12 julho 2009

EVANGELHO: SALVAÇÃO OU CONDENAÇÃO?










Por Jorge Fernandes Isah

Em recente conversa com o irmão Natan de Oliveira, a qual originou o estudo escatológico que presentemente ele faz em seu blog, deparei-me com os seguintes versículos:
“Por causa da esperança que vos está reservada nos céus, da qual já antes ouvistes pela palavra da verdade do evangelho, que já chegou a vós, como também está em todo o mundo; e já vai frutificando, como também entre vós, desde o dia em que ouvistes e conhecestes a graça de Deus em verdade” (Col 1.5-6). Veio-me a seguinte questão: Quando Paulo diz mundo está se referindo a todo o Mundo?

Sabemos que a palavra mundo tem vários significados na Bíblia. Mas especialmente esse não se parece enquadrar em nenhum deles. Vamos analisar o que nos revelam os versos:

1) A esperança está reservada aos santos;
2) Os santos ouviram a palavra de esperança pela pregação do Evangelho;
3) Que tanto a palavra de verdade como de esperança chegou aos santos de Colossos;
4) Ela também chegou a todo o mundo;
5) Ela vai dando frutos de conversão e santificação, para a glória de Deus.
Se não interpreto equivocadamente, esses são os princípios contidos nos dois versículos aos quais o apóstolo nos leva a contemplar. Porém, quero me deter no item 4: a palavra da verdade, na qual repousa a esperança dos santos, “como também está em todo o mundo”. Analisemos algumas hipóteses para o contexto da expressão mundo:

1) Refere-se a todo o planeta;
2) Refere-se ao mundo conhecido da época;
3) É uma expressão superlativa para designar todos os que ouviram o Evangelho, não necessariamente todos os habitantes do planeta ou da parte conhecida do planeta;
4) Significa tão somente os eleitos, o Corpo de Cristo.

Vamos a outro versículo que auxiliará a argumentação:
“Se, na verdade, permanecerdes fundados e firmes na fé, e não vos moverdes da esperança do evangelho que tendes ouvido, o qual foi pregado a toda criatura que há debaixo do céu, e do qual eu, Paulo, estou feito ministro” (Col 1.23).

O que lhe parece quando o apóstolo fala em “toda criatura que há debaixo do céu”?

1) São todas as criaturas que habitam o planeta;
2) São todas as criaturas que habitam o mundo conhecido da época;
3) É uma expressão superlativa para designar todos os que ouviram o Evangelho, não necessariamente todos os habitantes do planeta ou da parte conhecida do planeta;
4) Significa tão somente os eleitos, o Corpo de Cristo.

Atente-se que Paulo escreveu aos colossenses, mas será que o seu objetivo era o de atingir toda a cidade de Colossos ou apenas a Igreja em Colossos? É claro que a carta é dirigida à Igreja e não à cidade, “aos santos e irmãos fiéis em Cristo”(v.2) e não a todos os habitantes. Colossos era uma cidade em declínio à época em que Paulo escreveu essa carta, a qual é um dos quatro escritos que compõem as Epístolas da Prisão. Paulo provavelmente não visitou a cidade nem evangelizou-a diretamente, mas provavelmente alguns dos seus colaboradores participaram na edificação do corpo local, e por isso ele se sentia responsável pessoalmente por ela.

Então, sabendo que Paulo não escreveu para todos os colossenses, mas para os santos em Colossos, não seria correto interpretar que a palavra mundo nos versículos citados não se refere ao mundo todo, a todos os habitantes do planeta, e nem mesmo a todos os habitantes da parte conhecida do planeta?
A próxima opção é a de que o apóstolo se refere apenas aos que ouviram o Evangelho onde ele foi pregado. Não é todo o mundo, nem mesmo o mundo conhecido, mas algumas partes desse mundo conhecido. Ainda assim, não seriam todas as pessoas que habitavam nessas partes, mas apenas as que ouviram o Evangelho. Parece mais plausível e exeqüível. Mas a questão aqui não é do que pode ser executado ou não, do que é eficaz ou não, até porque nada é impossível para Deus (Mt 19.26), mas daquilo que Paulo diz verdadeiramente. E o certo é que, nem todos os que ouviram a pregação converteram-se. Logo, Paulo não pode estar falando dos que apenas ouviram o Evangelho, porque entre eles houve os que mantiveram seus corações impenitentes.

A última opção é de que Paulo ao citar o termo mundo, falou exclusivamente dos santos, da Igreja do Senhor, aqueles que ouviram a pregação da verdade e da esperança, foram regenerados, e tornaram-se membros do Corpo de Cristo, “De sorte que a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus” (Rm 10.17). Deus destinou os eleitos a ouvirem a palavra, a terem fé, de que todos seriam salvos, e de que todos fariam parte da Igreja, a qual é o mundo dos vivos, dos salvos em Cristo, e por Cristo. Resumindo: aqueles que Deus, em sua soberania e graça, decretou infalivelmente a salvação por Seu Filho Jesus Cristo, estes ouviram a pregação do Evangelho, foram convertidos e tornados santos.

O termo frutificando no v. 6 relaciona-se com mundo, e o apóstolo o compara com os santos de Colossos. A indicação é de que os eleitos do mundo produziam frutos pela graça de Deus: da fé em Cristo, e do amor para com todos os santos (v.4). Não há porque usar-se o termo frutificando em relação aos incrédulos, mas aqui ele claramente refere-se aos santos de Colossos e aos que frutificam como os santos de Colossos, “desde o dia em que ouvistes e conhecestes a graça de Deus em verdade”.

Ora, aqueles destinados à incredulidade jamais provarão da graça de Deus, no sentido de salvação e santificação, muito menos da verdade. É o que Paulo faz questão de confirmar ao citar novamente o termo: “Para que possais andar dignamente diante do Senhor, agradando-lhe em tudo, frutificando em toda a boa obra, e crescendo no conhecimento de Deus” (v.10). Quem pode estar incluído neste contexto a não ser os crentes, aqueles regenerados por Cristo? Portanto, toda a relação faz-se entre o Evangelho, a pregação apostólica, a conversão e santidade, e o mundo como o mundo dos santos; ao qual fomos transportados por Deus, tirados da potestade das trevas para o reino do Filho do seu amor, “em quem temos a redenção pelo seu sangue, a saber, a remissão dos pecados; o qual é imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação” (v. 13-15). Neste contexto, não há lugar para incrédulos nem condenados, somente os salvos por Cristo.

