06 outubro 2025

A Morte na Morte de Charles Kirk

 






 

 

Jorge F. Isah

 

 

Em Minas, existe um ditado muito repetido: “Não faça aos outros o que não gostaria que fizessem com você!”. Na verdade, ele tem relação direta com os ensinamentos bíblicos: Em todas as coisas façam aos outros o que vocês desejam que eles lhes façam. Essa é a essência de tudo que ensinam a lei e os profetas.

Por que estou a falar deste assunto?

Bem, no último dia 10, o apologista cristão e conservador, Charles Kirk, foi executado na Universidade de Utah, enquanto promovia um debate com alunos. O fato em si já seria lamentável, se não acontecesse em um local onde, originalmente, seria apropriada a troca de ideias. A escola perdeu boa parte do seu significado ao impedir e censurar vozes discordantes. Mas, quando adversários intelectuais são ameaçados, perseguidos ou sofrem agressões, algumas culminando em mortes, é necessário rever não somente as diretrizes educacionais como humanas.

Basta uma ligeira olhadela nas redes sociais para constar que existe uma comoção, a tristeza por um ato covarde, frio e inumano. Porém, não é difícil encontrar aqueles que se refestelam, soltam foguetes e vibram com o heroísmo do pusilânime “sniper”. O homem, sentado em uma cadeira, cuja arma era o microfone, foi abatido sem nenhuma piedade. A camiseta branca com os dizeres “Freedom” manchou-se de sangue. Os filhos e a esposa não terão mais o seu querido... e o mundo perdeu mais uma vez, mesmo que os “festeiros” não se deem conta disso.  

Podia ser qualquer um, até mesmo o pior entre os piores criminosos: por que eu me alegraria com a sua morte?  Por que eu a desejaria? Por que insuflaria outros a querê-la? Se o próprio Santo diz: Não tenho prazer na morte do ímpio, mas em que o ímpio se converta do seu caminho, e viva. Convertei-vos, convertei-vos dos vossos maus caminhos.

A questão é: qual o direito de alguém, seja lá quem for, se alegrar com a morte do outro? Não digo fomentá-la, mas divertir-se, desdenhar a vida, sendo ela o bem mais precioso que se tem?... É incoerente desfrutar o que tem e impedir que outros desfrutem também. É imoral se refestelar nos prazeres, atrevido, diante dos que pranteiam. É como aquele que acabou de comer caviar e arrota sobre o faminto. Mas ele mesmo, o arrotador, pede a morte do comedor de caviar e se esquece de que ele também comeu e, pior, arrotou.  O exemplo do Rei Davi, confrontado pelo profeta Natan, deveria servir de exemplo e de como responder ao pecado.

Estamos na era da morte. Nunca ela foi tão quista. Antes temida, e quanto mais longe melhor, hoje virou fetiche. Quase um objeto de culto. Com isso, a vida perdeu vigor e enfraqueceu-se, ainda que a maioria não tenha consciência.

Esses eventos têm origem no afastamento de Deus, na perda da moral absoluta e no coletivismo que faz o indivíduo ser uma peça descartável e substituível: ele nunca será ele mesmo, mas um ectoplasma do grupo. A consciência, sentimentos, emoções vêm de fora, e independente da bagunça interior, acabam por se acomodar no caos. E o caos não produz ordem, espiritual e mental, mas faz com que tudo ganhe o rótulo de “sobrevivência”, de conservar o pouco que resta. E o que resta? Quase nada. Virtudes e qualidades são desprezadas porque não se tem aquilo que nunca viu ou soube existir. Ficam apenas os monturos nos escombros. E deles saem apenas refugos e escórias.

O homem agoniza na frívola empáfia. E quando deseja ou se diverte com a morte de alguém, está se condenando a si mesmo à morte. Resta-nos, aos que amam a vida, e ela está em Cristo antes de estar em qualquer outro, pedir para que o morto ressuscite. Do contrário...

Talvez seja pedir muito. Talvez seja pedir o que não se pode dar; e não sabem que o desejo pela morte é um mau-agouro. Não algo místico, mas real, que pode levar a uma guerra indesejada; a qual ele sequer imaginou. Uma luta fadada ao desastre, que pode arrolar outros, mas na qual ele morre junto, pouco a pouco, enquanto perde a humanidade, a capacidade de ser humano e, como tal, a imagem de Deus, transfigurando-se na serpente do Éden ou um demônio qualquer.  

Temo por eles, pois não têm esperança além do que veem: o tiro, a prisão, a tortura, a segregação, a humilhação, a indiferença, o riso besta e bestial. Tudo fruto do medo; o pavor de perder aquilo que nunca teve ou pode ter...

Porque a qualquer que não tem, até o que parece ter lhe será tirado.


_____________________________________________ 

Nota: Texto publicado originalmente na Revista Bulunga

Nenhum comentário:

Postar um comentário