18 novembro 2009

Mysterium Compatibilista
















Por Jorge Fernandes Isah

Uma definição pomposa para o compatibilismo é a expressão "concursus" divino, presente em muitos livros de T. S. e que tratam da providência divina. O que o termo quer dizer? Simplificando, seria a forma ou maneira com que Deus colabora e concorre para que as coisas no mundo andem conforme a Sua vontade estabelecida no decreto eterno.

Há porém um componente desastroso nessa definição, a de que, ainda que as criaturas de Deus obedeçam-nO infalivelmente, permanecem livres para realizar a Sua vontade infalível. Isso é o velho e antibíblico compatibilismo que dá ao homem, inexplicavelmente, a liberdade de agir segundo a vontade de Deus. Mas vemos aqui outro sério problema. Tendo-se em vista a natureza humana (ainda que regenerada) direcionando-se à rebeldia, como o homem pode livremente cumprir a vontade divina? Não é interessante que essa liberdade é utilizada apenas para cumprir o decreto divino? Se é liberdade, não se deve pressupor que o homem poderá utilizá-la para não cumprir a vontade de Deus? Ou seja, onde está realmente essa liberdade decantada se o homem é livre apenas para cumprir aquilo que Deus predestinou na eternidade? A conclusão é somente uma: o homem não é livre em nenhum aspecto e de nenhuma forma de Deus.

Sinceramente, tenho toda a dificuldade do mundo para entender o compatibilismo ou o "concursus" divino, principalmente porque não vi até agora uma explicação plausível e lúcida sobre a questão.

Os autores geralmente entram em uma densa neblina onde não se vê um palmo à frente do nariz, e dizem apreciar a vista, como se vissem o que não pode ser visto.

Depois de toda a explicação acerca da soberania de Deus, de Deus determinar, da vontade soberana de Deus não poder ser frustrada, de que tudo aquilo que Ele decretou na eternidade ocorrerá, para justificar a responsabilidade humana, os teólogos aparecem com a tal da liberdade do homem, a qual nem mesmo eles sabem o que seja. É como a vaca que deu 60 litros de leite e depois coiceou o balde. Tudo o que disseram sobre a soberania de Deus caiu por terra quando se aventou a possibilidade do homem ser livre.

Alguns recuam um pouco mais do que outros, mas, no fim das contas, estão sempre andando para trás.

Há os que afirmam a liberdade completa do homem, o famigerado livre-arbítrio, visto não haver a menor possibilidade das escolhas serem livres, ainda mais que a neutralidade é um dos seus pressupostos, e não há como o homem escolher sem que haja uma mínima influência em suas decisões; o homem não se decide sem algum tipo de coerção (física, moral, espiritual). Acreditar no livre-arbítrio é o maior e pior de todos os delírios. Qualquer pessoa que tenha algum entendimento saberá que nada acontece com isenção neste mundo, pois nossas decisões são influenciadas e influenciáveis, desde a escolha da compra de um sabonete até o infringir a Lei Moral e se rebelar contra Deus.

Os compatibilistas são os que andam um pouco mais lentamente para trás. Ainda assim crêem numa espécie de livre-arbítrio que, contudo, é controlado por Deus (como calvinistas não aceitam o termo livre-arbítrio, em decorrência das implicações ilógicas e irracionais que acarreta, substituem-no por livre-agência, liberdade compartilhada, etc).

Para mim, é quase a mesma coisa, variando apenas no grau de liberdade que se queira dar. Porém, o fato de diminui-la não a corrobora, mantendo-a no campo da ilusão, do delírio, da utopia, da intangibilidade, uma falácia em letras garrafais.

Fica uma pergunta: como o homem pode ser livre (e aqui não importa o grau ou o nível de liberdade) se a vontade de Deus acontecerá sempre, da forma como Ele planejou? Como posso ser um livre-agente? E quais os critérios reais para se definir a palavra liberdade?

Vejam a confusão que um eminente teólogo procedeu: "Não há ato humano que seja feito contra a vontade humana e nunca a liberdade humana é tirada. Todavia, os atos do ser humano não são independentes, mas sempre conectados a uma vontade maior que é a divina, a causa primeira"[1].

Primeiro: o que é vontade humana? E liberdade humana? Podem estas expressões se harmonizar com "não são independentes, mas sempre conectados a uma vontade maior que é a divina"?

Segundo: há uma incoerência gritante no que se está a afirmar. Se são livres, são independentes; e não estão conectados a uma vontade maior, a causa primeira. Se a vontade divina é a causa primeira, a vontade humana é secundária, dependente da primeira, logo, não é independente e nunca se processará derivada da liberdade humana, que no caso estará sujeita à vontade primeira. O que o autor faz é um mero jogo de palavras, que não dizem absolutamente nada do ponto de vista factual.

Terceiro: para isso, o homem teria de ser livre de Deus. E, portanto, Deus não poderia ser o Deus bíblico que é. Poderia ser qualquer outra coisa, menos o Deus da Escritura. E se Deus não é o Deus bíblico, a Escritura falha em revelá-lO. E seremos responsabilizados diante dEle por afirmar tamanho disparate, insano e reprovável, ainda que seja uma acertiva subliminar, irreconhecida formalmente pelo indivíduo, mas latente em seu subconsciente. Permanece a pergunta: como o homem pode ser livre e ainda assim a soberania de Deus manter-se intacta? Ou se Deus é completamente soberano como o homem pode alegar ser livre? Novamente, reafirmo: é impossível que o homem seja livre de Deus, se Deus é soberano.

A confusão inicia-se quando há a tentativa de se explicar a relação entre soberania divina e responsabilidade humana. Alheio ao texto bíblico, busca-se desenvolver a idéia de liberdade controlada do homem, algo tão sem pé e sem cabeça que leva teólogos a verdadeiros malabarismos retóricos, porém, contraditórios, e que comprometem o verdadeiro objetivo da Escritura, ao misturar partes dela com a filosofia humanista, de forte apelo mesmo entre homens tementes e reverentes a Deus. E o cúmulo dessa inconsequência é a proposição de que o princípio bíblico da responsabilidade está ligado à liberdade. Mas onde mesmo está isso?

