30 junho 2008

MALABARISMOS












Por Jorge Fernandes

Atualmente, há uma preocupação excessiva em se ser pragmático, onde todos os meios justificam os fins, mesmo que não sejam éticos, honestos e morais. E eles têm de ocorrer imediatamente, senão todo o projeto iniciado vai por água abaixo, e é prontamente abandonado. A igreja tem refletido esse comportamento nas suas várias áreas de atuação, inclusive, no evangelismo. Portanto, tentarei responder à seguinte questão: Carece de malabarismos e subterfúgios a pregação para “ganhar” almas a Cristo?
Primeiramente, faz-se necessário alguns esclarecimentos. Nem eu, nem você, nem qualquer indivíduo é mais importante do que o Senhor, nem mesmo os perdidos. Então, o que faço, seja na pregação, no escrever, no cantar, no viver como testemunha da fé, tem de objetivar a glorificação de Deus; e o Evangelho a ser pregado, é o de Cristo nosso Senhor [não se esqueça do que Paulo afirmou, de que o importante é pregar a Cristo, e Cristo crucificado, escândalo para os judeus e loucura para os gregos/gentios/nós (1Co 2.2;1Co 1.23)].
Se as pessoas vão aceitá-lo ou não, se vão escandalizar-se ou não, taxar-me de burro, medieval, bárbaro ou qualquer outro adjetivo menos cortêz, isso é irrelevante. O mundo jamais entenderá a Cristo e ao Evangelho [a esmagadora maioria das pessoas, para ser bem redundante], e de que, contemporizar, ficar em cima do muro, condescender ou buscar o meio termo em nada os ajudará, e em nada nos ajudará [Dr. Lloyds-Jones diz que na Palavra de Deus não há cinza, apenas preto e branco], e o nome do Senhor será aviltado [“Porque, como está escrito, o nome de Deus é blasfemado entre os gentios por causa de vós” (Rm 2.24)].

Vê-se o exemplo de hoje: a igreja atual se assemelha com a igreja primitiva? Ou à época dos puritanos? O senhor Jesus afirmou que somos sal e luz no mundo [Mt 5.13-14], mas a igreja contemporânea, ao invés de influenciar o mundo, deixa-se cada vez mais influenciar por ele. As trevas entraram onde devia haver luz, e “quão grande serão tais trevas” [Mt 6.23].
Em 2Co 6.14 Paulo diz: Pode a luz coexistir com as trevas? E o mal com o bem? “Não vos prendais a um jugo desigual com os infiéis; porque, que sociedade tem a justiça com a injustiça?”. O crente é separado para Deus, e separado do mundo. A palavra santo quer dizer a mesma coisa: separado. Santo é aquele que foi escolhido desde a eternidade para ser filho de Deus[Jo 1.12], para ser sacerdócio santo [1Pe 2.5], e instrumento de justiça para a Sua glória [Rm 6.13]. Reportando-nos a Cristo, ele disse: “Quem não é comigo é contra mim; e quem comigo não ajunta, espalha” [Lc 11.23]. Pode alguém servir a dois senhores? “Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de odiar um e amar o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro” [Mt 6.24]. O homem será sempre servo. Ele jamais será senhor de nada. Então, a questão é: a qual dos senhores servirá? A Deus, ou a Satanás e o pecado?
O cuidado que se deve ter ao escrever, falar ou comentar qualquer assunto é o de buscar a verdade nas Escrituras. E se tenho dúvidas, preciso orar e estudar ainda mais o assunto, a fim de que o Senhor o elucide e o esclareça; para que eu não tropeçe na Palavra, e seja desobediente [1Pe 2.8]; “levados em roda por todo o vento de doutrina, pelo engano dos homens que com astúcia enganam fraudulosamente” [Ef 4.14]. E assim, não seja pedra de tropeço a ninguém [Lc 17.2], nem pregue sofismas e leve as pessoas ao erro, a manterem-se rebeldes a Deus e a Sua palavra; muito menos, a tentar impedi-las de se salvarem [como se fosse possível!].
Então, não posso me preocupar com o que os outros falam ou pensam em oposição ao Evangelho [contudo, devo tratá-los com e em amor], porque agindo assim, estarei negando o meu Senhor e a minha consciência; e chegará o momento em que, talvez, em favor da vontade alheia [ou da minha própria vontade em não me desagradar, comprometer, ou ser incompatibilizado de certas relações, situações e lugares], exclua completamente Deus da minha vida, ou então o acomode num cantinho do quarto de despejo, para as horas em que precisar, quando precisar [Daniel 1 a 6 revela-nos como é ser separado do mundo].
O mandamento supremo é: “amarás, pois, o Senhor teu Deus de todo o coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças” [Dt 6.5 - a alusão é a amar a Deus com todo o meu ser (física, racional, intelectual e em disposição total), e não apenas "senti-lo”].
É que preocupa-nos muito mais ser aceitos... Humanamente falando, estamos sempre inclinados a isso. A aceitação faz parte da nossa vida; e forma, na maioria das vezes, o nosso caráter, para o bem ou para o mal. E esquecendo-nos dos devaneios psicológicos, sigamos a Pedro, o qual disse diante do sinédrio: “Mais importa agradar a Deus do que aos homens” [At 5.29].
Pergunto-lhe: É possível alguém afastar-se de Deus? O Senhor soberano, perfeito e eterno pode ser rejeitado por um simples mortal? Pense racionalmente, apesar do que, melhor é pensar biblicamente: o homem ao nascer JÁ está separado de Deus. Ele não nasce em Cristo e depois morre para Cristo. Ele, ao ser concebido, já está morto para Deus [Rm 3.23;5.12], portanto, não se é possível afastar quem nunca esteve próximo. Por exemplo: se sou um esquimó, e nunca ouvi falar do pecado, da redenção em Cristo, do arrependimento, etc, não posso me separar de Deus, pois, na verdade, já estou separado Dele. Se um missionário ou evangelista não for até a mim e pregar o Evangelho, ou a Palavra não me for entregue pelo meio que aprouver ao Senhor, apenas me manterei afastado Dele, e ao morrer, nada poderá me unir mais a Ele.
A importância da pregação do Evangelho é esta: de levá-lo a todos que estão separados e mortos para Deus [o Evangelho verdadeiro de Cristo, que fala do pecado, da condenação, da morte eterna, do inferno; mas também fala do amor de Deus, da salvação, da redenção, do sacrifício do Senhor, da eterna glória que está por vir; e não o evangelho psicológico que me acomoda à pregação assistencialista de que Deus me ama de qualquer jeito, e de que sou um coitadinho!]; e aos vivos para que sejam ainda mais vivificados.
A Bíblia está repleta de exemplos de homens sinceros que, mesmo cheios de boa-fé, foram castigados por Deus, ao não cumprirem a Sua vontade. É o caso de Caim. Ele deu a Deus uma oferta, a qual Deus rejeitou, pois não era a oferta segundo o padrão de Deus, como Ele estabelecera; ao contrário do seu irmão Abel que “trouxe dos primogênitos das suas ovelhas, e da sua gordura; e atentou o Senhor para Abel e para a sua oferta, mas para Caim e para a sua oferta não atentou” [Gn 4.3-5].

