16 junho 2017

Sermão em Atos 12.5-6: Enquanto Pedro estava preso, a Igreja orava!





Jorge F. Isah








1)   INTRODUÇÃO:



- Resumir os acontecimentos dos versos 1 a 5a.;

- Ler os versos 5 e 6.



2)   O QUE É ORAÇÃO?

- Primeiro, vamos às definições: interceder, adorar, dar graças, tornar-se agradável diante de Deus, invocar o nome do Senhor.

- A oração, e seus significados bíblicos, indicam dependência do homem a Deus.



3)   COMO DEVE SER FEITA A ORAÇÃO?

- Nunca a homens, espíritos e criaturas, mortos ou vivos.

- Sempre deve ser dirigida ao Deus Trino.

Salmos 65.1-4:

“A ti, ó Deus, espera o louvor em Sião, e a ti se pagará o voto. Ó tu que ouves as orações, a ti virá toda a carne. Prevalecem as iniquidades contra mim; porém tu limpas as nossas transgressões. Bem-aventurado aquele a quem tu escolhes, e fazes chegar a ti, para que habite em teus átrios; nós seremos fartos da bondade da tua casa e do teu santo templo

- Deve ser em nome de Jesus, que é o nosso intermediário junto ao Pai. Por causa dos nossos pecados e transgressões, precisamos de um mediador, o qual é o Filho e nenhum outro.

“Porque há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem. [1 Tm 2.5]


A oração em nome de Cristo nos faz achegar ao Pai não por nossos próprios méritos, mas confiantes no mérito de Cristo, e na dependência dele. Por isso, a oração desprovida de qualquer forma de autoexaltação e autossuficiência, nos enche de humilde agradecimento, por reconhecer apenas no Senhor o favor, a graça, misericórdia e os méritos capazes de nos fazer achegar a ele, mas também ser ouvido e atendido por ele. A prática usual, na maioria das igrejas, de exigir algo a Deus, é prova não de fé, mas de arrogância e afronta ao Senhor que não nos deve nada, quanto mais a satisfação iniqua e pecaminosa dos desejos do nosso coração.

Sabendo ainda que o Espírito Santo intercede por nós, como está escrito:

“E da mesma maneira também o Espírito ajuda as nossas fraquezas; porque não sabemos o que havemos de pedir como convém, mas o mesmo Espírito intercede por nós com gemidos inexprimíveis” [Rm 8.26]


- A oração não pode ser simplesmente qualquer coisa que nos venha à mente ou coração. Devemos ter o cuidado de pedir aquilo que é legítimo e está em conformidade com a vontade de Deus. É o que João nos diz em sua 1ª Carta, capítulo 5, versos 14 e 15:

“E esta é a confiança que temos nele, que, se pedirmos alguma coisa, segundo a sua vontade, ele nos ouve.
E, se sabemos que nos ouve em tudo o que pedimos, sabemos que alcançamos as petições que lhe fizemos



4)   COMO SABER SE O QUE ORAMOS ESTÁ EM CONFORMIDADE COM A VONTADE DIVINA?

Através da leitura, meditação e conhecimento da sua vontade, ora! E isso se dá pelo escrutínio, pelo estudo, da sua palavra revelada, a Escritura Sagrada!

Não há outro meio de se conhecer a vontade de Deus, não somente para nós, para o próximo, a igreja, e todos os homens, se não lermos e a conhecermos pela Bíblia. O crente que muito ora, mas pouco conhece da vontade divina, na maioria das vezes ora errado, em desarmonia com a vontade de Deus. E portanto, não é estranho que os seus pedidos não sejam atendidos. Como Tiago nos alerta:

“De onde vêm as guerras e pelejas entre vós? Porventura não vêm disto, a saber, dos vossos deleites, que nos vossos membros guerreiam?
Cobiçais, e nada tendes; matais, e sois invejosos, e nada podeis alcançar; combateis e guerreais, e nada tendes, porque não pedis.
Pedis, e não recebeis, porque pedis mal, para o gastardes em vossos deleites” [Tg 4.1-3]


Podemos nos espelhar nas várias orações do Senhor Jesus, espalhadas pelos Evangelhos, mas o modelo padrão de oração pode ser lido em Mt 6.5-13:

“E, quando orares, não sejas como os hipócritas; pois se comprazem em orar em pé nas sinagogas, e às esquinas das ruas, para serem vistos pelos homens. Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão.
Mas tu, quando orares, entra no teu aposento e, fechando a tua porta, ora a teu Pai que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará publicamente.
E, orando, não useis de vãs repetições, como os gentios, que pensam que por muito falarem serão ouvidos.
Não vos assemelheis, pois, a eles; porque vosso Pai sabe o que vos é necessário, antes de vós lho pedirdes.
Portanto, vós orareis assim: Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu nome;
Venha o teu reino, seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu;
O pão nosso de cada dia nos dá hoje;
E perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores;
E não nos conduzas à tentação; mas livra-nos do mal; porque teu é o reino, e o poder, e a glória, para sempre. Amém.

       

- Primeiro, a oração deve louvar, bendizer, e dar graças a Deus porque ele é merecedor de toda honra e glória!

        - Segundo, as nossas petições devem ser muito mais espirituais do que materiais, ainda que aquelas reflitam em conquistas de ordem material, não como tendo primazia, mas como consequência da ordem espiritual.

        - Terceiro, pedir segundo das prioridades do Reino, para que ele se expanda, o evangelho alcance os perdidos, e sejamos instrumentos úteis do Senhor.