Como não há respaldo bíblico, apelam para a Confissão de Fé de Westminster, em sua seção III, 1-2; e aumentam ainda mais a confusão com termos como causa primária, última e secundária (os quais não conseguem definir satisfatoriamente, nem mesmo a área de atuação entre si). Para depois de tanta intrusão e verborrágia afirmar-se: "Contudo, é preciso lembrar que o modo como essa relação entre a causa primária e as causas secundárias se processa é ainda um MISTÉRIO para nós. Nós a chamamos concursus, mas não sabemos com muita propriedade o modus operandi de Deus" (Grifo meu) [2].

Ou seja, no final, a resposta mais objetiva que se consegue é a de que a relação entre a soberania de Deus e a liberdade humana não passa de um mistério, algo obscuro, intricado, insondável, inexpugnável. Porém, até aqui, páginas e mais páginas foram escritas para explicar o inexplicável, e o leitor mais atento estará se perguntando: de que adianta este livro?
E caberia ao autor perguntar: De que vale o que escrevi?

Já afirmei em outros textos sobre a relação da soberania de Deus e a responsabilidade humana que ela está centrada e estabelecida na autoridade divina, ou seja, no poder e direito que somente Deus tem sobre a Sua criação. O arbítrio aqui é dEle apenas. Às criaturas cabem obedecê-lo, quer queiram ou não. Portanto, o fato do homem ser responsável pelos seus atos está firmado não na suposta liberdade que o homem tem de escolha, mas no direito que Deus tem de julgar o homem e fazê-lo responsável por Sua autoridade de Criador, Legislador, Governante e Juiz de todo o universo. É simples. O princípio é de que Deus pode fazer o que quiser, e ao estabelecer que o homem será responsável mesmo sem ser livre, a Sua justiça, santidade e perfeição continuam intocáveis. Pois como Paulo disse: "Que diremos pois? que há injustiça da parte de Deus? De maneira nenhuma... Mas, ó homem, quem és tu, que a Deus replicas? Porventura a coisa formada dirá ao que a formou: Por que me fizeste assim?" (Rm 9.14, 20).

Não há na Bíblia nenhuma afirmação de que o fato de Deus ser o criador do mal ou do pecado o transforma em pecador ou maquiavélico. Como Criador é-lhe permitido fazer tudo o que bem queira e entenda segundo a Sua vontade, e a Escritura é clara em afirmar que tudo o que Deus faz é bom (mesmo o mal e o pecado). Infelizmente as pessoas querem ter uma espécie de jurisdição sobre Deus, como se Ele estivesse "preso" à vontade humana ou às leis do homem. Apenas a contaminação com o humanismo pode gerar esse tipo de suspeita ou a necessidade de se defender Deus daquilo que criou para a Sua glória, e da qual devemos tão somente aceitar e nos subjugar.

Como a falsa premissa da liberdade humana contamina a interpretação da Bíblia, a maioria das pessoas finge não ler os versículos onde Deus se coloca como aquele que criou tanto o bem como o mal; e se para Deus não há problema algum em declarar isso, por que tem de haver para nós? Deus precisa de defesa? Se precisa, de quem? Há algo acima ou mesmo no seu nível? Quem pode acuar, coagir ou impedi-lO de realizar a Sua vontade? Este é o princípio máximo da Escritura, e da qual os homens lutam insanamente para derrubar: Deus não nos deve nenhuma satisfação, e tudo o que faz é perfeito e santo. Em nossa imperfeição e humanidade, resta apenas submeter-nos à verdade bíblica inexorável, sem nos fatigar e nos entregar a uma luta impossível e estúpida.

Então vêem um sem número de pessoas querer protegê-lO, ignorando a Escritura, misturando-a com conceitos antropocêntricos, desandando a falar asneiras, ainda que com ar de sofisticação e intelectualidade, causando uma confusão dos "diabos": "Porque está escrito: Destruirei a sabedoria dos sábios, e aniquilarei a inteligência dos inteligentes. Onde está o sábio? Onde está o escriba? Onde está o inquiridor deste século? Porventura não tornou Deus louca a sabedoria deste mundo?" (1Co 1.19-20).

Concluirei com uma sinopse, para o caso de não ter sido suficientemente explícito:

1) Deus é o Criador, Senhor, Legislador e Juiz de todo o universo. "Porque nele (Cristo) foram criadas todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades. Tudo foi criado por ele e para ele. E ele é antes de todas as coisas, e todas as coisas subsistem por ele" (Cl 1.16-17).
2) Deus é soberano. "Conhecidas são a Deus, desde o princípio do mundo, todas as suas obras" (At.15.18).
3) Deus determina e estabelece tudo o que ocorrerá. Nem mesmo uma folha cai da árvore sem que Deus queira. "Não se vendem dois passarinhos por um ceitil? e nenhum deles cairá em terra sem a vontade de vosso Pai. E até mesmo os cabelos da vossa cabeça estão todos contados" (Mt 10.29-30).
4) Nada acontece sem que Deus mova suas criaturas para concretizá-la. "Porque Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade" (Fp 2.13).
5) O homem não é livre de Deus (se fosse livre, seria uma força antagônica a Ele e autocriada).
6) O homem é responsável por seus atos (por definição escriturística). "A alma que pecar, essa morrerá... na sua transgressão com que transgrediu, e no seu pecado com que pecou, neles morrerá" (Ez 18.20, 24). 
7) A responsabilidade nada tem a ver com liberdade, mas com a autoridade divina, o direito que tem como Criador de sujeitar a criação conforme a Sua vontade.
8) Deus não precisa de defesa. "Ai daquele que contende com o seu Criador! o caco entre outros cacos de barro! Porventura dirá o barro ao que o formou: Que fazes? ou a tua obra: Não tens mãos?" (Is 45.9).
9) Ele mesmo se revela na Escritura como o criador ("fazedor", idealizador) tanto do bem como do mal; e nenhum pecado pode ser-lhe imputado porque Deus não peca por definição, e o pecado é algo que está "abaixo" de Deus, em um nível inferior a Ele. "Eu formo a luz, e crio as trevas; eu faço a paz, e crio o mal; eu, o Senhor, faço todas estas coisas" (Is 45.7).
10) O pecado e o mal estão no nível das criaturas de Deus, como coisas criadas; portanto, não podem sujeitá-lO, antes o Senhor é quem as sujeitou conforme a Sua bendita vontade.