No v. 23, Paulo coloca o Evangelho pregado a toda criatura debaixo do céu, do qual ele foi feito ministro “segundo a dispensação de Deus, que me foi concedida para convosco, para cumprir a palavra de Deus; o mistério que esteve oculto desde todos os séculos, e em todas as gerações, e que agora foi manifesto aos seus santos” (v. 25-26). Novamente, encontramos uma inter-relação entre as palavras toda criatura e santos. O que nos leva a crer que Paulo utilizou-se dos termos mundo e toda criatura não para afirmar que o Evangelho foi pregado a todos que existiam à época, mas para designar que Deus, em sua santa e perfeita sabedoria, tinha destinado a pregação do Evangelho para salvar a todos os eleitos, e de uma forma sobrenatural, eles todos estavam ao alcance dos discípulos e apóstolos de Cristo, quanto ao ouvir a palavra a fim de serem regenerados.

Da mesma forma, no v. 28, Paulo anuncia, admoesta e ensina a todo o homem em toda a sabedoria, “para que apresentemos todo o homem perfeito em Jesus Cristo”. Todo o homem aqui significa todas as pessoas existentes? Se assim for, Paulo está a pregar o universalismo, a doutrina de que ninguém será condenado, e de Deus salvará a todos. Mas sabemos que a Bíblia não afirma nem confirma esta heresia, pelo contrário, rejeita-a de capa a capa. Então, o apóstolo somente pode estar a falar, novamente, de todos os eleitos, daqueles que foram destinados à salvação. O que nos leva a outra pergunta:
Qual o propósito do Evangelho? Salvar os escolhidos ou condenar os réprobos?

A Bíblia diz que os réprobos já estão condenados (Jo 3.18). A pregação da palavra apenas agrava ainda mais a situação deles. Como está escrito: “Ao homem herege, depois de uma e outra admoestação, evita-o, sabendo que esse tal está pervertido, e peca, estando já em si mesmo condenado” (Tt 3.10-11). Portanto, a pregação do Evangelho é para que o escolhido tenha confirmada, no tempo, a sua eleição eterna; para que o santo tenha confirmada, no tempo, a sua santidade; para que o salvo tenha confirmada, no tempo, a sua salvação; para que o filho tenha confirmada, no tempo, a sua filiação a Deus, por Cristo nosso Senhor.

Paulo não falava genericamente, como um tolo, mas sabiamente, inspirado pelo Espírito Santo. Logo, ele se refere apenas aos santos, à Igreja, ainda que alguns teimem em acreditar que o Evangelho é para todo o mundo, para todos os homens, e todas as criaturas debaixo do céu*.

*Com isso não quero dizer que o Evangelho não deva ser proclamado a todas as pessoas, em todos os cantos do planeta. Não é isto. Porém, ele surtirá efeito e trará frutos apenas nos corações aos quais Deus escolheu regenerar. Aos demais, a palavra surtirá o seu efeito também, não voltando vazia, mas condenando, segundo o que apraz a Deus (Is 55.11).

04 julho 2009

NASCER OU MORRER















Por Jorge Fernandes


Há um trecho que sempre me chamou a atenção na pregação de João o Batista, quando as multidões vinham ouvi-lo as margens do Jordão, desde Jerusalém e toda a Judéia, para serem batizados (Mt 3.5-6). Em dado momento, ele avista os fariseus e saduceus, e profere: “Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira futura? Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento” (Mt 3.7-8). É uma exortação que serve para qualquer um de nós, judeus ou não; é uma pregação dura, mas que também serve a qualquer pecador, revelando-lhe a necessidade de apartar-se do mal e fazer o bem (Sl 37.27). Contudo, em vista de quem a advertência foi dirigida, revelava a intenção dos corações e de seus verdadeiros intentos: “E não presumais, de vós mesmos, dizendo: Temos por pai a Abraão; porque eu vos digo que, mesmo destas pedras, Deus pode suscitar filhos a Abraão” (Mt 3.9). Puxa, esse foi um direto, um verdadeiro “knockdown” que colocaria o tolo mais persistente a beijar a lona. Porque João lançou por terra qualquer expectativa dos fariseus e saduceus de serem herdeiros étnicos do céu. E mais do que isso, implicava em duas outras coisas:

  1. Nem todos são filhos de Deus. Nenhuma filiação religiosa ou étnica pode garantir a filiação divina. Como Paulo disse: “Porque não é judeu o que o é exteriormente, nem é circuncisão a que o é exteriormente na carne. Mas é judeu o que o é no interior, e circuncisão a que é do coração, no espírito, não na letra; cujo louvor não provém dos homens, mas de Deus” (Rm 2.28-29).
  2. Deus pode fazer o que quiser segundo a Sua vontade, sem precisar do consentimento humano, até mesmo tornar pedras em filhos de Abraão se assim desejasse. Pois, se não fosse pelo Seu poder transformador, quem creria? E quem se converteria?

O que isso quer dizer? Que esses judeus não consideravam a hipótese de arrependimento, em suas mentes corrompidas tinham a certeza de garantia do reino de Deus pela raça. Como mentes irregeneradas, perverteram a aliança e as promessas de Deus, ao seu bel prazer, assim como a lei. João o Batista mostra-lhes a necessidade de regeneração, do novo nascimento, a fim de se tornarem em verdadeiros filhos de Deus. Como o Senhor disse a Nicodemus: “Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus... O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito. Não te maravilhes de te ter dito: Necessário vos é nascer de novo” (Jo 3.3;6-7). Ao que Paulo ecoou o ensino de Cristo: “Porquanto a inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem, em verdade, o pode ser. Portanto, os que estão na carne não podem agradar a Deus” (Rm 8.7-8).