        - Quarto, pedir coisas materiais necessárias o suficiente para não serem demonstração de ostentação, de vaidade, de pompa, coisas das quais Deus não se agrada. A riqueza em si mesma não é pecado, mas também não é virtude; ela cumprirá o propósito divino de ser bênção ou maldição se nos inteiramos corretamente da missão de mordomia a qual nos é dada exercer. Se o fazemos, dispensando-a para a glória divina e expansão do Reino, será bênção, do contrário, é a mais pura maldição.

        - Quinto, nunca é demais louvar e engrandecer o nome do Senhor, o qual é santíssimo. Portanto, devemos sempre, antes, durante e depois estarmos cientes e conscientes de que a oração é sobretudo meio de adoração ao nosso Senhor.





5)   A IGREJA DEVE ORAR SEM CESSAR:

- A igreja orava incessantemente por Pedro. Logo, devemos também orar sem cessar, dando sempre graças a Deus:

“Regozijai-vos sempre.
Orai sem cessar.
Em tudo dai graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco.” [1Tes 5.16-18]


- Orar com insistência, mediante a fé, nos dá a certeza das coisas que não se veem e que o Senhor tem separado para nós, seu povo:

“E contou-lhes também uma parábola sobre o dever de orar sempre, e nunca desfalecer,
Dizendo: Havia numa cidade um certo juiz, que nem a Deus temia, nem respeitava o homem.
Havia também, naquela mesma cidade, uma certa viúva, que ia ter com ele, dizendo: Faze-me justiça contra o meu adversário.
E por algum tempo não quis atendê-la; mas depois disse consigo: Ainda que não temo a Deus, nem respeito os homens,
Todavia, como esta viúva me molesta, hei de fazer-lhe justiça, para que enfim não volte, e me importune muito
.
E disse o Senhor: Ouvi o que diz o injusto juiz.
E Deus não fará justiça aos seus escolhidos, que clamam a ele de dia e de noite, ainda que tardio para com eles?
Digo-vos que depressa lhes fará justiça. Quando porém vier o Filho do homem, porventura achará fé na terra?” [Lc 18.1-8]


- Perseverar na oração mesmo que a esperança tarde, mesmo diante das muitas tribulações:

“Alegrai-vos na esperança, sede pacientes na tribulação, perseverai na oração” [Rm 12.12]


- Orando no Espírito por todos os santos e pelos ministros de Deus:

Orando em todo o tempo com toda a oração e súplica no Espírito, e vigiando nisto com toda a perseverança e súplica por todos os santos,
E por mim; para que me seja dada, no abrir da minha boca, a palavra com confiança, para fazer notório o mistério do evangelho,
Pelo qual sou embaixador em cadeias; para que possa falar dele livremente, como me convém falar” [Ef 6.18-20]



Perseverai em oração, velando nela com ação de graças;
Orando também juntamente por nós, para que Deus nos abra a porta da palavra, a fim de falarmos do mistério de Cristo, pelo qual estou também preso” [Cl 4.2-3]


“No demais, irmãos, rogai por nós, para que a palavra do Senhor tenha livre curso e seja glorificada, como também o é entre vós;
E para que sejamos livres de homens dissolutos e maus; porque a fé não é de todos.
Mas fiel é o Senhor, que vos confirmará, e guardará do maligno

[2 Tes 3.1-3]


- Nunca veremos os servos do Senhor orando por coisas e situações ligadas à ganância, ao orgulho, ao pedido de riquezas e favores pessoais ilícitos. Sempre haverá o foco na obra do Senhor, naqueles ordenados a exercê-la, nos aflitos e perseguidos pelo mundo, nos acorrentados pelas algemas do pecado e de satanás, para que o mal não nos assole [o mal é não estar em harmonia com o Bem Supremo, o próprio Deus], e jamais nos entreguemos, sejamos cooptados pelos deleites carnais.



6)   A IGREJA COMO COMUNIDADE DE ORAÇÃO

- A igreja se reúne para perseverar em oração, com unidade de propósitos:

Todos estes, perseveravam unânimes em oração, juntamente com as mulheres, com Maria, mãe de Jesus, e com os irmãos dele” [At 1.14]



- Buscava a face divina em constante oração:

E no dia de sábado saímos fora das portas, para a beira do rio, onde se costumava fazer oração; e, assentando-nos, falamos às mulheres que ali se ajuntaram” [Atos 16.13]



“E, havendo passado ali aqueles dias, saímos, e seguimos nosso caminho, acompanhando-nos todos, com suas mulheres e filhos até fora da cidade; e, postos de joelhos na praia, oramos.” [At 21.5]



“Admoesto-te, pois, antes de tudo, que se façam deprecações, orações, intercessões, e ações de graças, por todos os homens;
Pelos reis, e por todos os que estão em eminência, para que tenhamos uma vida quieta e sossegada, em toda a piedade e honestidade...
Quero, pois, que os homens orem em todo o lugar, levantando mãos santas, sem ira nem contenda” [1 Tm 2.1-2, 8]


- Estes e outros versículos na Escritura nos mostram uma igreja em constante e persistente oração, não apenas por si, para cumprir e realizar a obra que Deus lhe deu como incumbência, mas também por irmãos espalhados no mundo, para que sejam igualmente abençoados em realiza-la.

- Podemos entender que toda a convulsão política, econômica e social na qual o Brasil está imerso, é consequência de uma nação que não ora, não clama, não se submete, nem se humilha diante de Deus?



