26 maio 2008

IRMÃO X IRMÃO














Por Jorge Fernandes

Recentemente travei um “embate” com um irmão a respeito do constante julgamento que nós, crentes, fazemos uns dos outros. E nos demos mal, ambos. Não que não haja nada a se discutir; nem que se deva mascarar os erros doutrinários e contemporizar com os falsos ensinos e testemunhos de muitos “evangélicos”. Mas é que, enquanto travamos uma batalha entre denominações, a guerra vai sendo vencida pelas forças inimigas. O apóstolo Pedro nos adverte de que “já é tempo que comece o julgamento pela casa de Deus; e, se primeiro começa por nós, qual será o fim daqueles que são desobedientes ao evangelho de Deus?”.
Mas o que se vê são reformados acusando batistas de heréticos por não batizarem crianças, que, em contrapartida, acusam os reformados de heréticos por realizarem o pedobatismo. Calvinistas não toleram arminianos, que consideram os calvinistas “filhos das trevas”. Pré-milenistas repelem pós-milenistas, que, por sua vez, desejam exorcizá-los. Então, a denominação a qual pertenço é a melhor, tanto na doutrina, como na pregação, como no serviço a Deus. Ando com um “neon” preso à testa com os dizeres “batista”, ou “presbiteriano”, ou “metodista”, ou o de outra congregação. As igrejas acabam parecidas com clubes de futebol, com agremiações esportivas, onde torcer e distorcer é o que importa:
“No domingo, vamos à 21a igreja?”.
“Que isso, mano! Eles não tão com nada! Vamo lá na 58a ! Eles são da hora!”.
E assim é só organizar a charanga, as teenleader, o mestre-de-cerimônias, os comes-e-bebes, e se tem um grande evento. Uma festa de arromba. E Cristo nosso Senhor? Onde Ele entra?... Nesse clube, o Santo de Deus não tem lugar; apenas a idolatria.
A carne grita tão desesperamente em nós, que a despeito de uma suposta espiritualidade e zelo para com as coisas de Deus, desprezamos irmãos que igualmente foram levados a Cristo pelo Pai (Jo 17.24), e com os quais passaremos toda a eternidade. No fundo, há muitos cristãos que se consideram melhores do que outros. Há muitos de nós que não querem se misturar; que em sua soberba e vaidade se julgam os únicos salvos pelo nosso Senhor, e vislumbram em si méritos suficientes para que Deus os escolha, ainda que não assumam, ainda que digam que são salvos apenas pela graça do Senhor. Muitas vezes, em nossa arrogância, pecamos, odiando e desprezando homens, lançando-os no fogo do inferno (se possível fosse), investidos de uma autoridade que não possuímos, nem nos foi dada. Como Paulo disse aos coríntios: “Todavia, a mim mui pouco se me dá de ser julgado por vós, ou por algum juízo humano; nem eu tampouco a mim mesmo me julgo. Porque em nada me sinto culpado; mas nem por isso me considero justificado, pois quem me julga é o Senhor. Portanto, nada julgueis antes de tempo, até que o Senhor venha, o qual também trará à luz as coisas ocultas das trevas, e manifestará os desígnios dos corações; e então cada um receberá de Deus o louvor... Já estais fartos! já estais ricos! sem nós reinais! e quisera reinásseis para que também nós viéssemos a reinar convosco!” (1Co 4.3-5;8).
O Senhor Jesus, porém, nos diz: “Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem; para que sejais filhos do vosso Pai que está nos céus”(Mt 5.44); e se devo amar aos meus inimigos quanto mais aos irmãos na fé; e não cometer a ofensa de me sentar em um trono de santidade e dignidade para falar mal de quem quer que seja, e viver dessa forma dissoluta; “porque para mim, o viver é Cristo”(Fil. 1.21).
