24 março 2024

Estudo sobre a Confissão de Fé Batista de 1689 - Aula 36: "A idolatria unitarista"




 Jorge F. Isah
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Primeiro, duas retificações:

Na aula passada eu disse que os unitaristas são extremamente racionais, quando quis dizer que eles são extremamente racionalistas, no sentido de que precisam desconstruir a verdade para tentar reconstruí-la ao seu modo de pensar natural, onde não há espaço para o sobrenaturalmente revelado na Escritura. Racional é aquele que se utiliza da razão como faculdade que Deus nos deu para compreender a realidade e para conhecer... Uma das faculdades, eu não estou afirmando que a única capaz de conectar o homem à realidade e ao conhecimento. Já os racionalistas agem de forma diferente, para eles, a razão é suprema, absoluta e tudo somente pode ser explicado por ela. Nós, cristãos bíblicos, somos racionais e não racionalistas, como são os unitaristas.

Em um momento, mais exaltado, eu disse que tinha a vontade de proferir um “palavrão”, me referindo aos hereges. Na verdade, eu não pensei em um palavrão específico ou mesmo nesse sentido, de baixo calão, mas em um xingamento do tipo “raça de víboras”, “filhos do diabo”, “emissários de satanás”, “dissimulados”, e outros relacionados que os identificassem, revelando o que realmente são, enganadores, como filhos do diabo. Se por acaso escandalizei a algum irmão, perdoe-me, pois não foi a intenção.

Obviamente, muito mais sofisticada e sutil do que o texto do auto denominado "apóstolo", foi a forma com que Eusébio proferiu a sua heresia. Ao ler o seu escrito temos uma aparente ode de louvor a Deus, se não fosse um pequeno trecho em que ele joga tudo por terra, bem aos moldes da vaca que deu 100 litros de leite e coiceiou o latão derramando-o, sem que sobre uma única gota. Assim agem os mais astutos; não querem muitas vezes serem explícitos, e para camuflarem os seus intentos, dizem o que não querem dizer para transmitir o que desejam efetivamente. É o que se apreende das linhas cavilosas do falso bispo:

"E quem, a não ser o Pai, poderia conceber sem impureza a luz que é anterior ao mundo e a sabedoria inteligente e substancial que precedeu aos séculos, o Verbo vivente no Pai e que desde o princípio é Deus, o primeiro e único que Deus engendrou antes de toda a criação e de toda a produção de seres visíveis e invisíveis, o general do exército espiritual e imortal do céu, o anjo do grande conselho, o servidor do pensamento inefável do Pai, o fazedor de todas as coisas junto ao Pai, a causa segunda de tudo depois do Pai, o Filho de Deus, genuíno e único, o Senhor, o Deus e Rei de todos os seres, que recebeu do Pai a autoridade soberana e a força, junto com a divindade, o poder e a honra? Porque, em verdade, segundo o que dizem d’Ele os misteriosos ensinamentos das Escrituras: No princípio era o Verbo e o Verbo estava em Deus e o Verbo era Deus. Todas as coisas foram feitas por Ele, e sem Ele nada foi feito”.

Eusébio chamou Cristo de Verbo e Deus, tomando o cuidado de colocar tudo em maiúsculas, para em seguida afirmar que ele é um ser temporal e criado. O bispo não se furtou a nominá-lo assim como os cristãos acreditam e devem crer em todos os tempos, Cristo é Deus, o Verbo encarnado; porém, em meio as palavras belas e elogiosas inseriu deliberadamente a parte em que afirma ser ele “o primeiro e único que Deus engendrou antes de toda a criação”, negando exatamente o que dissera antes ou, no mínimo, afirmando a grande confusão que tinha a respeito do ser perfeito, santo, eterno, infinito e absoluto de Cristo. Pois ainda que ele e o seu mestre, Ário, cressem que Cristo detinha algum tipo de divindade, sempre procedendo do próprio Deus, ela não era da mesma estirpe, essência e natureza que a divina. A própria utilização do termo “engendrou”, de que Deus engendrou a Cristo, dá a idéia de criação, de que o Filho somente veio à existência [e vir à existência significa que em algum momento ele não existia] porque Deus quis. De forma que Cristo não participaria, portanto, dos mesmos atributos de Deus, e não poderia ser considerado como tal, já que em algum momento na eternidade ele não existia. E se não existia, não se pode considerá-lo nem mesmo como Deus, pois muitos dos atributos divinos estão atrelados e presos à eternidade, como o ser absoluto, infinito, autossuficiente, ilimitado... Somente o eterno pode ter em si esses atributos. Então a afirmação de Eusébio é ainda mais dissimulada e contendo a intenção de confundir, pois não é possível que um homem culto como ele desprezasse essas questões. Ao afirmar que Cristo é Deus e o Verbo encarnado, tentou suavizar a heresia que defendia e na qual cria, como se o entregar-se a uma bajulação diminuísse ou anulasse a sua culpa, não evidenciando, ou melhor, atenuando as suas reais intenções. E quais eram elas?

