1)
A Fiel pregação do Evangelho - Estudamos que a marca principal é a
pregação do Evangelho, não de qualquer "evangelho", mas o Evangelho de
Cristo. Conforme o Senhor Jesus nos entregou, em Mt 28.18-20, a "Grande
Comissão", a obra de proclamar a sua palavra e fazer discípulos,
batizando-os.
2) A correta ministração das ordenanças -
- O Batismo - Mt 26.19-20;
- A ceia do Senhor - Lc 22.19-20.
Paramos no item 3) que é "O fiel exercício da disciplina".
Deixei, para os irmãos lerem durante a semana, dois versos, os quais leremos, novamente, agora:
Mt
18.15-20: "Ora, se teu irmão pecar contra ti, vai, e repreende-o entre
ti e ele só; se te ouvir, ganhaste a teu irmão; Mas, se não te ouvir,
leva ainda contigo um ou dois, para que pela boca de duas ou três
testemunhas toda a palavra seja confirmada. E, se não as escutar, dize-o
à igreja; e, se também não escutar a igreja, considera-o como um gentio
e publicano. Em verdade vos digo que tudo o que ligardes na terra será
ligado no céu, e tudo o que desligardes na terra será desligado no céu.
Também vos digo que, se dois de vós concordarem na terra acerca de
qualquer coisa que pedirem, isso lhes será feito por meu Pai, que está
nos céus. Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí
estou eu no meio deles.".
e
1Co
5.1-5: "Geralmente se ouve que há entre vós fornicação, e fornicação
tal, que nem ainda entre os gentios se nomeia, como é haver quem abuse
da mulher de seu pai. Estais ensoberbecidos, e nem ao menos vos
entristecestes por não ter sido dentre vós tirado quem cometeu tal ação.
Eu, na verdade, ainda que ausente no corpo, mas presente no espírito,
já determinei, como se estivesse presente, que o que tal ato praticou,
Em nome de nosso SENHOR Jesus Cristo, juntos vós e o meu espírito, pelo
poder de nosso Senhor Jesus Cristo, Seja entregue a Satanás para
destruição da carne, para que o espírito seja salvo no dia do SENHOR
Jesus".
- O que fica claro para os irmãos nesses textos?
- Podemos falar em disciplina na igreja?
- Como? Por que?
Primeiramente, no texto de Mateus, temos, uma ordem cronológica no evento:
- Um irmão encontra-se em pecado;
- Ele é advertido por outro irmão, mas persiste no erro;
- É chamado à presença de mais um ou dois para, novamente, ser exortado ao arrependimento;
- É levado finalmente à igreja, visto não ter se arrependido;
- Ainda assim, se insistir em permanecer no pecado, não arrepender-se,
revelando um coração duro e empedernido, a igreja deve considerá-lo como
gentio ou publicano, como um incrédulo.
Então,
temos o Senhor Jesus investindo a igreja de autoridade, da sua
autoridade, ao dizer que onde dois ou três estiverem deliberando em seu
nome, ali ele estará [v.19-20].
E, qual é a autoridade da igreja?
A que ela se refere?
Apenas em assuntos ligados à doutrina?
À ordem do culto?
Em deliberar como serão gastos os recursos financeiros da igreja?
Ou também nos assuntos relativos ao comportamento escandaloso de seus membros?
Há
uma ideia de que esse verso se refere, pura e simplesmente, a qualquer
reunião de crentes, o que é verdade, mas, no contexto de Mateus 18,
especificamente, ele nos diz da autoridade com a qual Cristo investiu a
igreja para deliberar, decidir, dirimir e aplicar todas as resoluções
que foram tomadas no âmbito eclesiástico, inclusive, em relação à
conduta dos seus membros. Mais do que estar no nosso meio [não entendam
que eu esteja menosprezando ou conferindo somenos importância a um fato
essêncial e fundamental: Cristo presente no seio da sua igreja], deu-nos
a autoridade para resolver todas as questões relativas à igreja,
inclusive, a de juízo, em e pelo seu nome. Quando decidimos algo, o
fazemos em o nome de Cristo, e é ao nome dele que devemos honrar e ser
leais.