7)   CONCLUSÃO:



Devemos fazer algumas reflexões quanto à nossa forma de orar:

- Oramos como forma de adoração? De louvor a Deus?

- Oramos em gratidão por tudo o que ele fez, tem feito e ainda fará por nós? Miseráveis que não merecem os seus favores?

- Oramos em humildade e submissão à vontade divina, sujeitando-nos a ela?

- Oramos reconhecendo a nossa total dependência de Deus?

- Oramos apenas para o nosso prazer?

- Oramos em busca de deleites e apelos carnais?

- Oramos de forma egoísta, sem nos interessar pelos santos, pela igreja, pelo Reino e a justiça de Cristo, ou para que a sua vontade se manifeste no mundo?

Por tudo isto, o que é certo, bom, e agradável a Deus, a igreja primitiva, recém estabelecida por Cristo, orava por Pedro.

Sem cessar!

Nota: Os grifos e negritos nos textos bíblicos foram realizados por mim, para acentuar pontos que considerei mais relevantes.
 

02 junho 2017

Sermão em Atos 12.1-5: Os que são do mal, se agradam com o mal



Áudio Parte 1



JORGE F. ISAH


 Áudio Parte 2




E por aquele mesmo tempo o rei Herodes estendeu as mãos sobre alguns da igreja, para os maltratar. E matou à espada Tiago, irmão de João. E, vendo que isso agradara aos judeus, continuou, mandando prender também a Pedro. E eram os dias dos ázimos. E, havendo-o prendido, o encerrou na prisão, entregando-o a quatro quaternos de soldados, para que o guardassem, querendo apresentá-lo ao povo depois da páscoa. Pedro, pois, era guardado na prisão”



INTRODUÇÃO:



Vamos nos situar, primeiramente, ao momento histórico em que ocorreram os fatos relatados neste trecho de Atos. Após a morte, ressurreição e assunção do Senhor Jesus aos céus, os seus discípulos empreenderam a “Grande Comissão” de Mateus 28.19-20:

“Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; Ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos. Amém.”

O evangelho da graça estava se espalhando por toda a Judéia, e pelas províncias circunvizinhas, de maneira que a igreja ganhava diariamente novos convertidos do judaísmo e de outras religiões e cultos, e a revelação de Cristo, como Senhor e Salvador, o Deus-Homem, feito pecado em favor do seu povo, espalhava-se rapidamente, causando ódio e desejo de vingança entre os inimigos da verdade, os líderes de Israel, mas também entre o povo.

Neste contexto, encontramos a Judéia governada por Herodes Agripa I, filho de Aristóbulo, nomeado rei por Calígula, um dos mais sanguinários, cruéis e depravados monarcas romanos. Agripa I vinha da linhagem de Herodes, o Grande, seu avô, cujo ódio a Deus levou-o a matar centenas de crianças em Belém [Mt 2.16], com o objetivo de eliminar o Rei dos Judeus anunciado pelos magos do Oriente. Esse homem, receoso de perder o seu trono, em sua ignorância grassa e maldade imperiosa, ordenou o infanticídio, conforme profetizado por Jeremias:

Em Ramá se ouviu uma voz, lamentação, choro e grande pranto: Raquel chorando os seus filhos, E não quer ser consolada, porque já não existem.” [Mt 2.18]

Era também sobrinho de outro Herodes, o Antipas, que, para satisfazer o desejo perverso da sua cunhada [tomada para si ilegitimamente por esposa], ordenou a decapitação de João o Batista [Mt 14.9].

Agripa provinha de uma linhagem de homens maus, ímpios governantes, que odiavam a Deus e tudo o que se relacionava a ele. Não é pois, portanto, de se estranhar o que veremos a seguir; a sua sanha, ou cruzada, contra a igreja.

Governou a Judeia e Samaria de 41 a 44 d.C.; alguns anos após a morte e ressurreição do Senhor.


PERSEGUIÇÃO À IGREJA

Esse Herodes estendeu as mãos sobre a igreja para a maltratar. Claramente havia nele uma disposição para o mal e contra tudo o que se relacionasse com o nome do Deus bíblico, tal qual os seus antecessores. A Escritura ao dizer que ele “estendeu as suas mãos”, revela que dispôs de todos os meios ao alcance do seu poder, como governante da Judeia, para fazer valer, realizar, a sua vontade maligna. A expressão maltratar significa que tencionava fazer sofrer, infligir violência, ofender e arruinar a igreja, tratando-a brutal e cruelmente. Dessa forma, ficariam evidentes o seu desagravo para com os santos, mas também o seu poder em persegui-la. Porém, fica a pergunta: por que?

Na verdade, o mundo, como uma representação objetiva do mal a dominá-lo, e as pessoas que se entregam a ele, tem rejeição e ódio ao Deus Todo-Poderoso. Se você perguntar a qualquer ímpio se ele o odeia, via de regra, não encontraria afirmações categóricas e claras, expressões objetivas dessa ojeriza. Sejam elas pertencentes a culturas diferentes, religiões diferentes, sistemas políticos e econômicos diferentes, sentido moral e ético diferentes, negarão que odeiam a Deus, pelo contrário, dirão amá-lo [exceção seriam os ateus militantes, os materialistas ideológicos, os adoradores professos do diabo, e outros círculos a orbitá-los].

