Por Jorge Fernandes
A lógica está intimamente ligada à razão. Portanto, a lógica é racional, e a razão é lógica. Uma não sobrevive sem a outra. Tanto a lógica como a razão fazem parte das habilidades que Deus proveu o homem, então, é uma ferramenta ou faculdade que devemos usar para distinguir o certo do errado. Sem entrar no campo filosófico (até porque não sou versado em filosofia, e me perderia em meio a conceitos e proposições), para que algo seja lógico é necessário que esse raciocínio seja válido, o que nos leva à conclusão de que raciocínios inválidos não são lógicos. Outro ponto é que a lógica pressupõe coerência, uma linha contínua de raciocínio. Mas o que é um raciocínio válido? Pode ser qualquer coisa, dependendo da pessoa ou da cultura em que ela vive; porque, mesmo algo irracional pode revestir-se de uma aparente lógica para existir.
E para o crente? O que é lógico? Certamente não deveriam ser princípios não-bíblicos. Nem princípios que se oponham ao Evangelho de Cristo. Jamais deveriam ser princípios anticristãos ou imorais. O sábio rei Salomão asseverou: “Eu apliquei o meu coração para saber, e inquirir, e buscar a sabedoria e a razão das coisas, e para conhecer que a impiedade é insensatez e que a estultícia é loucura” (Ecl 7.25).
A imoralidade, a perversão e o pecado não têm lógica, nem o porquê de serem defendidos. Se reivindicam uma razão, ela é tão corrompida quanto o homem que a costurou. E não lhe resta mais nada, somente a condenação, pois a desobediência a Deus merece punição... Não foi o que disse Jesus? “E a condenação é esta: Que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque as suas obras eram más. Porque todo aquele que faz o mal odeia a luz, e não vem para a luz, para que as suas obras não sejam reprovadas" (Jo 3.19). Não é lógico?
Então, para o crente, a verdade representa todo o conjunto de revelações e ensinos contidos nas Escrituras Sagradas, os quais são infalíveis, inerrantes e morais, o que faz da Bíblia um livro lógico. E, como o seu autor, Deus é igualmente lógico (ainda que em nossa finitude não compreendamos a infinita razão divina). Por isso, Pedro disse: “Desejai afetuosamente, como meninos novamente nascidos, o leite racional, não falsificado, para que por ele vades crescendo” (1Pe 2.2). O que é falsificado, que vai contra o Evangelho, deve ser rejeitado, mesmo que do ponto de vista humano aparente-se lógico.
Há de se ressaltar que o homem caído, cuja natureza acha-se corrompida, é incapaz do bem, de apreendê-lo, de compreendê-lo e praticá-lo completamente. Então, diante da infalível, santa e pura revelação divina, não devemos rejeitá-la, mas aceitá-la como a mais absoluta verdade, inexorável. O que vale dizer que a nossa lógica nem sempre será lógica se fiarmos exclusivamente no conhecimento humano, e muitas vezes, o que aparenta ser racional e válido, biblicamente é irracional e inválido, opõe-se à verdade, sendo mais falso que nota de três reais.
Em contrapartida, se fixarmos a atenção nos princípios de Cristo revelados no Evangelho, seremos sempre lógicos e racionais e, por conseguinte, verdadeiros. Como Ele disse: “Porventura não errais vós em razão de não saberdes as Escrituras nem o poder de Deus?” (Mc 12.24). Paulo ecoou a mesma sentença: “Porque, se alguém for pregar-vos outro Jesus que nós não temos pregado, ou se recebeis outro espírito que não recebestes, ou outro evangelho que não abraçastes, com razão o sofreríeis” (2Co 11.4).
Não há dúvida de que o Evangelho é lógico e suficiente para redargüir, repreender, exortar, para que os nossos ouvidos não se desviem da verdade, e voltemos às fábulas (2Tm 4.2-4); mas para batalharmos “pela fé que uma vez foi dada aos santos” (Jd 3).
Porém, com o argumento de pautar cada pensamento e ensino dentro de métodos lógicos (contudo, humanos), muitos esquecem-se de que a obediência a Cristo e a Sua Palavra é a revelação lógica de Deus. Não observar e praticar o Evangelho é ser incoerente, é estar à margem da razão.
Como homens, somos imperfeitos e estamos sujeitos a todo o tipo de contradição. Pensamos uma coisa e dizemos outra, dizemos e não fazemos, fazemos o que não dizemos. Não há como escapar. A queda de Adão no Éden proporcionou que a perfeição na qual fomos criados, à imagem e semelhança de Deus, decaísse; porque nem o mais lógico ser humano o será 24 horas por dia, todos os dias, o tempo todo. Há muitos que nem se preocupam com isso, e se alegram por não serem e terem nenhuma lógica. Não é assim que o néscio diz, ao valorizar a sua intuição? “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá?" (Jr 17.9).
Na verdade, o mundo está muito distante da lógica e da razão. A sociedade é a prova maior de que cultuamos o ilógico, o surreal, e estamos de fato num mundo que flutua entre a loucura e a hipocrisia, entre a imoralidade e as trevas, entre servidão ao pecado e buscar a morte. E cada vez mais afastamo-nos da lógica divina: “Não sabeis vós que a quem vos apresentardes por servos para lhe obedecer, sois servos daquele a quem obedeceis, ou do pecado para a morte, ou da obediência para a justiça?” (Rm 6.16).
Muitos querem ser lógicos e acabam no caos, se apegam a cada justificativa mal formulada, a cada pensamento e conceito desconexo, para sustentar a sua rebeldia e resistência a Deus. No fundo, o que desejam é continuar na dissolução, na falsa liberdade do pecado e, para isso, valem-se da lógica... mas afinal, qual lógica? Há razão na desobediência a Deus? Há racionalidade em dizer-se cristão, mas não seguir a Cristo? E dizer-se servo do Senhor, mas não se humilhar diante dEle? Em escutar a Sua palavra, mas fingir-se surdo e negligenciá-la? Dizer que vive, mas está morto? Afirmar que a Bíblia é a sua regra de fé, mas subverter cada versículo para não cumpri-los?... “Se alguém não ama ao Senhor Jesus Cristo, seja anátema” (1Co 16.22), foi o que disse Paulo, seguindo a Cristo: “Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e meu Pai o amará, e viremos para ele, e faremos nele morada” (Jo 14.23). Portanto, não há meio-termo, nem justificativa, nem verdades que se acomodem em suposições. Como escreveu o profeta: “E disse-me o Senhor: Viste bem; porque eu velo sobre a minha palavra para cumpri-la” (Jr 1.12); e ainda: “Porventura a minha palavra não é como o fogo, diz o Senhor, e como um martelo que esmiúça a pedra?” (Jr 23.29). Deus não aceita desculpas esfarrapadas, ainda que pretensamente lógicas: “Não erreis: Deus não se deixa escarnecer; porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará” (Gl 6.7).
A lógica é importante aliada da fé, mas sem a obediência, a fé é morta, e não tem lógica. Porque a obediência é a fé prática e lógica de que Cristo é o nosso Senhor.