13 dezembro 2018

Prólogo do livro "A Distração do Pecado"






O embrião para a realização deste livro foram as aulas ministradas na Escola Dominical do Tabernáculo Batista Bíblico, e, durante quase um ano, analisamos cada um dos versos da carta de Judas, sobre os quais nos debruçamos e meditamos com o objetivo de nos dobrarmos à verdade de suas poucas páginas. No princípio, inadvertidamente, cogitei uma análise em quatro ou seis aulas, no máximo, mas a riqueza e a profundidade do texto levaram-nos a dispender oito vezes mais o prazo inicialmente estimado.
        Em uma série de estudos, fomos impulsionados a compreender a gravidade do momento vivido pela igreja de Cristo à época do epistológrafo, crise pela qual a igreja passa, na atualidade, em proporções talvez maiores, já que grande parte dos inimigos de Cristo encontram-se dentro dela, como o joio aguardando para ser arrancado. Os exemplos bíblicos servem-nos como alerta, exortação e repreensão, para rechaçarmos os constantes ataques inimigos, não nos entregando às suas artimanhas açuladas, preservando a sã doutrina, o temor e reverência a Deus, apegando-nos à verdade, repelindo a incitação desonesta à rebeldia, à contemporização com o pecado e ao cultivo do mal.
        Portanto não espere um livro onde você se perderá em meio as dúvidas; não escrevi nada novo, mas repeti o que a igreja tem defendido por séculos; não espere afagos e adulações, porque Judas, como emissário de Cristo, exortou a igreja com asserção, como prova do verdadeiro amor, límpido e vigoroso, não dando lugar à lisonja interesseira; levando incautos a confundir o bem com o mal, o certo e o errado, descristianizando mentes e corações para depois abandoná-los na miséria absoluta, levando-os ao servilismo e penúria da alma, aprisionada nas correntes diabólicas. Pelo contrário, este livro é cristocêntrico, não trata de um Deus genérico, impessoal e distante do homem, mas do Deus encarnado, pessoal, cuja honra e glória satisfaz mais ao Pai e ao Espírito, as demais pessoas da Trindade, do que o louvor dispensado a elas mesmas.
        Não espere, também, um discurso liberal, heterodoxo, antropocêntrico, no qual o homem é a “estrela”, enquanto Cristo é um mero coadjuvante, um nome a agregar distração. Se nada for aproveitado nesta obra, oro para que ao menos o leitor compreenda a excelência de Cristo, sua sublime majestade, completa divindade, completa humanidade, esplendor e glória, num grau de superioridade mais que elevada, somente possível para quem, como ele, compartilha a deidade
em unidade com o Pai e o Espírito Santo; isto é chamado de Cristocentrismo[1]. Se nada mais ficar, que fique isso; do contrário, este livro não terá significado, nem propósito.
        Não espere nada bombástico, original, em uma busca doentia pelo ineditismo, o qual leva muitos autores e livros para além do limite permitido pela sã doutrina, cruzando perigosamente a linha divisória entre o santo e o profano, entre o bíblico e o pagão, entre o louvável e o desprezível. Não tive a menor pretensão de ser inovador, mas de apenas ordenar as ideias e tudo apreendido em minha caminhada com os santos, a fim de, através de Judas, alertar a igreja quanto às várias investidas dos inimigos no intento de solapar, de tornar ineficiente a igreja, fazendo-a um apêndice mais higiênico da podridão mundana; controlando-a com suas acusações, inverdades e coerção, num esquema de manipulação visando a fazê-la um arremedo de si mesma e de secularizá-la a todo custo e sob todos os aspectos da (des)ordenação da civilização moderna. Em um século controlado pela ideologia e pelo combate à verdade; onde o anticristianismo é a faceta mais perversa e injusta da capitulação do bem.
