25 março 2018

Introdução à Pregação - Aula 1 e 2




Jorge F. Isah



Aos interessados, os áudios deste estudo estão disponibilizados no final da postagem.


INTRODUÇÃO

Estudamos, no decorrer do último ano, a apresentação do que seja o culto cristocêntrico. Agradecemos ao irmão Francisco por nos orientar nas várias questões relativas ao entendimento do que seja o culto verdadeiramente cristão, e as imitações que grassam, em boa parte das reuniões religiosas, e que equivocadamente são reputadas como cristãs, quando apenas reproduzem pouco ou nada da verdade bíblica, e, também, pouco ou nada do nosso Senhor. Ele é o centro da fé, e imaginar possível uma vivência cristã onde ele não seja o fundamento, o alicerce, a motivação a prática da fé, é inconcebível e um absurdo. 

Iniciaremos hoje, uma série de estudos a partir dos temas abordados em vários livretos publicados pela Editora Fiel, e que se estenderão a outros livros diversos, inclusive a biografia dos santos e seus ministérios. Os temas têm tudo a ver com o estudo anterior, e serão complementares a ele, fortalecendo os conceitos já aprendidos, reforçando-os para que sejamos ainda mais conscientes e zelosos da defesa da fé. 

O primeiro deles trata da pregação em nossos dias. O livro tem o título: “O que há de errado com a pregação hoje?”, escrito por Albert N. Martin. 

Tentaremos uma nova perspectiva de aulas, onde os irmãos receberão, antecipadamente, parte do texto, preferencialmente capítulos inteiros, uma semana antes da aula, a fim de lerem durante a semana, meditarem no que leram, anotando as partes mais relevantes, as dúvidas, ou o que não ficou suficientemente claro, e, caso haja, suas críticas (de deverão ser fundamentas). Desta forma, queremos que o estudo não se restrinja ao momento da EBD, mas os irmãos possam estendê-lo ao restante da semana. Como não serão partes longas, apenas algumas páginas, esperamos não haver motivos para não se proceder a esse exercício, no que acredito haverá o substancial crescimento individual quanto aos fundamentos da fé, e, como igreja, o Corpo de Cristo. 

Antes de entrarmos propriamente no tema do livro, faremos um apanhado do que vem a ser pregação e sua formação histórica.


O QUE É PREGAÇÃO? COMO SURGIU?

O dicionário Priberam online define a expressão como o “ato de pregar, uma admoestação, sermão, assunto de uma prédica”, e trazendo para o universo da fé, podemos resumir como sendo um discurso religioso (não apenas se manifesta nas religiões, mas pode-se estendê-lo ao âmbito político, ideológico, etc). Esta é uma definição genérica, que traz algum sentido, ainda que seja um sentido óbvio, e que, portanto, não define as características que distinguem a pregação bíblica de qualquer outro discurso religioso. 

No mundo antigo, por exemplo, a civilização greco-romana, havia a figura do filósofo-pregador, aquele que se utilizando das ferramentas da retórica (arte ou ciência de falar bem em público, também conhecida como oratória), ia para as praças e outros lugares públicos expor suas ideais, conceitos e cosmovisões, incluindo-se fé e religiosidade. 

Como veremos a seguir, fora do Cristianismo, a pregação não tem o mesmo significado e importância que em outras religiões e culturas, nem mesmo a judaica. 

No A.T. a palavra mais comumente utilizada para identificar uma pregação é bãsár (ocorre 30 vezes): tornar público, dar (boas) notícias, pregar. Há também a palavra Nãtap (ocorre 18 vezes), significando gotejar, destilar, profetizar e pregar, entre outros. 

Neste sentido, ou seja, no sentido bíblico, a pregação é, via de regra, uma proclamação publica. A palavra mais utilizada no N. T., para definir pregação é “kerusso” (de onde deriva a palavra Kerygma = proclamação, mensagem), que significa “proclamar como um arauto”, aquele que proclama. O arauto era o servo ou funcionário encarregado de levar à população os éditos, ordens, decretos e leis reais. Ele era mensageiro do rei, transmitindo a própria voz do rei aos seus súditos. Assim, o pregador cristão nada mais é do que um arauto ou mensageiro de Deus, quem levará aos súditos a sua palavra, vontade e ordem. 

