07 fevereiro 2008

MORTE A CRÉDITO


Por Jorge Fernandes

O Carnaval acabou!
Para mim, foi um período de descanso, de leitura da Bíblia, de oração e de cumprir a vontade de Deus nos trabalhos da igreja e no meu lar. Para a maioria dos brasileiros, foi um momento de se extravasar, de êxtase, de sair, ainda que por alguns dias, da realidade. Mais uma tentativa de se obter algum alívio, um refrigério para a alma. A ilusão na qual o homem se lança a cada novo feriado, a cada nova viagem ou conquista. Passada a euforia, a quimera, resta a angustiante espera do próximo feriado, viagem ou conquista. Um círculo girando ao nosso redor, que nos agrilhoa em cadeias de metal, e do qual não saímos. É uma esperança vã, em que ao apagar das luzes, ao cair dos enfeites, fantasias e máscaras, no silêncio dos tambores e alto-falantes; ainda os corpos entorpecidos pelo álcool, drogas ou cansaço; no último esforço alardeia-se: “rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta”; mas não passa de um desgraçado, e miserável, e pobre, e cego, e nu (Ap 3.17), solitário e envolto em trevas.
As imagens na TV são de um arroubo desmedido, irrazoável, como se todos enlouquecessem de uma hora para outra, ao mesmo tempo. Equivale a aplicar doses de metanfetamina em símios e largá-los nas Lojas Americanas ao som do System of a Down, com tudo ao alcance, sem qualquer restrição. Provavelmente, os primatas se comportariam melhor do que os humanos durante a festa de Momo; o que nos leva a refletir sobre a improbabilidade da teoria da evolução de Darwin, visto que o pior espécime está no topo da cadeia, e isso é impossível segundo o seu esquema burlesco.
O que falar das estatísticas de acidentes, de mortes, de crimes praticados durante essa festa; de corpos desacordados debaixo de marquises, de fragmentos de uma alegria fugaz espalhados pelas ruas, de ébrios cambaleantes em pontos de ônibus, dos gritos que silenciaram, dos sorrisos transformados em choro, das imagens efêmeras que se dissiparão em poucas horas, da dor plantada no coração de famílias, das perdas, da tristeza, do vazio. É como o escritor Louis-Ferdinand Céline disse: uma morte a crédito.
E esta morte é inevitável; nos acompanha desde o nascimento, instala-se progressivamente, e acometerá cedo ou tarde a todos, sem exceção. E tentamos, esforçados, subjugá-la, mantê-la a uma distância segura, muitas vezes, ignorando-a. Mas como uma fera espreita a caça, ela nos ronda, nos instiga, dá-nos a falsa segurança de desistir, e mesmo que se escape vez ou outra, fatalmente nos sucumbirá.
Mas esta morte física não é eterna, Deus nos promete a ressurreição. Nossos corpos corrompidos serão transformados em corpos gloriosos. Como Cristo que morreu e ressuscitou dos mortos, incorruptível, também o seremos, pois morreu por nossos pecados. E a vitória que jamais obteríamos, Ele obteve por nós na cruz do Calvário, porque tragada foi a morte na vitória. Onde está, ó morte, o seu aguilhão? Onde está, ó inferno, a sua vitória? Graças a Deus que nos dá a vitória em Jesus Cristo nosso Senhor (1Co 15.54,55;57).
Para isso, é necessário o arrependimento dos pecados, de uma vida dissoluta, de agravo a Deus; porque o aguilhão da morte é o pecado. Ele nos mantém enredados no círculo que nos escraviza e domina sobre a nossa carne, e a carne sobre nós, e nos sujeita à morte. Em seu jugo, cremo-nos alegres, numa feliz explosão dos sentidos, que é apenas o debater-se do paralítico no pântano, sem qualquer possibilidade de socorro. Então a alegria já não é alegria, ela é a tristeza, e nos consome. Mas Cristo resgata-nos mediante o perdão, porque a tristeza no mundo gera a morte, mas a tristeza segundo Deus opera arrependimento para a salvação, da qual ninguém se arrepende (2Co 7.10).
Se o homem natural (sem Cristo) não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente, o homem espiritual discerne bem tudo, e ele de ninguém é discernido, porque tem a mente de Cristo (1Co 2.14-16).
Se o homem natural morre pouco a pouco, o homem espiritual já vive eternamente, porque nele habita o Filho de Deus, no qual está a vida em plenitude, em glória.
O Carnaval acabou...
Resta-lhe a espera de mais um ano para, quem sabe, talvez não alcançá-lo. Se conseguir, lembre-se de que a morte avizinha-se com o golpe certeiro, e ela o manterá cativo perpetuamente.
Ao contrário, Cristo, por sua morte, nos dá vida por vida, revestindo-nos da Sua glória, e, definitivamente, jamais morreremos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário