Por Jorge Fernandes Isah
24 março 2008
SENHOR OU ESCRAVO?
Por Jorge Fernandes Isah
09 março 2008
RENOVO
Por Jorge Fernandes
I
A folia em noite de sábado,
Bulha disforme no ônibus,
Risos destoantes,
Como lamúrias espasmódicas;
Mulheres à beira de um ataque de nervos,
Homens de saias cobiçando outros homens,
Ainda que pareça galhofa,
Eles nas calçadas zombam-nas através das janelas de vidro,
O impudor,
Disparado como uma chuva de balas,
Exibe-se no malévolo mal do fim-de-semana,
Um dia depois, volta-se ao ostracismo.
Ruas abarrotadas,
Carros desgovernados,
Bêbados e drogados pelo chão,
É uma guerra,
Onde as vidas subjugam-se na dor,
Desistiram da esperança,
Confiantes em suas premissas,
Não vêem o vácuo debaixo dos pés,
Em queda livre, arrazoam pretextos,
Como se pássaros, voassem.
O alarido a perpassar,
Nada intermitente,
Como água a descer da cachoeira,
As luzes piscam,
Pneus fremem,
O caos acomoda-se, inflama-se,
E o vento não dissipa o fedor.
II
Cinco anos atrás,
Eram meus quinze minutos no coletivo,
Quase ouvia a minha própria voz,
Quase via meus próprios gestos,
O som como o chio do porco abatido,
Igual náufrago na procela,
O hífen de muitos gritos,
Antes de soçobrar.
Fui pior que eles,
No egoísmo a alardear-se,
Ascendi muitos degraus no estupor,
Era o rato a acrisolar o monturo,
Como um regato de dejetos,
A desaguar na sentina.
III
Quis orar por eles... Não consegui.
Quis que Deus os perdoasse... Mas se fosse por mim...
Quis que se calassem... Voltassem escondidos pra casa,
E as ruas livres,
Como numa madrugada fria e chuvosa.
O enlevo de outros gritos,
Retorna-me ao tempo,
E não foi difícil ver que entre eles e eu havia a única diferença.
Se fui perdoado,
Ainda que monstruoso,
Se redimido,
Ainda que imerecido,
Se santificado,
Ainda que o inferno fosse o destino,
Se amado,
Quando o ódio era-me escudo e lança,
Se feito filho,
Quando o matei,
Nascido sem choro,
Só sobrou-me arrepender,
Por não os tê-lo abraçado,
Beijado-lhes a face,
E dito: sou como vocês!
Mas somente pelo sangue derramado no Calvário
Fui feito novo,
Criatura em ser,
Firme na Rocha inabalável,
Erguido pelo santo amor do Filho de Deus,
Que me elegeu por toda a eternidade,
Na Sua graça perfeita,
E absoluta misericórdia;
Por Ele, unicamente Ele,
Sou renovo.
04 março 2008
REBELIÃO
O pecado é o crime contra a autoridade de Deus; é a prova de que somos rebeldes, e de que, por ele, seremos julgados e condenados. Muitos não acreditam na existência do pecado. Muitos se escondem na premissa de que o homem é imperfeito, e, portanto, sujeito ao erro, e de que não há quem não o cometa; sendo assim, temos de aceitar a nossa natureza como ela é, pois não há nada a se fazer, e refutam a idéia do pecado (1Jo 1.8). Muitos, para a sua própria perdição, se deleitam e se comprazem no mal que praticam, dizendo-se sábios, tornam-se loucos (Rm 1.22).
O pecado, transigido, foi aceito como algo inevitável, como parte da natureza humana contra o qual, antes de se combater, podemos usufruir, ainda que infame, ainda que “inatural”, ainda que inflame e incite a toda a sorte de sentimentos perversos. O homem, em nome de uma pretensa liberalidade, tornou-se impotente escravo de suas paixões e delitos (Jo 8.34), dominado, subjugado por um sofrimento infinito que se perpetuará numa tragédia por toda a eternidade. “Prometendo-lhes liberdade, sendo eles mesmos servos da corrupção. Porque de quem alguém é vencido, do tal faz-se também servo” (2Pe 2.19).
