08 março 2018

Sermão em Tiago 4.7-8: Ao invés de encontrá-lo, é Cristo quem o achará! - Parte 3




Jorge F. Isah





“Sujeitai-vos, pois, a Deus, resisti ao diabo, e ele fugirá de vós.
Chegai-vos a Deus, e ele se chegará a vós. Alimpai as mãos, pecadores; e, vós de duplo ânimo, purificai os corações.”



INTRODUÇÃO

- Depois de meditarmos por duas quartas-feiras, neste trecho de Tiago 4.7-8, terminaremos hoje este estudo. 

- Se analisamos anteriormente a condição humana, pós-queda, de pecadores, sem distinção; as formas como o pecado se instala em nossas vidas; a necessidade do homem natural conhecer a Cristo; a necessidade de tê-lo como Senhor e Salvador; a escravidão que impomos, a nós mesmos, ao negarmos o Evangelho, vivendo uma existência à margem de Deus e sua vontade; a dicotomia entre religiosidade e secularismo, e outras questões, hoje focaremos na parte prática, de como resistir ao diabo e às tentações. 

- Diante de um novo pecado, ou de um pecado recorrente, como o cristão deve agir? Será possível resistir a ele, como Tiago nos diz? Será que nesses momentos há chance de nos aproximarmos de Deus, e assim mantermos a distância segura do pecado? 

- A tudo o que a Bíblia nos revela, e pelo exemplo do nosso Senhor, a única saída, ou solução para o dilema do pecado, é nos agarrar a Deus e à sua palavra, para nos manter protegidos do inimigo, seja nós mesmos, seja o diabo. 

- O Senhor nos mostra como proceder diante das investidas interiores ou exteriores do pecado. 

- Para tanto, vamos analisar uma passagem bastante conhecida de todos, a tentação do Senhor Jesus, por satanás, no deserto. Ela encontra-se em Lucas 4.1-13. 

Antes de prosseguirmos, faça uma leitura completa do trecho. 



O EXEMPLO A SEGUIR

- A seguir, analisaremos alguns pontos que destaquei no texto bíblico, que aparecerá destacado em itálico e na cor azul:

"E Jesus, cheio do Espírito Santo..." 

- O primeiro ponto a se ressaltar é a afirmação de Lucas: Jesus estava cheio do Espírito Santo. 

- Não podemos enfrentar as tentações e investidas do inimigo por nós mesmos, sem a blindagem do Espírito. É ele quem nos fortalece, conforta, e nos capacita a resistir. Com isso, não estou dizendo que não exista o fator humano; a vontade humana deve estar em harmonia com a vontade divina, de tal forma que aquela seja submissa a esta, e ambas estejam concordes. A santidade é a essência divina entregue ao homem como condição, a condição de ser ele Senhor do homem). 

- Não quero entrar nos detalhes sobre a soberania de Deus, mas faz-se necessário citar que o seu governo não opera exclusivamente sobre os crentes, porque Deus rege e governa soberanamente sobre tudo e todos, cristãos e ímpios, bons e maus, justos e injustos; não existe esfera no tempo e lugar onde a sua vontade não esteja manifesta, especialmente sobre os homens. 

- A diferença é que o crente terá a sua vontade moldada à de Cristo, no sentido em que o Espírito do Senhor abrirá mente e olhos para vislumbrarmos a verdade, desejando-a, ansiando-a; enquanto o ímpio se rebelará contra Deus, mesmo quando estiver em cumprimento ao seu decreto. Ou seja, mesmo fazendo a vontade de Deus, cumprindo um ou outro dos seus preceitos, estará em rebeldia, em desobediência, pois jamais reconhecerá a fonte da bondade como sendo Deus, jamais dará graças a ele por tê-lo movido ao bem. Ele considerará que os seus atos são frutos exclusivos dele próprio, oriundos do seu interior, como algo inerente a si. O que acabará levando-o a, mais hora, menos hora, negar completamente o Senhor como fonte necessária e primária do bem, da bondade e do amor verdadeiro. 

