Por Jorge Fernandes Isah
Quase todo mundo se dispõe a fazer um balanço de fim-de-ano. Mesmo que irrefletidamente, muitas conclusões são tiradas, e de forma geral, consideramos o ano produtivo se houve algum “ganho” substancial em nossa vida, seja financeira, profissional, acadêmica, familiar... Por outro lado, tem-se a impressão de “perda” quando há um revés e nos endividamos, somos demitidos, vamos mal na faculdade, ou existem sérios problemas em casa, seja a morte, a doença ou desequilíbrios gerais. É sempre assim. E para afogar as tristezas ou comemorar a esperança de futuras conquistas, enche-se a cara e a pança de muita bebida e comida, os ouvidos de música (invariavelmente, de péssimo gosto), o ambiente de gritos e foguetes ensurdecedores. Poucos se submetem ao silêncio, à reflexão, a oração e agradecimentos.
No exato momento em que escrevo este texto, há uma disputa açular entre os meus vizinhos, para ver quem tem o som mais potente, o pior gosto musical e a maior falta de educação. Tudo neste mundo tem sido muito barulhento, espalhafatoso, brutal e detidamente sem escrúpulos; ao ponto em que boa parte da igreja evangélica se rendeu aos apelos seculares, seja com carros de som e suas centenas de decibéis propagandeando esse ou aquele culto libertador, esse ou aquele pastor curador, esse ou aquele show abençoador, essa ou aquela promessa sedutora... ou a chacota nas rádios, tvs, e a impudência de muitos púlpitos. A maioria deles não passaria pelo Código de Defesa do Consumidor, e seria facilmente enquadrado nos casos de propaganda enganosa. Promete-se o céu quando se vende o inferno e as mais abissais masmorras...
Mas o assunto é outro.
Na verdade, como todo mundo, decidi fazer um balanço da minha vida. Não no crepuscular e já defunto 2009. Mas no primeiro dia de 2010. E onde cheguei?
Apesar de virar a noite em oração, em leituras bíblicas, em entoar hinos do Cantor Cristão, sinto que é muito pouco. É claro que não estou a desmerecer a comunhão com Deus pela oração, nem o conhecimento da Sua vontade pela Escritura, nem de louvá-lO pelo hinário. Não é isso. Acontece que Deus tem sido demasiadamente misericordioso para comigo, ao ponto em que tenho percebido o crescimento intelectual e racional através da Bíblia, ainda que apenas esteja engatinhando [1]. Sei que pela ação do Espírito Santo tanto o conhecimento divino como a Sua vontade têm sido revelados. Não por algum mérito ou esforço pessoal, mas, como disse, pela exclusiva e infinita misericórdia e bondade divinas.
Do ponto de vista teórico, Deus tem me capacitado a entender e compreender a verdade, como opera e os propósitos que alcançará infalivelmente. Porém, fiz-me a seguinte pergunta: estou mais semelhante a Cristo? O quanto de Cristo foi acrescido a mim, para parecer mais com Ele e menos comigo? A resposta foi: ainda que tendo a mente de Cristo, falta-me muito, mas muito mesmo para, um dia, ser conformado à Sua imagem. O que me trouxe inicialmente esmorecimento e tristeza... vergonha mesmo, pois, espiritualmente, sinto-me estagnado, inerte, sem produzir os frutos necessários a glorificá-lO através da minha vida.
Falei de Cristo para as pessoas? Sim. Aconselhei crentes e incrédulos segundo a Sua palavra? Sim. Orei por muitos? Sim. Distribui Bíblias e livros? Sim. Amei, servi, fui paciente, auxiliei? Sim, claro que sim! Então, porque me sinto frustrado? Não seria porque a maior parte do tempo estava envolvido com os meus problemas, comigo mesmo e não tive tempo ou não quis orar? E acabei por orar muito menos do que podia e devia? Não tive tempo ou não quis meditar na Escritura, e acabei por negligenciá-la? Não tive tempo ou não quis visitar um enfermo, e acabei por esquecê-lo? Olhei para aquele homem ou mulher que necessitavam do Evangelho, e silenciei-me? Não levei esperança a quem precisava de esperança, e egoisticamente guardei-a para mim? Por timidez, medo ou vergonha não intervim e refutei os ignorantemente blasfemos? Por esses e outros motivos não fui neste dia e no ano nada mais do que um covarde, acomodado em minha fé, em minha salvação, acreditando estupidamente que essa é a vontade de Deus. Mas não é, “porque os que dantes conheceu também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos” [Rm 8.29].
