03 março 2014

Estudo da Confissão de Fé Batista de 1689 - Aula 61 - Dons Apostólicos: Operação de Maravilhas



Por Jorge Fernandes Isah 


Muitos entendem esse dom como sendo o mesmo de curar, como várias vezes Cristo e os apóstolos fizeram: dar vista aos cegos, audição aos surdos, a fala aos mudos, e restaurar membros aleijados [pernas e mãos, p.ex.]. Para isso, muitos tradutores substituem o termo "maravilhas" por "milagres", criando uma generalização que o apóstolo não quis dar. Por milagres, podemos entender uma ação imediata de Deus no cosmos, onde se incluiriam todos os dons relacionados em 1Co 12, e, muitos mais. Ainda que se possa tratá-los como sinônimos, penso que o escritor quis estabelecer uma separação, dando um caráter singular ao "operar maravilhas", contudo, estabelecer claramente essa diferenciação  é algo muito difícil. Essa distinção também está presente na dissociação entre ele e o dom de curar [leia o estudo sobre este dom], demonstrado, ao citá-los, na mesma sequência, separadamente, e não como um mesmo sinal indistinto. Assim, ele não queria que um dom fosse considerado análogo ao outro, revelando que eram ações inconfundíveis, diversas, mas realizadas pelo mesmo Espírito. Logo,  operar maravilhas e curar não podem ser tomados como a mesma coisa, como se fossem um mesmo dom, senão, por que Paulo os mencionaria distintamente? Ora, porque são dons diferentes e não idênticos, ainda que possam ser comparados em seu caráter sobrenatural. Sabemos o que é o dom de cura, mas o que vem a ser operação de maravilhas?
 
Primeiro, deve-se definir a palavra maravilha e sua aplicação no texto bíblico. Maravilha, milagres e sinais têm em comum, como já insinuei, o fato de serem ações ou manifestações especiais de Deus no mundo natural, uma interferência contrária, oposta e extraordinária, revelando um poder e uma realidade que estão acima, que são superiores, ao mundo físico ou natural.
 
Como também já vimos, os dons espirituais têm o objetivo de legitimar e autorizar o ministério dos apóstolos como instituído por Deus. Eles nunca estão sozinhos, mas sempre acompanhados da pregação do Evangelho, como confirmação de que eles são testemunhas vivas da palavra de Cristo. Na verdade, os apóstolos falavam ousadamente de Cristo, e ele confirmava a veracidade, "permitindo que por suas mãos se fizessem sinais e prodígios" [At. 14.3]. Muito do que pode ser dito deste dom já foi exposto nas aulas anteriores, não sendo necessário repeti-los.
 
Ao meu ver, o que diferencia o dom de operar maravilhas dos demais dons é a sua manifestação em eventos exteriores ao homem. Pode ser que a minha definição se enquadre numa limitação ou numa espécie de reducionismo do poder divino, mas penso que esse foi o propósito de Paulo ao mantê-lo distinto dos demais dons. 

Eles aconteceram em vários momentos históricos, como, por exemplo:
1) Moisés estendeu a sua mão sobre o Mar, e ele se abriu, e os judeus atravessaram-no: "Então Moisés estendeu a sua mão sobre o mar, e o SENHOR fez retirar o mar por um forte vento oriental toda aquela noite; e o mar tornou-se em seco, e as águas foram partidas. E os filhos de Israel entraram pelo meio do mar em seco; e as águas foram-lhes como muro à sua direita e à sua esquerda! [Ex 14.21-22];

2) Josué orou e o Sol e a Lua pararam: "Então Josué falou ao SENHOR, no dia em que o SENHOR deu os amorreus nas mãos dos filhos de Israel, e disse na presença dos israelitas: Sol, detém-te em Gibeom, e tu, lua, no vale de Ajalom. E o sol se deteve, e a lua parou, até que o povo se vingou de seus inimigos. Isto não está escrito no livro de Jasher? O sol, pois, se deteve no meio do céu, e não se apressou a pôr-se, quase um dia inteiro" [Js 10:12-13];
3) Jesus transformou água em vinho: "E estavam ali postas seis talhas de pedra, para as purificações dos judeus, e em cada uma cabiam dois ou três almudes. Disse-lhes Jesus: Enchei de água essas talhas. E encheram-nas até em cima. E disse-lhes: Tirai agora, e levai ao mestre-sala. E levaram. E, logo que o mestre-sala provou a água feita vinho (não sabendo de onde viera, se bem que o sabiam os serventes que tinham tirado a água), chamou o mestre-sala ao esposo, E disse-lhe: Todo o homem põe primeiro o vinho bom e, quando já têm bebido bem, então o inferior; mas tu guardaste até agora o bom vinho. Jesus principiou assim os seus sinais em Caná da Galiléia, e manifestou a sua glória; e os seus discípulos creram nele" [Jo 2.6-11];

4) Cristo andou sobre as águas e acalmou a tempestade: "E o barco estava já no meio do mar, açoitado pelas ondas; porque o vento era contrário; Mas, à quarta vigília da noite, dirigiu-se Jesus para eles, andando por cima do mar. E os discípulos, vendo-o andando sobre o mar, assustaram-se, dizendo: É um fantasma. E gritaram com medo. Jesus, porém, lhes falou logo, dizendo: Tende bom ânimo, sou eu, não temais. E respondeu-lhe Pedro, e disse: Senhor, se és tu, manda-me ir ter contigo por cima das águas. E ele disse: Vem. E Pedro, descendo do barco, andou sobre as águas para ir ter com Jesus. Mas, sentindo o vento forte, teve medo; e, começando a ir para o fundo, clamou, dizendo: Senhor, salva-me! E logo Jesus, estendendo a mão, segurou-o, e disse-lhe: Homem de pouca fé, por que duvidaste? E, quando subiram para o barco, acalmou o vento" [Mt 14.24-32];
5) Podemos também citar os apóstolos Pedro e Paulo, por cujas mãos Deus ressuscitou a Dorcas [At 9.40]  e Êutico [At 20.9-12].
O que nos leva à seguinte pergunta: existem pessoas com esses dons hoje? Alguém que possa agir contra a própria natureza e as leis físicas?

