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Encontrando a razão
Notas: 1 - Texto originalmente publicado aqui mesmo, no Kálamos, em 12 de Abril de 2011
Encontrando a razão
Se a visão secular do sexo está corrompida e tornou-se em mais uma forma de idolatria e rejeição a Deus, o que a Bíblia nos diz sobre o assunto?
Primeiro, que o sexo sempre esteve no plano de Deus, como parte do seu decreto eterno. Portanto, ele é santo, como já disse. De outra forma, Deus não criaria homem e mulher, macho e fêmea, não os dotaria física e afetivamente das características que permitiriam o envolvimento conjugal. Ele quis unir duas partes boas, mas que não funcionariam completa e perfeitamente se permanecessem separadas. Em nossa imperfeição [mesmo no Éden pré-Queda] o homem e a mulher seriam perfeitos na unidade. Ainda hoje isso é possível, desde que as partes sejam ligadas pelo Senhor das suas vidas: Cristo.
Segundo, porque é a forma mais íntima de relacionamento entre o homem e a mulher [conhecer várias mulheres, do ponto de vista sexual, equivale a não conhecer nenhuma. Portanto, essa forma de se relacionar é oposta à criada por Deus; é uma aberração, uma violação da santidade e pureza do homem e da mulher, que corrompem seus corpos dispondo-os dissolutamente a serviço do pecado].
O sexo não é um fim em si mesmo. Quando é pensado dessa forma não passará de um ídolo, e os ídolos pouco se importam conosco, pois querem-se satisfeitos primeiramente. E, em sua sanha doentia, ele se apropria de tudo o que é antinatural: bestialidade, masoquismo, pederastia, violência, etc, a fim de ser adorado. Quando se abandona o seu objetivo primaz, ele não mais é do que a falsificação, a forma degenerada daquilo que Deus estabeleceu como santo.
Terceiro, ao criar homem e mulher, e formar um casal, Deus nos ensinou o sentido de unidade, de se ser um só corpo, assim como ele é conosco por intermédio de Cristo.
Quarto, o sexo é uma das formas do homem e da mulher, conjuntamente, atingirem o prazer solidário, companheiro, afetivo. Como uma entrega de si para o outro (a), recebendo dele (a) para si, também.
Quinto, é uma das maneiras de se aplicar o que o Senhor Jesus disse: amar ao próximo como a si mesmo [Mc 12.33], a partir da decisão de assumir que "a mulher não tem poder sobre o seu próprio corpo, mas tem-no o marido; e também da mesma maneira o marido não tem poder sobre o seu próprio corpo, mas tem-no a mulher" [1Co 7.4]. É o caráter de subserviência conjugal que reflete, ainda que minimamente, a sujeição completa de todo o nosso ser a Deus. Por isso o homem resiste tanto a observar os princípios divinos quanto ao casamento. O que levou o Senhor a responder, quando interrogado pelos fariseus, a respeito do fato de Moisés autorizar o divórcio:"Moisés, por causa da dureza dos vossos corações vos permitiu repudiar vossas mulheres, mas no princípio não foi assim" [Mt 19.8]. Levando-me a deduzir que tanto a promiscuidade ou o "sexo-livre" quanto o divórcio são atitudes de rebeldia contra Deus.
O sexo pode ser, portanto, bênção para o casal, como pode ser maldição. Se realizado dentro dos princípios ordenadores da fé, primeiro por amor a Deus e, segundo, por amor ao próximo [e quem pode ser mais próximo do que o conjuge?], será bendito.
Talvez seja necessária a definição do que seja amor, visto se alegar que há várias formas de amor, mas a Bíblia reconhece apenas uma via em que as várias formas de amor transitam, e nada melhor do que voltarmos a atenção para 1Co 13. Não transcreverei todo o capítulo, creio desnecessário, pois o sabemos de cor e salteado. Ater-me-ei ao verso 7, quando Paulo diz que o amor "Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta".
O amor descrito pelo apóstolo é o amor-testemunho. Não somente o amor a compartilhar, participativo, sensível, consolador, fraterno... É claro que ele tem estes e outros elementos, mas também é o amor pelo qual os outros verão e reconhecerão que somos filhos de Deus. Foi o que o Senhor disse: "Um novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; como eu vos amei a vós... Nisto todos conhcerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros" [Jo 13.34-35].