O que Deus quer é que eu viva como um eleito, como co-herdeiro de Cristo, e a segurança seja para mim o estímulo ao trabalho e não uma espécie de aposentadoria prematura [2Pe 1.10]. Se o crente negligenciar a sua eleição, ele não é um escolhido; pois dele se espera coisas melhores, e coisas que acompanham a salvação, porque Deus não é injusto para se esquecer da obra e do trabalho realizado por amor do Seu nome [Hb 6.12].
Sei que não depende dos meus esforços eu ser como Cristo, no sentido de que efetivamente não posso produzir uma nova natureza e semelhança com o meu Senhor, porém, isso não me exime de desejar sê-lo, e imitá-lo, cumprindo assim a vontade de Deus, tornando meu o que é dEle [Ef 5.1].
Não é um desabafo, mas uma constatação. Nem tampouco uma demonstração de auto-indulgência, mas a certeza de que em mim não há nada que agrade a Deus, pois “com efeito o querer está em mim, mas não consigo realizar o bem” [Rm 7.18]. Exatamente porque o bem somente se concretizará na minha vida pelo poder de Deus operando em mim, e não por alguma possibilidade de produzi-lo por meios próprios, seja pela vontade, seja por algum dom ou exercício. Se Deus não o fizer, nada que eu faça resultará no bem. Foi assim que o Senhor disse a Paulo: “A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza” [2Co 12.9a]. Ao que o apóstolo respondeu: “De boa vontade, pois, me gloriarei nas minhas fraquezas, para que em mim habite o poder de Cristo” [2Co 12.9b].
Tudo em nossas vidas é sempre obra de Deus. Não importa se eu quero, faço ou desejo, porque Deus é o que opera tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade [Fp 2.13]. Contudo, alheio à questão da liberdade, eu tenho de querer, desejar e fazer, senão serei responsabilizado por minha desobediência em não querer, não desejar, não fazer. No final, o que importa é isso: viver segundo a vontade de Deus [1Pe 4.2], gerado pela palavra da verdade, para ser as primícias das suas criaturas [Tg 1.18], aperfeiçoando-me em toda a boa obra, operando em mim “o que perante ele é agradável por Cristo Jesus” [Hb 13.21].
Portanto, quero continuar a ler, meditar e aprender nas Escrituras, “segundo a promessa da vida que está em Cristo Jesus” [2Tm 1.1], pedindo para ser cheio do conhecimento da Sua vontade, em toda a sabedoria e inteligência espiritual; para andar “dignamente diante do Senhor, agradando-lhe em tudo, frutificando em toda a boa obra, e crescendo no conhecimento de Deus... dando graças ao Pai que nos fez idôneos para participar da herança dos santos na luz” [Cl 1.9-10, 12]; para ser o homem perfeito em Cristo, assim como Cristo é perfeito e nos tem por cumprimento da Sua promessa: “quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele; porque assim como é o veremos” [1Jo 3.2 b].
Neste ano, mais do que nunca, que eu possa considerar todas as coisas como perdas para ganhar a Cristo [Fp 3.7].
Nota: 1- Não podia esquecer de agradecer pela vida dos autores de obras impressas e virtuais, bem como a muitos irmãos e amigos que têm sido auxiliadores no conhecimento de Deus, Sua obra e vontade. Não é possível citar um a um, mas o bom Deus conhece aqueles que o amam, "sabendo que cada um receberá do Senhor todo o bem que fizer" [Ef 6.8].
Prezado irmão Jorge,
ResponderExcluirVocê muito bem abordou sobre esse balanço. Existem aquelas perdas que são positivas e são nessas perdas que deveríamos nos concentrar. Aquelas que engrandecem a Cristo, que nos introduzem em um melhor conhecimento do Pai e que nos fazem serví-lo melhor, essas sim são boas perdas. Com certeza estas perdas gerarão ganhos expressivos em avanços espirituais e para obra. Que percamos do mais do mundo, mais dos modelos escravizadores da mente e metodologias expúrias e ganhemos mais de Cristo.
Tenha um 2010 transbordante do conhecimento da vontade do Pai.
Um abraço
Em Cristo
Belíssima reflexão, Jorge.