Utilizando-se de uma linguagem ortodoxa, de termos próprios da fé cristã, ele tentou mascarar, encobrir sua blasfêmia com floreios e uma falsa exaltação, nitidamente com o intento de espalhá-la, de semeá-la no seio da igreja. E o resultado disso seria confusão, a partir do momento em que muitos a admitiram como verdade defendendo-a, enquanto outros a rejeitaram prontamente. Paulo, à sua época, já nos alertava quanto a esse tipo de inimigo: “E rogo-vos, irmãos, que noteis os que promovem dissensões e escândalos contra a doutrina que aprendestes; desviai-vos deles. Porque os tais não servem a nosso Senhor Jesus Cristo, mas ao seu ventre; e com suaves palavras e lisonjas enganam os corações dos simples” [Rm 16.17-18]. Por corações dos simples, creio que o apóstolo está a falar dos ingênuos e fracos na fé, que podem ser pessoas incultas ou cultas, mas que se deixarão levar pelo discurso retórico, por palavras bonitas, espirituosas, até mesmo glamorosas, como objetivo de seduzi-las ao engano e à mentira. Não porque foram obrigadas a isso, mas porque os seus corações desejaram e queriam, em sua soberba e orgulho espirituais, se enganarem.

O que Eusébio e Ário queriam era conquistar a simpatia dos demais cristãos a partir da pregação de um falso evangelho; fazer prosélitos e ampliar seu poder e influência. Em linhas gerais, eles se portaram como usurpadores do trono de Deus, como aqueles, dentre muitos, que o desprezam e ao seu governo e senhorio. E com esse tipo de gente não há muito o que se dizer, a não ser, fora! Se não quiserem sair, saiamos nós.

Igualmente, ao dizer que o Senhor “recebeu do Pai a autoridade soberana e a força, junto com a divindade, o poder e a honra”, suas reais intenções ficam evidentes, de que Cristo nada mais é do que uma criatura dotada por Deus de habilidades e poderes que somente tem por conta do que Deus lhe deu. A divindade inseriu-se nesse contexto, como mais um dom, algo exterior que lhe é dado ou facultado, não como algo inerente à sua natureza, pois o que eles estão a tratar como “divindade” é uma sub-divindade, semelhante mas distinta, relativa e não absoluta, que faz de Cristo uma criatura especial, sem, contudo, jamais ser Deus.

Entendem como se processa a mente cavilosa?

Devemos estar atentos aos sinais que esses falsos profetas demonstram, seja no passado ou no presente. Eles estão em todos os lugares e épocas, e não podemos desprezá-los em sua capacidade de corromper e aliciar aos “corações simples”, pois ainda que não inocentes, pois não há inocentes neste mundo, devemos mostrar o grau e o nível de insulto que esses ímpios são capazes de realizar e, assim, pela graça de Deus, ser instrumentos para abrir os olhos de alguns e trazê-los novamente à realidade, à verdade máxima sem a qual o Cristianismo não seria nada além de uma religião agonizante e, provavelmente, extinta: Cristo é, assim como o Pai e o Espírito Santo, Deus! Bendito seja a Santíssima Trindade ou, ainda mais significativamente, a Santíssima Triunidade de Deus!