Por
isso Cristo está a tratar exatamente do pecado de um irmão e da
necessidade de discipliná-lo. Não é algo ultrapassado, sem cabimento,
nos dias atuais, pois os mandamentos do Senhor são eternos, e nenhum
tratamento humano, seja filosófico, psicológico ou pedagógico pode
suprimi-lo. De forma que a prática da disciplina eclesiástica é uma
prova de maturidade, e amor cristão, tanto a Deus, como à igreja, como
também ao irmão empedernido. Mantê-lo em seu pecado é dar um
"empurrãozinho" em direção ao inferno; e se alguém considera o desdém
como forma de acolhida, saiba que ele é prova maior de rejeição, de
falta de apreço, e do exercício de um certo sentimento de superioridade
que leva a não fazer caso da desgraça e do mal que acomete o pecador,
mas também da igreja conivente com o seu pecado.
Quando
se aborda o tema da disciplina estamos tratando diretamente de dois
aspectos: a dependência do crente à igreja e a autoridade da igreja
sobre o crente.
Alguém tem dúvidas de que seja isso o que o Senhor está dizendo?
Penso que a igreja, ao se omitir quanto a esse assunto, revela alguns sérios problemas.
Vamos agora a 1Co 5.1-5; não vou transcrevê-lo novamente.
O que salta aos olhos dos irmãos nesta passagem?
O
pecado, escândalo, de um irmão levou Paulo a comparar a igreja com o
mundo, ou melhor, a considerá-la mais pecaminosa do que o próprio mundo.
O
que os irmãos entendem quando Paulo chama os Coríntios de estarem
"ensoberbecidos" [vaidosos, orgulhosos, soberbos]? Não é esse o sinal de
desprezo que apontei acima?
A soberba, que é um tipo de autossuficiência, de se considerar superior e até mesmo intocado ou inatingível, levou a igreja a:
- Negligenciar e fazer vistas-grossas ao pecado;
- Tornou-se conivente com o pecado, associando-se a ele;
- Faltou o temor do Senhor, levando-a à insensatez [Pv 9.10];
-
Faltou-lhe amor e piedade para com o irmão em pecado, sabendo que a
prática exercida por ele flagrantemente afrontava a Deus;
- E eles mesmos desprezavam o conselho divino e a sua Lei;
-
Por fim, tudo isso levou a igreja de Corinto a não se envergonhar do
pecado daquele irmão, de forma que ele permanecia no meio deles. Paulo
alertou-os de que o orgulho impediu-lhes de tirá-lo dentre eles [v.2].
Em
seguida, invocando a autoridade dado por Cristo, falando em nome dele,
pela união que há entre o espírito de Paulo e dos irmãos de Corínto
[aqui temos o princípio da igreja invisível, espiritual e universal da
qual já falamos, e pela qual a igreja tem autoridade para deliberar em
todos os assuntos a ela pertinentes, em conformidade com o que Cristo
disse em Mt 18.19-20, em uma clara relação entre o que o Senhor disse
para fazer e Paulo, como apóstolo da igreja, fez], ele entrega o tal
irmão pecador a Satanás, para que a carne seja destruída e o espírito
seja salvo [v.5].
O que lhes parece isso? A carne destruída e o espírito salvo pela disciplina da igreja? Mas como se dá isso? E, por que?
Paulo
diz o mesmo de Himeneu e Alexandre em 1Tm 1.20, entregando-os, como
blasfemadores, a Satanás. Aqui não é possível saber se ele já é salvo ou
não, ainda que pareça que não. O certo é que ele comete um pecado
grave, e ao que tudo indica foi exortado individualmente por um ou outro
irmão, não arrependeu-se e insistiu na rebeldia. A igreja, portanto, tem o
dever de excluí-lo, para que, estando fora da proteção da igreja,
padeça nas mãos de Satanás e reconheça e busque a necessidade de perdão.
Deus utilizará o diabo para disciplinar, na carne, àquele homem.
Hebreus 12.4-13 parece-me a chave da resposta. O apóstolo nos remete ao
castigo que não é punitivo, mas educativo, pedagógico, como se gosta de
dizer atualmente. Com o objetivo de sarar, de curar e, porque não,
salvar o perdido. Veja bem, não é possível saber se aquele irmão era
salvo ou não; o texto aponta para o fato dele não ser salvo, pois
precisaria ser entregue ao diabo para que o fosse, mas o certo é que o
castigo tinha o intento de curá-lo, e sará-lo do quê? De uma vida de
pecados, empedernida, e que resistia ao arrependimento. E tudo isso é
prova de amor de Deus para com os seus, e da igreja para com os irmãos.
Qual
atitude é mais fácil para um pai que sabe do envolvimento do seu filho
com as drogas, por exemplo? Procurar curá-lo [e muitas vezes com
atitudes que vão contra a vontade rebelde do filho de se drogar, podendo
ser a internação ou entregá-lo à justiça] ou abandoná-lo ao próprio
vício, como muitos pais e mães agem atualmente? Em qual delas ele
demonstrará amor verdadeiro? Em qual delas temos piedade e misericórdia?