Estas são definições entre o bem e o mal, entre a soberania de Deus e a responsabilidade do homem, do ponto de vista bíblico. Qualquer outra coisa que se queira advogar como, por exemplo, o compatibilismo, estará no campo do estritamente humano. Portanto, falível e extrabíblico.

Nota: [1] - "A Providência e a sua realização histórica" - Dr. Heber Carlos Campos - Ed. Cultura Cristã - pg. 267 [excetuando-se a questão da compatibilidade, o restante do livro é essencial para o entendimento da doutrina da providência]. Leia os meus comentários aqui. 
[2] - Idem - pg. 270
 

21 comentários:

  1. Tiago (I.C),

    As suas "outras palavras" sintetizaram o que não consegui escrever em quatro laudas.
    Isso é que é ser conciso, enxuto, direto.

    Excelente analogia que você fez ao pensamento compatibilista. Foi certeiro, na mosca.

    Cristo o abençoe!
    Forte abraço ao irmão.

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  2. Caro Jorge

    Gostei muito da sua reflexão.
    Acho que vou publicar no meu blog, posso?

    A meu ver, agora sim, diferente das outras últimas reflexões onde nos estranhávamos por causa de detalhes semânticos, nesta reflexão, não há discordância nenhuma da minha parte.

    A dificuldade para mim, é colocar isto em palavras simples que as pessoas possam entender sem desculpas.

    A questão da soberania está pacificada para mim, pois uma vez que Deus não pode ser surpreendido com um agir do homem diferente daquilo que ele previo ou antevio... logo a soberania é absoluta no "livre-arbítrio", na "livre-agência" ou no quer que seja.

    Mesmo na eternidade será assim, a não ser que a realidade fora do "tempo" possa haver um conceito de soberania deferente do que temos.

    Mas se a eternidade for cronológica e dentro de uma linha do "tempo", mesmo ao infinito para frente, em eternidades e mais eternidades, Deus para ser soberano como a Bíblia apregoa, já tem que saber tudo o que ocorrerá nestas eternidades do futuro.

    Gostei das frases e da forma como você escreveu.

    Mas para mim não é fácil, e aquela questão de colocar responsabilidade em relação a autoridade e não vinculada a liberdade, eu aceito como correta, mas ainda tenho alguma dificuldade de assimilar. Mas é o caminho.

    O que me leva a crer que talvez mesmo entre calvinistas sejamos "contrariados", uma vez que a confissão parece que é um pouco (ou pelo menos a interpretação que se dá a ela) compatibilista, e mesmo Calvino pelo pouco que li, me parece pelo que alguns escrevem dele, como compatibilista também (suave, mas compatibilista na questão da livre agênica), mas como li pouco Calvino, talvez esteja equivocado.

    Grande abraço.

    A dificuldade está em que pela ótica humana, resposabilidade pressupõe pela lógica, liberdade de escolha, e isto é claro para meus outros irmãos sinergistas, assim como é claro para você e para mim que a soberania pressupõe um determinismo bíblico total e absoluto.

    Quando achar uma analogia que explique isto, eu publico e te envio. A melhor que conseguir montar até agora foi aquela do autor, do livro e dos personagens.

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  3. Ignore por favor os erros de digitação e "burrice" mesmo.

    Eu escrevo sempre por impulso, e tenho preguiça de ficar passando software de revisão no texto, então perdoe o "previo" e o "antevio"... risos... e outros erros mais que aparecem no texto.

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  4. A analogia do colega quando fala "... ação livre do barro colabora com o trabalho de modelagem do oleiro..." é muito boa, excelente até para quem já crê como nós na doutrina em questão.

    Mas para os irmãos sinergistas esbarra ainda na questão de que o barro em questão é um "barro vivo", assim como lhes dizer que mortos em pecados e delitos, não convence a eles pois eles acham que são "mortos vivos" e de alguma forma ainda tem um pequenino poder de decisão, um "barrinho" com "livre-arbítrio".

    Abraço!

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  5. Natan,

    Será uma honra que não tem tamanho ter um texto meu publicado no seu blog. Fique a vontade para publicá-lo e o mais que você quiser e achar conveniente entre os meus escritos.

    Sei que entre nós, calvinistas, existem muitas vertentes e discordâncias, desde a escatologia, a atuação do crente no mundo e, pasme! até mesmo na questão da expiação de Cristo (há os calvinistas de 04 pontos, os amiraldianos, que crêem que Cristo morreu por todo o mundo, mas a Sua morte não foi suficiente para salvar todo o mundo. Ou seja, a obra de Cristo foi insatisfatória, ao ver deles, que não dizem isso, mas terão que conviver com a essa idéia antibíblica).

    Porém, parto sempre do seguinte raciocínio (e muito dele se deve aos inúmeros emails que trocamos): se, qualquer conceito ou argumento choca-se com a soberania divina, rejeito-o imediatamente, pois não posso considerar, à luz da Escritura, nada que diminua ou enfraqueça o poder de Deus.