A despeito de todos os avanços da ciência, o homem morre e está morto. Apenas o Senhor pode trazê-lo à vida. Quando Adão transgrediu a ordem de Deus de não comer do fruto da árvore do bem e do mal, o pecado entrou na humanidade, e, por conseguinte, a morte (Gn 2.17; Rm 5.12). Depois, o que se viu foi a rápida degradação, a ponto de Caim, deliberadamente, matar a seu irmão Abel (Gn. 4.8). Antes, Caim foi alertado pelo Senhor: “Se bem fizeres, não é certo que serás aceito? E se não fizeres bem, o pecado jaz à porta, e sobre ti será o seu desejo, mas sobre ele deves dominar” (Gn 4.7). Mas a inclinação inevitável para o mal e a desobediência (decaído em sua miséria), levou-o ao assassínio e as lamentáveis conseqüências do pecado.
Hoje, como no passado, a maldade tem-se tornado a marca característica da humanidade. Não há o temor a Deus, e nem sabedoria (Sl 111.10)... “O cão voltou ao seu próprio vômito, e a porca lavada ao espojadouro de lama” (2Pe 2.22). Assim encontra-se o homem, refestelando-se na dissolução, entregue às cadeias da escuridão, ficando reservado para o juízo, para ser castigado (2Pe 2.4;9).
Sem a convicção do pecado, o homem está morto em seus delitos; como o condenado à morte, seus crimes levá-lo-ão ao fim. E o fim é perecer eternamente. Diferente do condenado à morte, se ele confessar a sua culpa, se arrepender, será salvo.
Por isso, Jesus Cristo, o Filho Unigênito de Deus, morreu na cruz: para salvar os pecadores arrependidos. Não há outro jeito, nem forma ou maneira. Apenas o sacrifício que o Senhor fez na cruz do Calvário é capaz de livrá-lo da imputação dos seus crimes. “Aguardando a bem-aventurada esperança e o aparecimento da glória do grande Deus e nosso Senhor Jesus Cristo; o qual se deu a si mesmo por nós para nos remir de toda a iniqüidade, e purificar para si um povo seu especial, zeloso de boas obras” (Tt 2.13-14).
Pedro, falando sobre Jesus em Atos 4.11-12, disse: “Ele é a pedra que foi rejeitada por vós, os edificadores, a qual foi posta por cabeça de esquina. E em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos”.
Esta é a verdade: a rebelião é uma afronta a Deus, é trata-lO com desprezo, em transgressão; e assim, estamos afastados, mortos para Ele; sepultados em iniqüidades, não temos vida, e a barreira que o nosso pecado erigi, separa-nos de Deus.
Como natimortos, em Cristo somos ressuscitados, e Ele é o único capaz de derrubar o obstáculo que nos separa de Deus, e de nos reconciliar com Ele, perdoando as nossas ofensas. Apenas o Senhor, e tão somente o Senhor Jesus, pode restaurar a nossa relação com o Altíssimo, absolvendo-nos dos crimes pelos quais o justo Juiz nos sentenciaria e proclamaria: CULPADO! (Sl 7.11; 2Ti 4.8). Ele mesmo cumprindo na cruz do Calvário a pena que nos foi fixada, pelo seu imenso amor substituiu-nos, o justo pelos injustos, para levar-nos a Deus, quando seria-nos impossível realizá-lo (1Pe 3.18).
Confessar os pecados e a rebeldia diante de Deus, e receber o inevitável e maravilhoso perdão de Cristo, dar-nos-á vida em abundância; encher-nos-á de alegria o coração, auferindo-nos o gozo eterno.
Ou Cristo, ou a ruína. Ou Cristo, ou a vida ceifada. Ou o amor e a salvação de Cristo, ou a Sua ira e juízo. Pois ao rebelde, o indulto apenas é-lhe concedido por Jesus, que o converte em servo resignado, o qual passa a obter a graça do seu Senhor. Recebemos o Espírito que provém de Deus, abandonando o espírito do mundo (1Co 2.12); e a paz e a ordem que nos é dada, gratuitamente, tomam o lugar da rebelião e do caos, e nos faz navegar por águas tranqüilas ao invés de nos arrastar pelas sarjetas terrenas.
23 fevereiro 2008
deus DE MENTIRINHA
- Análise do livro a Linguagem de Deus -
Por Jorge Fernandes
AUTOR: FRANCIS S. COLLINS (Diretor do Projeto Genoma)
EDITORA: GENTE
IMPRESSÕES:
· A linguagem narrativa do autor: O texto é de fácil compreensão, mesmo para quem, como eu, não é versado em ciência, o que é uma grande vantagem.
