Jorge F. Isah
Este é um
livro com algumas histórias do Padre Brown, o alterego de Chesterton, dada a
baixa estatura e a rotundidade, transformando-o em uma figura comum e sem
atrativos, ou destaque, significando, até mesmo, a falta de personalidade marcante.
Contudo, a despeito da sua insignificância física, ele se sobressaí por seu
intelecto e a capacidade de desvendar os crimes mais intricados e que, muitas
vezes, fez o seu amigo, o detetive Flambeau, alto e de boa aparência, parecer
um idiota ou um homem sem qualquer preparo investigativo.
O livro tem
as sutilezas estilísticas de Chesterton, uma narrativa bem costurada (necessária
em livros do gênero), mas alguns componentes o tornam diferente da maioria dos
autores do gênero: Padre Brown não procurava apenas desvendar mais um crime,
como um desafio à sua inteligência e argúcia. Não é o simples caso do detetive
à caça do bandido. A sua capacidade de ver os detalhes mais desprezíveis e que
nenhum outro vislumbrava, ou o raciocínio capaz de ligar fatos aparentemente
dissociados que, contudo, faziam parte da "teia" tecida pelo
criminoso, pode se parecer com o estilo de outros grandes personagens da
literatura policial.
Entretanto, mais
do que um desafio mental, uma disputa intelectual e arguta, o calmo e tranquilo
religioso buscava a redenção do criminoso (em outras palavras, realizar o seu
ministério sacerdotal, sua missão primeira), que poderia alcançá-la a partir da
confissão do crime. E isso, se não se desse pelos meios judiciosos, que o
levassem à condenação, bastava-lhe, como padre (e como tal ele estava
impossibilitado de acusar o réu confesso por direito inalienável de sacerdócio),
ouvir a confissão, o arrependimento do criminoso, e ter concluída mais uma
etapa da sua missão. Satisfazia-o não apenas vencer o criminoso, em seu próprio
campo; antes levá-lo à compunção, a reconhecer-se pecador, um transgressor, e
alcançar a liberdade da alma, do espírito, pela graça.
Mais do que a
preocupação com as questões policiais (o que não negligenciava), elas o
levariam ao encontro da alma necessitada, desesperadamente, de perdão; atormentada
pela culpa (ainda que não o soubesse claramente), e mesmo na condição de recluso
encontraria finalmente a paz.
Pode parecer incoerência
o fato do sacerdote, para quem a defesa da moral é um princípio caro, desprezar
a prisão e punição do infrator, em algum aspecto no curso da história. No
entanto, transparece nele o desejo de que, após a confissão, o criminoso, em
paz consigo e com Deus, se entregue voluntariamente à justiça, provando assim o
seu arrependimento sincero e verdadeiro. Ou seja, a redenção somente é possível
se houver a voluntariedade do aflito na busca libertação e a definitiva
liberdade.
Para alguém
pouco versado em teologia talvez esse aspecto passe desapercebido. Entretanto,
ele está lá, a apontar para um redentor e salvador, para a graça, única capaz
de trazer ao homem caído, em sua condição de humanidade perfeita, a harmonia, a
paz definitiva e o fim da inimizade com Deus.
Ler Chesterton é sempre agradável e instigante. Mesmo em histórias aparentemente banais como as policiais.
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Avaliação: (****)
Título: A Inocência do Padre Brown
Autor: G. K. Chesterton
Editora: L&PM
No. Páginas: 256
Sinopse:
"Esta obra traz doze histórias. Uma delas, 'A cruz azul', na qual o personagem, Padre Brown, faz sua primeira aparição, o clérigo de Essex precisa lançar mão de métodos excêntricos para impedir o roubo de um valioso artefato religioso."
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