    Portanto, a idéia de qualquer tipo de liberdade humana "livre" de Deus, é impossível. Ainda que muitos calvinistas considerem possível Deus preordenar tudo e o homem manter-se livre dentro do plano ordenado de Deus. Ou seja, de quê forma o conceito do homem "livre" subsiste ao poder determinante e ordenador do Deus Todo-Poderoso?

    Só de pensar nessa possibilidade tenho tonteiras, de tão maluca que ela é.

    Por isso tem de se decidir por uma coisa ou outra. Ou Deus é soberano e o homem não é livre, ou Deus não é soberano, não predetermina, nem é presciente, e o homem livre.

    Há luz da Bíblia, não há dúvidas: Deus é soberano, e ponto final!

    Grande abraço ao irmão. Sempre fiel em nossa amizade.

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  6. É, Natan, mas barro é barro. E não conheço nenhum barro vivo, que por si mesmo vá até as mãos do oleiro.

    O que os sinergistas fazem é simplesmente distorcer todo o contexto da passagem. Ali está mais do claro que a decisão quanto ao destino do barro não cabe ao barro, mas ao oleiro: é Ele quem fará um vaso para glória e outro para desonra. Não há no texto a menor indicação de que o barro escolheu glorificar ou não ao oleiro. O barro ali é total e completamente passivo diante da completa e total decisão ativa do agente.

    Como disse no texto, isso é um dos frutos do humanismo na igreja. O homem tem de manter a dignidade, custe o que custar, ainda que seja em meio a mentiras, delírios e distorções.

    Quantos aos erros, é assim mesmo. Eu que tenho o hábito de fazer ao menos uma revisão nos meus comentários, acabo deixando passar cada coisa... nem é bom dizer.

    Outro grande abraço.

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  7. Tiago,
    outra ótima analogia. Mas os cabeças-duras sempre acharão um "jeitinho" de escapar dela, pois, se o próprio texto bíblico não é suficiente para convencê-los, o que dizer das analogias que são sombras, e não a imagem exata das coisas e de como Deus as controla poderosamente? (fazendo analogia a Hb 10.1, rsrsrs).

    Bem, mas tudo ajuda no entendimento daqueles que sinceramente desejam compreender a Revelação divina, e não se manter preso aos conceitos humanísticos e despropositados do homem.

    Mais uma vez Tiago, meu irmão e amigo, agradeço mais uma excelente contribuição.

    Forte abraço.
    Cristo o abençoe!

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  8. Este Tiago sabe o que escreve!
    E escreve bem.

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  9. Menos... acabei de ler o texto do Tiago "Reino de Cristo" publicando lá no "Internautas Cristãos"... e ele é amilenista (ninguém é perfeito...)

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  10. Natan,
    o irmão é uma piada! Me mata de rir as vezes...
    Mas sei que o fato do Tiago ser amilenista não invalida o fato dele escrever muito bem e saber o que escreve.
    Da mesma forma que o fato do irmão ser pósmilenista não o impede de ser um grande irmão e amigo.
    São diferenças que desaparecerão na eternidade, enquanto isso, deixe-me rir das suas pilhérias...

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  11. Irmão, gostei muito do seu texto. Tenho aprendido muito em Blogs como o seu e lido algumas literaturas indicadas pelos sites reformados. Agora, uma coisa que eu não entendo é quando leio que Deus tem o completo controle de sua criação, levando ao determinismo e mesmo assim, tendo Ele tal controle, ou seja, criando vasos de ira (pessoas destinadas à perdição) puni-as como responsáveis. Se Ele mesmo criou assim, não tendo elas como agir de forma diferente, por que puni-las, já que não teriam escolha?
    Gosto muito de Sproul que mostra que todos caíram, ou seja, todos estão destinados à perdição, porém a eleição de Deus pela Sua graça liberta-os, enquanto outros não. Ou seja, Deus não estaria sendo injusto com os outros, mas sim lhes aplicando a justiça, enquanto àqueles a Sua graça (favor imerecido). Já Cheung (gosto de seus livros, pois são bem diretos), fala diferente.
    O Compatibilismo, não seria pela presciência de Deus e Sua soberania deixa que homens ajam conforme suas vontades, porém submissas a Sua. Ex: minha filha de 3 anos pode sentar na cadeira da mesa de jantar (se ela quiser), porém não pode subir na cadeira para pular para o sofá (eu intervenho, pois tenho o controle). Ou seja, nunca perdi o controle sobre ela, ela teve sua vontade vigiada e conduzida para atingir os meus propósitos.
    Não sei se compliquei, mas esta é a minha dúvida. Só quero aprender um pouco mais com vocês pessoas mais experientes neste tema. Parabéns pelo ótimo site!
    Um abraço,
    Eric

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  12. Eric,
    vamos por partes:

    1)Como Paulo disse em Rm 9, quem pode acusar Deus de injustiça? Ou quem pode questionar as Suas decisões? E como o próprio Senhor disse a Jó, onde ele estava (e serve tanto para mim como para você também) quando Deus criou os céus e a terra?
    O problema é que deixamos de buscar a referência do bem em Deus, e buscamos em nós mesmos. Ou seja, o bem somente existe porque Deus o determinou assim, e não pela minha concepção corrompida do que seja o bem, ou de como as coisas deveriam ser; já imaginou como seria o mundo guiado pelos homens e seus conceitos subjetivos? Ao invés dos mandamentos objetivos de Deus?
    O que estou a dizer é que ao questionar Deus e Suas decisões estabelecidas no decreto eterno, somos arrogantes, pretenciosos e tolos ao preferir que as coisas fossem não do modo como Ele estabeleceu, mas como eu presumo ser melhor. Acontece que Deus é imutável, enquanto somos mutáveis. Deus é onisciente, e nós não somos. Deus é onipresente, e nós não. Deus é sábio, santo, justo, perfeito, e nós não somos.
    Portanto, a resposta a sua primeira pergunta, "por que puni-las, já que não teriam escolha?" é: porque Deus assim quis, e se Ele assim quis, a Sua vontade é santa, perfeita e justa.
    Ou há outro padrão de santidade, perfeição e justiça que o irmão conheça?
    Graças a Deus por não podermos fazer nada, absolutamente nada, a não ser curvarmo-nos diante do Seu poder e majestade. Este é o princípio da autoridade divina sobre as suas criaturas.