· Idéia geral: Defesa do darwinismo, a despeito do título e subtítulo afirmar um encontro com Deus. Na verdade, o deus dele é Darwin, e como tal, ele escreve sobre “A linguagem de ‘seu’ deus”.
· Conceito: O autor defende com “unhas e dentes” o darwinismo, usando Deus como um “mote”, um subterfúgio para atingir os cristãos incautos e outros religiosos.
· Erro imperdoável: Francis Collins fala sempre de um Deus genérico, procurando agradar a “gregos e troianos”. Como evangélico, ele em momento algum cita o Senhor Jesus Cristo como Deus, ou refere-se a Ele como Deus. Chega a usar o termo Verbo, presente em João 1:1, como sinônimo para Deus, sendo que o termo é usado exclusivamente para definir a 2 ª pessoa da Trindade: Jesus Cristo.
Fica clara a intenção e o desejo de “converter” ao seu deus, tanto cristãos como mulçumanos, budistas, agnósticos e ateus.
· Definição em uma frase: Sem fé no evolucionismo é impossível agradar a “deus”.
COMENTÁRIOS:
O autor disseca bem a teoria darwinista, expondo-a quase sem deixar de tocar em nenhum dos seus pontos principais; sempre a defendê-la a todo custo, mesmo que seja injusto ou desleal com os seus opositores (o que não fica tão evidenciado por seu texto comedido, mesmo não disfarçando a virulência com que os combate).
A linguagem ao qual aborda é a da evolução, dos princípios traçados por Darwin, ao qual chama de um cientista irretocável, pois ao enunciar a sua teoria, anteviu descobertas que sequer podiam ser cogitadas à sua época (ainda que estas “descobertas” não passem de pura e simples especulação, embasada em evidências que fogem ao crivo da ciência, e perambulam pela filosofia, ou pela fé evolucionista).
· Os argumentos com que ele combate os opositores são a base para sua defesa. Ele chega a usar fatos históricos como o de Galileu x Igreja Católica, para justificar que a disputa entre ciência x religião (subentende-se: Darwinismo x Deus) sempre resultará na vitória da primeira. Ele joga todos os seus dardos inflamantes sobre os cristãos ortodoxos/fundamentalistas, ridicularizando-os (não se engane com a pretensa linguagem conciliatória. Francis Collins dispara todas as armas do seu arsenal, atirando a torto e a direito): o alvo dele é desacreditar a fé em Cristo Jesus, talvez, por isso, ele exclua-O do seu debate.
Suas evidências são meramente especulativas, muito mais filosóficas que científicas (apesar de “aparentarem” ciência), e é exatamente neste ponto que ele combate tanto criacionistas como proponentes do Inteligent Design (o que é certo para Collins, torna-se erro grotesco nos outros). Veja a avaliação que ele faz de cientistas como Henry Morris (criacionista), Michael Behe e William Dembski (I.D.), quase os chamando de ignorantes, despreparados, pseudocientistas (apesar de elogiá-los pela sinceridade e honestidade com que defendem suas posições; e aí, o aparente elogio reforça o desprezo acadêmico que nutre por eles).
Ao referir-se a Phillip Johnson usou para combatê-lo a mesma tática que discorreu durante todo o livro: defender Darwin a todo custo. Se ele pode fazê-lo, porque Johnson não (a afirmação de que Johnson não é cientista, mas ao propor o I.D. queria apenas e tão somente “defender” a Deus dos ataques evolucionistas)?
A sua base crítica é um emaranhado de suposições (ainda que tenham um apelo lógico), as quais fazem dele e de seus pares cientistas sérios (afirmado pela negação da seriedade nos outros), e comprometidos com a verdade, já que apenas eles a detém (ainda que afirme não ser possível ou capaz, e talvez nem o seja, definir sobre essas verdades. Ele crê que, provavelmente, o homem jamais saberá o que se passou na criação do universo e da humanidade; ainda que afirme haver evidências factuais para se acreditar e confiar no evolucionismo, o que é uma contradição).
