04 julho 2009

NASCER OU MORRER















Por Jorge Fernandes


Há um trecho que sempre me chamou a atenção na pregação de João o Batista, quando as multidões vinham ouvi-lo as margens do Jordão, desde Jerusalém e toda a Judéia, para serem batizados (Mt 3.5-6). Em dado momento, ele avista os fariseus e saduceus, e profere: “Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira futura? Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento” (Mt 3.7-8). É uma exortação que serve para qualquer um de nós, judeus ou não; é uma pregação dura, mas que também serve a qualquer pecador, revelando-lhe a necessidade de apartar-se do mal e fazer o bem (Sl 37.27). Contudo, em vista de quem a advertência foi dirigida, revelava a intenção dos corações e de seus verdadeiros intentos: “E não presumais, de vós mesmos, dizendo: Temos por pai a Abraão; porque eu vos digo que, mesmo destas pedras, Deus pode suscitar filhos a Abraão” (Mt 3.9). Puxa, esse foi um direto, um verdadeiro “knockdown” que colocaria o tolo mais persistente a beijar a lona. Porque João lançou por terra qualquer expectativa dos fariseus e saduceus de serem herdeiros étnicos do céu. E mais do que isso, implicava em duas outras coisas:

  1. Nem todos são filhos de Deus. Nenhuma filiação religiosa ou étnica pode garantir a filiação divina. Como Paulo disse: “Porque não é judeu o que o é exteriormente, nem é circuncisão a que o é exteriormente na carne. Mas é judeu o que o é no interior, e circuncisão a que é do coração, no espírito, não na letra; cujo louvor não provém dos homens, mas de Deus” (Rm 2.28-29).
  2. Deus pode fazer o que quiser segundo a Sua vontade, sem precisar do consentimento humano, até mesmo tornar pedras em filhos de Abraão se assim desejasse. Pois, se não fosse pelo Seu poder transformador, quem creria? E quem se converteria?

O que isso quer dizer? Que esses judeus não consideravam a hipótese de arrependimento, em suas mentes corrompidas tinham a certeza de garantia do reino de Deus pela raça. Como mentes irregeneradas, perverteram a aliança e as promessas de Deus, ao seu bel prazer, assim como a lei. João o Batista mostra-lhes a necessidade de regeneração, do novo nascimento, a fim de se tornarem em verdadeiros filhos de Deus. Como o Senhor disse a Nicodemus: “Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus... O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito. Não te maravilhes de te ter dito: Necessário vos é nascer de novo” (Jo 3.3;6-7). Ao que Paulo ecoou o ensino de Cristo: “Porquanto a inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem, em verdade, o pode ser. Portanto, os que estão na carne não podem agradar a Deus” (Rm 8.7-8).

Da mesma forma que os judeus acreditavam que o povo de Israel não precisava de um novo nascimento, percebe-se, hoje em dia, o mesmo sentimento errôneo de que através de dogmas e filosofias humanas (não se esqueça de que tanto o farisaísmo como o sadoquismo eram filosofias dentro do judaísmo), cristãos se consideram inseridos no reino de Deus, não pelo sacrifício de Cristo na cruz, mas pela tradição de que são herdeiros pelo nascimento, pelos rituais ou pela proteção eclesiástica. Pensemos sinceramente, qual a garantia a Bíblia dá de que, nascendo em um lar cristão, cumprindo os sacramentos cristãos, ou estando em uma igreja, a salvação está assegurada?

Em outra passagem, Cristo confrontou os judeus a conhecerem a verdade, pois a verdade os libertaria (Jo 8.32). Porém, eles se revoltaram contra o Senhor, em suas obscuridades espirituais criam que o fato de serem descendência de Abraão era a garantia de liberdade. Respondeu-lhes Jesus: "Em verdade, em verdade vos digo que todo aquele que comete pecado é servo do pecado" (Jo 8.34). Eles insistiram: "Nosso pai é Abraão. Jesus disse-lhes: Se fôsseis filhos de Abraão, farieis as obras de Abraão... Se Deus fosse o vosso Pai, certamente me amaríeis, pois que eu saí, e vim de Deus; não vim de mim mesmo, mas ele me enviou... Vós tendes por pai ao diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso pai" (Jo 8.39;42;44).