Não é preciso se buscar muito para encontrar o antídoto para as heresias. A santa e bendita palavra de Deus traz em si todos eles. E, novamente, Paulo o revela em Efésios 1.3-14:
"Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos tem abençoado com toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo, assim como nos escolheu nele antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele; e em amor nos predestinou para ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade, para louvor da glória de sua graça, que ele nos concedeu gratuitamente no Amado, no qual temos a redenção, pelo seu sangue, a remissão dos pecados, segundo a riqueza da sua graça, que Deus derramou abundantemente sobre nós em toda a sabedoria e prudência, desvendando-nos o mistério da sua vontade, segundo o seu beneplácito que propusera em Cristo, de fazer convergir nele, na dispensação da plenitude dos tempos, todas as coisas, tanto as do céu, como as da terra; nele, digo, no qual fomos também feitos herança, predestinados segundo o propósito daquele que faz todas as coisas conforme o conselho da sua vontade, a fim de sermos para louvor da sua glória, nós, os que de antemão esperamos em Cristo; em quem também vós, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação, tendo nele também crido, fostes selados com o Santo Espírito da promessa; o qual é o penhor da nossa herança, ao resgate da sua propriedade, em louvor da sua glória."

Bem, o que temos neste trecho escrito pelo apóstolo? A unidade de Deus na salvação do homem, através da atuação das três pessoas da Triunidade, de forma que o Pai elegeu ou escolheu-nos em Cristo, o qual é o redentor do eleito, e coube ao Espírito Santo selá-lo para a vida eterna.

Algo que devemos entender é que essa relação da Triunidade não é fortuita, aleatória, acidental ou ocasional. Na verdade ela é essencial, real, em seu caráter absoluto, de forma que não somos nós que definimos a Triunidade de Deus na pessoa do Pai, do Filho e do Espírito Santo, como uma analogia do que é uma família humana para representar o que é divino. Não. É a unidade e diversidade de Deus que nos define como indivíduos mas também como corpo familiar. A imagem do Pai e do Filho, principalmente, não foi utilizada para tentar explicar a relação eterna que há entre eles, mas somos nós que refletimos aquilo que Deus é em seu caráter relacional. De forma que a relação entre eles é que é original, não a nossa. A relação divina está expressa na figura do Pai, pela sua paternidade, pela ligação íntima que tem com o Filho, este pela filiação ou relação correspondente que tem com o Pai, e o Espírito Santo pelo amor que une o Pai ao Filho. Nada disso é mera convenção ou ficção, mas o que a Bíblia nos revela e que pode ser demonstrado pelo texto de Efésios acima.

Entendo que, mais do que a declaração de doutrinas bíblicas, Paulo está a nos revelar nesses versos a relação que há entre as pessoas da Triunidade, as quais sendo distintas em suas atuações e personalidades é um único ser: Deus. Somente assim é possível entendê-lo e à sua revelação. Se a Triunidade não é uma doutrina bíblica, toda a revelação fica sem sentido; porque, como está claro e evidente, a salvação do homem é do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Se assim não for, como entender a obra que Deus realiza em nosso meio? Como explicar a revelação especial? Em que o Pai salva, o Filho salva e o Espírito Santo salva? Afinal, não temos três "etapas" de uma mesma salvação? Que elege, redime e sela? Pode-se ser salvo sem ser eleito? Ou redimido? Ou selado? A resposta é não. A fé no Pai, que nos elegeu, somente é possível se ele for Deus. A fé em Cristo, como Senhor e Salvador, somente é possível se ele for Deus. Igualmente, a fé no Espírito Santo, como o Consolador, aquele que habita em cada um dos eleitos, somente é possível se ele for Deus. Como se pode adorar um ser criado ainda que com super-poderes? Ou que é uma emanação ou força que, via de regra, não é o próprio Deus? Se sem fé é impossível agradá-lo, como posso agradá-lo crendo no que ele não é? Cristo, como criatura, pode receber a minha fé? Que no fim-das-contas é proveniente de Deus? O Espírito, como força, poderia também recebê-la? Se Deus é apenas um, o Pai, como dizem os unitarianos de várias correntes, apenas ele deve receber a nossa fé, a fim de agradá-lo. E boa parte da Escritura, tanto no AT como no NT, terá de ser rasgada e jogada fora. Praticamente tudo o que a Bíblia nos revela não teria sentido, pela ótica unitarista, caso o Filho e o Espírito Santo fossem partes subordinadas de Deus ou criadas por ele. Não falo apenas em seu caráter lógico, mas também prático e funcional, onde não há sentido, nem razão. Com isso, chego a pensar que os verdadeiros triteístas são os unitaristas que adoram, creem e têm fé em criaturas ou estados que, em suas essências, não são Deus. Em suas formulações simplistas e racionalistas acabam por atirar no próprio pé, tornando-se em idólatras. E, então, a acusação de que somos acusados torna-se em sentença para eles, colocando-os no posto de idólatras e infratores do primeiro mandamento, o que os condenará. Todo o reducionismo racionalista, aliada à rejeiçao da revelação especial, faz com que sejam aquilo que mais temem ser, e não se vêem como são.