· Outro ponto interessante é a convicção com que defende o evolucionismo, ao nível de “crença”, de fé em suas pressuposições. O que confirma que o seu deus não é o Deus Verdadeiro, o Deus Único, o qual se manifestou em total plenitude no Senhor Jesus Cristo, mas um embuste chamado Charles Darwin.
· Ao usar argumentos humanistas, liberais (ele crê no que se pode chamar de livre-arbítrio extremado), excludentes da Bíblia, afirma que a fé deve sempre estar condicionada à ciência, sem a qual não haverá “verdade” alguma. Para ele, a crença em conceitos que não sejam científicos, ou que estejam à margem das descobertas científicas, levará ao enfraquecimento, ao distanciamento da fé. Chega a citar ingenuamente, que uma fé errada na ciência, destruirá a fé em Deus, ou, pelo menos, a comprometerá. Mas de qual Deus ele fala? Do seu deus?
· Francis Collins, se pudesse assumir, escreveria: “Sem fé no evolucionismo é impossível agradar a deus”.
· A idéia dele é a de unir todos numa espécie de “ecumenismo científico” (tal qual a Igreja Católica deseja entre os cristãos, desde que seus dogmas e doutrinas sejam aceitas irrevogavelmente), levando todos a um só princípio, a um mesmo padrão, desde que seja o do naturalismo. E isso, se não for ditadura, está bem próxima de sê-lo.
· Ao propor o Biologos (evolucionismo teísta) ele parte para uma conclusão na argumentação de que ciência e fé devem e podem andar juntas. Elas não devem viver em constante embate. Mas se uma nega a outra, como harmonizá-las? A sua resposta é: diminuindo ou eliminando os pontos em que há discordância bíblica. Pois sempre ele irá contestar a veracidade da Bíblia, e jamais a credibilidade científica, ainda que ela seja especulativa e nada conclusiva. Gênesis 1-3, assume caráter meramente espiritual, poético ou moral, enquanto o Big-Bang, a seleção natural e a evolução são fatos plenamente críveis.
CONCLUSÃO:
· Acho esta busca do Francis Collins um equívoco total. Ele prega um Deus genérico, sendo muito mais um Deísta do que um Teísta (apesar de enganar bem como tal). O seu deus é Darwin e sua teoria. Não vê como a fé pode subsistir sem que a ciência a corrobore (mesmo não deixando explícito tal afirmação, ela se encontra subliminarmente exposta), e aquela se torna refém desta.
O livro questiona a Bíblia e os fatos ali narrados, e execra tanto criacionistas como os proponentes do I.D., ao afirmar que eles são subcientistas e pseudo-intelectuais; homens sinceros, é verdade, mas incompetentes e inaptos (perdoem-me o termo darwinista) para vislumbrar as “belezas e maravilhas” da verdade evolucionária.
Ao questionar a seriedade de cientistas, os quais não comungam com a sua visão evolucionista, ele os lança ao descrédito, desprezando-os como acadêmicos, colocando-se (ele e o seu grupo) como o único porta-voz da verdade, e baluartes da seriedade (ou competência). Deus deixa de ser o absoluto para que a sua prática científica (e eles mesmos) o seja (ainda que ele valide, teoricamente, a moral cristã e a busca de um deus, qualquer que seja ele).
· O que é fato em Francis Collins e o seu “A linguagem de Deus”: seu deus é de mentirinha.
21 fevereiro 2008
TRASPASSAR
Os olhos decaídos
Não viam os passos em titubeio,
Nem o asfalto lacerado como pano velho,
Não ouviam o solado raspar-lhe os farelos,
Nem sentia o piso duro deformá-los;
A lágrima descuidada regou o solo,
Fez-lhe subir a poeira,
Enquanto o Sol rubro tingia o cinza-azulado do céu,
Não lhe senti o cheiro,
Nem pude tocá-lo,
Quase corri pelo gramado seco,
Entre as fístulas do passeio.
Olhei para todos eles,
E vi o quão longínquo estava,
Mesmo ali,
Não havia como alcançá-los,
Nem o choro,
Nem o grito,
Nem a dor,
Nem o silêncio,
Nem as vistas arqueadas,
Nem o aperto de mão ou o abraço desengonçado,
Nada.
As promessas esvaíram-se efêmeras,
E mesmo o vôo dos pardais,
O cair de folhas das palmeiras,
Intransigiam o momento.