Entretanto, a qual Deus eles se referem? A um Deus genérico, sem identidade, sem pessoalidade, indefinido ou definido segundo padrões pessoais e exclusivos do próprio homem? Esse será sempre um Deus que se revelou pela criação humana, pelos delírios e imposturas humanas, jamais o Deus autorevelado e definido por si mesmo, tal qual nos deu a conhecer nas Escrituras Sagradas.

Nesse sentido, provavelmente Herodes, até mesmo ele, jamais foi capaz de dizer que odiava a Deus. Mas entre o ódio e o amor existe um abismo imenso; e a negação do primeiro não garante a profissão do segundo. Herodes pode não ter sido claro em sua relação com o Criador, mas os seus atos e vontade demonstravam inequivocamente em qual direção estava a sua alma: em inimizade completa a Deus; na direção contrária ao cumprimento da sua vontade santa.

O Deus de Herodes, e do homem natural, não pode ser jamais o Deus bíblico, uma vez que não há qualquer interesse ou desejo de servi-lo ou obedecê-lo, mas uma flagrante resolução de negar o seu governo, rebelando-se e fazendo de si mesmo seu senhor.

O individualismo, o egoísmo, a autoidolatria, o hedonismo, são marcas cada vez mais sedimentadas no homem moderno, que não reconhece outra autoridade a não ser a si; e acabando por guiar-se pelo mesmo caminho de morte pelo qual multidões se entregaram, desde o Éden. Caminhos divergentes da vida, e convergentes para a morte.

A respeito dessa inimizade do mundo para com Cristo e a igreja, o próprio Senhor, orando ao Pai, disse:



“Estando eu com eles no mundo, guardava-os em teu nome. Tenho guardado aqueles que tu me deste, e nenhum deles se perdeu, senão o filho da perdição, para que a Escritura se cumprisse. Mas agora vou para ti, e digo isto no mundo, para que tenham a minha alegria completa em si mesmos. Dei-lhes a tua palavra, e o mundo os odiou, porque não são do mundo, assim como eu não sou do mundo. Não peço que os tires do mundo, mas que os livres do mal. Não são do mundo, como eu do mundo não sou.”
[
João 17:12-16]



É algo natural, de acordo com a sua inclinação interior, portanto, o desejo colocado em prática de Agripa I em perseguir a igreja: o ódio a Deus manifestou-se no ódio aos seus servos, aos seus representantes neste mundo. A igreja incomodava o mundo com a pregação do evangelho de Cristo; condenando o que Herodes e o mundo amavam; trazendo à luz seus pecados; apontando-lhes a vida falseada; exigindo deles mudança de direção, arrependimento, e a verdadeira adoração ao Deus verdadeiro; o que eles não queriam, e resistiam com o que lhes havia de mais intenso na alma.

Não há como negar a oposição do mundo a Deus e sua palavra, e de que esta verdade não pode ser minimizada ou anulada por uma declaração de respeito e amor por um Deus genérico, criado à imagem do homem. O próprio fato de se defenderem todas as religiões, colocando-as no mesmo balaio, e empreenderem uma cruzada contra o Cristianismo, demonstra o quão malignamente está dominada a sua vontade. A permissividade e o consentimento com religiões frontalmente inimigas da fé bíblica, as quais se empenham há séculos em destruí-la, erradica-la da face da terra, revela a propensão e o desejo não secreto de também aniquilá-la, favorecendo, encorajando os agentes do mal a instalar uma guerra desigual, onde os meios e a força são desproporcionais e injustos, deflagrados em um campo onde os cristãos não sabem e não podem lutar, cumprindo a vontade do Mestre e Senhor, Cristo, que lhes proporcionou um poder diferente, não para a morte, mas para a vida; não para que mais sangue seja derramado, pois o único sangue necessário para a redenção e propiciação do homem diante de Deus verteu-se na cruz, santo, justo e imaculado.

A nossa guerra é espiritual, em trincheiras que o mundo não entende; e, por não entender, decidiu tornar-se inimigo da igreja, afligindo-a, perseguindo-a, incapaz de compreender o amor que move e comove o povo de Deus a levar adiante o evangelho do nosso Senhor, a fazê-lo audível e inteligível a todos, revelando a graça e favor de Cristo. Se não creram em Jesus, a despeito dos inúmeros sinais que realizou, por que creriam em nós, servos inúteis? [Jo 12.37].



 Então, Herodes não resistiu a todo o ódio que havia em sua alma, levando-o a matar Tiago, um dos doze, e primeiro mártir entre os apóstolos. O texto não nos diz se o apóstolo foi martirizado diretamente pelo rei, no sentido de ser ele que desferiu o golpe mortal, mas o coloca como o principal culpado, cujas mãos estavam manchadas pelo sangue inocente. Ele era o causador e responsável direto por aquele crime de morte.


OS QUE SÃO DO MAL, SE AGRADAM COM O MAL

        A execução trouxe ainda mais notoriedade a Herodes. O povo agradou-se¹[também responsável pela morte de Tiago], animando o rei a continuar com a sua perseguição implacável. O alvo, agora, era Pedro; o qual mandou prender, com o intuito de fazer com ele o que havia sido feito com Tiago, dando-lhe o mesmo destino.

        O que poderia ter sido um ato criminoso isolado tornou-se em uma maneira de trazer para Herodes a aceitação popular. E uma forma de aumentar o seu poder e controle sobre o povo, fazendo exatamente o que ele desejava, mas que também estava em harmonia com o imperioso desejo assassino do rei. Esse mesmo povo foi quem disse no Sinédrio: “Crucifica-o!” [Lc 23.21]. Foram eles que amaram mais a glória dos homens que a glória de Deus [Jo 12.43]. Que levaram Félix a manter Paulo preso, injustamente, para satisfazê-los. E ainda Pórcio Festo, sucessor de Félix, a persistir na injustiça, tudo para agradar à massa.