Enquanto discutimos qual de nós é o melhor, caindo no mesmo pecado que os discípulos do Senhor cairam, indignamo-nos mutuamente (Mt 20.20-24), copiando-os naquilo que havia de pior. Em contrapartida, negligenciamos a exortação que o nosso Senhor nos deu: “E, qualquer que entre vós quiser ser o primeiro, seja vosso servo”(Mt 20.27). Por que é sempre mais fácil imitarmos o erro dos filhos de Zebedeu do que imitarmos a Jesus Cristo, o qual veio servir e não ser servido? Ainda que as Escrituras nos alertem, ainda que o Espírito Santo nos oriente, sempre tendemos a assumir o orgulho e a soberba diante de Deus e dos homens. Alguém se candidata a servo? A serviçal do seu irmão? “Todo aquele que quiser entre vós fazer-se grande seja vosso serviçal”(Mt 20.26). Pouquíssimos de nós anseiam esse posto, antes queremos manter a dignidade, a pompa de distinção, amando “os primeiros lugares nas ceias e as primeiras cadeiras nas sinagogas”(Mt 23.6). O holofote não é para o crente. Nem honrarias. Nem aplausos. Nem tapetes vermelhos. Aqui neste mundo, o qual nos odeia como odiou ao nosso Senhor (Jo 15.18), não buscamos nem esperamos honras, “porque a vós vos foi concedido, em relação a Cristo, não somente crer nele, como também padecer por ele”(Fp 1.29). Mas muitos se enganam com os tapinhas nas costas, com os títulos beneméritos, com as placas, medalhas, comendas e distinções insignes, e, sendo ilustres, estão no topo do Reino de Deus, assegurando-lhes o direito de tripudiarem sobre os ossos e carnes humanas, escarnecendo, ridicularizando e detratando-os, sem que aja qualquer amor, pois não há arrependimento. É como no boxe, onde os lutadores desejam, cada um a “desgraça” do outro, subjugando-o, impondo-se. Pelo menos, ao fim da luta, se cumprimentam... se um deles não for à UTI ou ao necrotério.
Não era para ser assim...
A Bíblia nos exorta a sermos santos, como é santo o nosso Pai que está nos céus (1Pe 1.15-16); a amarmos cordialmente uns aos outros com amor fraternal (Rm 12.10); a amarmos ardentemente uns aos outros com o coração puro(1Pe 1.22); unidos em um mesmo pensamento e em um mesmo parecer (1Co 1.10); e admoestando-nos uns aos outros, certos de que estamos cheios de bondade e de conhecimento (Rm 15.14); mas nós mesmos fazemos a injustiça e o dano, e isto a irmãos (1Co 6.8).
Se ainda estivéssemos na Idade Média, certamente muitos de nós condenariam à fogueira outros irmãos. Apenas porque ele não é batista, ou presbiteriano, ou metodista, ou assembléiano. Fica a parecer que não foi Cristo quem morreu por mim, que não foi Ele quem me redimiu e salvou-me da condenação, à qual eu merecia completa e justamente. Parece que foi uma denominação que padeceu na cruz por meus pecados.
Não será a hora de se parar com esta guerra estúpida de egos, de partidarismo religioso, e nos propormos a saber senão a Cristo, e este crucificado? (1Co 2.2). Foi o Senhor Jesus quem tomou o meu lugar, levando sobre Si a minha iniquidade, morrendo, ressuscitando, me salvou. A Ele prestarei contas, inclusive, do tempo mal gasto aqui, perdido em nulidades, vaidades, que em nada glorificam o santo nome de Deus.
Não proponho um neo-ecumenismo ou coisa parecida; nem é isso o que faço aqui. Muito menos que nos unamos debaixo de uma “bandeira”, de uma proposta ou meta, a fim de exercitar o pragmatismo. Nem mesmo a idéia de convenções, concílios, me agrada. Mas se cada um se preocupar em proclamar o Evangelho, em defender a fé, em honrar e glorificar o nome do Senhor ao invés de disputas inócuas de poder e do ser [“tende sal em vós mesmos, e paz uns com os outros”(Mc 9.50)]; o mundo não será insípido mas temperado, para a glória de Deus.
Enquanto isso, o movimento GLBT se une aos SEM-TERRA, que associa-se aos PRÓ-ABORTO, e aos PEDÓFILOS, à DASPU, aos MATERIALISTAS, à PESQUISA COM EMBRIÕES, aos IMORAIS, aos CORRUPTOS, aos ESQUERDISTAS, à MAFIA, aos LEGALISTAS, à PORNOGRAFIA, aos POLITICAMENTE CORRETOS, aos LIBERAIS, aos HIPÓCRITAS, às FEMINISTAS, aos MACHISTAS, aos LADRÕES, aos ASSASSINOS, aos TRAFICANTES, a PAIS que não educam SEUS FILHOS, a FILHOS que não respeitam SEUS PAIS...
O que esperamos? Que eles desistam? Que se unam a nós, e lutemos juntamente pelos princípios cristãos? Ou aguardamos o melhor momento para unir-nos a eles, e assim, desobedecer ao nosso bom Deus? Ou desistimos nós?
Assim evidencia-se o mal, o qual age livremente, enquanto viro a cara e torço o beiço ao irmão de Bíblia em punho.
Somente quando se vislumbra a cruz e a mensagem de Cristo, crendo que também é necessário que se morra para si mesmo, vive-se para Deus; e não se é mais instrumento de injustiça, mas justo como o nosso Senhor; e se é capaz de amar como Ele ama.

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