- Como está escrito, em um contexto em que somos exortados a não nos entregarmos aos desejos e prazeres carnais, mas a nos encher do Espírito, Paulo alerta: 

“Por isso não sejais insensatos, mas entendei qual seja a vontade do Senhor.
E não vos embriagueis com vinho, em que há contenda, mas enchei-vos do Espírito;
Falando entre vós em salmos, e hinos, e cânticos espirituais; cantando e salmodiando ao Senhor no vosso coração;
Dando sempre graças por tudo a nosso Deus e Pai, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo;

- E

“Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se é que o Espírito de Deus habita em vós. Mas, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele. [Rm 8.9] 


Retornando ao texto em Lucas... 

"...voltou do Jordão e foi levado pelo Espírito ao deserto;

E quarenta dias foi tentado pelo diabo..." 


- Qual de nós suportaria tamanha tentação? Por tanto tempo? Por 40 dias o Senhor foi tentado. Não foi apenas em um momento ou instante. Lucas nos revela apenas três momentos em que satanás tenta o Senhor, para nos mostrar a realidade que nos cerca, e a necessidade de descansarmos e buscarmos refúgio naquele que foi o único capaz de, por si mesmo, resistir e derrotar o inimigo. 

- Não nos enganemos, sem estarmos firmados na Rocha, sustentados pelo seu Espírito, seremos sempre presas fáceis, e acabaremos por fazer o que não queremos, e querendo o que não somos capazes de realizar. 


"... e naqueles dias não comeu coisa alguma; e, terminados eles, teve fome..." 

- A fome é um desejo, e, portanto, um instinto. Os desejos podem dominar e escravizar o corpo e a alma, e muitos estão presos a ele, sujeitando-se irracionalmente, como os animais o fazem, sem sabedoria, temor e santidade. 

- Cristo sentiu fome, mas, como veremos, esse desejo não o dominou, não o fez “perder a cabeça”, muito menos entregar-se à tentação. 

"...E disse-lhe o diabo: Se tu és o Filho de Deus, dize a esta pedra que se transforme em pão.

E Jesus lhe respondeu, dizendo: Está escrito que nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra de Deus..."

- O Senhor usou a Escritura para refutar e combater Satanás. Se quisesse, Cristo poderia destruí-lo, naquele mesmo momento. Mas ele agiu não com o seu Todo-Poder, mas deixou que o diabo provasse da sua sabedoria, domínio próprio e santidade. Mesmo tendo já 40 dias sem comer, debilitado física e mentalmente, ele resistiu, não se curvou ao seu abatimento, mas, fortalecido pelo Espírito, e em consciência santa e pura, contra-atacou a mentira diabólica com a verdade divina: “Nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra de Deus”. 

- Cristo não somente citou as Escrituras, como que da boca para fora, mas ele não somente a disse, mas colocou-a em prática negando atender o pedido de Satanás. Não foi apenas uma vitória argumentativa, retórica, de quem expôs com mais precisão o seu raciocínio, ou apresentou uma objeção mais elaborada intelectualmente; mas a própria realização da palavra na vida de Jesus, pois ele vivia plenamente essa verdade. 

- De certa forma, ela o alimentava e o fortificava, o encorajava, robustecendo-o e mantendo-o firme no propósito de não ceder ou cair nas armadilhas preparadas por satanás. 

- Interessante notar que Cristo é chamado nas Escrituras tanto de o “Pão da Vida”, de “a Verdade”, bem como de “Logos, Verbo ou Palavra”. Dele procede a vida; ele a sustenta; por meio da sua palavra. 

- Naquele momento, a justificativa satânica, a tentação, foi derrotada, aniquilada, pela palavra de Deus; não somente por ela, mas pelos efeitos que ela produzia diariamente na vida do Senhor. 

- Ele era a palavra, e vivia por sua palavra. 


"... E o diabo, levando-o a um alto monte, mostrou-lhe num momento de tempo todos os reinos do mundo.