Vi-me ao vê-los,
Parentes, amigos, colegas, ignotos,
Cravados na presunção,
De que para conhecê-Lo,
Posso ser o que quiser,
Aproximar-me de qualquer jeito,
E fazê-lo a mim mesmo,
Imperfeito,
Complacente,
Dissoluto.
No fim, tudo dará certo,
Ele me perdoará por tentar,
Por não conseguir, ainda que creia tê-lo,
Pela fé que não ultrapassa um ideal,
E desfaz-se na ardente aspiração extinta.
Ele pode se alegrar comigo,
Ele pode rir-se de mim,
Consentir em meus pecados,
Fazer a cara de bom velhinho,
Um noel irreal,
Que troca cartas por bolas de plástico,
Ele pode até se parecer comigo,
Mas esse não é Ele;
Apenas outra corrupção da mente caída,
Como tantas em que me agarro,
Uma corda imaginária,
Que me precipita.
A aflição me toma,
Um a um lançar-se no abismo,
A geena a sugá-los como redemoinho de chamas,
Até que o Altíssimo o estanque.
Ele é quem me eleva,
Iça-me do precipício eterno,
Não há como enganá-Lo,
Nem adorá-Lo,
Se vejo-me no espelho inteiro,
Desfigurado,
Se Cristo não se formar,
Os dentes rangerão no fogo inextinguível...
Ver-me através do Filho,
Purificado,
Convertido à Sua imagem,
É a salvação:
De mim,
Do inimigo,
Do desprezo,
Do pecado;
Próximo Dele,
Achego-me a todos,
E o Seu amor preenche as lacunas,
A perfurar.
17 fevereiro 2008
Dízimo, oferta e o crente
Por Jorge Fernandes Isah*
Tenho lido muitos artigos sobre o dízimo e ofertas. Quase todo dia, me enviam textos "descendo a lenha" no que chamam a "falácia do dinheiro a Deus". Como já expus há alguns irmãos a minha convicção pessoal, e creio, também bíblica, e visto que me chegou às mãos um artigo intitulado "Salário do Pastor: um peso na carteira!"1 (cujo autor não sei quem é, mas já o reprovo pelo título), enviado por uma irmã que me pediu um comentário, resolvi escrever minhas impressões sobre o assunto e a minha convicção bíblica a respeito.
2- Nova abordagem sobre este assunto pode ser lida no Estudo da Confissão de Fé Batista de 1689 - Aula 52: Dízimos e ofertas
NOTAS: 1- O artigo “Salário do Pastor: um peso na carteira”, provavelmente foi extraído do livro “Cristianismo Pagão”, de Frank Viola. 2- Artigo de John MacArthur para http://www.monergismo.com/textos/dizimos_ofertas/dizimo_mac.htm , com o título “Deus requer que eu dê o dízimo de tudo quanto ganho?”.
3- Trecho de “Salário do Pastor: um peso na carteira”.
4- Idem
5- Artigo de Ron Riffe para http://www.espada.eti.br/p264.asp , com o título “O Suporte aos Missionários”.
07 fevereiro 2008
MORTE A CRÉDITO
Por Jorge Fernandes
O Carnaval acabou!
Para mim, foi um período de descanso, de leitura da Bíblia, de oração e de cumprir a vontade de Deus nos trabalhos da igreja e no meu lar. Para a maioria dos brasileiros, foi um momento de se extravasar, de êxtase, de sair, ainda que por alguns dias, da realidade. Mais uma tentativa de se obter algum alívio, um refrigério para a alma. A ilusão na qual o homem se lança a cada novo feriado, a cada nova viagem ou conquista. Passada a euforia, a quimera, resta a angustiante espera do próximo feriado, viagem ou conquista. Um círculo girando ao nosso redor, que nos agrilhoa em cadeias de metal, e do qual não saímos. É uma esperança vã, em que ao apagar das luzes, ao cair dos enfeites, fantasias e máscaras, no silêncio dos tambores e alto-falantes; ainda os corpos entorpecidos pelo álcool, drogas ou cansaço; no último esforço alardeia-se: “rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta”; mas não passa de um desgraçado, e miserável, e pobre, e cego, e nu (Ap 3.17), solitário e envolto em trevas.