Como disse na primeira parte desta introdução, é impossível que o Filho e o Espírito Santo tenham os mesmos atributos que o Pai, se não forem igualmente eternos e absolutos. De forma que, por exemplo, o Filho não poderia ser onipresente [Mt 18.20], e o Espírito Santo não poderia ser onisciente [1Co 2.10-11].

Leiamos alguns versículos e atentemos para o que eles nos revelam. Sem exceção, mostrar-nos-ão mais do que a prova de que todas as pessoas da Triunidade são idênticas em sua natureza e atributos, porém distintas em suas personalidades; revelarão a forma como se relacionam entre si, e que pode ser definido como o ser tri-pessoal em sua íntima ligação.

Textos: 1Co 12.4-6; 2Co 13.14; 1Pe.1.2; 1Jo 5.7; Jd 20-21, o que temos de comum em todos eles é a declaração de que existe uma coordenada relação entre as pessoas da Triunidade, sem que haja divisão, sem confusão entre si, mas em unidade de essência. Entender a doutrina da Triunidade por meio da mente caída e limitada do homem é algo realmente impossível. Ela somente pode ser compreendida e aceita como fundamento sobrenatural. O próprio Deus é quem se encarrega de nos revelar a verdade e nos capacitar a crer, confiar e proclamá-la, sem o qual o Cristianismo seria uma religião sem nexo e sentido algum, pois o centro é Cristo por quem exclusivamente o Pai é revelado.

Antes de terminar, quero deixar uma questão para reflexão: Se Deus é amor, quando ele amou? E a quem? A si mesmo? Ou somente após a criação esse atributo manifestou-se? Ou esse amor é eterno e retributivamente eterno na relação das três pessoas da Trindade? Ou teremos de aceitar que, em sua imutabilidade, um dos atributos divinos é temporal e apenas pode ser explicado através da Criação? Se Deus é amor, faz-se necessária uma fonte eterna ou melhor, um objeto eterno, para que ele se manifestasse, do contrário Deus não amou sempre, e esse amor é limitado por suas criaturas.
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Notas: 1 - Os textos bíblicos citados são explicados mais detalhadamente no áudio desta aula.
2 - Aula realizada na EBD do Tabérnaculo Batista Bíblico. 
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ÁUDIO DA AULA 36:

6 comentários:

  1. Paz Jorge, muito bom seu estudo!

    Porém fiquei com uma dúvida, esse Eusébio de quem vocêfala é o Eusébio de Nicomédia, conhecido ariano, ou o de Cesaréia?

    Você poderia indicar uma referência? É que gosto de história da igreja.

    Deus lhe abençoe,

    Abraços,

    Ednaldo.

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  2. Ed,

    parece que Eusébio é um nome herético por si só [rsrs]...

    O Eusébio a que me referi no estudo é o de Cesaréia, o autor da "História Eclesiástica", um dos primeiros historiadores da igreja, de onde retirei e transcrevi o trecho de sua autoria. Como o outro Eusébio, o de Nicomédia, ele também era ariano, discípulo de Luciano de Antioquia, o pai do arianismo [o próprio Ário era foi seu discípulo também].

    Portanto, a referência que lhe dou é o livro "História Eclesiástica", de Eusébio de Cesaréia, publicado por várias editoras no Brasil, entre elas a CPAD, Paulus e Novo Século.

    Grande e forte abraço meu irmão!

    Cristo o abençoe!

    PS: Se precisar de alguma ajuda sobre o livro [caso se interesse por ele], mande-me um email que tentaremos uma solução.

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  3. Sinceramente não sabia dessa "veia" ariana de Eusébio, até porque existem muitas citações da obra dele no meio reformado, quando o assunto é história da igreja. Mas agora fiquei interessado.