Certa
vez, vi uma declaração impactante de uma mãe na Tv. O seu filho estava
envolvido em crimes, um jovem de 15 anos, e ela preferiu entregá-lo à
polícia do que vê-lo caminhar a passos largos para a morte prematura.
Ela disse ter tentado de tudo para demover o filho da vida de crimes, e
não houve mudanças. Então, em um ato desesperado, ela o denunciou.
Muitos a criticaram por essa atitude. Muitos entenderam que a posição
dela não traria resultados à correção do filho. Mas, entendo que, na
simplicidade daquela senhora, ela agiu como uma verdadeira mãe que ama o
seu filho. Ela não foi negligente nem omissa, preferiu a dor de
denunciá-lo, e levá-lo certamente à condenação, do que vê-lo viver uma
vida miserável de crimes [e as suas lágrimas e a expressão de sofrimento
eram evidências claras de como o seu coração estava partido e
angustiado]. Ela vislumbrava, na prisão, uma chance que ele não teria
levando a vida que levava do lado de fora... Ela entregava o filho à
justiça para que pudesse resgatá-lo novamente. Tal qual Paulo diz, ela
esperava que ele, no fim de tudo, se salvasse da vida criminosa e da
morte iminente.
Então,
temos que o princípio da disciplina da igreja visa o arrependimento, e
deve ser aplicada em amor, piedoso e misericordioso, que levará, como
consequência, caso o irmão se arrependa, ao perdão por parte da igreja e
de Cristo [não nessa ordem, claro!].
E
isso traz tristeza à igreja, e deve trazê-la também ao irmão em pecado,
como Paulo diz em 2Co 2.4-11. Aqui, exatamente, encontramos uma outra
exortação relativa a esse mesmo irmão, de que a igreja o perdoe e não
aja de maneira excessivamente dura para não aumentar-lhe a tristeza. Ao
que tudo indica, esse irmão se arrependeu, mas a igreja não parecia
muito disposta a perdoá-lo e tratá-lo novamente como a um irmão. Tem-se
de ter cuidado para não extrapolar o ensinamento bíblico e não agirmos
no mesmo nível de carnalidade do pecador.
Mas,
e se o irmão não se arrepender? Como deve proceder a igreja? Este é o
segundo objetivo da disciplina, manter a unidade da igreja. Um exército
dividido, sem um objetivo comum, o de glorificar a Deus, não subsiste.
Leia o que Paulo diz em 2Tm 3.1-9 e 4.2-4; e veja o que João, chamado de o apóstolo do amor, nos diz em sua Carta segunda, versos 9-11:
“Todo
aquele que prevarica, e não persevera na doutrina de Cristo, não tem a
Deus. Quem persevera na doutrina de Cristo, esse tem tanto ao Pai como
ao Filho. Se alguém vem ter convosco, e não traz esta doutrina, não o
recebais em casa, nem tampouco o saudeis. Porque quem o saúda tem parte
nas suas más obras”.
A
palavra “prevaricar” significa proceder mal; transgredir a moral, os
bons costumes: aquele jovem prevaricara. Vti: Faltar a, deixar de
cumprir: Prevaricar aos deveres, às promessas. Corromper, perverter.
É
preciso entender que o crente não pode nem deve ser motivo de
escândalos para a igreja, o que, consequentemente, significa escândalo
para o nome de Cristo. Por isso há tantas e tantas advertências ao
comportamento e modos de agir do cristão. É nosso dever testemunhar, não
somente com palavras mas com atos, tudo o que nos foi entregue por Deus
como a sua vontade, de que sejamos irrepreensíveis e exemplos para os
homens e a sociedade. Ser luz no mundo não é outra coisa a não ser
guia-lo [o mundo] na verdade, tirando-o das trevas, do engano, da mentira e do
pecado. Mas se nós mesmos estamos em trevas, como podemos enxergar o
caminho, seguir a Cristo, e levar outros conosco?
Para
finalizar, entendemos que a disciplina pode ser exercida de várias
formas, desde a simples exclusão do irmão das atividades de liderança, o não participar da Ceia do Senhor, até, em último caso, a exclusão
do rol de membresia. Mas estes serão assuntos que abordaremos mais
detidamente à frente. Por hora, é-nos necessário ter a certeza de que a
disciplina eclesiástica é bíblica e uma das mais importantes marcas de
uma igreja verdadeiramente cristã.