Por Jorge Fernandes
Encurralado, a vergonha bate à porta, como um sinal sem resposta,
Uma explicação sem jeito, vazia, inócua, somente o mal a levar-me a efeito,
À desonra que não ignoro, e se esconde nos gritos,
Mas não abafam a dor que inflige, o sofrimento desnudado,
Pois o que fiz divide-me, e as partes colaboram para o temerário,
E a lágrima descuidada, não apaga o dito nem o feito anos a fio.
O torpor camufla-me; na impossibilidade de encará-lo nos olhos,
Desvio-os ao longe, onde não revelem o quanto a minha alma indistinta
Pode refletir-se nas águas turvas da bravata, onde a névoa oculta com traços de civilidade
A fraqueza moral instalada no pecado, os irmãos siameses,
A levar-me ao abandono, ao digladiar insano contra Deus.
O vexame diante da verdade, a olhá-la de esguelha, a esperar o descuido,
Para tomar as rédeas daquilo de mais sórdido construído.
É o canto esmaecido do pardal, a resposta que não vem à tona,
Solapada em toneladas de impurezas,
A desculpa é o favor que me concede continuar por tudo o que passei e não remediei,
O que para trás ficou, segue-me adiante, a fazer-me pior do que fui um dia,
E a chuva a encharcar-me não lava a sujeira e o odor fétido a cobrir-me,
No qual me atolo como um barco encalhado, no refúgio de não poder livrar-me,
Não há como soltar-se sozinho, não há força nem movimento útil,
Apenas é-se capaz de ir mais rápido ao fundo, qual objetivo alcançado,
Restando o grito de desprezo a soluçar em gorgulhos,
O afogar-se no inútil esforço, o descontrole de não ter o escape,
É a desculpa para insistir nos erros.
Já senti isso muitas vezes, passei por isso outras tantas,
Basta seguir o mal levianamente, e ele nos levará a imolar até mesmo o que não temos,
É-nos emprestado, será cobrado com juros, e nos deixará nu como terra assolada,
Nem mesmo as cinzas perdoarão, enquanto reviro-me no mover contra Ele,
Pois não é possível o mundo me absolver, se está a cumprir sua própria pena.
A evasiva não passa de pilhéria, é o medo de não parar até ser arrancado e posto no patíbulo...
O silêncio é o risco assumido, o perigo que não se acaba.
Criei um blog recente, e gostaria de postar esse seu poema, e também o Esconderijo e o Fatal. Você autoriza?
ResponderExcluirFernando Izidoro
Fernando,
ResponderExcluirSem problema. Pode reproduzir qualquer um dos meus textos, desde que sejam publicados na íntegra.
Obrigado pela visita.
Abraços.
Obrigado por liberar os poemas. Anexei o seu blog na minha lista de glogs.
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