Da mesma forma que os judeus acreditavam que o povo de Israel não precisava de um novo nascimento, percebe-se, hoje em dia, o mesmo sentimento errôneo de que através de dogmas e filosofias humanas (não se esqueça de que tanto o farisaísmo como o sadoquismo eram filosofias dentro do judaísmo), cristãos se consideram inseridos no reino de Deus, não pelo sacrifício de Cristo na cruz, mas pela tradição de que são herdeiros pelo nascimento, pelos rituais ou pela proteção eclesiástica. Pensemos sinceramente, qual a garantia a Bíblia dá de que, nascendo em um lar cristão, cumprindo os sacramentos cristãos, ou estando em uma igreja, a salvação está assegurada?

Em outra passagem, Cristo confrontou os judeus a conhecerem a verdade, pois a verdade os libertaria (Jo 8.32). Porém, eles se revoltaram contra o Senhor, em suas obscuridades espirituais criam que o fato de serem descendência de Abraão era a garantia de liberdade. Respondeu-lhes Jesus: "Em verdade, em verdade vos digo que todo aquele que comete pecado é servo do pecado" (Jo 8.34). Eles insistiram: "Nosso pai é Abraão. Jesus disse-lhes: Se fôsseis filhos de Abraão, farieis as obras de Abraão... Se Deus fosse o vosso Pai, certamente me amaríeis, pois que eu saí, e vim de Deus; não vim de mim mesmo, mas ele me enviou... Vós tendes por pai ao diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso pai" (Jo 8.39;42;44).

Cristo mostrou-lhes como estavam enganados, e viviam uma crença completamente oposta àquilo que Deus havia estabelecido para os seus servos. Ali, Ele deixou claro que a genealogia, a etnia e, porque não, a fé equivocada, em nada assegurava-lhes a salvação. Os judeus invocavam uma justificação por obras, através de si mesmos, dos antepassados, da condição transmitida pela carne. Ao passo que Cristo revelou-lhes a completa loucura de suas mentes, as quais eram incapazes de compreendê-lO: "Por que não entendeis a minha linguagem? Por não poderdes ouvir a minha palavra... porque vos digo a verdade, não me credes" (Jo 8.43;45).

À mente natural, inconversa, não resta mais nada a não ser a morte. Não há vida, nem salvação. Para se ver o reino de Deus é necessário nascer do Espírito: "a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que crêem no seu nome; Os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus" (Jo 1.12-13). Por que, então, alguns ainda negam o novo nascimento? Como se a salvação pudesse ser transmitida de pai para filho, através dos sacramentos, ou pela linhagem de um povo?

Os judeus acreditavam que apenas os estrangeiros e os que pertenciam a outras religiões careciam da conversão. Sairiam de onde estavam (a cultura, etnia ou crença) e seriam transplantados ao judaísmo. Da mesma forma, muitos hoje acreditam que a troca de endereços ou a permanência neles (saindo de uma igreja ou ficando) garantir-lhes-á a segurança do céu. Sem regeneração? Impossível! Nem se adequando ao formalismo religioso, ao cumprir certos rudimentos ritualísticos; mesmo tendo-se convicção intelectual, uma aceitação pela perspectiva meramente religiosa. Porque a vivificação é obra exclusiva do Senhor, a demonstração do Seu poder em resgatar o pecador da morte e da condenação: Porque Deus, "estando nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo (pela graça sois salvos), e nos ressuscitou juntamente com ele e nos fez assentar nos lugares celestiais, em Cristo Jesus" (Ef 2.5-6). Esse é o poder que transforma o pecador em santo, o condenado em salvo, a criatura das trevas em filho de Deus; o qual opera independente da vontade humana, do homem querê-lo ou não, de buscá-lo ou não, pois essa prerrogativa é divina, algo que somente o Criador pode realizar, pois "a carne e o sangue não podem herdar o reino de Deus, nem a corrupção herdar a incorrupção" (1Co 15.50).

É preciso nascer de novo, ou morre-se para sempre.


29 junho 2009

NÃO HÁ MURO ONDE SUBIR
















Por Jorge Fernandes

A igreja pode mudar o mundo? Não sei se é possível, na verdade, não creio possível, pois não vejo respaldo bíblico para a afirmação de que a igreja transformará o mundo. Em especial porque, ao contrário, ela vem sendo excessivamente influenciada por ele. De certa forma, as trevas têm ganhado batalhas (não me entendam mal, as trevas jamais vencerão a luz), mas sabemos que a vitória na guerra é de Cristo, e nossa, por Cristo.
Se há algo que podemos fazer é proteger a igreja das sugestões malignas, voltar ao Evangelho, ser novamente luz e sal no mundo. Para que isso aconteça é necessário que se abandone as experiências místicas e sensitivas, a adoração superficial, e a convicção errada de que, qualquer coisa, desde que tenha uma cruz, é cristianismo; de que, qualquer um, desde que seja batizado, é cristão. Enquanto insistir-se em lutar contra o mundo, com as armas do mundo, ele sempre vencerá, ainda que nos dê, em um ou outro round, a falsa idéia de que jogará a toalha, de que está próximo de ser derrotado (entenda que, eternamente, satanás e o mal estão derrotados, mas para nós, a vitoria aconteceu no tempo, e compreenderemos a sua plenitude no Dia do Senhor). Ao usar o armamento alheio, revelamos que as armas celestiais não são as melhores, e acabamos por nos conformar aos métodos e práticas as quais queremos vencer.
Quem pode derrotá-lo? Cristo já o fez na cruz do Calvário, e ao ressuscitar no terceiro dia. Então, se Ele é o nosso general, por que temos de ouvir o inimigo irremediavelmente derrotado? Basicamente porque se abandonou a doutrina e o modo de vida cristão. Não em relação aos dogmas denominacionais de batistas, presbiterianos, assembleianos, mas a essência do Evangelho, a revelação divina nas Escrituras Sagradas, e o entendimento daquilo que Deus nos revelou como a Sua vontade.