As imagens na TV são de um arroubo desmedido, irrazoável, como se todos enlouquecessem de uma hora para outra, ao mesmo tempo. Equivale a aplicar doses de metanfetamina em símios e largá-los nas Lojas Americanas ao som do System of a Down, com tudo ao alcance, sem qualquer restrição. Provavelmente, os primatas se comportariam melhor do que os humanos durante a festa de Momo; o que nos leva a refletir sobre a improbabilidade da teoria da evolução de Darwin, visto que o pior espécime está no topo da cadeia, e isso é impossível segundo o seu esquema burlesco.
O que falar das estatísticas de acidentes, de mortes, de crimes praticados durante essa festa; de corpos desacordados debaixo de marquises, de fragmentos de uma alegria fugaz espalhados pelas ruas, de ébrios cambaleantes em pontos de ônibus, dos gritos que silenciaram, dos sorrisos transformados em choro, das imagens efêmeras que se dissiparão em poucas horas, da dor plantada no coração de famílias, das perdas, da tristeza, do vazio. É como o escritor Louis-Ferdinand Céline disse: uma morte a crédito.
E esta morte é inevitável; nos acompanha desde o nascimento, instala-se progressivamente, e acometerá cedo ou tarde a todos, sem exceção. E tentamos, esforçados, subjugá-la, mantê-la a uma distância segura, muitas vezes, ignorando-a. Mas como uma fera espreita a caça, ela nos ronda, nos instiga, dá-nos a falsa segurança de desistir, e mesmo que se escape vez ou outra, fatalmente nos sucumbirá.
Mas esta morte física não é eterna, Deus nos promete a ressurreição. Nossos corpos corrompidos serão transformados em corpos gloriosos. Como Cristo que morreu e ressuscitou dos mortos, incorruptível, também o seremos, pois morreu por nossos pecados. E a vitória que jamais obteríamos, Ele obteve por nós na cruz do Calvário, porque tragada foi a morte na vitória. Onde está, ó morte, o seu aguilhão? Onde está, ó inferno, a sua vitória? Graças a Deus que nos dá a vitória em Jesus Cristo nosso Senhor (1Co 15.54,55;57).
Para isso, é necessário o arrependimento dos pecados, de uma vida dissoluta, de agravo a Deus; porque o aguilhão da morte é o pecado. Ele nos mantém enredados no círculo que nos escraviza e domina sobre a nossa carne, e a carne sobre nós, e nos sujeita à morte. Em seu jugo, cremo-nos alegres, numa feliz explosão dos sentidos, que é apenas o debater-se do paralítico no pântano, sem qualquer possibilidade de socorro. Então a alegria já não é alegria, ela é a tristeza, e nos consome. Mas Cristo resgata-nos mediante o perdão, porque a tristeza no mundo gera a morte, mas a tristeza segundo Deus opera arrependimento para a salvação, da qual ninguém se arrepende (2Co 7.10).
Se o homem natural (sem Cristo) não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente, o homem espiritual discerne bem tudo, e ele de ninguém é discernido, porque tem a mente de Cristo (1Co 2.14-16).
Se o homem natural morre pouco a pouco, o homem espiritual já vive eternamente, porque nele habita o Filho de Deus, no qual está a vida em plenitude, em glória.
O Carnaval acabou...
Resta-lhe a espera de mais um ano para, quem sabe, talvez não alcançá-lo. Se conseguir, lembre-se de que a morte avizinha-se com o golpe certeiro, e ela o manterá cativo perpetuamente.
Ao contrário, Cristo, por sua morte, nos dá vida por vida, revestindo-nos da Sua glória, e, definitivamente, jamais morreremos.
29 janeiro 2008
POSSO AGRADAR A DEUS?
Posso agradar a Deus? Há algo em mim com que o Senhor se deleite?
A Bíblia afirma em Rm 3.10-12: “Não há um justo, nem um sequer. Não há ninguém que entenda; não há ninguém que busque a Deus. Todos se extraviaram, e juntamente se fizeram inúteis. Não há quem faça o bem, não há nem um só”.
É uma declaração dura, que nos incomoda (revelando uma humanidade caída e perdida), e irretocavelmente verdadeira como toda a Escritura. Aos olhos do Senhor, não há nada em nós com que Ele se alegre. Nada! Absolutamente nada! Que isto fique bem claro.
