21 julho 2023

Anônimos Famosos

 






Jorge F. Isah



             As crianças são, via de regra, desprezadas pela maioria dos adultos, como se não houvesse nada a se aprender, a se copiar, ou mesmo refletir. É claro que se um adulto resolve replicar parte ou a totalidade da sua vida aos moldes infantes, certamente não passará de  meninão crescido e mimado, nada além de um “maioral” de cueiros. Exemplos há aos montes:  quando se vê homens e mulheres se contorcendo como uma enguia que tomou uma descarga de 100.000 Watts, alguma coisa está errada. Quando anciões se portam e agem como adolescentes, a falta de autocrítica e o ridículo se institucionalizaram. Quando as pessoas discutem e se apegam às suas opiniões (interessante como todo mundo se sente obrigado e no direito de dar pitacos em tudo) como um garotinho se agarra ao presente do último Natal, afastando-o do coleguinha, ah! sim, alguma coisa está muito errada.

           Com isso, não quero dizer que as crianças devam ser parâmetros absolutos mas, de forma equilibrada, compreendidas em sua importância. E muita coisa somente foi possível, do ponto de vista tecnológico e científico, porque mentes privilegiadas não rejeitaram a singeleza das mais triviais e ingênuas brincadeiras. Existe algo magnífico, sublime, na simplicidade, e ela muitas vezes é a resposta às questões complexas e insolúveis da vida. Mais exemplos:

1)      Alexander Graham Bell, o inventor do telefone, imaginou a possibilidade de comunicação entre pessoas a longa distância, por meio da voz (sim, já existia o telégrafo), ao ver dois garotos (ilustres desconhecidos) esticarem um fio encerado, contendo uma caixa de ressonância, simulando um fone nas extremidades, e conversavam através da engenhoca. Algo que a maioria das crianças desconhece atualmente, e muitos de nós brincamos na infância, foi o estímulo para o gênio do pai das telecomunicações. Pense nisso.

2)      Benjamim Franklin criou o para-raios a partir da observação do seu filho (ninguém se lembra do seu nome) soltando pipas. Em uma tempestade, estendeu uma pipa adaptada, a flutuar fixada por finas hastes metálicas, e pode observar o efeito catalisador do raio ao percorrer o dispositivo; de quebra, foi este lazer trivial a estabelecer o padrão de transmissão das correntes elétricas, um século depois. Pense nisso.

3)      Frei Gusmão, um dos primeiros homens a subir à atmosfera em um balão, teve o vislumbre do artefato a partir de uma festa de aniversário de um sobrinho (quem se lembra?), que fez questão de decorar a sua casa com “bexigas” cheias de ar. Ao perceber algumas delas soltarem-se e subir aos céus, disse: “Eureka”, como Arquimedes, e foi à sua oficina conceber algo mais divertido.

Existem outros infinitos experimentos e descobertas realizadas a partir da observação de simples brincadeiras e engenhocas reconhecidamente afeitas à diversão pueril.

Então, da próxima vez, quando um dos seus filhos ou sobrinhos apresentar-lhe algo que ninguém é capaz de dar a mínima importância, tome-o (mesmo diante do esperneio e choro do pequeno)! Quem sabe, não estará diante de um novo achado a levar a civilização a patamares jamais conhecidos? E torná-lo não apenas famoso, mas milionário?...

Pense nisso...

______________________________ 

Nota: Texto publicado originalmente na Revista Bulunga No. 2


Nenhum comentário:

Postar um comentário