        Tentei escrever de forma simples, sem rebuscar ou empreender um trabalho hermético, sem qualquer pretensão de construir uma obra acadêmica, mas de disponibilizar a qualquer um o texto com vistas a edificar e exortar a igreja, muitas vezes perdida entre o secularismo institucionalizado e um apego a uma tradição mais formal que espiritual, mais moralista que moral, mais centrada nas concepções humanas do que na verdade, na essência da fé, o próprio Deus. Busquei passar uma imagem clara daquilo que me propus a fazer, mesmo que, em alguns momentos, não tenha a convicção de tê-lo alcançado, no que espero contar com a compreensão do leitor. De maneira geral, foi um misto de gozo e angústia intentar o exercício de trazer à luz o que existia apenas em esboços e linhas mal delineadas.
        Entretanto, devo ressaltar que nem todo o material, constante nestas páginas, é exclusivo das lições apresentadas no T.B.B.; há uma boa parte de trechos escritos “a posteriori”, alguns pensamentos “a priori”, e reflexões complementares acrescentadas ao corpo inicial, à medida que a obra tomava forma, como consequência necessária da sua redação; proveniente, em caráter único, das minhas considerações sobre os diversos temas propostos, não existindo qualquer comprometimento da liderança e membros do T.B.B. nas conclusões e no produto final apresentado, sendo, portanto, de minha inteira responsabilidade o que se vos apresenta.  
        Contudo, não poderia deixar de agradecer a cada um dos contribuintes e corresponsáveis diretos no arremate desta obra, não necessariamente no que se encontra expresso, mas através das participações frequentes nas aulas, em conversas ocasionais e indicações de textos e obras. Seria injusto se, em especial, não creditasse ao pastor Luiz Carlos Tibúrcio, irmão e amigo, o estímulo necessário para desenvolver este plano, ao convencer-me, sete anos atrás, a aceitar a incumbência de tornar-me professor. Com ele, também, tenho aprendido muito, ainda que algumas coisas me sejam incompreensíveis no momento, por conta de minhas próprias deficiências, ressaltando a sua paciência insistente em não abandonar-me; e, ainda, ao amor e auxílio fraternal da igreja, sem os quais não se alcança qualquer conhecimento espiritual, nem experiencial, da autêntica vida cristã, somente possíveis no corpo local, pela união promovida por Cristo, de fazer para si um povo e de levá-lo à comunhão íntima com seu Santo Espírito. Como sempre digo, não há divergências, nem algum problema, que não seja dissolvido pelo amor do Senhor, o qual nos une e nos mantém unidos.
        É com grande alegria que entrego estas páginas ao leitor. Durante mais um ano, após o término letivo, estive envolvido com este projeto de agrupar, acrescentar e burilar os esboços servidos de aulas; algo por completo inusitado para mim, havendo um determinado momento no qual considerei quase impossível concluí-lo, dada a insatisfação com uma ou outra parte do texto, mas que, pelo favor divino, foi possível chegar a termo, e um desejo, por fim, realizado. Vê-lo, agora finalizado, é a demonstração da graça e bondade divina para comigo.
Oro, do fundo do meu coração, para o Senhor utilizar este instrumento na edificação da sua santa igreja, e para a sua honra, porque nele vivemos, e nos movemos, e existimos”[2]; e a Cristo seja dado todo o louvor e glória, eternamente!




[1] Cristocentrismo é a designação para “Cristo no centro de tudo”. Não há ortodoxia e ortopraxia sem se considerar profundamente isso. Quando o Filho diz que ninguém vem ao Pai senão por ele, está definindo algumas coisas: o crente vem ao Pai porque vem a Cristo, e ambos são um, uma unidade com o Espírito. Segundo, agradou ao Pai e ao Espírito Santo serem glorificados no Filho, de maneira tal que é impossível a glória de Deus sem que seja dada a glória a Cristo, exclusiva e primeiramente; a glória divina passa, necessariamente, pela glorificação de Cristo. Terceiro, como consequência, qualquer tentativa de se glorificar a Deus, por outros meios, é rejeitada. Quarto, e é rejeitada pelo simples fato de que, como pecadores é impossível agradarmos a Deus, então, nossas ações, pensamentos, orações e ofertas são santificadas pelo Filho, e sendo por ele santificadas, agradarão, finalmente, ao Pai.
[2] Atos dos Apóstolos, 17.28


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