O N.T. trata a pregação como “a mensagem de boas-novas ou evangelho”. Então, quando as boas-novas de Cristo são proclamadas, estamos a pregar, no sentido mais estrito que ele representa para a fé cristã. 

Algo que me fez pensar muito sobre o assunto, foi quando me deparei, em minha pesquisa, com a afirmação de vários autores de que a a pregação era uma atividade neotestamentária, surgindo a partir do ministério do Senhor Jesus. Esta afirmação levou-me a questionar o seguinte: Antes de Cristo, Deus abandonou o seu povo sem lhes destinar pregadores e pregações?

Ainda que diferente do sentido utilizado no decorrer da igreja, a pregação não é algo exclusiva dela, mas surgiu ainda no tempo dos profetas, que eram “oráculos” de Deus, de Abraão (ao anunciar a aliança de Deus com ele e sua descendência) até Malaquias, sem nos esquecer de que houve antes homens que foram também porta-vozes divinos, como Noé, que anunciou aos homens, por 120 anos, o juízo e a destruição do mundo, através do Dilúvio. 

Os profetas foram os primeiros pregadores, aqueles que comunicavam, levavam até o povo a mensagem divina, que lhes era transmitida diretamente pelo Espírito Santo, por meio de sonhos e visões. Hoje o termo profecia tem o cunho quase exclusivo de “revelações”, sendo algo particular e de pouca valia para o crescimento e aperfeiçoamento da igreja. Normalmente, as revelações atuais se referem a mostrar ou prever algo na vida de uma pessoa, e que interessa exclusivamente a ela, na maioria das vezes, exposta de forma genérica e pouco explícita. Dentro do sentido bíblico, esse tipo de dom não tem nada de divino, nem cumpre os requisitos de edificação da igreja e de glorificação a Deus, pelo contrário, tenta tornar os “profetas” modernos em semideuses, em heróis de uma causa perdida. 

Voltando aos profetas do A.T., eles recebiam a mensagem divina relativa à relação Deus-homem-povo, anunciando a sua vontade, e os juízos advindos do seu não cumprimento. Deus levantou vários profetas em Israel, e através deles manifestou a sua vontade revelando-se a ele. É comum nos depararmos com a inscrição: “Veio a palavra de Deus a mim...”, como em 1Sm 15.10, Jn 1.1 e Ageu 1.1, entre outros tantos textos. 

Em Deuteronômio 18.9, em diante, o Senhor adverte que Israel não será como as demais nações pagãs, que se entregavam a adivinhadores e prognosticadores, normalmente homens que eram bruxos, feiticeiros e envolvidos com magia negra e forças ocultas, guiados por espíritos demoníacos. Vejamos o texto completo: 

“Quando entrares na terra que o Senhor teu Deus te der, não aprenderás a fazer conforme as abominações daquelas nações.
Entre ti não se achará quem faça passar pelo fogo a seu filho ou a sua filha, nem adivinhador, nem prognosticador, nem agoureiro, nem feiticeiro;
Nem encantador, nem quem consulte a um espírito adivinhador, nem mágico, nem quem consulte os mortos;
Pois todo aquele que faz tal coisa é abominação ao Senhor; e por estas abominações o Senhor teu Deus os lança fora de diante de ti.
Perfeito serás, como o Senhor teu Deus.
Porque estas nações, que hás de possuir, ouvem os prognosticadores e os adivinhadores; porém a ti o Senhor teu Deus não permitiu tal coisa.
O Senhor teu Deus te levantará um profeta do meio de ti, de teus irmãos, como eu; a ele ouvireis;
Conforme a tudo o que pediste ao Senhor teu Deus em Horebe, no dia da assembléia, dizendo: Não ouvirei mais a voz do Senhor teu Deus, nem mais verei este grande fogo, para que não morra.
Então o Senhor me disse: Falaram bem naquilo que disseram.
Eis lhes suscitarei um profeta do meio de seus irmãos, como tu, e porei as minhas palavras na sua boca, e ele lhes falará tudo o que eu lhe ordenar.
E será que qualquer que não ouvir as minhas palavras, que ele falar em meu nome, eu o requererei dele.
Porém o profeta que tiver a presunção de falar alguma palavra em meu nome, que eu não lhe tenha mandado falar, ou o que falar em nome de outros deuses, esse profeta morrerá.
E, se disseres no teu coração: Como conhecerei a palavra que o Senhor não falou?
Quando o profeta falar em nome do Senhor, e essa palavra não se cumprir, nem suceder assim; esta é palavra que o Senhor não falou; com soberba a falou aquele profeta; não tenhas temor dele. (Deuteronômio 18:9-22)