Cristo mostrou-lhes como estavam enganados, e viviam uma crença completamente oposta àquilo que Deus havia estabelecido para os seus servos. Ali, Ele deixou claro que a genealogia, a etnia e, porque não, a fé equivocada, em nada assegurava-lhes a salvação. Os judeus invocavam uma justificação por obras, através de si mesmos, dos antepassados, da condição transmitida pela carne. Ao passo que Cristo revelou-lhes a completa loucura de suas mentes, as quais eram incapazes de compreendê-lO: "Por que não entendeis a minha linguagem? Por não poderdes ouvir a minha palavra... porque vos digo a verdade, não me credes" (Jo 8.43;45).

À mente natural, inconversa, não resta mais nada a não ser a morte. Não há vida, nem salvação. Para se ver o reino de Deus é necessário nascer do Espírito: "a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que crêem no seu nome; Os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus" (Jo 1.12-13). Por que, então, alguns ainda negam o novo nascimento? Como se a salvação pudesse ser transmitida de pai para filho, através dos sacramentos, ou pela linhagem de um povo?

Os judeus acreditavam que apenas os estrangeiros e os que pertenciam a outras religiões careciam da conversão. Sairiam de onde estavam (a cultura, etnia ou crença) e seriam transplantados ao judaísmo. Da mesma forma, muitos hoje acreditam que a troca de endereços ou a permanência neles (saindo de uma igreja ou ficando) garantir-lhes-á a segurança do céu. Sem regeneração? Impossível! Nem se adequando ao formalismo religioso, ao cumprir certos rudimentos ritualísticos; mesmo tendo-se convicção intelectual, uma aceitação pela perspectiva meramente religiosa. Porque a vivificação é obra exclusiva do Senhor, a demonstração do Seu poder em resgatar o pecador da morte e da condenação: Porque Deus, "estando nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo (pela graça sois salvos), e nos ressuscitou juntamente com ele e nos fez assentar nos lugares celestiais, em Cristo Jesus" (Ef 2.5-6). Esse é o poder que transforma o pecador em santo, o condenado em salvo, a criatura das trevas em filho de Deus; o qual opera independente da vontade humana, do homem querê-lo ou não, de buscá-lo ou não, pois essa prerrogativa é divina, algo que somente o Criador pode realizar, pois "a carne e o sangue não podem herdar o reino de Deus, nem a corrupção herdar a incorrupção" (1Co 15.50).

É preciso nascer de novo, ou morre-se para sempre.


13 comentários:

  1. Olá.
    Tenho lido seus últimos textos e gostado. Gostaria de fazer uma pergunta. Se entende bem, existe um perfil de igreja, pode me responder qual é ele? E se não existe salvação na igreja, então, qual é a função dela?
    Sílvio P. Martins

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  2. Você cita os sacramentos como um meio errado de salvação. Pelo que consta, o sacramento não é para a salvação, mas somente os que participam dele é que serão salvos. Não sou reformado mas é isso que entendo. Seria essa também a sua visão? de que quem crê no sacramento para salvação está enganado? Ou você quer dizer outra coisa quando cita os sacramentos?
    Marcio Batista

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  3. Dentro da minha outra pergunta, como você vê a regeneração batismal?
    Marcio Batista

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  4. Meu amigo, Jorge

    Na minha modesta opinião, uma parcela considerável do movimento evangélico hodierno embora faça coro a sua assertiva, no aspecto prático o nega. Dizem que devemos "aceitar a Jesus" e romper comm os laços da religiosidade, mas quando se tornam participes (membros, cooperadores) parece que os ritos e regras únicas e legítimas tornam-se um substituto da pureza do evangelho que os galatas insensatos estavam abandonando nos dias de Paulo. Hoje, apenas mudou-se a roupagem, mas a essência é a mesma. Não preciso citar fatos, esta tão escancarado que dispensa tal atitude.
    Leonardo

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  5. Caro amigo Jorge

    Olha eu aqui novamente me metendo no seu blog... risos...

    Minhas tentativas de resposta para as perguntas que teus leitores fazem.

    1. Existe um perfil de igreja?
    Resposta: Para a igreja invisível o perfil é a própria semelhança de Cristo. Depois do novo nascimento o ES santo opera em nós para que cresçamos e vamos nos tornando parecidos com Jesus, gradativamente. Para a igreja visível (denominações) o padrão bíblico é o melhor perfil a ser seguido. Ou seja, qualquer expressão cultural que surja é possível e viável (apesar dos meus preconceitos) desde que não contrarie a escritura.