        Podemos fazer um paralelo com os tempos atuais? Não está, boa parte da igreja, contaminada com o mesmo desejo de satisfazer o povo? Esquecendo-se da sua missão que é não distrair ou divertir, mas de exortar, instruir e fazer discípulos de Cristo? Essa igreja não apostatou da verdade, em favor de um evangelho falso, ilusório e homicida? O qual promove definitivamente a morte do homem? A separação eterna de Deus? Por que as igrejas, onde a palavra de Deus é proclamada, são sistematicamente tratadas como reacionárias, não amorosas e irreconciliáveis? Qual razão existe entre harmonizar o mal com o bem? Cristo com demônios? [2 Co 6.15].

Pois bem, o mesmo espírito assassino presente em Herodes e no povo judeu, perpassa muitos púlpitos e assembleias onde a verdade morreu, e a vida não tem lugar. Há apenas o cheiro de morte para morte, pois a verdade não os alcança, nem produz os efeitos necessários para libertarem-se da prisão eterna em que se encontram as suas almas, inebriados pelo falso evangelho, embalados pelos mercenários da fé [2Co 2.14-17]. O culto a Deus foi substituído pelo entretenimento, por técnicas capazes de arregimentar um maior número de adeptos, não importando o quanto permanecem distantes de Deus e do evangelho, o quanto rejeitam-no, o quanto trabalham em prol das trevas, satisfazendo a carne e mantendo acorrentado o espírito. O culto virou um show, onde Cristo é honrado com os lábios, mas não com o coração. A maioria está muito mais preocupada com o seu prazer e satisfação, em ver a adoração acomodada ao seu pensamento e prática, do que o serviço verdadeiro e real ao nosso Senhor. Ora, o culto é serviço a Deus, e deve se realizar segundo o seu padrão e não segundo a disposição natural do homem. O que pode haver de divino em danças sensuais, corpos estrebuchando-se e se esfregando no chão, sons ininteligíveis, gestos histriónicos e balbúrdia?

Infelizmente, quem dita a regra são os homens, para a sua perdição e desgraça, quando deveria ser a obediência sincera àquilo que nos foi dado como norma e regulador do culto. E uma adoração antibíblica e desordenada dará lugar a uma fé claudicante, no mínimo, quando não uma fé artificial e impostora, cada vez mais a enganá-lo em sua fantasiosa simulação de bem, quando é o mal imitando dissimuladamente a virtude, a santidade. Os líderes religiosos atuais se assemelham muito a Herodes, ao buscarem satisfazer os desejos deles para angariarem a si maior fama, poder, influência e domínio. E as multidões que se aglomeram nestas igrejas se parecem com os israelenses daquele tempo, vivendo por um divertimento, no desvio moral dos valores da fé cristã.

Alguém pode alegar que essas práticas não trazem problemas mais sérios, pois Deus é capaz de compreender e aceitar a nossa adoração como válida. Contudo, ele mesmo nos adverte a não transigirmos a sua vontade, ainda que sejamos bem-intencionados. Estão a nos alertar os casos de Caim, que mesmo levando a Deus o melhor dos frutos da terra, não o agradou, enchendo Caim de fúria e desejo assassino, culminando em crime e pecado [Gn 4.5-8]. Também Uzá, preocupado com o destino da Arca da Aliança, prestes a cair da carroça onde estava sendo transportada, tocou-a, quando não lhe era permitido fazê-lo, vindo a morrer imediatamente pela desobediência [1CR 13.9-10]. Penso que poucas são as igrejas que podem se orgulhar, como Paulo, de pregar a Cristo verdadeiramente, “como de Deus na presença de Deus”

Note-se que os judeus comemoravam a Páscoa ou Pessach [em hebraico, significando passagem. Também chamada de Festa dos Pães Ázimos], e que se iniciava no dia 14 de Abibe, Abril. Este período tinha por objetivo buscar a santificação; relembrando-os de que Deus havia passado em suas casas, quando ainda estavam no Egito, marcando-as com sangue, livrando-os da morte e condenação [Ex 12,27]. Significa também a lembrança de que foram escravos, servindo a outro senhor, mas agora estavam libertos e deviam servir ao único e bom Deus.

Era a festa mais importante do calendário judaico; um período de contrição, de sincera avaliação, arrependimento, e retomada do caminho de vida. De escravos errantes, perdidos em um mundo em queda, para poupados da condenação, salvos e constituídos herdeiros do Reino divino. Uma glória imerecida, inalcançável, propiciada pelos méritos exclusivos de Cristo.

Pedro foi colocado sob a guarda de quatro quaternos de soldados [4 x 4 = 16], e esperavam terminar a Páscoa para executá-lo.


CONCLUSÃO:

Herodes e o povo respeitavam, ou cumpriam, o princípio dietético, de não comer pão fermentado, mas desprezavam o fundamento santo. A preocupação não era se Deus os aprovava ou não, mas de as festividades não serem interrompidas ou desviadas em seu propósito ritualístico. Propósito este que imaginavam cumprir, e sequer cogitavam estar quebrando com seus planos e ilações diabólicas. Na verdade, havia um princípio de gozo e alegria com o pecado, mesmo guardando-se formalmente um mandamento divino [Ex 12.15]. Eles eram “massa fermentada”; da mesma origem do diabo, o qual veio matar, roubar e destruir.