    2)O erro do compatibilismo é associar responsabilidade com algum grau de liberdade humana. Ao meu ver, o compatibilismo apenas usa um termo menos "arminiano" e "autonomista" como livre-agência para definir um livre-arbítrio, digamos, menos efetivo. Ocorre que a responsabilidade não tem nada a ver com a liberdade, e não há um versículo na Bíblia que corrobore essa afirmação. Ao contrário, de Gênesis a Apocalipse, o que temos é a soberania de Deus e Sua autoridade prevalecendo sobre qualquer suposta liberdade humana. A Lei Moral (que muitos atribuem a partir de Moíses, mas que já vigorava parcialmente em Adão e Eva) estabeleceu que a infração implicaria na condenação e morte do transgressor.

    3)A presciência é um conceito sincretista, quase como se Deus fosse um vidente ou um mago apenas capaz de "ver" um futuro não planejado, fora do Seu controle, e, portanto, que sequer pode ser garantido.
    Se o livre-arbitrio existe de fato, nem mesmo Deus pode garantir ou assegurar que o futuro acontecerá como Ele previu, pois, na hora "H", o autonomista poderá mudar a sua vontade e desejar algo diferente daquilo planejado. Mas como o livre-arbítrio mantém o homem numa condição de não-escolha, provavelmente não haveria futuro.

    Dê uma lida no último texto que escrevi "A Incoerência do livre-arbítrio" que muitas dessas questões estão postas ali, e podem elucidar parte de suas dúvidas.

    No mais, agradeço sua visita, esperando tê-lo sempre no meu minifúndio virtual, e novos comentários.

    Abraços.

    Cristo o abençoe!

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  13. Olá, irmão
    Eu já havia lido o seu outro texto e é excelente! Realmente, livre-arbítrio eu nego que exista, mas a livre-agência me parece uma explicação mais racional quando sabemos que agimos conforme as causas externas ou conhecimentos adquiridos. Por exemplo, no caso de Jesus, alguns dos sacerdotes e líderes judeus da época o crucificaram, Deus estava no controle, pois a Escritura diz em Is 53:10 que “o Senhor agradou moê-lo”. Então, homens impulsionados pelos seus pensamentos pecaminosos agiram e crucificaram-No, obedecendo de forma inconsciente àquilo que Deus decretara. Portanto, homens agiram conforme seus pensamentos pecaminosos os influenciavam (livre-agência) e Deus permanecia soberano em Seu decreto. Como se houvesse um paralelismo entre as ações gerenciadas pela escravidão ao pecado ou à justiça e a posição soberana de Deus.
    De outra forma, se o próprio Deus incutisse neles todo o pensamento para que fizessem o que fizeram (determinismo), pareceria um jogo de peças, onde Deus arruma o “tabuleiro” e faz tudo acontecer. O ser - humano que é racional, não precisaria sê-lo, pois o que ele pensa, na verdade ele não pensa, é Deus que lhe incute o pensamento e o faz agir conforme este seu pensamento. Ao orarmos, não estaríamos orando voluntariamente, mas sim porque Deus assim quis que eu orasse. Qual seria o prazer para Deus em algo assim? Não seria melhor, promover em mim uma sede de oração na qual eu, baseado nesta sede, fosse conduzido a orar? E as palavras que falo na oração? Não sou eu quem falo e sim, Deus falando por mim? Então, seria Deus falando consigo mesmo.
    Acredito que há algo inexplicável onde somos escravos de nossos pensamentos e Deus estabelece pela Sua lógica um completo domínio soberano que faz de mim como Ser-humano utilizar os atributos de compreensão e raciocínio que Ele me deu, mas é Ele que dirige tanto os meios como os fins, pois conhece todas as possibilidades de causa vinda de um determinado efeito e melhor desde a eternidade já sabe qual a escolha (efeito) que faríamos em determinada situação que de fato irá acontecer, originando diversas causas já conhecidas por Ele, então consciente disto organizou tudo conforme Seus propósitos.
    Continua...

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  14. Não estou falando que a presciência de Deus fez com que Ele escolhesse os eleitos (isso não!), mas que após Sua escolha (dos eleitos) utilizou Sua presciência para organizar o “tabuleiro”, e deixar com que as peças ajam livremente conforme previamente raciocinado por Ele onde através da escravidão – uns pelo pecado e outros pela justiça – todo o Seu propósito fosse alcançado. Ou seja, não sabemos por que nascemos em determinado lugar, não escolhemos qual família queremos, mas Deus sim organizou tudo para que as nossas escolhas (livre-agência) ficassem logicamente traçadas para que Seus propósitos fossem cumpridos.
    Com relação a romanos 9, Paulo diz que Deus criou uns para honra e outros para desonra baseado no fato da Sua eleição anterior a criação, penso que pelos propósitos Dele elegeu alguns, e não que através desta eleição fosse controlar seus pensamentos sendo determinista, mas aqueles feitos para a ira, através de sua escravidão ao pecado, proporcionarão que os eleitos (escravos da justiça) conheçam as riquezas de Sua glória.
    Eu não questiono a eleição, pois da misericórdia, Ele dá a quem quiser. Eu só acho estranho quando somos extremamente deterministas, ao ponto de que nossos pensamentos sejam completamente controlados por Deus.
    Então, acredito que Deus não estabelece pensamentos, mas previamente sabe como iremos agir e através disso aplica este conhecimento (presciência) para o Seu propósito, como no caso de Faraó. Ou seja, Faraó agiria em prol dos seus impulsos pecaminosos e Deus conhecia todas as possibilidades de Sua atitudes (presciência) e utilizou-as conforme Lhe aprouve. Faraó agiu “livremente” conforme a escravidão pelo pecado e Deus foi soberano em tudo, pois assim O quis, senão teria tido misericórdia de Faraó.
    Agradeço ao irmão pela resposta às minhas perguntas. Obrigado pelo auxílio e desde já, se quiser comentar este meu raciocínio – que acho que é compatibilista – pode ficar à vontade, pois com certeza, aprenderei um pouco mais dialogando com você.
    Um abraço,
    Eric

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  15. Eric,
    não sou teólogo nem professor. Sou um leigo que ama a palavra de Deus como a Sua fiel revelação, e, portanto, a única fonte capaz de nos revelar a Sua natureza e caráter, bem como a Sua vontade e obra.
    Portanto, fique a vontade; se está aprendendo, também estou.