Mas não pára aí. Veja o que diz 1Co 6.9: “Não sabeis que os injustos não hão de herdar o reino de Deus?”. A situação está se complicando... Se não somos justos, e os injustos não herdarão o reino dos céus, qual é a nossa chance?
Em Mt 3.17, Deus declara após o batismo de Jesus: “Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo”. Como vemos, Ele se alegra, se compraz em Seu Filho Amado.
Na exortação de Paulo à igreja de Colossos lemos: “Tende cuidado, para que ninguém vos faça presa sua, por meio de filosofias e vãs sutilezas, segundo a tradição dos homens, segundo os rudimentos do mundo, e não segundo Cristo” (Col 2.8). Pelos meios humanos, pelo conhecimento humano e por ações humanas jamais alegraremos o coração de Deus. Não temos nem produzimos nada com o que Ele se agrade. Paulo continua: “Porque nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade” (2.9). Em Cristo, Deus se personificou. Aprouve-Lhe manifestar toda a Sua plenitude no Filho. O Apóstolo conclui: “Estais perfeitos nele, que é a cabeça de todo o principado e potestade”(2.10). Portanto, apenas em Jesus podemos agradar a Deus.
Erwin Lutzer, pastor e escritor, disse: Nos piores dias, quando oro ao Pai, peço para que Ele não me veja como sou, mas através do Seu Filho Amado.
Apenas o Senhor Jesus pode limpar-nos da iniqüidade, dos pecados, restaurar-nos e tornar-nos mais alvos do que a neve; tornar-nos agradáveis a Deus. “Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados, e nos purificar de toda a injustiça” (1Jo 1.9). Cristo nos comprou por bom preço (1Co 6.20; 7.23), pelo seu sangue derramado na cruz. E Ele é o único, que pelo seu poder, nos justifica perante Deus. “Porque também Cristo padeceu uma vez pelos pecados, o justo pelos injustos, para levar-nos a Deus; mortificado, na verdade, na carne, mas vivificado pelo Espírito” (1Pe 3.18).
Assim, Paulo pode afirmar: “Se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo” (2Co 5.17); e “desde agora, a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos os que amarem a sua vinda” (2Ti 4.8).
E é assim que Deus, em sua soberania, santidade e misericórdia, quer.
17 janeiro 2008
SINGULAR
Sei que não posso dormir,
Mas durmo assim mesmo,
Em meio a oração que me aflige a aflição alheia,
Pelo amor que não tenho, a dor que não sinto,
Obrigo-me a tê-los,
Na inaptidão de que venham a fruir.
Devo deixar para a manhã seguinte,
Insistir no clamor a Ele,
Sei que me ouve, sei que não se agrada,
O Espírito gemendo por mim,
Corrige as palavras,
Tornando-as puras diante Dele.
E não vem o amor, nem a dor,
E não tê-los,
Faz-me pensar no êxito intangível.
Mas o sangue vertido no madeiro,
Por amor de mim, e amor a eles,
Colhe as frases amorfas,
Torná-as em sons cristalinos e indizíveis;
O Pai as ouve, se agrada no Filho,
Que não entendo, nem compreendo,
Sei existir,
E em esforços inúteis,
Não apreendo.
13 janeiro 2008
COMO UM NADA
Esta bem-aventurança leva-nos a sentir como um nada; e tornamo-nos "humildes de espírito" e sentimo-nos verdadeiramente desamparados. Qualquer indivíduo que imagine ser capaz de viver a vida cristã somente com as próprias forças, exatamente por isso está proclamando que não é crente. Quando realmente percebemos aquilo que deveríamos fazer, inevitavelmente nos tornamos "humildes de espírito". Por sua vez, isso conduz a pessoa ao segundo estágio, no qual, tendo percebido a sua própria natureza pecaminosa, tendo notado a sua incapacidade, devido ao pecado que nela habita, e tendo visto o pecado até nas suas melhores ações, pensamentos e desejos, tal pessoa lamenta-se chorando, e clama, à semelhança do grande apóstolo: "Desventurado homem que sou! quem me livrará do corpo desta morte?" Entretanto, reitero que encontramos aqui algo ainda mais perscrutador, isto é, "Bem-aventurados os mansos".
