JORGE F. ISAH
Este é mais um livro no estilo "noir", com elementos típicos: protagonista "macho alpha", ex-presidiário, acusado injustamente, perseguido por bandidos e policiais; mulher linda, desejada, não-disponível e com tendências a participar do crime organizado, circundada por cafetões, larápios e bandidos pés-de-chinelo, resumindo, uma "femme fatale" típica; polícia inepta e corrupta, displicente e venal; um enredo óbvio, quase banal, sem psicologismos e profundidade na construção dos personagens; um final feliz ou quase feliz; linguagem crua, beirando ao vulgar. Temos então, "A mulher no escuro".
Dashiell Hammett escreveu um livro bom, dentre os que já li: “O Falcão Maltês”. Tudo o que descrevi acima está presente lá, em menor proporção, mas está lá. A diferença é que os personagens são melhores construídos, delineados, e em maior número; a trama tem a complexidade necessária para que ocorram reviravoltas e surpresas de verdade, em que as amarras são devidamente atadas. "O Falcão Maltês" é um noir “intermediário”, enquanto "A mulher no Escuro" seria de “entrada”, se pudermos transpor o universo dos smartphones para a literatura, algo equivalente a comparar um Motorola novo com um Positivo ou Alcatel usado.
Especificamente, “A Mulher no Escuro”, não é um livro detestável, mas está longe de ser mediano. Ficaria entre o ruim e o regular, algo para se ler e esquecer; pude mesmo sentir um certo tédio em parte da leitura, e um desinteresse em outra boa parte (para um enredo que está entre a novela e o conto, é muito desanimador, e pouco empolgante, em suas mirradas páginas). A história não convence, ao menos, não me convenceu, especialmente pela forçosa “áurea” de bonzinhos imputada aos bandidos “pobres” ou inexpressivos, como se fossem bandidos de mentirinha, ao passo que os verdadeiros estão nos altos escalões, entre os ricos e abastados, entre as autoridades e governantes. Aqueles praticam o crime por necessidade, estes pelo amor ao poder, a ganância e a maldade (como se qualquer crime não tivesse o mal e a cobiça como incitadores). No “Falcão Maltês” este viés sociológico não se evidencia ou é posto às claras, enquanto, por aqui, é escancarado, explícito.
Para culminar, um final “previsivelmente previsível”, anunciado ainda no primeiro capítulo.
Por essas e outras, prefiro os livros do Raymond Chandler ou David Goodis, quando o gênero é noir americano.
De resto, poderia concluir que, “A mulher no escuro”, é uma sombra distanciando-se, e distanciando-se, cada vez no limiar do esquecimento.
*******
DESCRIÇÃO
Título: "A Mulher no Escuro"
Autor: Dashiell Hammett
Páginas: 104
SINOPSE DA EDITORA:
"Numa noite escura, uma jovem mulher surge do nada, assustada e ferida, buscando refúgio em uma casa isolada. O homem que ali mora a acolhe, mas ele não está preparado para lidar com a misteriosa desconhecida, nem com os homens que a perseguem."
Nenhum comentário:
Postar um comentário