    Bem, suas questões são complexas, e creio não ser capaz de respondê-las. Contudo, devemos ter em mente que a perspectiva humana é diferente da divina. Deus é onisciente, nós não somos. Deus é imutável, nós não. E por aí afora, como disse na resposta anterior.

    Então vejo a questão assim:

    a)Deus é soberano, controla tudo e todos, inclusive, uma folha não cai sem que Ele queira; um cabelo não cai de nossas cabeças sem que Ele queira; um pardal não morre sem que Ele queira. Essa verdade bíblica quer nos dizer que nada, absolutamente nada, acontece ao acaso, por outra força ou alheio à Sua vontade. Então, Deus controla o átomo, o gene, e todas as células do nosso corpo. O que não exclui o que penso, e como penso.

    b)Do ponto de vista humano, tomamos decisões e fazemos escolhas através da razão e do intelecto (aqui incluídas as emoções). Elas são nossas decisões, nós as queremos, desejamos e efetivamente as realizamos. Por isso, julgamo-nos livres, e cremos que nossas escolhas são livres.

    c)Porém, como conciliar o poder controlador e autoritário de Deus (no sentido de exercer a Sua autoridade; não uma expressão pejorativa) com essa aparente liberdade?
    Ao meu ver, isso é impossível. Ou o homem é livre e Deus não é soberano, ou Deus é soberano e o homem não é livre.

    Há de se entender que quando falo de liberdade, falo de liberdade em relação a Deus, o fato do homem ser livre de Deus. Isso não existe. É uma utopia. Uma falácia.
    Porém, o fato de eu não ser livre não me exclui da responsabilidade pelos atos praticados, pois sou eu quem os pratica. Se peco contra Deus, sou eu quem peco, não Ele. A liberdade de nada me ajudará a sair dessa enrascada.

    O caso de Saul me parece algo emblemático. Deus lançou sobre ele um espírito mal que o atormentava, e o rei se rebelava, e se afastava dia após dia da obediência ao Senhor. Quem lançou o espírito de tormento sobre Saul? Deus. Quem desobedeceu sob a influência do espirito mal? Saul. Quem se rebelou contra Deus? Saul. A culpa de Saul está no fato dele como servo não se sujeitar às ordens do Seu Senhor. E quem assim procede, é réu e condenado. Isso não deu a Saul, nem pode dar a mim ou a qualquer um, o direito de dizer: Se faço a vontade de Deus no meu pecado, então sou inocente, pois Deus ordenou que eu pecasse, e não poderia acontecer nada além daquilo que Deus ordenou; logo, seria injusto Deus me condenar.

    É verdade, mas o mesmo Deus foi quem disse: a alma que pecar, morrerá. Nenhum teoria, por mais lógica que seja, poderá me livrar da responsabilidade, pois, o fato é que eu tenho a consciência do pecado, eu tenho a Lei que me ordena não pecar, terei a pena pela minha transgressão, portanto, ao pecar, inevitavelmente estarei sujeito às punições. E Deus não é injusto, nem sou inocente. Pelo contrário, Deus é justo e sou culpado.

    A questão é que o homem, mesmo o homem regenerado, tem uma falsa ilusão de autonomismo, e, mesmo a livre-agência não passa de um "mover" ao autonomismo, porque transfere o foco da autoridade de Deus para a liberdade do homem. Ou seja, o homem deixa de ser responsável porque Deus assim estabeleceu que seria por Sua autoridade e poder, em favor de uma responsabilidade movida pela pretensa liberdade. É por essas e outras que tantas passagens bíblicas são ignoradas ou têm o seu significa distorcido; é por essas e outras que as heresias pulululam nas igrejas; é por essas e outras, sempre pelo autonomismo humano, que Deus não é glorificado e o homem ergue um altar para si mesmo.
    Continua...

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  16. ...

    Da minha parte, como disse certa vez, se o Senhor me destinasse a perecer no fogo eterno do inferno, ainda assim eu aceitaria a Sua autoridade, e Ele continuaria sendo justo e santo, porque não há outro padrão de justiça e santidade além daquele estabelecido por Ele mesmo. Fora dEle somente há injustiça, pois, a nossa justiça será sempre trapos de imundícia, e apenas pelo sacrifício de Cristo na cruz e a ação do Espírito Santo é que somos feitos santos e justos.

    Como Paulo diz em Rm 8.29-30: "Porque os que dantes conheceu também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou a estes também chamou; e aos que chamou a estes também justificou; e aos que justificou a estes também glorificou".
    Não se lê nada sobre a liberdade humana, mas apenas o total e completo poder divino, a total e completa liberdade dEle agir conforme a Sua vontade; "porque nele vivemos, e nos movemos, e existimos" (At 17.28); e é Ele " o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade" (Fl 2.13).

    Então, para mim, pouco importa como a minha mente entende ou percebe a Sua atuação, o que importa é a consciência que tenho de que Deus é soberano, e somente Ele é independente, autônomo e livre para fazer comigo o que quiser. Tanto me absolver e justificar em Cristo, como julgar e me condenar por meus pecados.