Certamente que não. Veja bem, não dizemos que milagres e acontecimentos maravilhosos como os relatados acima não possam acontecer, pois não é isso. Somente não cremos que Deus ainda distribui dons sobrenaturais aos homens, pois, como já foi mostrado, eles não eram apenas feitos em si mesmos, eventos que se autoexplicassem sem a necessidade de um exame acurado. Eles estavam sempre atrelados à revelação escriturística, testificando a autoridade investida por Deus aos apóstolos e àqueles a quem os apóstolos designavam, como testemunhas de Cristo e seu Evangelho. O próprio Senhor realizava-os, primeiramente para revelar ao mundo a autoridade divina do Filho, da segunda pessoa da Trindade Santa, mas também apontando para o Pai, aquele que o enviou. Esses dons eram sinais de testemunho, confirmando que a palavra proferida era a fiel e autêntica palavra de Deus. Assim, também,  o testemunho apostólico comprovava a ressurreição do Senhor, de que com ele comeriam e beberiam após a sua morte [At 10.34-42].

Não nos esqueçamos também de que as Escrituras ainda não estavam concluídas ou fechadas, e foram esses homens que a redigiram, e, para tanto, os dons espirituais eram sinais de que a palavra escrita carregava o selo legítimo da autoridade divina. 

Por fim, o apóstolo reivindica que a salvação, anunciada inicialmente por Cristo, foi confirmada, naquele tempo [e ainda hoje], pelos que a ouviram [apóstolos e discípulos], testificando Deus com eles, por sinais e milagres, e várias maravilhas e dons do Espírito Santo. Então, nada disso é mais necessário hoje, porque temos a certeza de que, pela palavra revelada, a salvação é um dom de Deus pela fé em Cristo.
 
Hoje, mais do que demonstrar o poder de determinado pastor ou missionário, o que não faria sentido, visto a revelação estar completamente explicitada e concluída, e nada poder ser-lhe acrescentada [pois o fazendo, implicaria em maldição ao que acrescentar ou tirar algo da Escritura], os milagres e maravilhas realizados por Cristo e seus apóstolos reportam-nos à certeza, mais do que a esperança, de que Deus governa soberanamente sobre tudo e todos, e de que, no dia do Senhor, a tão desejada redenção universal virá como cumprimento da promessa de Cristo, revelando-nos a sua glória. De forma que o reino das trevas será definitivamente vencido e destruído [Lc 11:20-23], a morte será finalmente aniquilada [1Co 15.26], todo sofrimento expirado, assim como toda lágrima, enxugada [Ap  21.4],  e o caos dará lugar à ordem e paz eternas, nos novos céus e terra [Ap 21.1]. E não mais serão necessários milagres, porque viveremos o eterno milagre: a salvação!

Notas: 1) Aula realizada na EBD do Tabernáculo Batista Bíblico;
2) Baixe esta aula em Aula 79 - Dons - Operação de Maravilhas.MP3
3) Muitos outros pontos foram abordados no áudio, e que não estão presentes no texto 

2 comentários:

  1. Como Deus poderia ter ordenado a imobilização do Sol, se hoje sabemos que não e ele que gira sobre a Terra e sim o contrário ! Ou alguém aí nunca ouviu falar de Galileu Galillei ?

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  2. Geraldo,

    apesar da sua implicância militante [o estilo é próprio dos militantes anticristãos ou religiosos], e da nítida intenção de causar uma querela, responder-lhe-ei:
    Começando do final, o que Galileu tem a ver com o teor do meu texto? Por acaso estou discutindo algum ponto científico, por aqui? Ou o meu texto é exclusivamente teológico? Se quer discutir o texto, faça-o nos limites do texto, e não fique procurando pretexto para uma "briguinha", como parecem ser suas intenções, típicas de um menino birrento.

    Impressiona-me como tipos semelhantes a você leem mal e fazem questionamentos ainda piores, investidos de um reducionismo infantil e bobo, no qual tentam transparecer uma áurea de sabedoria e superioridade, mas, que, contudo, denotam apenas um espírito provocativo e beligerante.

    Para o seu conhecimento, o fato ocorrido com Josué aconteceu, aproximadamente, mil anos antes de Cristo, portanto, era-lhe impossível saber que a Terra girava em torno do Sol, logo a perspectiva do autor do texto bíblico é a mesma que você vê e todos nós vemos: o sol mover-se. Mas, para você, já é suficiente para desmerecer toda a narrativa, enquanto foi incapaz de entendê-la minimamente. Ao menos esforce-se em ler e entender o que lê, para não fazer perguntas bocós e chegar a conclusões esdrúxulas.

    E ainda pergunta-me se ouvi falar de Galileu? Como se somente você soubesse? É muita pretensão e tolice. Portanto, se não se ativer ao teor do texto, e questões pertinentes a ele, e ficar como cego em tiroteio, não publicarei mais os seus comentários, e a nossa conversa encerra-se aqui.

    Cristo o abençoe, e abra-lhe os olhos!
    [É o meu desejo sincero, e não uma provocação; que fique claro!]

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