Jorge F. Isah
Em Minas, existe um ditado muito repetido: “Não faça
aos outros o que não gostaria que fizessem com você!”. Na verdade, ele tem
relação direta com os ensinamentos bíblicos: Em todas as coisas façam aos
outros o que vocês desejam que eles lhes façam. Essa é a essência de tudo que
ensinam a lei e os profetas.
Por que estou a falar deste assunto?
Bem, no último dia 10, o apologista cristão e
conservador, Charles Kirk, foi executado na Universidade de Utah, enquanto
promovia um debate com alunos. O fato em si já seria lamentável, se não
acontecesse em um local onde, originalmente, seria apropriada a troca de
ideias. A escola perdeu boa parte do seu significado ao impedir e censurar
vozes discordantes. Mas, quando adversários intelectuais são ameaçados,
perseguidos ou sofrem agressões, algumas culminando em mortes, é necessário
rever não somente as diretrizes educacionais como humanas.
Basta uma ligeira olhadela nas redes sociais para constar
que existe uma comoção, a tristeza por um ato covarde, frio e inumano. Porém,
não é difícil encontrar aqueles que se refestelam, soltam foguetes e vibram com
o heroísmo do pusilânime “sniper”. O homem, sentado em uma cadeira, cuja arma
era o microfone, foi abatido sem nenhuma piedade. A camiseta branca com os
dizeres “Freedom” manchou-se de sangue. Os filhos e a esposa não terão mais o
seu querido... e o mundo perdeu mais uma vez, mesmo que os “festeiros” não se
deem conta disso.
Podia ser qualquer um, até mesmo o pior entre os
piores criminosos: por que eu me alegraria com a sua morte? Por que eu a desejaria? Por que insuflaria
outros a querê-la? Se o próprio Santo diz: Não tenho prazer na morte do
ímpio, mas em que o ímpio se converta do seu caminho, e viva. Convertei-vos,
convertei-vos dos vossos maus caminhos.
A questão é: qual o direito de alguém, seja lá quem
for, se alegrar com a morte do outro? Não digo fomentá-la, mas divertir-se,
desdenhar a vida, sendo ela o bem mais precioso que se tem?... É incoerente
desfrutar o que tem e impedir que outros desfrutem também. É imoral se
refestelar nos prazeres, atrevido, diante dos que pranteiam. É como aquele que
acabou de comer caviar e arrota sobre o faminto. Mas ele mesmo, o arrotador,
pede a morte do comedor de caviar e se esquece de que ele também comeu e, pior,
arrotou. O exemplo do Rei Davi,
confrontado pelo profeta Natan, deveria servir de exemplo e de como responder
ao pecado.
Estamos na era da morte. Nunca ela foi tão quista.
Antes temida, e quanto mais longe melhor, hoje virou fetiche. Quase um objeto
de culto. Com isso, a vida perdeu vigor e enfraqueceu-se, ainda que a maioria
não tenha consciência.
Esses eventos têm origem no afastamento de Deus, na
perda da moral absoluta e no coletivismo que faz o indivíduo ser uma peça
descartável e substituível: ele nunca será ele mesmo, mas um ectoplasma do
grupo. A consciência, sentimentos, emoções vêm de fora, e independente da
bagunça interior, acabam por se acomodar no caos. E o caos não produz ordem,
espiritual e mental, mas faz com que tudo ganhe o rótulo de “sobrevivência”, de
conservar o pouco que resta. E o que resta? Quase nada. Virtudes e qualidades
são desprezadas porque não se tem aquilo que nunca viu ou soube existir. Ficam
apenas os monturos nos escombros. E deles saem apenas refugos e escórias.
O homem agoniza na frívola empáfia. E quando deseja
ou se diverte com a morte de alguém, está se condenando a si mesmo à morte.
Resta-nos, aos que amam a vida, e ela está em Cristo antes de estar em qualquer
outro, pedir para que o morto ressuscite. Do contrário...
Talvez seja pedir muito. Talvez seja pedir o que não
se pode dar; e não sabem que o desejo pela morte é um mau-agouro. Não algo
místico, mas real, que pode levar a uma guerra indesejada; a qual ele sequer
imaginou. Uma luta fadada ao desastre, que pode arrolar outros, mas na qual ele
morre junto, pouco a pouco, enquanto perde a humanidade, a capacidade de ser
humano e, como tal, a imagem de Deus, transfigurando-se na serpente do Éden ou
um demônio qualquer.
Temo por eles, pois não têm esperança além do que
veem: o tiro, a prisão, a tortura, a segregação, a humilhação, a indiferença, o
riso besta e bestial. Tudo fruto do medo; o pavor de perder aquilo que nunca
teve ou pode ter...
Porque a qualquer que não tem, até o que parece ter
lhe será tirado.
Nota: Texto publicado originalmente na Revista Bulunga
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