Esta é uma profecia messiânica, a apontar para o Cristo, que foi descrito como “um profeta semelhante a Moisés” Dt 18.15 cf. Atos 3.22, 7.37), mas o trecho inicial refere-se diretamente a Moisés, a quem Deus falava face a face, e não pelo método ordinário: sonhos e visões. O relacionamento entre Deus e Moisés era tal que o Senhor agradava apresentar-se sem rodeios, de forma indireta como fazia com outros profetas (não na mensagem, mas na transmissão da mensagem), falando diretamente. 

Em Êxodo 7.1-2, lemos: 

“Então disse o SENHOR a Moisés: Eis que te tenho posto por deus sobre Faraó, e Arão, teu irmão, será o teu profeta.
Tu falarás tudo o que eu te mandar; e Arão, teu irmão, falará a Faraó, que deixe ir os filhos de Israel da sua terra.(Êxodo 7:1,2)


Este trecho nos permite fazer uma analogia quanto ao ministério profético, em que Moisés é apontado pelo próprio Deus como o “deus” de Faraó, enquanto Arão seria o profeta de Moisés, o deus. Moisés ouvia a palavra diretamente do Senhor, e a transmitia a Arão que se encarregava de anunciá-la ao povo. Assim eram as “pregações” anteriores ao período do Novo Testamento. 

Alguém pode alegar o equívoco em se colocar as profecias no mesmo lugar, ou ao lado, das pregações, pois o caráter delas era evidentemente díspare, cumprindo funções e objetivos diferentes. Como conhecemos o ministério da pregação atualmente, as profecias distinguem-se nos detalhes e aplicações; não em relação ao conteúdo ou mensagens, mas quanto à forma. Em essência, têm o mesmo significado, levar a revelação divina aos homens, seja para salvar, seja para condenar, seja para instruir e aperfeiçoar. Mais à frente, falaremos sobre o culto judaico nos períodos testamentários. 

Voltando ao texto de Deuteronômio 18, analisaremos alguns pontos que destaquei: 

Primeiro, Deus escolheu Israel dentre todas as nações para cumprir o privilégio especial de ser o seu povo. Diferentemente das outras nações que se entregavam ao conselho e orientação dos falsos profetas, homens que falavam em nome de outros deuses, inspirados pelas forças diabólicas (em toda a história da humanidade sempre houve os farsantes, aqueles que se diziam inspirados pelo seu deus, mas, na verdade falavam por si mesmos, a fim de obterem lucro e benefícios pessoais, ainda que cumprissem essa missão em caráter temporário. Não são menos inimigos da verdade do que os falsos profetas guiados pela aparição ou mensagem do diabo e seu anjos, os quais podem se transfigurar em anjos de luz). 

Segundo, Deus levantaria um profeta, do meio de Israel, e lhe poria as palavras em suas bocas, e ele ficaria responsável (no sentido de cumprir a determinação e vontade divina), encarregado de transmiti-la ao povo. 

Terceiro, fica evidente que os profetas tinham autoridade, e deveriam ser ouvidos e obedecidos. Portanto, as profecias não eram apenas sobre coisas futuras, o porvir, mas também sobre ações práticas a serem realizadas e cuidadas naquele tempo, como as advertências à santidade e ao cumprimento da Lei, por exemplo. 

Quarto, o profeta, recebida a palavra de Deus, por sonho ou visão, estava obrigado imperiosamente a revela-la ao povo, o que acontecia infalivelmente. 

Quinto, aquele que não quisesse ouvir a palavra proclamada, Deus requereria a sua vida, ou seja, o profeta não era responsável por ela, estando isento de responsabilidade em relação àquela alma. 

Sexto, contudo, se o profeta, após receber a palavra não a entregasse ao povo, a alma que perecesse pelo alerta não dado, ficaria sob a responsabilidade do profeta, que negligente, responderia pela ruína da alma desavisada. 