ResponderExcluirEu gosto muito de ser propositivo em meus textos lá no blog. Porém inicio o ano em meio a duas postagens e um comentário "resposta". Embora considere importante combater a ignorância, sinto-me infeliz com uma oposição tão pouco producente como esta. Isto me faz sentir como aquele "criador de casos" de que já fui acusado. Isto é realmente triste para mim.
Não, não me arrependo de dizer tudo que já disse. Nem de enfrentar oposição. Não é isso. É apenas que isso obscurece (ou parece obscurecer) qualquer fruto de minha jornada cristã.
E assim como você, embora eu perceba em mim frutos verdadeiros e a imagem de Cristo sendo forjada por Deus em mim, percebo-me distante demais desta mesma imagem.
Tomo então suas palavras como minhas e faço desta sua postagem minha oração!
Deus o abençoe!
Em Cristo,
Roberto
Pr. Luiz Fernando,
ResponderExcluirO Evangelho para o eleito, ao meu ver, é um só: ser conformado à imagem de Cristo, já que fomos predestinados para isso (Rm 8.29}. E a grande esperança e certeza é a de, ainda que não sejamos como Ele é, certamente seremos, pois Deus cumprirá em nós aquilo que nos prometeu por amor do Seu nome. É algo inevitável, e que se realizará infalivelmente. Por isso, perder os favores do mundo, suas ilusões e falsas promessas para ganhar a Cristo, resultará em sermos feitos dia após dia mais semelhantes a Ele, cumprindo a vontade do Pai.
Estejamos cheios do desejo de ser cada vez mais semelhantes ao nosso Senhor.
Obrigado pelo comentário do amigo e irmão.
Grande abraço, e um 2010 repleto da graça de Deus.
Roberto,
ResponderExcluira verdade causa incômodo e resistência exatamente naqueles que a temem. Como disse no seu blog, a questão é muito mais do que desonestidade intelectual, é, sobretudo, desonestidade espiritual. Esta coordena e submete aquela às falsas premissas e, por conseguinte, leva às mentiras e enganos.
As vezes temos de ser duros, não porque queremos "tripudiar" sobre os outros, mas porque a verdade não admite qualquer concessão, especialmente ao subterfúgio. O amor a Cristo exige que não se contemporize com nada que vá além ou aquém do Evangelho. É parte da nossa missão de servi-lO integralmente.
Tenho para mim que aqueles que se consideram "acima de qualquer suspeita", não se entendem realmente como miseráveis e servos inúteis, estão distantes de reconhecer o quanto precisam orar e desejar serem conformados à imagem de Cristo.
E, como o meu pastor, Luiz Carlos Tibúrcio me disse, a insatisfação do crente consigo mesmo é fruto exatamente da ação de Deus em nossas vidas, e do crescimento intelectual e espiritual que Ele nos proporciona.
Se não formos capaz de reconhecer em nós mesmos as criatuas miseráveis e inúteis que somos, não reconheceremos em Deus o Senhor soberano, perfeito e santo que Ele é. E aí, o Evangelho é como semente lançada na terra seca e estéril: não produzira frutos dignos de louvor e honra ao nosso Senhor.
Grande abraço ao irmão, do qual já me considero amigo, certo de que, daqui para a frente, teremos toda a eternidade para testemunhar a maravilhosa obra que Deus realiza em nossas vidas.
Cristo o abençoe e a sua família imensamente!
Hê irmão...como vai? beijos a todos. Parece que esqueco de vocês mas não.Fico feliz de saber como está s sua fé. Dei o seu exemplo para o Helvecinho um dia desses. Desculpe a ligeira controvércia no blog do Pr. Luiz Fernando. Dê pessoalmente um abraço a ele. Mas creio que, mesmo sem concordar, você compreendeu as minhas colocações. O fim é o mesmo, que as pessoas conheçam ao Senhor nosso Deus, saibam do seu amor e reconheçam o seu poder. Afinal, nós os que cremos , somos incompletos em muitas coisas e erramos em muitas áreas no que concerne a obra de Deus. Em provérbios: "Assim como uma faca amola outra faca, assim um homem ao rosorto do outro homem", numa tradução livre. Um abraço.
ResponderExcluirCaro irmão Jorge, postei comentários no blog do Pr. Luiz Fernando, postei outro comentário no seu blog e agora anuncio, graças a você, uma nova postagem nomeu blog, que inaugurado ano passdo só tinha uma postagem. Pretendia fazer algo maduro e bem pensado e que fosse verdadeiramente útil e espiritualmente abençoador. Espero a sua visita e o eu parecer e se puder um acompanhamento diário. A sua opinião e participação serão muito importantes.