ENSINO DA IGREJA
Li recentemente um artigo em que o irmão opunha-se ao ensino pela igreja, no sentido de que esse não é o papel da igreja. É claro que a igreja não ensina, e sim os membros que são qualificados pelo Espírito Santo e designados por ela para tal. Senão, porque Paulo escreveria: “Ora, vós sois o corpo de Cristo, e seus membros em particular. E a uns pôs Deus na igreja, primeiramente apóstolos, em segundo lugar profetas, em terceiro doutores, depois milagres, depois dons de curar, socorros, governos, variedades de línguas” (1Co 12.27-28 – este e outros grifos são meus). Se a igreja não ensinar as doutrinas bíblicas, como o corpo terá unidade? E para que haveria doutores? “Se todo o corpo fosse olho, onde estaria o ouvido? Se todo fosse ouvido, onde estaria o olfato? Mas agora Deus colocou os membros no corpo, cada um deles como quis. E, se todos fossem um só membro, onde estaria o corpo?” (1Co 12.17-19). Fico a perguntar se a igreja a qual esse irmão é membro não tem nenhuma doutrina, nem é ensinada a verdade aos neófitos. Pelo que entendi, apenas o Espírito Santo pode ensinar, doutrinar o eleito, e Deus usará a Bíblia como única fonte de ensino. Porém, da mesma forma que foi dado dons diferente aos membros da igreja, todos poderão aprender por si só? E no caso daqueles que são analfabetos? À época da igreja primitiva, e até pouco tempo, uma minoria era capaz de ler. Nesse caso, a palavra foi-lhes lida e pregada, mas será que todos têm a capacidade de entender? E a quem não tem o Espírito (o incrédulo, p. ex.) como chegará ao conhecimento da verdade? Não será por pregação, pelo ensino? Filipe, que não era apóstolo (o irmão diz que o ensino era uma prerrogativa apostólica) ao ser levado ao deserto pelo Espírito não ensinou ao Eunuco? (At. 8.26-39). Mas alguém poderá dizer: “Bem, você faz a defesa do ensino para o incrédulo, que ainda não é parte da igreja, nesse caso, está certo. Mas aos membros do corpo, apenas o Espírito pode ensinar”. Porém a ordem do Senhor é clara: “Fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado” (Mt 28.19-20).
Isso é preservar a doutrina de Cristo, a qual se dará pelo ensino dos eleitos aos eleitos. Ou Paulo, em suas cartas, faz o quê? Ele não ensina, exorta, orienta? Mas o irmão poderia dizer: “Esse é o ensino dos apóstolos, ninguém mais pode fazê-lo”, mas os apóstolos não são membros do corpo? E eles não ensinaram a outros crentes que ensinaram a outros crentes e, assim, “o que é instruído na palavra reparta de todos os seus bens com aquele que o instrui(Gl 6.6)? Aqui a instrução é prerrogativa humana, e não do Espírito Santo, o qual capacita tanto o instrutor quanto o instruído ao entendimento, de tal forma que o instrutor será recompensado pelo instruído (o que muitos considerarão uma ofensa: a recompensa pecuniária para ensinar), logo, essa instrução não pode ser pelo Espírito, pois, o que poderíamos dar-LHE? (a alusão a bens é claramente material, e mesmo que não fosse, a obediência, o serviço, a adoração e devoção a Deus não são nenhuma forma de "paga" pelo que Ele nos dá).
O mesmo Paulo se qualifica como doutor dos gentios na fé e na verdade” (1Tm 2.7); exorta Timóteo a que mande “estas coisas e ensina-as (1Tm 4.11); de que “se alguém ensina alguma outra doutrina, e se não conforma com as sãs palavras de nosso Senhor Jesus Cristo, e com a doutrina que é segundo a piedade, é soberbo, e nada sabe, mas delira acerca de questões e contendas de palavras” (1Tm 6.3-4); “ao servo do Senhor não convém contender, mas sim, ser manso para com todos, apto para ensinar, sofredor; instruindo com mansidão os que resistem, a ver se porventura Deus lhes dará arrependimento para conhecerem a verdade” (2Tm 2.24-25) ; “Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste, e de que foste inteirado, sabendo de quem o tens aprendido (2Tm 3.14).
Não há nenhuma referência ao ensino sobrenatural do Espírito, mas ao ensino humano, segundo o poder divino de capacitar, operar e confirmar a Palavra no coração eleito, revelando-lhe a Sua vontade.
Portanto, a igreja, não como entidade institucional (Vaticano, Concílios, Dioceses, etc), é responsável por aquilo que Cristo lhe deu: o Evangelho, mantendo-o na pureza em que Ele o proclamou, na santidade da revelação escriturística. E isso é realizado através de cada um dos membros do corpo, sob a supervisão e autoridade do Espírito Santo, mas também da igreja, a qual é inspirada por Ele.

VOLTA AO EVANGELHO
Sem a proclamação da doutrina bíblica, como será possível influenciar o mundo?* Sem que os membros sejam ensinados à obediência escriturística, negligenciando-a, haverá vida cristã? Enquanto os alicerces, os fundamentos da doutrina, não estiverem arraigados na igreja (verdades como a Trindade Santa, a Queda, a Depravação Humana, a Expiação Vicária de Cristo, o Arrependimento e a Regeneração do incrédulo, a Santificação... doutrinas que já são realidade na vida do eleito, e não uma promessa futura), está-se a proclamar qualquer outra coisa menos o Evangelho.
É indispensável e urgente voltar-se à pregação expositiva, à prática cristã do estudo bíblico individual e nos lares, à Escola Dominical, para que sejamos instruídos na verdade revelada, capacitados a entendê-la, praticá-la e ensiná-la aos novos e velhos crentes, não a confundindo com a falsa doutrina e o antievangelho. Sem nos esquecer da oração diária e a intercessão por todos, crentes ou não.
O reflexo será o despertar da consciência em Deus, da redenção em Cristo, das promessas que nos aguardam na eternidade, mas, também, uma vida terrena que testemunhe o amor e a graça divinas, através de atitudes que traduzam ao mundo como é a mente de Cristo: fazendo o bem, perdoando as ofensas, confortando os aflitos, suprindo as necessidades do próximo (material e espiritual), não nos conformando com o mundo e a nossa vontade, mas resignados à vontade santa e soberana de Deus.
Assim é que demonstraremos o interesse verdadeiro pelas pessoas e a obediência sincera a Deus. Como diz o ditado: "Palavras são palavras, nada mais que palavras", e se não são acompanhadas por atitude e comportamento que as corroborem, continuarão sendo palavras; ao que o apóstolo exorta-nos: “Meus filhinhos, não amemos de palavra, nem de língua, mas por obra e em verdade” (1Jo 3.18).
Cristo proclamou o Evangelho, ensinou-o, dando-nos o exemplo de como viver santa, justa e perfeitamente segundo a Sua palavra. Não há meio termo, nem muro, no qual haja neutralidade e se possa subir. Então, onde você está? Em Cristo? No mundo? Se sim, não. Se não, sim. Pois o Senhor é quem definirá: onde Ele estiver, ali o eleito estará.
* Como disse, não me iludo na transformação do mundo secular em cristão, mas piamente acredito que a Igreja influencia-lo-á, tirando das trevas aqueles que Deus predestinou eternamente à luz.