    2. Se não existe salvação na igreja, então qual é a função dela?
    Resposta: A salvação está em Cristo através do trabalho da igreja. Deus opera em nós sobrenaturalmente e naturalmente para que cumpramos o nosso papel: Evangelizar os povos e ensinar as nações sobre a fé e sobre o Reino.

    3. O sacramento é meio para a salvação?
    Resposta: Não. Os sacramentos são meios para que Deus possa abençoar a igreja e lhes manter sempre viva a fé e a esperança. Ensinar é envolver o maior número de sentidos no aprendizado. Então a ceia é um exemplo disto: VEMOS os elementos, CHEIRAMOS o pão e o cálice, DEGUSTAMOS os elementos, OUVIMOS o significado dos elementos pelo ministrante, TOCAMOS os elementos para nos alimentar e comemos.... todos os sentidos envolvidos. Aprendizado perfeito... pode passar anos e nunca esqueceremos.

    4. Somente os que participam dos sacramentos serão salvos?
    Resposta: Não. O ladrão da cruz não participou dos sacramentos e foi salvo. Em circunstâncias especiais os sacramentos não são possíveis de serem ministrados mas isto não implica que o elemento não seja salvo.

    5. Quem crê no sacramento para salvação está enganado?
    Resposta: Sim. É um dos tópicos da reflexão do Jorge (a meu ver).

    6. E a regeneração batismal?
    Resposta: Se estiver falando de regeneração pelo batismo em águas então a resposta é não existe regeneração pelo batismo em águas, isto é uma doutrina católica romana, que visa fortalecer a denominação institucional. Não é bíblica esta fala. Se estiver falando da regeneração pelo batismo com o Espírito Santo, o batismo com o Espírito Santo, que se dá no novo nascimento quando Deus asperge sobre nós o seu Espírito Santo nos vivificando, este batismo é o próprio novo nascimento cujo batismo em águas procura significar ou nos fazer lembrar.

    Jorge... risos...

    Estas são as minhas possíveis respostas.

    Um grande abraço

    Natn

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  6. Silvio e Márcio,
    Suas respostas foram respondidas apropriada e biblicamente pelo Natan. Não tenho mais o que dizer. Para variar, ele me deixa sem falas (rsrsrs).
    Um detalhe: o cristão será cada dia mais semelhante a Cristo ao observar e obedecer os preceitos divinos contidos na Escritura. Uma coisa está diretamente ligada à outra. Sem a leitura bíblica e aplicação da vontade de Deus em nossa vida (obediência aos seus mandamentos) não se é santificado, e distancia-se cada vez mais da imagem de Deus que está em Cristo.
    Obrigado pelos seus comentários.
    Cristo os abençoe!

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  7. Leonardo,
    Anda sumido...
    Concordo consigo. À época dos Gálatas, eles sofreram influências dos judaizantes, os quais queriam "tirar" a liberdade que o crente tem em Cristo. Mas veja bem, essa liberdade é somente a liberdade de ser como Cristo, obedecê-lo e cumprir a missão que Ele nos destinou.
    Infelizmente, hoje há tantos judaizantes como antinomianistas, que crêem não ser preciso cumprir a vontade de Deus, pressupondo que o Evangelho prega a mensagem da liberdade de pecar. Usam o argumetno espúrio de que, quanto mais se peca, mais Cristo é glorificado. Se isso não é blasfêmia, não sei o que venha a ser. E há outros ainda que vivem para "modernizar" a igreja, aculturando-a, fazendo-a parecer cada dia mais com o secularismo.
    A necessidade é de que, cada um de nós, voltemos ao Evangelho, preocupemos com as coisas de Cristo, e esqueçamo-nos um pouco de nós mesmos. Afinal, será que podemos dizer como Paulo: Já não sou eu quem vivo, mas Cristo vive em mim?
    Forte abraço. E não suma.

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  8. Natan,
    É bom saber que o irmão tem liberdade em meu minifúndio virtual para, inclusive, responder aos leitores. E fico tranquilo porque conheço-o suficiente para confiar em suas respostas; pois, provavelmente, em alguns casos, eu não as terei e será bom que alguém (como o irmão) que ama a Deus e a Escritura, tenha-as e faça-o.
    Obrigado por sua interação sempre bíblica, buscando glorificar a Deus.
    Forte abraço.