ResponderExcluirO endereço é esse:
http://mensagemdopregador.blogspot.com
Helvécio,
ResponderExcluirfinalmente, depois de um longo inverno, você se dispôs a comentar no meu blog, ainda que não tenha comentado especificamente sobre algum texto. Mas já é um começo (rsrs)...
Quanto ao debate no blog do pr. Luiz Fernando, é assim mesmo. As idéias existem para ser apresentadas, corroboradas, ou refutadas. Coloquei claramente o que entendo: a primazia do Evangelho sobre qualquer outra coisa, mesmo que sejam milagres.
Cristo tinha a preocupação premente de, primeiro, pregar o Evangelho, depois, realizar milagres, ou as duas coisas concomitantes. Jamais houve algum milagre sem a palavra. O que muitos "milagreiros" fazem é pregar outro evangelho, o antievangelho, e dar espetáculos. Não há a preocupação com o pecado, o arrpendimento, o juízo, o inferno, a condenação, nem mesmo Cristo é apresentado como Deus soberano, Senhor e Criador de todas as coisas e Juiz do mundo, o qual salvou muitos, mas condenará também outro tanto ou mais.
Quanto ao seu blog, farei outra visita, e espero que escreva periodcamente, com regularidade, para trocarmos idéias e uma ou outra farpa (rsrs).
Grande abraço ao irmão e amigo, bem como à Rose, o Helvecinho e Jô.
Cristo os abençoe!
Obrigado pela visita ao meu blog, espero contar sempre com você como seguidor ( puxa que honra! legal mesmo ) Está amadurecendo a cada postagem e acho que a idéia é torná-lo evangelístico principalmente. Queria dizer uma coisa. Que sempre senti em relaçao a seu blog: sempre foi estéticamente bonito e está cada vez melhor. Os meus parabéns principalmente pela beleza das imagens escolhidas a cada postagem. Excepcionais! Não só embelezam gráficamente o blog como complementam cada reflexão apresentada. Deus o abençoe! Um grande abraço em Cristo.
ResponderExcluirHelvécio,
ResponderExcluirNão acredito na máxima que diz: "uma imagem vale mais do que mil palavras", mas creio que elas podem complementar e auxiliar no entendimento daquilo que se quer dizer. Por isso, procuro imagens que tenham algo a ver com o texto. Nem sempre é possível, mas sempre que possível, procuro unir uma ao outro.
Obrigado pelos elogios. Boa parte deles se devem à generosidade com que o irmão Tiago Vieira do Internautas Cristãos tem me dispensado. Algumas mudanças no layout são "culpa" dele.
Como sou meio conservador quanto a muitos "pinduricalhos" no blog, procuro colocar apenas o estritamente necessário.
Espero que continue firme no blog recém-iniciado. Vi que já tem muitas postagens. Lerei-as no fim-de-semana.
Que bom que finalmente decidiu-se a fazer um blog evangelístico. Sua vinda irá aumentar ainda mais o nível na blogosfera. E é disso que precisamos; e é essa uma das nossas obrigações como cristãos: proclamar a verdade, Cristo e o Evangelho.
Grande abraço ao amigo e irmão.
Cristo o abençoe!
"persiste em ler..." 1 timóteo 4.13a.
ResponderExcluirNatan,
ResponderExcluirpersistamos, até aquele grande dia.
Abraços.
Jorge, meu caro irmão,
ResponderExcluirDeixei lá no "internautas cristãos" um comentário a esta postagem, mas quero também comentá-la aqui.
O meu comentário é muito semelhante ao do Roberto: tenho absoluta certeza de uma real proximidade com Cristo; minha vida apresenta mudanças claras, as quais entendo como frutos do espírito, porém, ao mesmo tempo, assaltam-me dúvidas. Sim, sou absolutamente sincero em afirmar isso: tenho dúvidas! Em muitos momentos vejo algo ainda da "velha critura" e isso me entristece sobremaneira. A única coisa boa que vejo, mesmo nessas dúvidas negativas a respeito das minhas convicções cristãs é que "agora estou vendo", aceito consciente e humildemente essas limitações, o que considero marco inicial para a mudança: a consciência do erro.