O Senhor Jesus nos abençoe, guiando, instruindo, conduzindo e capacitando-nos a sermos santos como ele é, a honrá-lo como ele honrou o Pai, a amá-lo como ele nos ama. Que sejamos uma igreja viva, proclamando o evangelho da Verdade, sendo odiada pelo mundo mas, por amor a Deus e ao próximo, lutar e empenhar para que o mundo conheça o Senhor e Salvador de nossas almas, e talvez, das deles também.
        Boa noite! E que Deus nos abençoe!
        Obrigado aos irmãos!



1-A palavra tem o sentido de satisfazer-se; de estar em conformidade com a vontade de quem se agrada, fazendo-o deleitar-se, ter prazer.


21 maio 2017

Reminiscências de Um Blog - Livro de estréia do Roberto Vargas Jr





Jorge F. Isah


Esta semana aconteceu uma grande surpresa, esperada havia tempos, do livro de estreia do mano Roberto Vargas Jr.: "AS Reminiscências de um blog", publicado na Amazon, e disponível no link abaixo. São textos pinçados e revistos do antigo blog do Roberto, que ele desativou há anos. 

Como leitor assíduo, fiquei meio órfão; e muito dos assuntos ali abordados, e a me instigarem à reflexão, poderão ser revividos pelo ebook. Conhecendo a pena do autor, certamente encontrarei motivos para me debruçar em sua escrita.
Então, o que você está esperando? 

O livro está por ínfimos R$ 1,99; o que não pode ser impeditivo para a riqueza fluída, a simplicidade sofisticada, a prosa poética, a despretensão cuidadosa das reflexões do "Make". 

Comprem!! Leiam!!

PS: Prometo, se Deus quiser, fazer uma resenha após o término da leitura do livro. 


Link para adquirir o livro: https://www.amazon.com.br/dp/B071S7JZ4L/ref=sr_1_1?ie=UTF8&qid=1494979796&sr=8-1&keywords=reminisc%C3%AAncias+de+um+blog

02 abril 2017

Coletânea "Águas Vivas - Volume 5"






Jorge F. Isah


Tive a honra de ser selecionado para participar da Coletânea de poesias "Águas Vivas - Volume 5", cujo idealizador, realizador, editor e empreendedor full time é o mano Sammis Reachers, do "Poesia Evangélica"

Minha participação se resumiu a 9(nove) poemas, dos quais apenas 01(um) é inédito [A Cura], já que os demais foram publicados no meu ebook solo "A Palavra Não Escrita". Entretanto, o leitor poderá se deliciar com outros tantos dos demais 6 (seis) autores/colaboradores. 

Não tenho palavras para agradecer o estímulo, incentivo e a gentileza com que o Sammis tem dispensado a mim e ao meu trabalho autoral. Realmente, sou-lhe grato e devedor para todo o sempre!

Aos amigos e irmãos, baixem o ebook, gratuitamente, no link abaixo, e leiam o que cada um de nós tem a dizer sobre o relacionamento, comunhão e as infinitas dádivas que nos são dispensadas pelo nosso Senhor Jesus Cristo. 

A ele, honra, glória e louvor para todo o sempre!

Boa leitura!!


 

22 janeiro 2017

Para onde vão as almas dos infantes?