22 junho 2009

FRANKENSTEIN TEOLÓGICO























Por Jorge Fernandes Isah

Há tempos me pergunto por que os crentes insistem em enviar tantas mensagens tolas, despropositadas e contra o Evangelho de Cristo a outros irmãos, e o que é pior, a incrédulos também. Falta-lhes sabedoria? “Não sabeis então discernir este tempo?” (Lc 12.56). Ou ainda não se converteram do seu mau caminho? (Jr 3.19). É possível identificar os motivos. Primeiro, o desconhecer escriturístico. Segundo, o prazer em propalar o mundanismo, afinal, ele aguça a delicadeza e os sentidos da carne. Terceiro, uma vida cristã sem Cristo. Este ponto deveria ser o primeiro, mas coloquei-o em último para abordá-lo detidamente, pois, de certa forma, pode-se falar em dois tipos de vida cristã: a verdadeira, proporcionada pelo novo-nascimento e pela ação do Espírito Santo na vida do convertido, e a falsa, onde há o engano e uma pretensa submissão a Deus. Quer saber sobre o novo-nascimento? Leia o texto “A Morte da Morte”.
Porém, é possível haver uma conversão ao contrário? O pecador aparentemente converte-se a Cristo, batiza-se, participa dos trabalhos na igreja (às vezes torna-se evangelista, diácono, pastor), alcançando a liderança para, sutilmente, corromper o Evangelho? Essa é a capacidade da heresia de se reformular e aproximar da verdade, fazendo com que as diferenças pareçam insignificantes, e o pior é que ela vem acompanhada de um compêndio de justificativas insanas e perigosas, que a torna ainda mais diabólica. O que antes era doutrina bíblica agora não é mais, e o que não era doutrina bíblica transforma-se na própria maldade pelas bocas de seus defensores. Eles acreditam ser possível redefinir as palavras do Senhor: “Assim, toda a árvore boa produz bons frutos, e toda a árvore má produz frutos maus. Não pode a árvore boa dar maus frutos; nem a árvore má dar frutos bons” (Mt 7.17-18). Nessa linha de raciocínio, seriam capaz de pular da Torre Eiffel em pêlo e sair voando como pássaros. Mas se apenas os morcegos, pássaros e insetos têm o dom natural de voar, é crível uma árvore má dar bons frutos ? Pelo contrário, ela será cortada e lançada no fogo (Mt 7.19); porque é impossível, sem conversão, que o homem natural dê “frutos de justiça, que são por Jesus Cristo, para glória e louvor de Deus” (Fp 1.11).
Não contente em ter o inferno, querem dividi-lo com o máximo de irmãos, e num jogo demoníaco, promoverem as obras da carne, “as quais são: adultério, fornicação, impureza, lascívia, idolatria, feitiçaria, inimizades, porfias, emulações, iras, pelejas, dissensões, heresias, invejas, homicídios, bebedices, glutonarias, e coisas semelhantes a estas, acerca das quais vos declaro, como já antes vos disse, que os que cometem tais coisas não herdarão o reino de Deus” (Gl 5.19-21). Mas esquecem-se de que, “tudo o que o homem semear, isso também ceifará” (Gl 6.7). Crêem plantar para outros a condenação, mas acabam por plantá-la a si mesmos. Assim, com o objetivo de combater a verdade, incitam, pregam e vivem a mentira, enquanto a verdade é desprezada, tornando-a antiquada, obsoleta e irrelevante.
Infelizmente, esses falsos mestres penetram nas igrejas como
crentes estabelecidos, são aceitos pela comunidade cristã, e seus ensinos enganosos espalham-se como erva daninha, cujos objetivos importunos, nocivos e artificiosos intentam trair a credulidade irrefletida da igreja. Sutilmente a heresia contamina as pessoas, pouco a pouco, tornando-a popular exatamente por ser quase a verdade, e se amoldar perfidamente à natureza corrompida e pecaminosa do homem, o qual é incapaz de vê-la, e mesmo os que a vêm, por sua perspicácia, acabam por considerá-la inofensiva ou uma verdade recriada, uma espécie de Frankenstein teológico.
Para eles, existe a verdade sem Deus ou Deus sem a verdade; mas a verdade sem Deus não existe, nem Deus sem a verdade, porque a primeira não passa de abstração, a loucura máxima a que o homem pode atingir, enquanto a segunda é a blasfêmia em sua forma mais virulenta, a treva mais densa em que o homem pode penetrar; porque a verdade para ser real e não uma fantasia leviana, tem de provir de Deus, o qual é a única verdade
(Jo 14.6).
Para eles, a verdade não precisa ser defendida nem proclamada, mas escondida a
sete chaves como um tesouro secreto do qual não se sabe o esconderijo nem se tem o mapa. Graças a Deus por nos dar a Sua revelação, a Bíblia, a qual “é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redargüir, para corrigir, para instruir em justiça; para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra” (2Tm 3.16-17).
Para eles, a igreja não precisa da verdade; como Paulo diz, não suportão a sã doutrina,
“mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si doutores conforme as suas próprias concupiscências; e desviarão os ouvidos da verdade, voltando às fábulas” (2Tm 4.3-4). Para que crer na verdade? Se pelo humanismo é possível acomodar o homem no redil das incertezas, incitá-lo ao pecado, à apostasia e ao nominalismo religioso?
Para eles, o que importa é a aparência, a reputação, o sucesso e a covardia de jamais admitir a cumplicidade com o mal, tolerando-o utilitariamente a fim de obter seus interesses pessoais (o Evangelho beneficia o indivíduo, no caso, o escolhido de Deus, mas jamais o indivíduo poderá impedir que os demais eleitos sejam igualmente beneficiados pela palavra), permitindo que todo o tipo de heresia substitua os princípios bíblicos, afastando-se da revelação divina (não são precisas todas as heresias; uma ou duas, e o trabalho estará feito).