Existem vários textos correlatos a este, nas Escrituras, afirmando o mesmo. Um deles está em Ezequiel 33.1-9

“E veio a mim a palavra do SENHOR, dizendo:
Filho do homem, fala aos filhos do teu povo, e dize-lhes: Quando eu fizer vir a espada sobre a terra, e o povo da terra tomar um homem dos seus termos, e o constituir por seu atalaia;
E, vendo ele que a espada vem sobre a terra, tocar a trombeta e avisar o povo;
Se aquele que ouvir o som da trombeta, não se der por avisado, e vier a espada, e o alcançar, o seu sangue será sobre a sua cabeça.
Ele ouviu o som da trombeta, e não se deu por avisado, o seu sangue será sobre ele; mas o que se dá por avisado salvará a sua vida.
Mas, se quando o atalaia vir que vem a espada, e não tocar a trombeta, e não for avisado o povo, e a espada vier, e levar uma vida dentre eles, este tal foi levado na sua iniqüidade, porém o seu sangue requererei da mão do atalaia.
A ti, pois, ó filho do homem, te constituí por atalaia sobre a casa de Israel; tu, pois, ouvirás a palavra da minha boca, e lha anunciarás da minha parte.
Se eu disser ao ímpio: Ó ímpio, certamente morrerás; e tu não falares, para dissuadir ao ímpio do seu caminho, morrerá esse ímpio na sua iniqüidade, porém o seu sangue eu o requererei da tua mão.
Mas, se advertires o ímpio do seu caminho, para que dele se converta, e ele não se converter do seu caminho, ele morrerá na sua iniqüidade; mas tu livraste a tua alma.” (Ezequiel 33:1-9)


Sétimo, como o povo saberia se determinada pessoa era ou não um profeta de Deus? Quando a palavra não se cumprisse, o profeta falou por si mesmo, pelo seu orgulho e soberba. E a sentença era clara: ele morreria! 

Portanto, podemos entender que Deus falou ao seu povo, através da pregação, em diversos momentos na história, muito antes do advento da igreja, pela voz dos profetas, homens encarregados de levar ao povo as boas-novas; desde os patriarcas até Malaquias. 


A PREGAÇÃO NA SINAGOGA

Como a palavra de Deus era proclamada no Templo e nas sinagogas? Você saberia dizer? Como imagina que era um culto judaico?

É impossível cogitar que, depois de proclamada a palavra pelo profeta, as pessoas simplesmente não buscassem o seu significado ou explicação quanto ao seu sentido. Nem sempre as profecias eram facilmente compreendidas; haviam pontos obscuros, imperceptíveis, muitas vezes, até mesmo pelos profetas. Então, era necessário que houvesse uma explicação, um estudo e um ensino para a grande maioria do povo. Tal qual hoje, ainda existem pontos de difícil compreensão, como o próprio apóstolo Pedro falou em relação aos escritos do apóstolo Paulo. Se para ele haviam coisas incompreensíveis, imagine para nós. 

Fato é que, mesmo no deserto, no Tabernáculo, ou nas sinagogas e no Templo, havia o estudo e o ensino da palavra de Deus. Por falar nisso, o culto cristão não era muito diferente do culto judaico: 

a) Recitava-se o credo judaico, o Shema (Dt 6.4-5); 

b) Seguia-se uma oração ritual, e um tempo para a oração individual;

c) Entoavam-se salmos;

d) Leia-se uma porção ou mais da “Bíblia Judaíca”: o pentateuco, livros históricos, poéticos e proféticos. As vezes, e em muitas comunidades, se liam porções específicas para datas especificas, de maneira a se ler todo o conteúdo bíblico em um ou mais anos. 

e) Após a leitura, seguia-se o sermão explicativo, provavelmente exposto pelo chefe da sinagoga (Jairo, em Mc 5.22, era um deles), concluindo-se os trabalhos com a bênção sacerdotal. 

Ou seja, parece-se muito com o nosso culto, ao menos quanto ao seu desenvolvimento formal. 

Outra prova do ensino, e eventuais interpretações da Escritura, notadamente é identificável nas facções dentro do próprio judaísmo, com a disputa entre fariseus, saduceus e rabínicos, grupos que se arvoravam aos verdadeiros interpretes das Escrituras Sagradas, cada um a seu modo. 