Reportando a este exemplo, o sexo, assim como o casamento, realizado fora dos padrões morais e espirituais estabelecidos por Deus somente revelará o quanto estamos distantes dele; revelará o desejo pela autonomia e insubmissão; e de que parecemos ao mundo como nada mais do que o mundo mesmo se parece e é. O amor é o dístico pelo qual seremos reconhecidos que estamos em Cristo e ele em nós. Quando o homem se preocupa unicamente com o seu prazer e a sua satisfação, alheia à vontade divina, ele nem mesmo ama a si mesmo, iludido que está por um amor incapaz de resistir à ofensa [ainda que seja a ofensa a si mesmo através do próprio corpo]; incapaz de crer que o plano de Deus é perfeito, exequível, e não deve ser desprezado em favor da ofensa irresistível; incapaz de esperar nas promessas que Deus nos deu de que todas as nossas necessidades serão supridas; portanto, não se deve inquietar [e a inquietação levará ao sexo fugaz e desordenado]; e incapaz de suportar as exigências do espírito, antes se entregando as facilidades da carne.
O amor que se opõe ao que Paulo descreve nada mais é do que outra falsidade humana, outra forma de se buscar a autonomia, e iludir-se com a ideia de se ser livre de Deus.
Quando cristãos rejeitam o que lhes é exigido por Deus, estão mostrando ao mundo que também o rejeitou. A mensagem é de que nem mesmo nós o amamos, e se não o amamos, por que exigir dos que não o seguem o amor?
Mais do que o prazer e a alegria da comunhão, a troca de emoções, e o se fazer um, o casal torna-se testemunha daquilo que Deus tem feito, de como tem agido no meio deles, até mesmo, o que ele é. E se o individualismo, o egoísmo, a vaidade tomam o seu lugar, o testemunho será a falsidade daquilo que supomos Deus representar para ser a verdade daquilo que representamos para nós mesmos. Ou seja, Deus se tornaria irrelevante, e a relevância estaria em nós. E o testemunho seria de nós mesmos, não de Deus; porque não se suporta, não se crê, não se espera, nem se sofre, já que o amor falhou como verdade, alegrando-se na injustiça, buscando os seus próprios interesses. Mas isto não nos é dito, pelo contrário, "o amor nunca falha" [v.8], porque ele se agrada da verdade.
De tal forma que o casamento e o sexo [e o sexo somente é possível, biblicamente, na legitimidade nupcial] sejam administrados para a glória de Deus, assim como tudo o mais.
Infelizmente temos sido intolerantes com o Evangelho e tolerantes por demais com os nossos anseios e perversões. Os comportamentos antibíblicos são admitidos em nome do falso amor, que não corrige, exorta ou disciplina, mas avaliza práticas antinaturais e que afrontam a Deus. Nisso fica visível que não amamos ninguém; ao desobedecer os princípios traçados pelo Criador na Escritura, os quais deveríamos zelar, defender e subscrever; e por buscarmos uma paz impossível com o próximo e conosco mesmo, em que a nossa consciência estará em guerra contra a verdade. A soma disso tudo será o desamor, como a expressão máxima da aquiescência ao pecado.
Quando cristãos vêem o sexo, em suas múltiplas formas, como o objetivo final de seus corpos, esqueceram-se a muito do que é glorificar a Deus, e os seus testemunhos apenas validarão a si próprios na falsidade e hipocrisia.
As conseqüências serão o nome de Cristo blasfemado pelos ímpios e a alegação de que o Cristianismo é igualmente falso, assim como os falsos-testemunhos. Claro que pelo falso-testemunho de falsos-cristãos não podemos ser julgados, até porque o mundo não nos julgará nem o pode julgar, mas essas atitudes somente colaboram para impedir a autenticação do Evangelho entre aqueles que contemplam a inconsistência, incoerência e antagonismo entre o que dizem e praticam os que alegam servir a Cristo, e não o servem.
O amor que lhes sai da boca é tão impuro quanto o que praticam; invalidando com os seus atos o que dizem; ao ponto do Senhor afirmar, certa vez: “Hipócritas, bem profetizou Isaías a vosso respeito, dizendo: Este povo se aproxima de mim com a sua boca e me honra com os seus lábios, mas o seu coração está longe de mim. Mas, em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos dos homens” [Mt 15.7-9].
Não há outro meio. Se desprezamos os mandamentos de Deus, não o amamos, pois não os temos nem os guardamos [Jo 14.21]. Se induzimos outros a se manterem igualmente desobedientes quanto aos mandamentos do Senhor, não há amor por eles. Se nós mesmos infringimos a Lei do Senhor, também não nos amamos, mas devotamos o amor a outro: o pecado. Qualquer tentativa de se justificar a rebeldia, práticas e comportamentos antibíblicos usando o amor como alegação é mentira. O mesmo serve para o sexo. Se a razão não for bíblica será como um caminhão carregado descendo sem freios a ladeira íngrime... O final, ainda que com elementos diferentes, todos sabemos como será.
Notas: 1 - Texto originalmente publicado aqui mesmo, no Kálamos, em 12 de Abril de 2011