Tenho observado você, os seus textos, seus comentários, a humildade inerente à sua pessoa, proveniente do resgate em Cristo e vejo-o como um exemplo a seguir (pelos frutos apreendidos).
Enxergo claramente os meus defeitos vendo as suas qualidades aparentes. E isso alegra-me e entristece ao mesmo tempo. Alegra-me por ver um irmão transformado, redimido, resgatado; e entristece-me por saber que o meu caminho é longo, que as dúvidas ainda me assaltarão e que o processo é gradual. Eu gostaria que fosse imediato. Gostaria de ter a humildade sua e de muitos outros irmãos que conheço ( sem qualquer inveja, mas reconhecimento puro dos próprios defeitos e limitações cristãs). E hei de reconhecer que muitas vezes as coisas não dão certo, se conduzem erradamente por minha culpa, por ainda não ter atingido a santidade necessária.
É isso meu amigo e irmão. Parabéns por estar trilhando o caminho de Cristo. Continue assim, para que possamos olhá-lo e tê-lo como exemplo nesse maravilhoso aprendizado em busca de uma verdadeira comunhão com Cristo, para honra e glória do Senhor.
NEle,
Ricardo
Ricardo,
ResponderExcluirsei que devemos imitar a Cristo, mas, como escrevi em outro texto (Autofilia), Paulo disse:"Admoesto-vos, portanto, a que sejais meus imitadores” [1Co 4.16].
É nosso dever servir de exemplo aos irmãos, e mesmo ao mundo, sabendo que somente assim estaremos sendo aperfeiçoados no Senhor.
Vou-lhe fazer uma confissão: sempre fui orgulhoso, arrogante, vaidoso, e me considerando superior aos outros. Foi preciso Deus trabalhar a minha vida por anos, humilhando-me e revelando-me o que eu realmente era (e ainda sou, um pouco menos, mas ainda faz parte de mim). Na verdade, como estava cego, era incapaz de ver a minha condição, e quanto mais descia, mais a minha soberba crescia (mostrando o quanto a mente e o coração inconversos podem ser irracionais). Até aquele glorioso dia em que o Senhor me colocou aos seus pés, e vi minha pequenez e insignificância, e vi o quanto era um miserável pecador. Mas ainda assim havia um quê de soberba, e ela foi transferida para os ímpios.
Tolamente me considerava melhor do que eles, por ter a Cristo e eles não. Isso não é uma mentira; estamos na condição de co-herdeiros de Cristo, de filhos adotivos do Altíssimo em Cristo, não por mérito algum nosso, mas exclusivamente por Ele, o nosso Senhor.
Então, o Espírito Santo me mostrou mais uma vez a minha baixeza, e o quanto estava enganado. Aqueles que ainda hoje encontram-se na sarjeta espiritual e moral refletem exatamente o estado em que me encontrava cinco anos atrás. Eu também vim de lá, e por anos a fio me mantive ali, cego, sujo, nu, miserável. Por que então a soberba? A mesma condição em que eles estão, estive por mais tempo que muitos deles.
O fato é que, sem o Senhor, não somos nada, e não fizemos por merecer a graça divina. Ela nos alcançou quando éramos inimigos do Senhor e sérios candidatos ao fogo do inferno.
Quanto aos elogios, reputo-os como generosidade e bondade do irmão, assim como de outros irmãos. Não os mereço, e não é falsa modéstia, é que não mereço mesmo por tudo o que disse acima (e por tantos pecados e imperfeições que carrego comigo).
Mas não se esqueça também que nada disso é isolado; dependemos uns dos outros, e todos dependemos de Cristo. Tanto o irmão, o qual começo a travar uma amizade agora, quanto tantos outros irmãos, são exemplos para mim, naquilo em que imitam a Cristo. Então, vejo a imagem do Senhor refletida em cada um, sabendo que Ele está incansavelmente a realizar a Sua boa obra.
Quanto à tristeza pelos nossos pecados, isso também é obra do Senhor produzindo frutos em nossas vidas, frutos dignos de arrependimento para a Sua honra e glória.
No fim das contas, tudo é por Cristo, para Cristo e em Cristo, sem o qual não seríamos nada além de criaturas a caminho da perdição eterna.
Toda a glória portanto seja para Ele! Sabendo que naquele dia em que O veremos face a face, já seremos semelhantes a Ele.
Grande abraço no Senhor, meu amigo e irmão!
Cristo o abençoe imensamente!