4.15)... e somente Ele é capaz de dar-nos a salvação (Jn 2.9; At 4.12; Rm 1.16; 2Ti 2.10; )*.

Há ainda de se entender que o Senhor veio cumprir a profecia de Isaías 53, onde o Cristo é descrito como o “Servo Sofredor”, o qual veio cumprir fiel e plenamente a vontade do Pai (Jo 6.38), culminando com o Seu sacrifício salvífico na cruz do Calvário, e três dias após, a Sua gloriosa ressurreição.
Em resposta à acusação de blasfemo, o Senhor lança-lhes ao rosto o próprio ceticismo com que o indagam, citando a lei:
“Vos sois deuses” (Sl 82.6); “pois, se a lei chamou deuses àqueles a quem a palavra de Deus foi dirigida, e a Escritura não pode ser anulada, aquele a quem o Pai santificou, e enviou ao mundo, vós dizeis: Blasfemas, porque disse: Sou Filho de Deus?” (v.34-35). O significado do Salmo 82.6 não é o de equiparar-nos a deuses. Não somos deuses, nem o seremos. A alusão é feita ao próprio Deus como o juiz supremo, o qual está sobre tudo e todos, e que estabeleceu juizes, magistrados, no meio do Seu povo a fim de julgar com justiça os conflitos entre os homens (Dt 1.16-17). Portanto, Cristo imputa aos seus inquiridores a sentença de que, ao acusá-lO, o fazem injustamente, pois aparentam cumprir a lei ao querer matá-lo com pedras, porém, descumprem a própria lei ao julgá-lO injustamente, por desejar condenar o inocente, e, agindo assim, pecam contra o próprio Deus.

Cristo, de acusado, torna-se juiz daqueles homens, ao apontar-lhes incisivamente os seus pecados; porque, como disse:
“Quem me rejeitar a mim, e não receber as minhas palavras, já tem quem o julgue; a palavra que tenho pregado, essa o há de julgar no último dia” (Jo 12.48). Portanto, a lei que os judeus usavam para acusá-lO é a mesma que os condenará, pois, ao invés de buscar a justiça, agem segundo o seu coração endurecido, distorcendo a Verdade com o propósito de alcançar os seus perversos e ímpios intentos.

Ao confrontá-los com as obras que realizou, das quais eram testemunhas, e por intermédio delas conheceriam que o Pai está no Filho, e o Filho no Pai, revelando-lhes a unidade de Deus, e de que Cristo é Deus (v.38-39), e de que, ninguém a não ser Ele poderia realizar as obras que são de Deus; os judeus procuraram matá-lO. E a obstinação dos seus corações em agir iniquamente, confirma Marcos 4.12:
“Para que, vendo, vejam, e não percebam; e, ouvindo, ouçam, e não entendam; para que não se convertam, e lhes sejam perdoados os pecados”. Em João 12.40, Jesus cita Isaias 6.10: “Cegou-lhes os olhos, e endureceu-lhes o coração, a fim de que não vejam com os olhos, e compreendam no coração, e se convertam, e eu os cure”.
A soberania de Deus sujeita todas as coisas a Ele. Nada lhe escapa, e tudo lhE é submisso. Os judeus, como muitos hoje, estão cegos, surdos e em profundas trevas; inflexíveis em seus pecados, teimosos em sua rebeldia, trazendo sobre si a ira vindoura e a condenação eterna ao inferno.


Porém, àqueles aos quais o Filho revelou o Pai, pois
“ninguém conhece o Pai, senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar” (Mt 11.27), esses creram n’Ele (v.42), receberam a salvação, e participarão da Sua eterna glória.
Como Pedro disse:
“Arrependei-vos, pois, e convertei-vos, para que sejam apagados os vossos pecados, e venham assim os tempos do refrigério pela presença do Senhor” (At 3.19)... Porque é chegado o Reino dos Céus (Mt 3.2).

* Sobre a divindade de Cristo ler http://tabernaculobatista.blogspot.com/2008/09/cristo-deus.html

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