E disse-lhe o diabo: Dar-te-ei a ti todo este poder e a sua glória; porque a mim me foi entregue, e dou-o a quem quero.
Portanto, se tu me adorares, tudo será teu.
E Jesus, respondendo, disse-lhe: Vai-te para trás de mim, Satanás; porque está escrito: Adorarás o Senhor teu Deus, e só a ele servirás.
Levou-o também a Jerusalém, e pô-lo sobre o pináculo do templo, e disse-lhe: Se tu és o Filho de Deus, lança-te daqui abaixo;
Porque está escrito: Mandará aos seus anjos, acerca de ti, que te guardem,
E que te sustenham nas mãos, Para que nunca tropeces com o teu pé em alguma pedra..."


- Interessante notar que o diabo se utilizava de trechos bíblicos, mas tirando-os do contexto, a fim de satisfazer os seus intentos, de enganar e levar o seu interlocutor à queda, ao pecado. Ele agiu de má-fé, subvertendo a palavra com o fim de corromper o nosso Senhor. 

- Não é assim que agem, muitas vezes, pessoas que se dizem “profetas de Deus”? Ao distorcerem a Escritura e movê-la para um lugar tenebroso, corrompendo-a, a fim de salvaguardar os seus interesses e desejos? Usando-a ilegitimamente para satisfazer os seus corações impuros e doentios, subvertendo a vontade divina em favor da vontade e ganho pessoal? Seja na forma de poder, dinheiro, controle, publicidade, que é a forma mais virulenta de idolatria? 

- Foi o diabo o primeiro a mentir, ainda no Éden. E ele é um expert em manipular e fazer a mentira se parecer com a verdade. Por isso, ele não mente descaradamente, mas forja os seus princípios e argumentos a partir da verdade, como uma “meia-verdade”, com o propósito último de instalar o engano e a farsa, destruindo vidas e levando-as à condenação e ao Inferno. 

- Por três vezes, ele usou do mesmo artifício. Por quarenta dias ele tentou o Senhor. Revelando que ele é obstinado e persistente, enquanto muitos de nós desfalecemos logo no primeiro momento, na primeira investida; somos seduzidos e levados ao pecado com a facilidade com que se rouba um pirulito de uma criança. 

"... E Jesus, respondendo, disse-lhe: Dito está: Não tentarás ao Senhor teu Deus.
E, acabando o diabo toda a tentação, ausentou-se dele por algum tempo."


- Parece que o Senhor foi tentado outras vezes, pelo inimigo, é o que Lucas diz, ao afirmar que “ausentou-se dele por algum tempo”. Este relato não foi o único momento em que Cristo foi tentado. Havia uma investida constante e persistente do diabo para destruí-lo; revelando mais uma vez a sua obstinação em aniquilar e levar o homem aos caminhos de morte (que são muitos, mas quase sempre os mesmos). 

- Entretanto, Cristo manteve-se firme, no propósito de não ceder ou se entregar às artimanhas diabólicas. Manteve intacta a sua santidade, resistindo, de forma que não restou a satanás outra coisa senão fugiu dele. 



OLHANDO A SI MESMO MAIS DE PERTO

- Vou reforçar alguns pontos já mencionados: 

- Muitas vezes, estamos mais preocupados em apontar o cisco no olho alheio ao invés de nos preocupar com a trave que nos cega e impede de ver a verdade. Porque é sempre mais fácil e cômodo vislumbrar o erro no próximo (o que satisfaz, em maior ou menor grau, o nosso bem-estar, a ideia de que, tratando do problema de outro, estarei livre e desobrigado de tratar do meu próprio problema; superlativizando o pecado alheio, enquanto se minimiza o próprio) do que vê-lo, detectá-lo, em nós mesmos. 

- Algo interessante no trecho, é notar que o assédio do diabo ao Cristo não se deu de uma única vez, mas no decorrer de quarenta dias. O texto afirma que esse foi o tempo em que Satanás tentou, por todas as maneiras, corromper a Jesus. 