    Isto é soberania; e é o que a Bíblia nos revela integralmente. Fora isso, temos elucabrações, devaneios e a possibilidade de acreditar em qualquer coisa, até mesmo no livre-arbítrio ou outro conceito de liberdade. Mas seremos responsáveis por viver com a dúvida: se sou livre, Deus é soberano?

    Obrigado por suas considerações. É assim que crescemos mais e mais no entendimento do que Deus quis e quer nos revelar.

    Grande abraço!

    Cristo o abençoe!

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  17. Olá, caríssimo!

    Bem, inicio por dizer que sou um dos que usa o termo "livre-agência". Porém, o termo parece ter para você um significado bem diferente do que uso e que entendo em outros que o usam.

    Quando você fala em "algum grau de liberdade" você parece ter em mente sempre algum tipo de autonomia, algum tipo de agir independente de Deus. Isto nunca está na mente de quem usa o termo "livre-agência" como eu uso.
    O que tenho em mente é simplesmente o agir voluntário. Ora, o fato de agirmos necessariamente de acordo com os desígnios divinos não faz deste agir menos voluntário. Em outras palavras, agimos de tal e tal maneira porque assim queremos agir. E queremos assim agir porque esta ou aquela é nossa natureza e é o plano infalível de Deus.
    Nada aqui revela o malabarismo a que você se refere. A livre-agência só será um problema lógico se for pensada como qualquer tipo de autonomia (o que nos afasta da livre-agência de volta ao livre-arbítrio). O que não é o caso!
    De todo modo, a questão é que liberdade é sempre um termo mal definido. O que é claro, no entanto, é que o termo é definido muitas vezes em um sentido humanista (nenhum deus, nenhum senhor), mesmo pelos cristãos (não reformados e, infelizmente, por alguns que assim se intitulam). Porém, biblicamente (e nosso axioma, portanto), é que não há liberdade que seja absoluta, que signifique autonomia ou qualquer indeterminismo. Nosso ponto de partida não é o homem, mas Deus, Absoluto e Soberano!

    Creio que ainda discutiremos isso em outro lugar, e creio também que você já leu meus artigos sobre soberania, liberdade e responsabilidade no 5 Calvinistas. Cabe aqui apenas dizer há um ponto ainda nebuloso em meu pensamento e este é o que se refere à responsabilidade ser ou não ligada a este agir voluntário. Entendo, como você, que a responsabilidade está mais diretamente ligada à natureza que à vontade (pois a vontade depende da natureza e esta só é modificada por Deus). Porém ainda vejo um certo papel da vontade (que nunca é livre ou autônoma, principalmente em relação a Deus) quanto à responsabilidade. Mas confesso precisar refletir melhor sobre isso.

    Confesso também estar mais próximo da filosofia que da teologia, embora meu pensamento seja mais teologicamente que filosoficamente orientado. Por isso alguns termos que você usa são de difícil apreensão para mim. Exemplo é "compatibilismo" e mesmo "mistério". Não me reconheci compatibilista, embora use o termo "livre-agência" e mesmo não indo pelo lado do mistério, ainda guardo por ele bastante respeito, pois mistérios há ao se falar da eternidade e do Insondável!

    É isso, meu caro, por enquanto! rs
    Gostei bastante do seu blog. E agradeço seus comentários sempre pertinentes no meu!

    Grande abraço, no Senhor,
    Roberto

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  18. Roberto,

    Você pode não usar o termo “livre-agência” pensando em algum tipo de autonomismo, mas de uma forma geral (inclusive na CFW), me parece que o significado aplicado é de alguma forma de “liberdade” independente de Deus; até porque sem essa liberdade o homem não seria responsável ao ver dos compatibilistas.

    Citei no artigo o ótimo livro do pr. Heber Campos, inclusive, reproduzindo um trecho, o qual me parece afirmar essa independência da vontade de Deus quando o homem está a pecar (novamente, para afirmar a responsabilidade humana).

    Substituir a liberdade por agir voluntário, do ponto de vista, prático, muda muito pouca coisa ou nada. Estará sempre implícita a idéia de independência. O fato é que mesmo a natureza humana, mesmo a vontade humana, estará sempre controlada e subordinada ao decreto eterno. E se tudo está em conformidade com ele, qual seria então essa pretensa liberdade que, como diz a CFW “de modo que nem Deus é o autor do pecado, nem violentada é a vontade da criatura, nem é tirada a liberdade ou contingência das causas secundárias, antes estabelecidas” (Seção III, 1)?

    Sinceramente estou disposto a rever os meus conceitos se alguém conseguir me explicar como as causas secundárias podem ser livres e a vontade da criatura não violentada se estão completamente controladas pelo decreto eterno. Se estão subordinadas, não há liberdade em nível algum. Da mesma forma, transferir a solução do problema para a natureza caída do homem não o equaciona, visto que essa natureza também cumpre o eterno decreto, portanto, fora de qualquer possibilidade de escolha humana. Nasci pecador e caído, isso é inevitável. Se sou redimido, também é inevitável. Nenhuma das condições dependeu da minha escolha ou liberdade; assim como na eternidade não pecaremos (os eleitos) pelo poder de Deus de eliminar qualquer possibilidade de pecado, e não pela minha escolha ou vontade.

    Como você frisou, essa discussão pode demandar anos, e espero que tanto você como o André Venâncio não se enfadem quando iniciarmos o debate :-) ...

    Em relação ao uso do termo “mistério” não tenho problemas com ele. A Bíblia afirma que há coisas que não nos compete saber nem conhecer, e que não nos foram reservadas, antes estão encobertas; porém, a questão "soberania divina x responsabilidade humana" me parecem claramente expostas nas Escrituras (claramente hoje, depois de muita oração, leitura e meditação sobre a questão).