Para eles, é fundamental abandonar a objetividade da Palavra e uma vida santa, e substituí-las pela subjetividade, o egoísmo, o individualismo, o sentimentalismo e o hedonismo como filosofias de vida, onde a dissolução e a falsa liberdade os manterá em prisão, indo
“de mal para pior, enganando e sendo enganados” (2Tm 3.13).
Por quê? Qual a finalidade? Ao diluírem a palavra de Deus a fim de torná-la aceitável aos descrentes (muitos falsos mestres não se esquivam de reescrevê-la ao bel prazer dos seus corações perversos), esses líderes buscam a aprovação dos homens, negando a autoridade bíblica, tornando-a o mais agradável possível ao mundo, e com isso rejeita-se toda a verdade escriturística: Cristo, o Espírito Santo, a expiação vicária, a salvação, regeneração, santidade e todo o conjunto de doutrinas cristãs (inclusive a Igreja), pois a negação de qualquer um deles implicará na recusa inevitável do próprio Deus.
Em nome da verdade, todo crente deve lutar contra a heresia e o engano perpetrado por satanás e seus discípulos; porque sempre teremos a segurança pela fé, e como ovelhas ouvimos a voz do Bom Pastor, somos conhecidos dEle, e seguimo-lO, o qual nos dá a vida eterna e nunca haveremos de perecer e ninguém nos arrebatará de Suas mãos (Jo 10.27-28), como a mais indubitável e sublime verdade. Somente Cristo pode nos libertar através do Evangelho; sem Ele tudo é permitido, mas nada possível; sem Ele a condenação é certamente a mais pura verdade.
A heresia é uma conversão contrária, o caminho inverso pelo qual a igreja trilhará ao se afastar da verdade, ao opor-se ao Evangelho, desprezando Cristo, o qual revelou-lhe a própria desobediência:
“O homem bom, do bom tesouro do seu coração tira o bem, e o homem mau, do mau tesouro do seu coração tira o mal, porque da abundância do seu coração fala a boca. E porque me chamais, Senhor, Senhor, e não fazeis o que eu digo?” (Lc 6.45-46).
Se crê no Evangelho mas não o proclama, se crê em Cristo como Senhor e Salvador mas não o obedece, se vê a igreja como uma extensão do mundo (e tanto faz um como o outro), se não se preocupa em dar bons frutos, nem com a conversão dos ímpios, cuidado! Abandone as mensagens tolas, psicológicas, de auto-ajuda, despropositadas, sentimentalóides; renuncie a ideologia satânica que o quer preso às armadilhas do mundo, proclamando um reino superior quando está nas profundezas abissais do inferno, mantendo-se perdido em si mesmo como um cão cego e epilético a perseguir o próprio rabo.
Entregue-se à suave palavra de Deus, e não faça pouco caso da sua consolação, arrependa-se, e põe fim aos seus pecados e às suas iniquidades, praticando a justiça
(Dn 4.27).
Ouça o alerta: onde os princípios bíblicos encontram-se corrompidos e demolidos, não sobra muito mais o que destruir.
E você estará morto!

15 junho 2009

LOUVOR: COMO IMPLODIR A DOUTRINA


















Por Jorge Fernandes Isah


A afirmação de que o louvor pode ser qualquer coisa, de qualquer forma, e de que Deus nos aceita como somos, remete-nos à seguinte questão: O Senhor aceita o pecador inconvertido e sem arrependimento que mantém-se em rebeldia, rejeitando a Cristo como único e suficiente Salvador? Ou será necessário que, primeiro, esse pecador seja regenerado por Cristo e transformado pelo Espírito Santo para arrepender-se e receber o perdão divino, e então ser aceito? Da mesma forma, qualquer coisa que se faça em nome da Igreja e na Igreja somente será reconhecida por Deus se obedecer aos preceitos definidos na Escritura, os principios estabelecidos pelo próprio Deus.


É possível uma adoração santa quando se apela para ritmos sensuais, com o único objetivo de entreter e saciar a carne? É possível que se execute igualmente danças muito parecidas com a
"dança-do-ventre" nos cultos, e crer que se está agradando a Deus? É possível agradá-lO com um discurso humanista, que exalta o homem, em detrimento da pregação expositiva bíblica que exalta a Deus? É possível uma diversidade de técnicas mundanas subir ao púlpito (o pragmatismo, o servilismo ao pecado, a acomodação aos padrões do mundo), e agradar a Deus? É possível agradá-lO sem ser bíblico? Baseado apenas nas sensações e tentativas humanas? O homem natural certamente não verá problemas, e responderá acertivamente. Contudo, o homem espiritual, aquele que tem a mente de Cristo e foi regenerado, dirá não. Porque o princípio da verdadeira adoração não são os efeitos pirotécnicos, nem a multidão de gestos, nem o grito tronitruante, nem o suor, nem calafrios, nem comoção pública, nem o cair ou cacarejar, ou qualquer outro fenômeno bizarro. O preceito da verdadeira adoração é a obediência a Deus e a Sua palavra, as Escrituras Sagradas.