- O qual estava sem comer por igual período. Ou seja, mesmo com o corpo forte e debilitado, Cristo manteve-se forte, sustentando a sua santidade, no Espírito. 

- Mesmo diante do apelo sedutor do diabo, para que fosse servido pelos anjos e comesse, Jesus se manteve inflexível. E sempre tinha como resposta a palavra de Deus. De certa forma, ela o alimentava e o fortificava, o encorajava, robustecendo-o e mantendo-o firme no propósito de não ceder, ou cair, nas armadilhas preparadas por satanás. 

- Tal qual o Senhor, devemos estar munidos e preparados para as investidas exteriores do diabo e seus servos, mas, também, para o velho homem, agonizante e moribundo, não se reerga e levante do seu túmulo. 

- A cada novo dia faz-se necessário matar o velho homem (a fim de que ele não se levante como um zumbi); mantê-lo confinado em sua sepultura, e não vir nos assombrar, sobretudo com a descrença de que, por sermos fracos e ainda não completamente santificados, seja natural ceder às tentações, e de que isso não afeta a nossa comunhão com Deus, nem nos inabilita para o seu reino. 

- A verdade é que, se temos o pecado por algo corriqueiro, e ele não nos causa repulsa, nojo e vergonha, certamente já somos inaptos para uma vida no Reino de Cristo. Devemos, então, clamar para que ele nos transforme, regenere, restaure-nos, convertendo-nos a Deus. Se o pecado não nos aflige e incomoda, a visão do inferno, e da ira de Deus, deve ser o motivo para nos fazer implorar pelo perdão e pelo derramar da graça e misericórdia em nossas vidas. 

- O exemplo de Cristo mostra que é possível, não somente na eternidade, mas também agora, neste exato momento, vencer o pecado, e não cair nas ciladas do diabo. 



CONCLUSÃO

- Não estamos abandonados. Os filhos de Deus estão sempre diante dele, sendo auxiliados, capacitados, movidos à obediência e ao serviço do Rei e do seu reino. 

- Eventualmente, podemos cair em pecados, seduzidos pela natureza pecaminosa que ainda habita em nós, ou pelas artimanhas diabólicas. Mas isso não é um cheque em branco que nos garanta uma vida ímpia, de prazeres mundanos, e ainda nos leve à eternidade com Deus. 

- Mesmo sendo filhos rebeldes, vez ou outra, temos a garantia de que o Pai nos disciplinará, e, pedagogicamente, revelará o caminho de vida no qual devemos prosseguir, tal qual nos é dito em Hebreus: 

"Ainda não resististes até ao sangue, combatendo contra o pecado.
E já vos esquecestes da exortação que argumenta convosco como filhos: Filho meu, não desprezes a correção do Senhor, E não desmaies quando por ele fores repreendido;
Porque o Senhor corrige o que ama, E açoita a qualquer que recebe por filho.
Se suportais a correção, Deus vos trata como filhos; porque, que filho há a quem o pai não corrija?
Mas, se estais sem disciplina, da qual todos são feitos participantes, sois então bastardos, e não filhos."


- Então, reconheçamos a nossa filiação (lembre-se, não somos bastardos se aceitamos a disciplina e a correção divina), e resistamos até o sangue, nos aproximando diariamente daquele que não somente nos livrou do inferno e da condenação, mas nos garantiu um lugar especial ao seu lado, para sempre! 

- Nos acheguemos a Deus, e o diabo, o mal e nós mesmos (o homem natural) se afastarão. Quanto mais o Senhor for presente em nosso dia a dia, mais ela se encherá de graça, de vida, de santidade; separados que fomos para ele. 

- O bom Deus nos guie no cumprimento da sua vontade, e que ela seja também a nossa vontade: sermos santos, como santo é o seu Filho Amado!


Notas: 1- Sermão ministrado no Tabernáculo Batista Bíblico.
2- Para ler e ouvir a parte 1, clique AQUI
3- Para ler e ouvir a parte 2, clique AQUI


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