Ora, por qual motivo as coisas são assim? Porque estamos chegando a um ponto em que começamos a ficar preocupados com as outras pessoas. Deixe-me colocar a questão como segue. Posso ver a minha própria nulidade e desamparo face a face com as exigências do Evangelho e com a lei de Deus. Ao mostrar-me honesto comigo mesmo, tomo consciência do pecado e da maldade que em mim existem, e isso me puxa para baixo. Dessa maneira, preparo-me para enfrentar ambas essas coisas. Não obstante, muito mais difícil ainda é permitir que outras pessoas digam coisas dessa natureza a meu respeito! Instintivamente, sinto-me ressentido. Todos nós preferimos condenar-nos a nós mesmos, e não que outras pessoas nos condenem. Talvez eu assevere sobre mim mesmo que sou um pecador, mas é devido a um puro instinto que não gosto que alguém me chame de pecador. Ora, esse é justamente o princípio espiritual introduzido por esta bem-aventurança. Até agora, eu vinha examinando a mim mesmo. Doravante, porém, outras pessoas passaram a olhar para mim, e eu passei a ver-me em certo relacionamento para com elas, e elas começaram a tomar atitudes a meu respeito. Como é que eu reajo diante dessas coisas? Essa é precisamente a questão ventilada por esta bem-aventurança. Penso que você concordará que isso é mais humilhante e aviltante do que qualquer coisa que fora antes ressaltada. Consiste em permitir que outros indivíduos dirijam os seus holofotes na minha direção, ao invés de eu mesmo fazê-lo.
Do livro Estudos no Sermão do Monte, Ed. Fiel
10 janeiro 2008
O QUE AGRADA A DEUS
“É necessário que ele cresça e que eu diminua” (João 3.30)
João o Batista, orientado pelo Espírito Santo, ao declarar que Jesus devia crescer enquanto ele diminuir, proferiu algo comparável ao que Paulo disse em Gálatas 2.20: “Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim”.
Ambos viam-se “diminuindo” à medida que o SENHOR Jesus “crescia” neles. Não que Jesus venha substituir-nos em nós mesmos. Mas o Seu caráter, a Sua natureza santa vem solapar a nossa natureza pecaminosa. Assim, já não sou eu quem vive (o homem torpe, depravado, iníquo), mas Cristo vive em mim (o homem santo, justo e reto). As qualidades do Senhor são-nos implementadas, e cada vez mais deixamos aquilo que O desagrada. “Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo” (2 Co 5.17).
João o Batista, sabia que a obra a ele delegada por Deus estava se findando, e que como “A Voz que clama no deserto” seu ministério daria lugar ao sacerdócio divino de Jesus. Não foi por acaso que o SENHOR falou dele: “Em verdade vos digo que, entre os que de mulher têm nascido, não apareceu alguém maior do que João o Batista; mas aquele que é o menor no reino dos céus é maior do que ele” (Mateus 11.11). Aqui, Jesus refere-se a Si mesmo como o maior no reino de Deus. “E, qualquer que entre vós quiser ser o primeiro, seja vosso servo; bem como o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir, e para dar a sua vida em resgate de muitos” (Mt 20.27-28). E não foi Ele, justamente, quem mais serviu? “Mas esvaziou-se a si mesmo (Jesus), tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens” (Flp 2.7).
Deus Pai quer que sejamos como o Seu Filho Amado, que reflitamos a Sua glória, e que a boa obra iniciada por Ele em nós seja aperfeiçoada até o dia do SENHOR (Fp 1.6). Por isso, Cristo tem de crescer em nós, para que cada vez mais sejamos como Ele é; e o velho homem, crucificado com Ele (Rm 6.6), se revista do novo, renovado para o conhecimento, segundo a imagem daquele que nos criou (Col 3.10). “Desejai afetuosamente, como meninos novamente nascidos, o leite racional, não falsificado, para que por ele vades crescendo” (1 Pe 2.2).
João o Batista não deu lugar à vaidade e a soberba, antes, o Espírito Santo que operava nele, dirigiu-o à submissão completa a vontade do seu SENHOR. E serviu-O humildemente, e como ele, devemos também servi-LO obedientes, rendendo-nos ao Seu domínio.
E que Cristo nos sujeite a sermos menores no Seu reino; e cada vez mais diminuamos, até que, crescendo pela Sua graça, o SENHOR se forme inteiramente em nós. E possamos, um dia, proclamar como Paulo o fez: “Porque para mim o viver é Cristo, e o morrer é ganho.” (Fp 1.21).