04 setembro 2024

Ouro de Tolo

 




Jorge F. Isah



Muito se tem falado nas últimas décadas de poluição do meio-ambiente e a necessidade de preservá-lo para o bem da humanidade. Há até mesmo aqueles, mais radicais e insanos, que defendem o fim da humanidade para que o meio-ambiente seja conservado. Eu só gostaria de saber se os idealizadores dessa ideia “genial” seriam os primeiros da fila de extermínio; ou estão apenas em busca de holofotes ou de tratamento psiquiátrico gratuito? A verdade não é outra senão o fato do homem ser o mordomo deste mundo, a quem Deus (quer você queira ou não) designou como administrador. A natureza é uma criação, assim como o homem, e não algo autogerado e, sendo o homem capaz de modificá-la, é necessário fazê-lo com sabedoria, conhecimento e bom senso. As intervenções devem acontecer de forma prudente, organizada e com o menor impacto justificável. Nem sempre é possível, mas aconselhável... Não colocaria esta responsabilidade nas mãos apenas do governo, da iniciativa privada, de ONGs ou exército de mercenários. Nem tão pouco nas mãos de plantadores de coca, marijuana ou ópio, ou a cargo de índios ou grileiros. Muito menos na massa de palpiteiros que assumem a preservação como um modismo, assim como se usava polainas no passado e agora usam-se havaianas. Não sobrou muita gente, é verdade, e esse pessoal, incapaz de conciliar-se, atira um no outro e no próprio pé.

Não quero me ater a esse tópico, mas falar de outro que não ganha, aos olhos do Ibope, dos povos e organismos, a mesma relevância, e está muito mais ligado ao ambiente do que se possa imaginar, ao menos para os insanos padrões do establishment: a poluição anímica. Senão, vejamos:

1) Qual foi a última vez em que você estava lendo, ouvindo sua banda ou cantor predileto, ou assistindo aquele melodrama na TV, ou simplesmente tirando aquela soneca depois do almoço, e não se viu sacudido pelo terremoto sonoro do “mano” e seu funk morbo a perambular na rua ou estacionando o seu Corsa duas portas de primeira geração bem debaixo da sua janela?



2) Ao flanar pela cidade, não teve o desagradável vislumbre de paredes e muros pichados, garatujas do mais péssimo gosto, a emporcalhar a visão?

3) Prédios e monumentos assimétricos, construídos sabe-se lá por qual alma penada, mais parecidos com cubos empilhados por um prematuro?



4) E o que dizer de homens e mulheres dispostos à inconveniência e descortesia, a fazer dos seus dias o suplício dos outros? Entre berros, grosseria e má-educação?

5) Sem falar nos ferretes epidérmicos (vulgo tatuagens e afins) que, para o bem dos higienistas mentais, deveriam se resumir às partes mais íntimas, longe dos olhares perturbáveis (do jeito que as coisas andam, nem estas partes são garantias de exposição dispensável)?



6) Ah, mas ainda não chegamos ao pior: naquele vizinho que faz um “gato” na luz, água ou TV a cabo, e você é quem paga a conta. Naquele político que desvia a verba do SUS e você acaba mandado de volta para casa, com uma costela quebrada ou o apêndice supurando, e ainda paga a conta. Ou as várias e múltiplas formas de existir uma casta privilegiada, muito além do que produz ou seja capaz de produzir, regalias adquiridas por meios ditos legais mas antiéticos; e a conta é sua. E outras ilegais e ainda mais antiéticas, com o ônus para você...



Portanto, antes de se preocupar com a extinção do pau-brasil (muitos acreditam ser a madeira verde e amarela) ou da arara-vermelha (tem a maior parte do corpo em azul), olhe-se no espelho ou faça um exame de consciência e veja se este mundo não é simplesmente o reflexo do que você e eu somos, e, neste caso, não há lei ou protesto que o despolua. Como está escrito: “Hipócrita, tire primeiro a viga do seu olho, e então você verá claramente para tirar o cisco do olho do seu irmão.” (Mateus 7:5)

Pois o pecado não é de mais ninguém, a não ser seu... E não adianta dizer que é meu, senão vou escrever outro artigo impugnando-o!

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Nota: Texto publicado originalmente na Revista Bulunga

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