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  9. Caro amigo Jorge

    Agora vou dar as referências bíblicas em que eu baseio as minhas ponderações comentadas acima.

    1. Sobre o ES operar em nós a semelhança de Cristo...

    Filipenses 2.13 "... porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade."

    Efésios 4.13 "... até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo."

    2. Sobre o ensino bíblico dos apóstolos ser o melhor padrão a ser seguido pela igreja visível (denominações)...

    Atos dos Apóstolos 2.42 "E perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações."

    continua...

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  10. continuação...

    3. Sobre só existir salvação em Cristo e sobre a função da igreja...

    Atos dos Apóstolos 4.12 "E não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos."

    Mateus 28.19-20 "Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; Ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século."

    continua...

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  11. continuação...

    4. Sobre a salvação ser pela graça somente (logo não é por causa da ordenança de lei ou mesmo dos sacramentos)...

    Gálatas 2.16 "... sabendo, contudo, que o homem não é justificado por obras da lei, e sim mediante a fé em Cristo Jesus, também temos crido em Cristo Jesus, para que fôssemos justificados pela fé em Cristo e não por obras da lei, pois, por obras da lei, ninguém será justificado."

    5. Sobre os sacramentos serem instrumentos de benção...

    1 Coríntios 11.26 "Porque todas as vezes que comerdes este pão e beberdes este cálice anunciais a morte do senhor, até que venha."

    Anunciamos uns aos outros (lembramos disto e nos confortamos mutualmente) sobre a morte vitoriosa e consequente vinda do Senhor.

    continua...

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  12. continuação...

    Perdi a conta da numeração dos itens...

    - Sobre crer num sacramento para salvação é estar enganado, uma vez que não depende do fazer (os sacramentos ou qualquer outra obra)...

    Romanos 9.11 "Porque, não tendo eles ainda nascido, nem tenho feito bem ou mal (para que o propósito de Deus, segundo a eleição, ficasse firme, não por causa das obras, mas por aquele que chama).

    - Sobre o batismo em águas não ser condição para a salvação...

    Lucas 23.42 "... Senhor, lembra-te de mim (um dos malfeitores crucificados junto com Jesus), quando entrares no teu reino. E disse-lhe Jesus: Em verdade te digo que hoje estarás comigo no Paraíso."

    Logo não deu tempo de batizar o sujeito...

    - Sobre o batismo com o ES na vivificação, quando do novo nascimento, ou melhor, quando passamos a fazer parte do Corpo de Cristo, e não quando o sujeito fala em línguas que não aprendeu pela primeira vez...

    "Então aspergirei água pura sobre vós, e ficareis purificados; de todas as vossas imundícias e de todos os vossos ídolos vos purificarei. E dar-vos-ei um coração novo, e porei dentro de vós um espírito novo; e tirarei da vossa carne o coração de pedra, e vos darei um coração de carne. E porei dentro de vós o meu espírito, e farei que andeis nos meus estatutos, e guardeis os meus juízos, e os observeis." Ezequiel 36.25-27

    “Pois todos nós fomos batizados em um Espírito, formando um corpo, quer judeus, quer gregos, quer servos, quer livres, e todos temos bebido de um Espírito” 1 Coríntios 12.13

    continua...

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  13. continuação...

    - Sobre ficar se metendo no blog dos outros... risos...

    "Não cobiçarás a mulher do teu próximo; e não desejarás a casa do teu próximo, nem o seu campo, nem o seu servo, nem a sua serva, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem coisa alguma do teu próximo." Deuteronômio 5.21

    Em "coisa algua do teu próximo" está incluído o "blog do teu próximo"...

    "E procureis viver quietos, e tratar dos vossos próprios negócios, e trabalhar com vossas próprias mãos, como já vô-lo temos mandado." 1 Tessalonicenses 4.11

    Ou seja, risos... cada um cuidando do próprio negócio, e eu acrescendo cada um cuidando do seu próprio blog...

    Um grande abraço

    Prometo que nesta reflexão, não falo mais nadinha... e desculpe a brincadeira (não se escandalize).

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