Uzá, quando este conduzia a Arca da Aliança para a cidade de Davi, tentou impedi-la de cair, segurando-a, quando ela desequilibrou-se. E morreu na hora, porque Deus havia proibido qualquer um de tocá-la: “Então a ira do Senhor se acendeu contra Uzá, e Deus o feriu ali por esta imprudência; e morreu ali junto à arca de Deus” [2 Sm 6.7].
Moíses, ao irar-se contra o seu povo, feriu com a vara duas vezes a rocha fazendo jorrar água [Deus lhe disse para TOMAR a vara e FALAR à rocha], por isso, não pôde entrar na terra prometida, ainda que a tenha visto de longe [Nm 20.2-13]. Há muitos outros exemplos... Mas sejamos como João o Batista, o qual disse, quando alguns dos seus discípulos questionaram-no pelo fato de todos o abandonarem e irem seguir a Cristo: “É necessário que ele cresça e que eu diminua”[Jo 3.30]. E como Paulo: “Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim” [Gl 2.20].
O esquimó só se reconciliará com Deus, se Deus criar os meios e condições para que ele se reconcilie. Trocando em miúdos: eu não posso ir a Deus, se Deus não me chamar, e o Espírito Santo não me regenerar; não posso aceitar a Cristo se não for uma de suas ovelhas escolhidas [Jo 10.14]; não posso ir até Cristo se o Pai não me der a Ele! [Jo 6.37].
Então, não há nenhuma chance deu aproximar ou afastar alguém de Deus, ainda que eu faça muita força, ainda que eu me empenhe ao máximo, ainda que eu faça todos os malabarismos possíveis, e use todos os métodos disponíveis, mesmo que eu morra por um deles; se esta não for a vontade de Deus. Sou um instrumento, como um bisturi nas mãos do cirurgião, mas é o cirurgião quem opera através do bisturi; e a vontade é toda e completamente do cirurgião, e o bisturi é apenas objeto da vontade do cirurgião. É claro que estou colocando a coisa toda de uma forma hiperbólica, visto que o bisturi não tem vontade alguma, e no nosso caso temos uma vontade não livre como muitos pregam [pois o livre-arbítrio implica numa escolha sem qualquer influência, ausente de qualquer motivação, o que é uma fábula, pois todas as nossas decisões estão PRESAS a algo; portanto, não são neutras o suficiente para que decidamos livremente].

Para concluir, não é preciso “pantominas” para que as pessoas cheguem-se a Cristo, porque “não me escolhestes vós a mim, mas eu vos escolhi a vós, e vos nomeei, para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça” [Jo 15.16]. Ele, através da Sua igreja e da proclamação do Seu Evangelho, pela ação do Espírito Santo, é quem chamará, regenerará e justificará o pecador, o qual se encontra apartado de Deus, pois, “vós tendes por pai ao diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso pai”[Jo 8.44]. Mas os escolhidos eternamente, desde sempre, já são filhos de Deus.

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