As igrejas começam sempre abrindo uma exceção em suas práticas, as quais consideram sem importância. E, normalmente, começa-se pela liberalidade na música, no louvor. Acontece que os bodes precisam de diversão constante, e estão ali para distrair e, num golpe final, destruir o rebanho (como objetivo, porém não alcansável, visto que as ovelhas de Cristo são salvas e jamais destruídas pelo inimigo). E como isso se dá? Primeiro, corrompe-se o louvor, onde a santidade dá lugar a toda prática profana, com a apropriação dos sentimentos e valores do mundo para depois, progressivamente, implodirem a doutrina e a validade escriturística. 


É esse o caminho que os ímpios impõem à igreja enquanto irmãos sinceros, mas iludidos com as falsas promessas de
resultados (e a ignorância escriturística é fundamental para se manter crentes em estado de coalizão com as forças malignas; os quais veem erroneamente os valores humanos como sendo de Deus), permitem-se cair na blasfêmia, no mundanismo, na rebelião e no desprezo ao Senhor. 

A igreja que acredita louvar a Deus na carne (repito: com ritmos sensuais, contagiantes, eletrizantes, danças profanas, e técnicas do
show business) está assentada no lamaçal do pecado, e receberá a disciplina ou a ira divina. Porque a verdadeira adoração não é uma isca para fisgar espectadores através da musicalidade profana, da pregação artificiosa e antibíblicas; a verdadeira adoração é a submissão do crente a Deus, sujeitando-se à Sua vontade, e porque não, trabalhar para manter os bodes e ímpios fora da igreja ao invés de chamá-los para um acordo de paz, onde os bodes não cumprirão a parte assumida, mas dissimuladamente buscarão dispersar as ovelhas, se possível fosse, destruí-las. 

Infelizmente a maioria dos adoradores modernos enquadram-se na sentença de Paulo:
"Segundo a tua dureza e teu coração impenitente, entesouras ira para ti no dia da ira e da manifestação do juízo de Deus" (Rm 2.5).

07 junho 2009

AUTORIDADE E BONDADE [Comentário a Jó 2.1-3]










Por Jorge Fernandes Isah



Os versículos 1 e 2 repetem a situação descrita em 1.6-7, e os meus comentários podem ser lidos aqui.
A primeira parte do verso 3 também foi registrada em 1.8, mas desejo reafirmar alguns conceitos ali presentes.


“ E disse o Senhor a Satanás: Observaste o meu servo Jó? Porque ninguém há na terra semelhante a ele, homem íntegro e reto, temente a Deus e que se desvia do mal”.


Esta declaração somente será irrefutável:


1) Se Deus controlar completamente todo o processo da vida, incluindo os pensamentos e ações de Jó.


2) Se Deus preordenar infalivelmente todos os eventos na vida de Jó. A presciência não garante que a Sua declaração seja verdadeira, e de que nem mesmo esse conhecimento seja verdadeiro, em vista de que, no decorrer do tempo e da história, os homens (como co-autores dos eventos na visão arminiana) poderão alterá-la através da mudança de opinião, postura e ações.


3) Se Deus for imutável (Tg 1.17); porque Ele é perfeito, e somente os seres imperfeitos estão sujeitos a mudanças e variações.


4) Se Deus for completamente soberano. A soberania de Deus não pode ser compartilhada nem mesmo conosco (o que é um escândalo para os humanistas). Ou Ele é completamente Todo-Poderoso (o que representa controlar 100% de tudo o que há, seja físico ou espiritual) ou não é, e, portanto, não é Deus (a idéia diabólica de que Deus “abriu” mão de Sua soberania como afirmam os proponentes do teísmo-aberto ou relacional é antibíblica e não encontra nenhum versículo que a corrobore). Qualquer teologia que retire de Deus a soberania completa e total sobre tudo e todos, inclusive sobre o homem, é maligna, herética e blasfema.


5) Se Deus assegurar a eficácia dos eventos. Para que Deus afirme categoricamente que Jó é homem íntegro e reto, é necessário que a sua integridade e retidão sejam garantidas, não sejam alteradas, nem haja uma mudança de vontade, o que exclui a idéia de livre-arbítrio. Se ele é livre para se tornar no que quiser, podendo ser hoje um homem reto e amanhã um homem iníquo (ou ainda hoje à noitinha), é possível Deus ter convicção da sua equidade? Quem garante a integridade e retidão de Jó? Deus ou ele? Pode Jó garantir alguma coisa a Deus de forma que seja totalmente confiável? Quem é fiel, Deus ou o homem? Se o homem é fiel, Deus pode se tranqüilizar. Se o homem não é fiel, Deus há de se preocupar. Mas não é o que acontece, porque o Senhor é fiel e mais nada ou ninguém é (1Co 1.9). Ele é quem garante a integridade e retidão de tal forma que Jó jamais se desviará delas sendo confirmado justo diante do Senhor, o qual o capacita, move e opera em sua vida ativa e positivamente (inclusive nas causas secundárias, terciárias, ou quantas existirem) a fim de que O tema e desvie-se do mal. Do contrário, estaremos falando de qualquer outra coisa menos do Deus Vivo, e apelaremos para conceitos extra-bíblicos, os quais não foram sumariados pelo Senhor como verdadeiros e infalíveis, mas sendo pura especulação e improbidade da mente caída e nociva do homem.


Parênteses: Há quem diga que me preocupo demasiadamente com a soberania de Deus, e esqueço-me de refletir em Sua bondade. Ao que replico: Por que o fato de se subordinar todas as coisas à soberania de Deus fa-lO-á menos bom? É a bondade conflitante com a soberania? Elas são excludentes? Para que uma exista é necessário que a outra seja fragilizada? Deus não pode ser completamente soberano e completamente bom? O que uma coisa tem a ver com a outra?


