Por Jorge Fernandes
É um tema morto entre nós cristãos hoje. Quase ninguém fala de avivamento, ou, quando o fazem, referem-se a um suposto “avivamento”, o qual não é nada mais nada menos do que uma espécie de coceira nos pés, nas mãos e nos quadris dos freqüentadores de igrejas "calientes". Toca-se a rumba, rock, samba ou forró, gritam-se aleluias num frenesi à moda dos doidivanos, em altíssimos decibéis, e pronto! O que poderia chamar-se tranquilamente de “baderna”, adquire a corruptela de “louvor”; e muitos o confundem com avivamento.
Dizem que o Brasil está em meio a um avivamento; que há uma “onda brazilis”; que a igreja nunca cresceu tanto em um país como aqui e agora, onde o número de evangélicos ultrapassou os 30 milhões; as igrejas e seus grandes templos estão cheios, onde o "povo de Deus" aplaude, pula, grita, rosna, late, rola pelo chão, e está afeito a tantas outras esquisitices ditas do "Espírito", que somente alguém cegado por satanás seria incapaz de reconhecer esse grande evento. Não é assim... “O meu povo foi destruído, porque lhe faltou o conhecimento” [Os 4.6]. O quê, e em quê, a igreja cristã tem influenciado o país? Qual o testemunho que esse "avivamento" tem levado para os descrentes? Tem havido arrependimento, temos nos desviado do pecado, e honrado o nome do Senhor? Há uma busca pelo servir a Deus e ao próximo, ou pela satisfação egoísta e pessoal dos prazeres mundanos? Pois, “os cuidados deste mundo, e os enganos das riquezas e as ambições de outras coisas, entrando, sufocam a palavra, e fica infrutífera" [Mc 4.19].
Essa é, mais ou menos, a contribuição de Charles Finney. Ao construir o pragmatismo na igreja [a igreja de resultados a “ la Ricky Warren”], ele criou todo um sistema de apelo humanista, e de rejeição aos princípios bíblicos; onde, para que algo seja verdadeiro, tem de dar certo, tem de funcionar [no sentido mais primitivo que o homem conceber]. Por isso, a pregação tem de ser emotiva, a música sentimentalóide, as luzes hipnóticas, banners com frases estimulantes... um ritmo quase como os dos comícios políticos, ou seja, tudo a fim de agradar e satisfazer a carne, permeado por técnicas de psicologia e auto-indução. Então, o que se vê hoje são crentes “nominais” invandido templos à procura de distração para as suas consciências; e comoção, êxtase para os sentidos; uma cartaxe onde extravasar as emoções, desopilar, é o mesmo que fãs fazem em shows musicais, "raves", em orgias, ou em grupos de auto-ajuda; cujo objetivo é trazer um bem estar momentâneo, um alívio imediato, ao invés de arrependimento, perdão, reconciliação com Deus, e o novo nascimento em Cristo.
Onde houve avivamento, a sociedade foi mudada, sobretudo, porque os crentes refletiam uma vida cristã, nas quais as pessoas olhavam-nos e via revelado neles o caráter de Cristo; “para que possais andar dignamente diante do Senhor, agradando-lhe em tudo, frutificando em toda a boa obra, e crescendo no conhecimento de Deus” [Cl 1.10]. Havia o desejo de servir a Deus, de reverenciá-lO com suas próprias vidas, não apenas com palavras, porque um homem somente poderá refletir a Cristo exteriormente se o seu brilho vier do coração. Mas a maioria, como o Senhor disse, “se aproxima de mim, e com a sua boca, e com os seus lábios me honra, mas o seu coração se afasta para longe de mim e o seu temor para comigo consiste só em mandamentos de homens, em que foi instruído” [Is 29.13]. Hoje, quase não se dá para distinguir um crente de um não-crente, a não ser aos domingos, quando estamos com nossas Bíblias, empunhando-as como a um adorno, e assim, desonrando ainda mais o evangelho, pois “o nome de Deus é blasfemado entre os gentios por causa de vós” [Rm . 2.24].
Infelizmente, não creio num avivamento no Brasil. Estamos anos-luz do viver e testemunhar os princípios bíblicos [a sociedade manifesta, irrefutavelmente, o desprezo para com Deus, e agoniza, sofre e faz sofrer] preocupados em demasia conosco para que isso aconteça. Creio, porém, no avivamento de uma igreja, de um grupo de igrejas, num local específico, onde aqueles que buscam verdadeiramente a face do Senhor serão cheios do Espírito Santo, abundando no amor, graça e misericórdia de Cristo, servindo-O. A história mostra que os avivamentos são isolados, e ocorrem em determinadas regiões ou grupos, como os puritanos na Inglaterra do Sec. XVII, ou os EUA, de Jonathan Edwards, no Sec. XVIII.
Contudo, devemos orar para que Deus, na sua misericórdia, avive a nossa igreja [primeiro, a nós e à nossa congregação], e, sobretudo, que tenhamos uma vida cristã, obediente aos princípios bíblicos, em amor para com todos [crentes ou não], em oração constante, para que a misericórdia e a graça do Senhor se manifestem em nós, como Ele disse: “Não te hei dito que, se creres, verás a glória de Deus?” [Jo 11.40]; e, Paulo: “portanto, quer... façais outra qualquer coisa, fazei tudo para glória de Deus” [1Co 10.31].