Por Jorge Fernandes
Deus nos fala de muitas formas; e nesta semana, Ele reforçou em meu coração dois conceitos bíblicos. Um sobre a nossa natureza, e outro sobre a Sua divina e perfeita natureza. Lendo o livro "E Agora, Como Viveremos", dos apologetas Charles Colson & Nancy Pearsey (CPAD), deparei-me com a narrativa de um obstetra americano, o Dr. Bernard Nathanson, o qual durante as décadas de 1960 e 1970, supervisionou mais de 60.000 abortos na clínica CRASH em NY (um nome, no mínimo, sugestivo para o local onde Nathason praticou assassinatos, inclusive, dois dos seus próprios filhos). Para ele, os fetos eram seres impessoais, dependentes completamente da vontade de suas "mamães", as quais detinham o"direito" de eliminá-los ou não. Assim, juntamente com grupos feministas e pró-abortos, fomentou a aprovação de leis que permitissem o extermínio em massa de bebês nos EUA.
Em 1973, tornou-se chefe da unidade de perinatologia do St. Luke's Hospital Center, passando a cuidar das mães e dos bebês (embora continuasse a praticar abortos). Sua função era monitorar os fetos eletronicamente, e tratar dos recém-nascidos doentes.
A ultrasonografia, lançada recentemente, era o que de mais moderno havia para se acompanhar o desenvolvimento do feto; e ele assistiu às imagens, pela primeira vez, juntamente com um grupo de residentes reunidos ao redor de uma paciente grávida. Durante o exame, ele percebeu que a sua mente abandonou o termo feto em favor do termo bebê. Tudo o que aprendera na faculdade de medicina fundiu-se às imagens na tela, e impactou a consciência de Nathanson, convencendo-o de que a vida humana existia no ventre desde o começo da gravidez (depois de apenas doze semanas, nenhum novo desenvolvimento anatômico ocorre no bebê; ele simplesmente fica maior e mais capaz de sustentar a vida fora do útero).
Em 1979, finalmente, decidiu não realizar mais abortos, qualquer que fosse a justificativa (ele ainda acreditava que o aborto, em casos especiais, era legítimo). Publicou livros, documentários, e realizou palestras contra o aborto, tornando-se um defensor da vida, o que lhe valeu a inimizade e o desprezo dos seus mais diletos aliados no passado.
Em 1989, após procurar alívio para sua alma em quase tudo: casas maravilhosas, carros da moda, esposas que exibia como se fossem troféus, adegas de vinho, cavalos, livros de auto-ajuda, terapia, drogas e misticismo, ele se converteu a Jesus Cristo [O Dr. Nathanson escreveu: "Eu estava morando com a suserania dos demônios do pecado, obviamente dedicando-me a tudo que estivesse vinculado ao aparente carnaval sem fim dos prazeres, a festa que nunca termina (como os demônios fazem acreditar)"].
Ao ler o seu testemunho, veio-me à mente Efésios 2:1: "E (Deus) vos vivificou, estando vós mortos em ofensas e pecados"; e, novamente, percebi o quão miseráveis e malditos somos, incapazes de nos achegar a Deus, e colaborar com a nossa salvação. Um pecador como Nathanson, como eu, como você, está morto em seus pecados, MORTO! Paulo diz em Efésios 2.3: "Entre os quais todos nós também antes andávamos nos desejos da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos por natureza filhos da ira, como os outros também"; harmonizando-se com as palavras de Cristo: "Por isso vos disse que morrereis em vossos pecados, porque se não crerdes que eu sou, morrereis em vossos pecados" (Jo 8.24). A única recompensa que fazemos jus é ao INFERNO, à punição de sermos condenados eternamente ao lago de fogo.
Mas aprouve a Deus, pela Sua graça, amor e misericórdia, nos resgatar das garras do maligno, e nos transportar para o Seu Reino de glória. Ele diz: "Eu, eu mesmo, sou o que apago as tuas transgressões por amor de mim, e dos teus pecados não me lembro" (Is 43.25); e ainda: "Porque isto é o meu sangue, o sangue do novo testamento, que é derramado por muitos, para remissão dos pecados" (Mt 26.28); enquanto Paulo conclui: "Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie" (Ef 2.8-9).
Portanto, a cada dia, devemos nos convencer da nossa condição amoral, pecadora e dissoluta diante do Deus Santo; e reconhecer que, ainda assim, Ele nos derrama a Sua graça, perdoando-nos, redimindo-nos, limpando-nos, regenerando-nos, tenha eu matado milhares de bebês indefesos ou não, pois, todos carecemos da salvação que somente há em Cristo Jesus nosso Senhor: "Ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que sejam vermelhos como o carmesim, se tornarão como a branca lã" (Is 1.18).
