13 março 2019

Um pouco de justiça social




Jorge F. Isah


  Andei lendo por aí que a “esquerda” tem muito a dizer sobre injustiça social. Realmente, ela tem mesmo: justificar porquê em nome da justiça social comete-se cada vez mais injustiça, ao invés de minimizá-la. Na verdade, eles precisam abandonar o "dizer", o discurso ideológico, e ver se fazem algo na prática, de fato.

  O problema, na maioria das vezes, está centrado na questão econômica, a utopia de uma sociedade igualitária onde todos tem tudo do mesmo: uma casa igual, um carro igual, a mesma comida nas mesas, as mesmas roupas, entre outras "provas" de igualdade. Ora, isso já foi tentado no bloco soviético, na Europa, na China, em Cuba, e nunca funcionou, e jamais funcionará. A igualdade a partir da equiparação econômica é o embuste e a "pegadinha" dos dois últimos séculos. A prova está na elite burocrática desses países, onde um grupo diminuto detém o poder e os privilégios econômicos (mansões, casas de veraneio, carros importados, viagens ao Ocidente, dinheiro em paraísos fiscais, roupas de grifes, comidas suntuosas e nababescas, entre outros), enquanto a população é obrigada a rações alimentares, roupas padronizadas e baratas, casas sem conforto (em alguns casos, mais de uma família morando debaixo do mesmo teto), carroças motorizadas, serviços públicos deficitários... A ideia de se ter acesso a todos os bens modernos, ainda que eles não cumpram com os anseios de "modernidade" (conforto, funcionalidade), traz a ilusão de uma "conquista e justiça social", quando as filas quilométricas do pão ou do combustível, e dividir o banheiro com os vizinhos, demonstram o contrário.  

  Quanto ao argumento de que a “direita” não se preocupa com a "injustiça social" e deveria fazê-lo politicamente, saliento que o objetivo do Estado não é paparicar grupo(s) ou indivíduo(s) mas sustentar a ordem institucional e legal de maneira que todos possam alcançar, pelo esforço e mérito próprio, seus objetivos, ao invés de distribuir privilégios aqui e acolá (normalmente aos alinhados ideologicamente com o governo), enquanto distribui migalhas à população, que não tem a contrapartida daquilo que lhe é tomado na forma de impostos e tributos. Sim, a carga tributária brasileira é uma das maiores do mundo, e o retorno ou a devolução em forma de organização e proteção da sociedade, especialmente, é negligenciada, abandonando o cidadão ao "deus-dará". Se não há segurança, o que dizer da saúde, educação, saneamento básico, infraestrutura essencial? Tem-se burocracia, burocracia, ineficiência, descaso e uma "casta" estatal repleta de privilégios e benesses distribuídas com o suor do contribuinte, seja empresarial ou individual. Mas esta é outra discussão. A questão aqui é o "engajamento social" e a reparação da injustiça, se é possível. No mundo ordenado pela "Queda", pelo pecado, e a rejeição, cada vez maior, do Deus bíblico, como esperar que movimentos, grupos e governos possam realizar a justiça social se a desconhecem? Apenas presumindo conhecê-la a partir da corrupção da alma, que fatalmente adulterará o sentido verdadeiro de justiça? Sem conhecer a Deus e sua vontade é possível entender o cerne da justiça e como alcançá-la? Por isso a necessidade premente da igreja arregaçar as mangas, sair do seu sono e conforto, e ser instrumento para se alcançar a justiça real, legítima, íntegra e moral, segundo a única fonte justa, o próprio Deus. 

  Biblicamente, a responsabilidade de cuidar do próximo, dada pelo Senhor, é à igreja e não as forças seculares, de maneira que há um desvirtuamento de propósitos quando a igreja transfere a sua prerrogativa bíblica, ou seu mandato, para um Estado não-bíblico. De alguma maneira, a igreja perdeu, no decorrer das últimas décadas a sua prerrogativa de cuidar do próximo espiritual e material, suprindo as necessidades e urgências da vida. Infelizmente, o projeto de muitos é apenas individual e organizacional: o crescimento, o endinheiramento, a relevância política, o jogo de interesses. O próximo passou a ser apenas um número e uma estatística no balanço de muitas igrejas. 

  Ah, apenas para não haver confusão, assim como na parábola do Bom Samaritano, há um dever individual de cada cristão no auxílio ao próximo, realizando-se concomitantemente com a sua participação na obra eclesial. Uma coisa não exclui a outra. A missão principal da igreja não é construir colégios, emissoras de tv e rádio, mas, sobretudo, a proclamação do evangelho e o auxílio e sustento aos doentes e necessitados (velhos, órfãos, etc). Negar esta prerrogativa é negar o papel de igreja e o evangelho. E não ser o instrumento divino neste mundo. 

PS: Como “esquerda”, eu quis englobar os marxistas de forma geral, progressistas e socialistas em particular.
E, por direita, grupos conservadores em geral, e cristãos em particular.


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