Na verdade não posso tecer nenhuma afirmação legítima e verdadeira de Deus se não apregoar a Sua total soberania e total bondade. Se tento excluir ou minimizar qualquer desses conceitos escriturísticos, estarei construindo ou imaginando outra coisa menos o Deus bíblico. E quando se diz que Deus é bom, e que todos os Seus demais atributos estão subordinados à Sua bondade, e que por isso deu liberdade de escolha ao homem, e que por isso abriu mão de Sua soberania para “penetrar” no tempo e vivê-lo, sofrê-lo, e surpreender-se como qualquer criatura, anelamos o pecado por deliberadamente suprimir parte do que Deus é; à revelia do que nos foi revelado, do que declarou de Si mesmo (por isso os liberais e heréticos precisam suprimir das Escrituras a sua infabilidade, inerrância e inspiração divina, para acrescentar suas mentiras e perversões).


Não vejo em que os proponentes apenas do amor (ainda que completo, total) tenham o verdadeiro conhecimento de Deus. Da mesma forma que os proponentes apenas da soberania também desconhecem-nO.


A segunda parte do verso 3 diz:


“e que ainda retém a sua sinceridade, havendo-me tu incitado contra ele, para o consumir sem causa”.


O verbo incitar é a palavra chave no texto e, segundo o dicionário Priberam, quer dizer: 1. Excitar (alguém) a (outrem) levar a efeito alguma coisa. 2. Despertar, aguilhoar. 3. Provocar. 4. Desafiar. 5. Açular.


A partir dessas definições pode-se entender o texto de duas formas:


1) Satanás instigou Deus a consumir Jó. Pergunto: Quem pode instigar, provocar ou desafiar Deus? Digamos que isso seja possível. Provaria então que Deus não é sábio o suficiente em tomar decisões; que se deixa influenciar pelas tentações; quis inocentar-se diante do diabo; e afligiu um homem sem causa. Em suma: provaria que Deus é fraco, imperfeito, injusto, e pode ser manipulado por suas criaturas. Seriam descrições de Deus? NÃO! A Bíblia diz que Ele é Todo-poderoso, Soberano (Gn 17.1; Ap 1.8), Perfeito (Sl 18.30), Bom (1Cr 16.34; Sl 100.05; Mc 10.18), Sábio (Rm 16.27; 1Tm 1.17; Jd 25), Justo (Sl 11.7, 145.17; 1Pe 3.18), e, finalmente, não pode ser tentado (Tg 1.13*).
Qualquer interpretação que se aproxime minimamente da concepção infame e falaciosa de que Deus atendeu à provocação, de que se submeteu ao teste diabólico, é herética, absurda e contrária a todo o ordenamento bíblico, devendo ser abominada e repelida prontamente.


2) Deus está a confrontar o diabo, o qual desejando a destruição de Jó e duvidando da capacidade do Senhor preservá-lo em integridade e retidão, ouviu que mesmo assim Jó “ainda retém a sua sinceridade”. Ou seja, os argumentos que levaram o diabo a pedir a Deus que tocasse no servo (sendo ele quem o tocou), não foram suficientes para Jó pecar. Assim expôs-se a fragilidade, inutilidade e insuficiência do argumento maligno, e sua flagrante derrota, o que certamente levou-o a odiar ainda mais Jó e a desejar ainda mais a sua ruína. De igual forma, o Senhor manifestou o Seu poder de preservar o servo da blasfêmia e do mal, a despeito de toda a incredulidade perversa de satanás.


Veja bem como é reconfortante e nos dá segurança saber que Deus peleja por nós (Dt 3.22), de que jamais cairemos da graça (At 20.32; 2Tm 1.9), estamos seguros na Rocha, Cristo (Sl 62.6 c/ Mt 7.25), e de que satanás cumpre exatamente o que Deus preordenou como sua área de atuação. Deus revelou-lhe a autoridade pela qual ele foi expulso dos céus (Is 14.12; Lc 10.18; Ap 12.7-9), e pela qual está submetido ao controle de empreender exatamente os desígnios divinos. Todas as suas ações foram planejadas por Deus, bem como as ações de toda a criação, e como ela, o diabo está subordinado ao eterno decreto pelo qual o Senhor ordenou todo o universo, a fim de que se cumpra inexoravelmente a Sua vontade.


Como exemplo (e apenas como tal), digamos que Deus seria o General do exército, o planejador, e satanás um soldado raso que pensa, exercita e age como um militar, sem ter acesso à totalidade do plano do comandante. O soldado somente sabe a parte que lhe cabe no plano, aquilo que lhe foi ordenado fazer e, seguramente, não é capaz de controlar nem mesmo o que executa se não lhe for propiciado os meios para cumpri-lo. Quem planeja, condiciona, dispõe e estabelece as funções de cada um dos soldados e das tropas, de cada um dos armamentos, a forma como, onde e quando atacar e defender, os deslocamentos dos blindados, e ainda todas as minúcias envolvendo o combate, é a autoridade do General. É ele quem determinará a melhor estratégia, e estabelecerá os meios necessários para que a vitória seja alcançada.O soldado não pode organizar um plano e colocá-lo em ação, pois além de não deter autoridade, está sob ordens superiores.


Alguém perguntará: Por que Deus afligiu Jó? Ele não era um homem justo e temente a Deus? Qual o motivo do seu sofrimento?


No decorrer do livro, esses e outros questionamentos serão clarificados pela própria palavra de Deus. Por hora, ficamos aqui.

* O texto de Tiago é complexo, porque pode nos levar a pensar que o mal e o diabo são forças criadoras, autoexistentes, independentes de Deus. E nada é independente ou livre de Deus, porque se assim fosse, Deus não seria soberano e o Todo-Poderoso. Tiago não disse isso, e o que disse está em conformidade com toda a Escritura. Explicando, Tiago diz que a autoridade de Deus é suficiente para que ninguém se absolva (e se considere escusável) com a desculpa de que foi tentado por Deus. Como está escrito em Ezequiel 18.4: "a alma que pecar, essa morrerá". Este é o princípio, o da autoridade de Deus sobre as Suas criaturas. E isso basta para que a condenação sobrevenha sobre elas, ao descumprirem a Lei Moral, pecando e se rebelando contra Deus (Tiago confirma Paulo em Rm 9.16-21. Os textos, para mim, tratam da mesma questão).