    Reafirmo o comentário feito no blog da Norma Braga: entre a maioria dos calvinistas o que existe é o temor de suas posições levarem a afirmação de que Deus é o autor do mal e do pecado (como criador). O que a Bíblia exaustivamente declara sem nenhum problema; mas, como explicar que homens sigam o Deus que criou o mal e o pecado? Como expor o Evangelho que declara Deus como Todo-Poderoso mesmo para criá-los? Outro temor é o de que o homem seja reduzido a uma marionete, e aí o problema é o ego ferido. Não é possível que Deus tenha me criado apenas para satisfazer a Sua vontade. Porém, fica a pergunta: se não foi pela Sua vontade, por que nos criou?

    De qualquer forma, prefiro ser uma marionete a ter uma vontade que jamais me possibilitaria reconciliar com Deus. E reconheço nEle o Senhor, e me reconheço escravo, no que Ele pode fazer o que bem quiser comigo, mesmo e, sobretudo, contra a minha vontade ou natureza.

    Quanto ao seu blog, é sempre um prazer lê-lo (pelos motivos já expostos, mas que reafirmo: o respeito pelo que escreve, como escreve, e por defender a fé cristã bíblica sem concessões).

    Vamos aguardar Janeiro chegar :-) ...

    Agradeço mais uma vez sua visita e comentários, tem sido uma honra dialogar consigo.

    Cristo o abençoe imensamente!

    Forte abraço.

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  19. Olá, Jorge, caríssimo!

    O prazer é todo meu. Agradeço imensamente o elogio. E também aguardo janeiro para as discussões com o André. Creio que será edificante para nós três.

    Aqui eu gostaria de insistir em apenas um ponto: liberdade (definida em termos de autonomia) não é o mesmo que o agir voluntário. A questão é que não somos mesmo livres (nem de fatores determinantes os mais diversos, nem de nossa natureza e em nada disso livres de Deus). Porém ao agirmos, se não agimos livremente, agimos voluntariamente. Nós queremos fazer o que fazemos (ainda que às vezes tenhamos que fazer coisas que não queremos e outras vezes deixemos de fazer coisas que queremos, o princípio de que fazemos o que fazemos porque queremos fazer continua válido). Em outras palavras, ainda que Deus esteja a controlar soberanamente nossa vontade, é voluntariamente que fazemos aquilo que fazemos.
    Sinceramente, o fato de nos sentirmos livres é algo que me parece fazer parte do plano divino quanto à condenação. Tanto a luta por esta liberdade nos moldes não-cristãos quanto nos moldes arminianos me sugerem um "vejam, vocês não têm desculpas". É aqui que vejo algum papel da vontade sobre a responsabilidade. Sei que isto está vago, mas é o que consigo dizer agora e de forma rápida! rs

    Confesso também que a forma posta pela CFW sugere o que você diz. Porém também é possível entendê-la como eu entendo tudo isso. Mas isso é melhor mesmo deixar para janeiro.

    Ah, mudar a responsabilidade da vontade para a natureza não busca equacionar o problema quanto à liberdade, mas quanto à soberania. Isto é, a responsabilidade está de acordo com a vontade de Deus, para o que será salvo em sua natureza redimida e para o que será condenado em sua natureza caída!

    E quanto ao Deus criador do mal e o homem marionete, nisso estamos em acordo!

    Um grande abraço, meu querido irmão, no Cristo,
    Roberto

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  20. Jorge e Roberto,

    Já conversei muito com o Roberto sobre essa teoria do "agir voluntário" definido como livre agência. Recordo-me que logo no início da nossa discussão eu dizia que os argumentos não me convenciam logicamente. A meu ver, é como querer fechar uma equação que não fecha; algo como querer desvendar o mistério a qualquer preço.

    E digo o porquê: na medida em que há um determinismo sobre todas as nossas ações e pensamentos, ainda que considerando a providência e essa "livre agência" das causas secundárias (homens, anjos, coisas, etc), não se pode equacionar a responsabilidade humana mediante conceitos lógicos (humanos), seja ela vinculada às nossas ações imediatamente, ou à nossa natureza, de forma mediata.

    dizer que se responde essa equação logicamente, como faz o Roberto, não convence. Roberto, eis aí o mistério - e você terá de aceitá-lo ou desvendá-lo logicamente, de tal maneira que convença a si mesmo e aos outros. Ora, nós agimos "voluntariamente", como você diz, porque pesa sobre nós uma vontade muito mais poderosa que nos forçou a agir assim! E ainda assim teremos responsabilidade - eu aceito.

    Portanto, há responsabilidade, isso é claro. O que não há é qualquer liberdade, também isso é claro. E a nossa vontade também é ditada, na medida em que fomos determinados a tal agir! Equacionar isso, seja à luz da filosofia ou teologia é , para mim, superficial e inverossímil.

    Nesse exato ponto, digo mais uma vez, o Roberto jamais me convenceu. E eu cheguei a considerar que talvez fosse por eu não ter uma mente tão analítica, mas agora não penso assim.

    Enfim, há um determinado ponto, queiramos ou não, em que a nossa mente finita não chegará. E penso que esse é um deles.

    Grande abraço,

    Ricardo

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  21. Ricardo, meu caro.
    Discordo desde já num ponto: de que eu deva convencer outros. Meu propósito em refletir sobre o assunto nunca foi este. E nunca será.
    No mais, tenho refletido mais sobre o assunto e tenho avançado. Não reli o que disse aqui, mas não vejo onde não te convenci, pois você repete o que digo: não há liberdade, há responsabilidade e a vontade é nossa e determinada. Tudo o que tenho dito é que a responsabilidade não está posta sobre a liberdade. E que não há mistério que oponha Soberania com responsabilidade, mas apenas com a liberdade (que não existe). E que o mistério está na nossa vontade ser nossa e determinada.
    Há alguns aspectos a mais, certamente. Mas isso deixo para o RVJ! rsrsrs
    NEle,
    Roberto

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