A sinagoga era o local mais importante nas cidades em Israel, e mesmo em outras terras, para aonde foram após as várias diásporas. Um judeu, normalmente, procurava primeiro a sinagoga para se apresentar e receber auxílio e ajuda de outros judeus. Havia também uma escola, e o local onde ficavam guardadas as cópias dos manuscritos, seja da Lei ou demais escritos tradicionais, uma biblioteca. Era ali, também, que se formava o tribunal para a solução de disputas, e julgamentos dos infratores e criminosos. 

Com as constantes invasões e dominações sobre Israel, por outros povos, os tribunais criminais e legais eram transferidos para os edifícios públicos controlados pelos conquistadores. Mas o povo ainda preferia solucionar suas querelas nas sinagogas. 

Então, é perceptível a importância das sinagogas na vida judaica, e de que, ainda que não seja ipsis literis uma cópia perfeita do modelo cristão de culto, os judeus o tinham muito semelhante ao nosso; na verdade, muito do que firmou e difundiu-se na liturgia da igreja foi herdado do judaísmo, como já disse, ao menos na questão formal. 


JESUS, SEU MINISTÉRO E O TEMPLO

A relação de Jesus com o Templo e as sinagogas era íntimo e frequente. Ele estava sempre por lá, participando dos trabalhos, ensinando, pregando, passeando, exercendo o seu ministério terreno. 

Vejamos uma lista de passagens bíblicas que revelam o seu constante envolvimento nesses lugares: 

a) Jesus foi circuncidado e apresentado no Templo – Lc 2.27;

b) Jesus foi ao Templo, ainda criança, aprender e ensinar – Lc 2.46;

c) Jesus defendeu o Templo como a casa de Deus – MC 11.15; Jo 2.13-17;

d) Jesus estava constantemente no Templo: Mc 14.49;

e) Jesus ensinava e pregava nas sinagogas: Mt 12.9; 1354; Mc 1.21; 3.1; Lc 4.16,33; 6.6; Jo 6.59;

f) Jesus passeava no Templo: Jo 10.23;

g) Enfim, Jesus gastou boa parte do seu ministério de ensino e pregação, curas e milagres, realizando-os no Templo: Jo 18.20.

Qualquer insinuação de que Cristo desprezava, odiava ou não queria que os seus discípulos se reunissem em comunidade, e juntos realizassem a obra de Deus, seja no Templo, sinagoga ou mais tarde nas igrejas, é falácia e embuste. 


A IGREJA PRIMITIVA E O INÍCIO DA PREGAÇÃO

Assim como o Senhor Jesus usava o Templo e as sinagogas para pregar as “Boas-Novas”, a igreja primitiva seguiu-o neste princípio, o de conservar as reuniões formais no judaísmo. Somente após a perseguição empreendida tenazmente por judeus e romanos, quando a igreja foi acossada por todos os meios e formas com o fim de ser extinta, é que as reuniões tornaram-se clandestinas, às escondidas, organizadas em casas, sepulcros, cavernas, ou áreas mais remotas e longe das autoridades e dos delatores. 

Sem entrar muito na questão, mas não me escusando de tocá-la, todo esse processo de tentativa de deter a expansão do Evangelho não aconteceu fortuitamente à revelia de Deus, mas foi decretada por ele, como meio de aperfeiçoamento dos santos, do crescimento ainda maior da fé cristã, a iluminação do mundo, a separação entre trevas e luz, e, sobretudo, para a sua própria glória, levando-a à cabo não somente com a pregação da verdade, mas no sacrifício e martírio pela verdade, a fim de que ficasse a pessoa gloriosa de Cristo. 

Para exemplificar, relacionarei algumas passagens onde encontramos os apóstolos e discípulos do Senhor reunidos no Templo: 

· Lc 24.53; At 2.46; 3.1; 5.21, 25, 42 ver também At 21.26-28. 

E nas sinagogas: 

· At 13.14, 14.1, 17.1-2, 10, 17; 18.4, 19; 19.8; Tg 2.2.