JORGE F. ISAH


Esta é uma resposta difícil de dar, especialmente porque a Bíblia pouco ou quase nada diz sobre o assunto diretamente, o qual há séculos intriga e inquieta muitos cristãos. Por isso, não estou aqui para colocar uma pedra sobre ele dando uma solução infalível, ou abandonando-o; pelo contrário, acho que revolvê-lo-ei um pouco mais.
Primeiro, acreditamos que todos, sem exceção, têm uma alma e de que nela encontram-se o nosso intelecto, emoções, sentimentos, razão e vontade, sendo a nossa parte imaterial, contudo, ligada inexoravelmente à parte material, o corpo. É o que a Escritura nos diz quando Deus criou "o homem do pó da terra, e soprou em suas narinas o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente" [Gn 2.7]. Isso nos leva a pensar na completude do homem e de que ele somente pode ser analisado por inteiro, sem menosprezar, como faziam os gnósticos, o corpo, na qual consideravam estar a alma "aprisionada" e de que somente separado dele seria livre [essa doutrina parte da dicotomia defendida por Platão, segundo o qual a realidade se dividiria em dois mundos, o dos sentidos, transitório e imperfeito, e das ideias, eterno e perfeito]. Esse é um disparate, ainda que possa, do ponto de vista filosófico, ser considerado engenhoso, por aparentemente solucionar o problema do mal e do pecado. Porém, se atermos ao fato de que os desejos e a vontade estão diretamente ligados ao intelecto [o que é-se discutível, visto, por exemplo, a fome e a sede procederem do corpo para a mente,  e dela retornar ao corpo para satisfazê-la; estando aí a inseparabilidade corpo/alma de que falei, uma unidade, onde os vários aspectos que movem o homem são indissociados], em princípio, o mal e o pecado originar-se-iam na alma e não no corpo. Mas este não é o foco do presente estudo, mas afirmar, conforme o ensino bíblico, que o homem tem uma alma.
O segundo ponto é: quando a alma se une ao corpo? Acreditamos que isso acontece na concepção, e a Bíblia nos apresenta várias evidências nesse sentido, por exemplo, Deus diz que santificou Jeremias "antes que saísse da madre" [Jr 1.5], e Paulo diz agradou-se Deus de, desde o ventre, tê-lo separado, e chamado-o pela sua graça [Gl 1.15]. Há ainda o fato de João o Batista ter saltado de alegria no ventre de sua mãe, Izabel, com a proximidade de Jesus que ainda estava no ventre de Maria [Lc 1.41-44]. Temos que, uma criancinha, ainda no útero, se alegrou e saltou ao encontrar-se com o Messias, que motivou-lhe tamanha emoção. Esse é um dos relatos mais pungentes da Escritura, quando percebemos que um bebê ainda não nascido se regozijou, exultou-se, ao encontrar-se com seu Senhor que, também, não havia ainda nascido. É uma passagem emblemática revelando não somente o fulgor de Cristo mas a sua divina imagem de, mesmo no útero, provocar o êxtase a outro nas mesmas condições, também ainda não nascido. Há ainda o fato de João o Batista ser seis meses mais velho do que Jesus [Lc 1.24-25;36-38], e ao visitar a sua prima, Maria ficou com ela três meses, vindo João nascer depois de sua partida, o que nos leva a concluir que Jesus havia sido concebido havia poucas semanas [menos de um mês]. Se Cristo é humanamente igual a nós, à exceção do pecado, embriões e fetos já têm em si a alma na qual está a identidade, o que os faz ser o que são. Bastaria somente essa passagem maravilhosamente sublime para que muitos cristãos se convenção da pecaminosidade do aborto e de sua origem maligna.
Partimos então para o terceiro ponto, que é a condição imortal da alma. Mesmo diante da deterioração progressiva do corpo resultando na morte e na sua volta ao pó, a alma não morre, no sentido de ser destruída ou transformada em outra coisa, como uma espécie de energia a integrar-se a uma consciência cósmica universal, reivindicada por budistas e teosofistas, por exemplo.
A alma do salvo retorna para Deus, enquanto a alma do ímpio irá para o inferno [Lc 16.22-23]. Partimos então do princípio de que a alma é imortal, e de que somente aquela que crer em Cristo será salva [Jo 3.36]. Para mais informações sobre esta doutrina, leia e ouça as aulas ...
Então, para onde vai a alma do infante que morreu?
Há três vertentes mais difundidas entre os cristãos. A primeira é de que todas as crianças vão para o céu, baseada em Is 7.16 que fala de uma idade antes de que o menino saiba rejeitar o mal e escolher o bem, defendendo a tese de que há um período na infância em que a criança não é moralmente capaz de escolhas, não podendo ser-lhe imputado o pecado por conta da sua incapacidade, de ainda não ter atingido a "idade de responsabilidade". Outro trecho que parece corroborar essa ideia é aquele em que Davi, após a morte do seu primeiro filho com Bate-seba, diz que não teria como fazer a criança voltar, pois "eu irei a ela, porém ela não voltará para mim" [2Sm 12.23], demonstrando a convicção e certeza de que a encontraria na eternidade. Com isso, se diz que todas as crianças, desde que não tenham ainda a capacitação moral são puras como os anjos celestiais. Muitos até mesmo acreditam, literal e sincreticamente, que elas se tornarão em anjos após a morte. Mas, e quanto ao fato da criança, desde o ventre, ser pecadora e herdeira do pecado, como o próprio Davi afirmou, "eis que em iniquidade fui formado, e em pecado me concebeu minha mãe [Sl 51.5]? E, Paulo, ao dizer que "todos pecaram, e destituídos estão da glória de Deus"? [Rm 3.23], e ainda, "portanto, como por um homem [Adão] entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens por isso que todos pecaram" [Rm 5.12]. Adão, no Éden, representava toda a raça humana formada por crianças e adultos, logo, quando ele caiu, todos nós caímos juntamente com ele. Ora, o próprio fato de bebês e crianças [e embriões e fetos] morrerem já é prova de que estão sob o efeito da natureza pecaminosa, já que a morte física é uma das consequências do pecado. E se todo pecador está morto espiritualmente diante de Deus, ele já se encontra em um estado de depravação natural, e, portanto, a alegada incapacidade moral de escolha do bem e rejeição do mal não se aplicaria para absolvê-lo. O mesmo acontece com aqueles que nasceram mentalmente incapazes, pois assim como aquelas também carregam em seus lombos a natureza pecaminosa, e ninguém tem direito à salvação pelo princípio da ignorância ou da  inocência, visto que todos são pecadores e são inescusáveis diante de Deus.