    E isso explica algumas coisas, um concunhado meu que pertence a uma seita judaico-"cristã" ariana. Citou este livro certa vez para mim afirmando que Mateus 28.19 não existe a expressão "em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo", mas apenas "em meu nome", e que Eusébio registrou isso.

    Dessa forma é bem possível que Eusébio tenha sido parcial em seu registro, se utilizndo de um texto diferente, ou simplesmente registrando sua interpretação das palavras, sem se ater ao que realmente estava escrito.

    Obrigado, e abraços.

    Ednaldo

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  4. Eusébio foi, talvez, o primeiro historiador do Cristianismo, e, do ponto de vista histórico, me parece uma boa referência sobre os fatos que foram transmitidos pela igreja nos primeiros séculos.

    Como teólogo, Cesaréia deve ser esquecido. O trecho que transcrevi encontra-se na segunda página do "H.E.", se não me engano, e desde lá, ele já deixa claro a que veio. Utilizando-se de uma linguagem falsamente cristã, apropriando-se de termos cristãos e até mesmo de um aparente louvor a Cristo, o que ele faz é desprezá-lo, ao considerá-lo uma criatura, a maior de todas, mas nada além de criatura. O mal que ele fez, juntamente com os seus pares, está disseminado entre muitas seitas, e tem ganhado guarita entre os pentecostais, vide o tal autodenominado "apóstolo" brasileiro. E os caras acham, ainda por cima, como se houvesse um alto grau de soberba a ser atingido, que descobriram a roda. Essa que inventaram não põe nada em movimento, e foi idealizada no Éden, por aquele que é o "pai da mentira". Então, nem originais eles são. Apenas os tolos de sempre a considerarem-se sábios.

    Sobre Mt 28.19, ainda que ele não existisse, há uma profusão tão grande de versos que afirmam a existência de um único Deus subsistindo em três pessoas, que somente um tonto para se fiar nesse argumento esdrúxulo e defender o unitarismo... E o pior, confiar em Eusébio...

    Abração!

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  5. Caro

    Estava com a leitura dos teus textos, totalmente atrasada.
    Consegui botar em dia até aqui.

    Coitado do Eusébio....

    Não se é possível ser tão dogmático em afirmar que Eusébio foi calculista no que disse. Pode ter sido apenas ignorãncia sincera. Não lhe foi revelado alguns aspectos, etc...

    Todos nós quando escrevemos não somos 100% inerrantes, inspirados e infalíveis.

    Então pegar nossa sinceridade e todas as verdades (quando acertamos na interpretação) e jogar tudo fora por causa de alguma bogagem dita aqui e ali, é meio temerário para mim.

    Não seja demasiadamente rigoroso com Eusébio, podes estar fazendo alguma injustiça.
    Critique as bobagens que ele fala, sem o rotular de ímpio.

    Quando ele disse que Deus engendrou o Verbo realmente ele se passa.
    Quando diz que as outras coisas sobre o Verbo ter recebido divindade... Realmente ele se passa.

    Todavia seus escritos são muito úteis para por exemplo, termos algum conhecimento da história da igreja, nos seus primeiros anos.

    Faço uma pergunta para você.
    suponha que não estou eu a fazê-la, mas sim "eu" disfarçado de Eusébio.

    Você citou João 5.26, a saber: "Porque, como o Pai tem a vida em si mesmo, assim deu também ao Filho ter a vida em si mesmo."

    Pergunta: Como o Pai pode ter dado alguma coisa (vida em si mesmo) para alguém Divino Eterno que já tinha a vida em si mesmo? Afinal se o Filho era capaz de receber alguma coisa, como poderia ser onipotente?

    Abraço!

    Fico no aguardo da sua resposta.

    PS: Coincidência ou não, ontem comecei a ler um livro de Eusébio. E de fato quando cheguei nesta parte ou numa afirmação bem semelhante, logo no início do livro, meu bip fez peeeeee. Todavia eu mesmo não entendo totalmente e não sei se a minha concepção da Trindade seja a correta. Nem me importo que me chamem de politeista, quando muitas vezes faço a distinção entre DeusPai, DeusFilho e DeusEspíritoSanto.