Como já foi dito, somente por causa da repressão à igreja, ela procurou se reunir em outros locais onde pudesse cultuar, aprender, ensinar e proclamar o Evangelho. Algumas passagens deixam clara essa prática: At 2.1, 12.12, 16.40; Rm 16.5; 1Co 16.19; Cl 4.15; Fm 2.

Quando Jerusalém foi sitiada, invadida e destruída por Tito, no ano 70 D.C., é que aconteceu a Segunda Diáspora (a primeira Diáspora ocorreu, provavelmente, em torno do ano 580 A.C., quando da deportação de milhares de judeus para a Babilônia), ou seja, os judeus, fugindo do terror romano, espalharam-se pelo mundo de então, e, com eles também, muitos cristãos seguiram o mesmo caminho, levando o Evangelho a outros rincões. 

Desta forma, a pregação das “Boas-Novas”, antes circunscritas às terras de Israel, espalhou-se por todo o mundo conhecido da época, alcançando lugares remotos como o norte da Europa, Ásia, o norte da África, a Bretanha, e ainda outros. 

Cumpria-se, portanto, a “Grande Comissão” ordenada pelo Senhor em Mateus 28.18-20. 


TIPOS DE PREGAÇÃO

Para finalizar este estudo introdutório, descreveremos as três formas de sermões, do ponto de vista estrutural: 

1) Sermão tópico ou temático:

O sermão parte de um tema, não do texto bíblico. As divisões do sermão não estão no texto, mas podem ser elaboradas através de outros textos bíblicos ou mesmo do desejo do pregador. Por exemplo, o tema casamento cristão, o desafio do jovem ou vida eterna. A escolha recai primeiro no tema, para depois se buscar na Bíblia um texto central, cujo desenvolvimento, ou as etapas do sermão, podem ser ordenadas por outros textos bíblicos. 

2) Textual: 

Parte de um ou, no máximo, três a quatro versículos, para se fazer o sermão (não há um consenso sobre o número exato de versos, alguns estudiosos indicando um e dois, enquanto outros podem chegar a três ou quatro). O tema e as divisões do sermão estão no texto bíblico. Normalmente o texto utilizado é pequeno, e as divisões são extraídas do próprio texto. 

3) Expositivo: 

O tema, e as divisões, é feito a partir do texto bíblico, como no sermão textual, porém, parte-se de um trecho maior, com mais de três ou quatro versos. Basicamente o que distingue um sermão textual de um sermão expositivo é o número de versículos que serão utilizados como base para a pregação. Alguns estudiosos chegam a apontar outras diferenças que distinguem o sermão textual do expositivo, mas em suma, a maioria concorda que a diferença básica e nítida está reservada ao número de versículos utilizados. 


CONCLUSÃO

Pode parecer um exagero o estudo, ainda que introdutório e mínimo, sobre pregação em uma EBD. Alguns podem realmente considera-lo desnecessário, mas penso que a igreja deve, sobretudo, estar a par das coisas relevantes em seu meio, e tendo-se em vista que a pregação do Evangelho é sumamente importante, de tal maneira que aprouve a Deus utilizá-la como forma de revelar aos homens sua natureza, propósito e vontade, conforme Paulo esclarece-nos em Romanos, capítulo 10, nada que se refira ao assunto deve ser negligenciado. 

É fato que o objetivo não é um estudo minucioso, detalhado, mas um apanhado geral do que venha a ser, a fim de nortear quando aos próximos passos do estudo, e que a meta inicial: O que está acontecendo com a pregação hoje? Por isso, considerei necessária esta introdução, que espero, tenha esclarecido pontos elementares da história e execução do plano divino no decorrer das eras. 

Não sei se publicarei a sequência dos estudos por aqui, visto me preocupar a questão dos direitos autorais do livreto de Albert N. Martin. Talvez o faça sem citar o texto, o que me parece conter uma certa dificuldade. É um caso a pensar. De qualquer forma, espero que, ao menos incialmente, este estudo tenha sido útil como introdução ao assunto. 


Notas: 1-Abaixo, os dois áudios das aulas referentes a este estudo, na E.B.D. do Tabernáculo Batista Bíblico.

2-Este material pode ser utilizado em grupos de estudos ou reproduzidos sem restrições, apenas gostaria que a fonte fosse citada: autoria e blog.

3-Abaixo, os áudios das duas aulas. 


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