Outra hipótese defendida é a de que somente as crianças que viriam a crer iriam ao céu, de que, caso tivessem vivido, creriam em Cristo. Este ponto se baseia no fato de Deus conhecer o princípio e o fim de todas as coisas [Is 46.10], e de que ele conhece todas as possibilidades, mesmo as que não se realizarão, o que é verdade, mas o interessante é que ele não fala de possibilidades, de fatos possíveis mas não realizáveis, pelo contrário, o Senhor diz: "anuncio o fim desde o princípio, e desde a antiguidade as coisas que ainda não sucederam, que digo: O meu conselho será firme, e farei toda a minha vontade". Ora, o Senhor não está a falar de hipóteses, mas de coisas que acontecerão e que ele já as conhece, pois são frutos da sua vontade. O que temos é a afirmação divina da sua soberania, de que nada escapa-lhe ou foge ao controle, e de que nenhuma folha cai da árvore sem que seja da sua vontade. Ele se revela como um Deus ativo, providente, onde não há passividade, nem de que as suas decisões serão tomadas por meio de suposições ou daquilo que não aconteceu nem acontecerá. A Bíblia é um livro de fatos, em que a realidade está presente constantemente, não cabendo esse tipo de conclusão a que alguns se entregam, como se Deus não fosse capaz de cobrar a cada um segundo aquilo que cada um fez, e de prover que ele o faça. A própria questão da responsabilidade se torna discutível nesse caso, pois como alguém que não teve a oportunidade de reconhecer Cristo como Senhor e Salvador pode ser condenado por presunção, ainda que divina? Ou ele é condenado porque já o é desde o ventre, ou ele ouvirá o Evangelho e se converterá, salvado-se. Veja bem, não estou dizendo que Deus não pode fazer algo, pois ele pode tudo. O que ele nunca será é incoerente e omisso, por isso a Escritura o revela como o Deus presente e ativo em todos os fatos e eventos. Portanto, parto do mesmo princípio de responsabilidade moral no qual os defensores dessa tese se fundamentam. Se a eleição e a predestinação não são justas, ao ver deles, por que a tese da vontade presumível ou atribuída seria? Onde há injustiça? Entre alguém que nasceu corrompido pelo pecado, morto para Deus, pecou deliberadamente e, eleito de Deus por sua graça e misericórdia, creu em Cristo como seu Senhor e Salvador? Ou aquele que nasceu corrompido mas não pode crer, e ainda assim foi salvo porque poderia vir a crer, quando não creu?
Há ainda a tese de que o batismo infantil é capaz de limpar o infante de seus pecados. Por isso a urgência de se fazê-lo o mais rapidamente possível após o nascimento, como um testemunho de fé dos pais e padrinhos, mas também como redentor da pequena alma. E, no caso das crianças abortadas, e dos que nasceram mas não foram batizados? Tem-se a crença de que existe um "limbo" onde elas ali passarão e serão purificadas pelas orações e encomendas da sua alma, de um lugar de passagem para um lugar definitivo no reino dos céus. A verdade é que nada disso é bíblico ou tem respaldo bíblico. Há, como no caso dos defensores da responsabilidade atribuída, uma presunção, uma alegação hipotética para se induzir uma falsa doutrina, no primeiro caso, de que Deus não é soberano, no segundo caso, de que a igreja detém uma autoridade que não lhe é devida, a de purificar e limpar os pecados através de um rito sacramental.  Alguém pode considerar que estou sendo excessivamente duro, e de que o meu argumento é simplista e reducionista demais ao rejeitar as três hipóteses. Mas penso que, primeiro, ele deve explicar em quê o meu raciocínio está equivocado, e se a conclusão lógica ao que eles propõem não é a mesma em que cheguei; e em que eles estão corretos.
O problema maior é que acaba-se por criar vias diferentes de salvação que não seja exclusivamente pelo sangue de Cristo derramado na cruz do Calvário. O que estão a propor é que há outra[s] forma[s] do homem, criança ou adulto, assegurar-se no céu. Mas o certo é que a Bíblia é clara em nos mostrar que apenas pela obra de expiação, substituição e justificação o homem pode ser salvo. Acrescente-se a obra de santificação pelo Espírito Santo. Sem isso, nada pode ser feito, e a alma perecerá no inferno. O que eles querem é, via de regra, tirar a glória de Deus e transportá-la, ainda que parcialmente, ao homem, seja em seu caráter individual ou coletivo como igreja. Contudo, não se tem respaldo bíblico para nenhuma dessas vertentes doutrinárias apresentadas. Então, para onde vão as crianças? perguntaria o impaciente interlocutor imaginário.
Pois a minha resposta é: apenas o eleito, regenerado e lavado no sangue de Cristo, salva-se. Com isso quero dizer que todas as crianças são eleitas? Ou há crianças eleitas e que passarão a eternidade no céu, e não eleitas que passarão a eternidade no inferno?
Apenas naquele dia, em que tudo nos será revelado, saberemos todas as respostas, inclusive a estas perguntas. 


Nota: 1- Os que acreditam que é possível haver crianças não eleitas que morrem na infância, entendem que a expressão se refere também ao modo como as crianças que morrem na infância são salvas, mas limitando o número dessas crianças apenas às eleitas. Assim, a Confissão de Fé estaria ensinando que “as crianças que morrem na infância, se forem eleitas, são regeneradas e salvas por Cristo.” É como interpreta G. I. Williamson, quando afirma: “Esta parte da Confissão ensina:
1) que há alguns seres humanos ‘que são incapazes de ser exteriormente chamados pelo ministério da palavra,’ 
2) que esses tais podem ser eleitos, e 
3) que nesses casos o Espírito opera quando, onde e como quer.”. 
A seguir declara, referindo-se ainda à  Confissão de Westminster:
'Ela apenas diz “crianças eleitas, que morrem na infância,” sem especular quantas dessas pessoas, muitas ou poucas, possa haver. E o mesmo é verdade com respeito a “todas as outras pessoas incapazes de ser exteriormente e chamadas pelo ministério da palavra.” Pode-se supor que sejam muito poucas em número, ou muitas. O ponto importante é que, desde que a Escritura não o diz, não podemos nem ousamos dizer também. Entendemos que este último é o modo correto de interpretar o texto confessional.'