    PS: Considere a hipótese de que existam profetas equivocados, o que os diferencia dos falsos profetas premeditadamente falsos. Para os profetas equivocados, eu até concedo alguma tolerância, para os outros é que dou o meu repúdio.

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  6. Natan,

    meu grande amigo... Folgo em saber que se dedicou a ler e colocar em dia os meus textos; poucos se empenham em fazer isso. Obrigado, sinceramente.

    Sobre o Eusébio... Esqueci-me de que você é um bom advogado, mas cuidado para não se tornar um defensor do diabo... [rsrs].

    A história diz que Eusébio se empenhou em estudar com Ário e outros mais sobre a doutrina da não-divindade de Cristo, sendo ele mesmo um dos porta-vozes, um defensor ferrenho da heresia que "consagrou" o seu mestre. Não é simplesmente ignorância, ele era um bispo da igreja, homem culto e um líder que, em dado momento de seu ministério, bandeou-se para o lado negro da teologia. Entendo que há erros que não comprometem a fé como, por exemplo, o arminianismo. A pessoa sinceramente se considera cooperador de Deus na sua salvação [e do ponto de vista humano isso é "aceitável"]. É o tipo de ignorância que não a impede de ter comunhão nem de ser instrumento divino para a realização da sua obra. Da mesma forma, em princípio, também considero os carismáticos como "errados sinceramente". Acontece que o Arianismo é letal, pois ele atinge exatamente o ser de Deus, rebaixando-o, além de tornar o ariano em um idólatra como pontuei no texto.

    O fato de não sermos infalíveis e inerrantes não nos dá o direito de arrogarmos blasfêmias contra Deus. Se fosse algo de menor monta, vá lá! Mas rebaixar Cristo à condição de criatura e o Espírito Santo a uma força é demais! A Trindade é a base do Cristianismo bíblico, sem isto a fé cristã não passa de uma religião confusa e sem sentido, como, por exemplos, os russelitas [TJ's]. Paulo, acertadamente, diz: "Traidores, obstinados, orgulhosos, mais amigos dos deleites do que amigos de Deus. Tendo aparência de piedade, mas negando a eficácia dela. Destes afasta-te... Que aprendem sempre, e nunca podem chegar ao conhecimento da verdade" [2Tm 3.4-5, 7].

    Então, não há como "refrescar" com eles, nem com os Eusébios naquilo em que eles não fogem da impiedade.

    Contudo, reconheço o valor do livro do Cesaréia sobre a História Eclesiástica. Recorro a ele sempre que desejo elucidar um fato, sabendo que, do ponto de vista histórico, ainda que não seja infalível, como você disse, ele é uma fonte confiável nesse aspecto.

    Sobre a sua pergunta, em relação ao texto de João, penso o seguinte: mais do que ver na estrutura gramatical uma forma rígida, devemos entender o que está além dela, sem fugir do contexto em que foi dito. Cristo disse que tinha vida em si mesmo, e você está certo, ninguém pode receber algo que já tem, então, temos uma contradição aparente no que o Senhor disse; porém, se atentarmos para o fato de que ele não buscou em seu ministério terreno a glória pessoal, mas a glória do Pai, o dito será inteligível, não é? É o que o Senhor explica um pouco à frente: "Se eu testifico de mim mesmo, o meu testemunho não é verdadeiro. Há outro que testifica de mim, e sei que o testemunho que ele dá de mim é verdadeiro" [João 5. 31-32], referindo ao Consolador, o Espírito Santo, que o testifica... O que me leva a crer que nenhum ariano recebe o testemunho do Espírito.

    Em tudo isso, temos uma ação conjunta, colaborativa, em que cada pessoa da Trindade coopera para a glória das outras, na unidade do Ser divino. Cristo quis dar honras ao Pai, assim como seria honrado pelo Espírito.

    A Trindade é isso que você parece ter afirmado: Deus é um, subsistindo em três pessoas, de forma que elas não se misturam. Deus é Pai, Filho e Espírito Santo, um único Deus, e não Deuses, subsistindo em três pessoas distintas e inconfundíveis, de forma que o Filho não é o Pai, o Pai não é o Espírito Santo e o Espírito Santo não é o Filho. Isso é o que a Bíblia nos diz e revela. Qualquer outra concepção é herética, maligna e antibíblica.

    Um grande e forte abraço, meu irmão!

    Cristo o abençoe!

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