Que a salvação dada pelo Senhor Jesus Cristo, a qual não temos mérito algum, o faça exultar, glorificando a Deus por tê-lo elegido antes da fundação do mundo (Ef. 1.4), assim como fez ao Dr. Nathanson.
Somente Ele é capaz de transformar um assassino em santo, pois, "isto não depende do que quer, nem do que corre, mas de Deus, que se compadece" (Rm 9.16).
Texto escrito em 05/01/2008, publicado no extinto periódico "O Enviado".
Caro Jorge
ResponderExcluirEste livro "E agora como viveremos?" é realmente cheio de testemunhos interessantes.
Do ponto de vista ético (prática cristã), o considerei um bom livro.
Mas.... do ponto de vista da doutrina de salvação, ele me pareceu definitivamente arminiano.
O que reforça o meu pensamento de que é possível (como este autor) ser genuinamente convertido, mas doutrinariamente equivocado.
Um abraço
Natan,
ResponderExcluirRealmente o livro do Colson tem relatos interessantes, porém, a doutrina por trás desses relatos, dos discursos, evangelismo e debates do autor acabam por "esvaziá-los" (não comprometê-los).
Concordo que é possível ser salvo e convertido (porque não depende de nós mas de Deus), mas ligeiramente equivocado na doutrina (não completamente. Por exemplo: qualquer forma de auxílio à obra de Cristo na salvação é desmerecê-la e, portanto, negá-la). Tal qual o título de um dos livros do Dr. Lloyd-Jones, este crente pode ser sincero mas errado.
Abraços.
Jorge!
ResponderExcluirVi seu link no blog do meu amigo Teóphilo Noturno e vim conhecer. Supresa boa!
As pessoas em geral entendem mal a posição do cristão em relação ao aborto. Como disse Marini: Muito se escreve que a vida humana é, para os cristãos, o valor supremo. Tal modo de exprimir-se é, no mínimo, impreciso. Não correspondem aos Evangelhos, que dizem: “não fiqueis temerosos dos que matam o corpo, mas não podem matar a alma” (Mateus 10:28). A vida que tem valor supremo para os Evangelhos não é aquela física, sequer a psíquica (para os quais os Evangelhos usam os termos gregos Bios e psyché), mas a vida divina comunicada ao homem (para qual é usado o termo zoé).
Os três termos são acuradamente distinguidos no NT e os dois primeiros são subordinados ao terceiro: “Quem ama a sua vida (psyché) a perde e quem odeia a sua vida (psyché), deste modo a conservará para a vida eterna (zoé) – João 12:25. Por isto, quando dizemos VIDA com maiúscula devemos entender, antes de tudo, a suprema e concretíssima VIDA e SER que é próprio de Deus. É esta vida que Jesus atribui a si (“Eu sou o caminho, a verdade e a VIDA (zoé)” - João 14:6, e da qual cada homem e cada mulher é chamado a participar. Assim, o valor supremo é o homem vivente da vida divina.
Daí se depreende o valor da vida humana física na concepção cristã: é a vida de uma pessoa chamada a participar da vida do próprio Deus. Para um cristão, o respeito da vida humana desde a primeira individualização não é um sentimento genérico (pessoal ou intelectual), mas o encontro com uma responsabilidade precisa: a deste ser vivente humano concreto cuja dignidade não está confiada apenas na avaliação benevolente minha ou a impulso humanitário, mas a um chamado divino. É algo que não é apenas “eu” ou “meu” ou “dentro de mim”, mas diante de mim.
Aproveito para apresentar o meu blog, o Genizah, e recomendar uma visita.
Virei seu seguidor!
Graça e Paz
Danilo
http://genizah-virtual.blogspot.com/
Danilo,
ResponderExcluirVisito constantemente o Genizah e também o Púlpito Cristão. Deve haver uma dúzia de blogs que leio sempre, e muitos que dou "uma passada de olhos" mas não fidelizo, por vários motivos. Os seus fazem parte do primeiro grupo, mas já fizeram do segundo, o que acho normal, visto que, primeiramente, não nos apegamos à pessoa, mas ao conteúdo das suas mensagens (depois, conhecemos melhor os autores e acabamos por fazer amigos, mas raramente).
Concordo com o que você disse no seu comentário, contudo, a Bíblia é clara em afirmar que o assassinato é um pecado, e de que, como Cristo diz, quem o pratica satifaz os desejos do seu pai, o diabo (Jo 8.44). E a partir do princípio bíblico de que Deus nos destinou ao nascimento e morte antes da fundação do mundo, quem aborta comente assassinato e pecado.
Porém, o aborto aqui é um "mote" para se falar das doutrinas da eleição, depravação, salvação do homem, e da soberania de Deus.
Obrigado por sua visita e comentário. É uma honra tê-lo como leitor. Volte sempre!
Cristo o abençoe!