Por Jorge Fernandes Isah
A tragédia das chuvas em Santa Catarina deixa-nos perplexos por vários motivos:
1) A morte de centenas de pessoas, e o sofrimento de outras milhares;
2) O prejuízo material, onde famílias perderam tudo o quanto amealharam durante a vida;
3) O caos urbano;
4) A inoperância, negligência e omissão dos governos municipal, estadual e federal;
5) A natureza maligna do homem.
Catástrofes sempre nos deixam atônitos diante do poder destruidor da natureza, da nossa fragilidade, da realidade da morte, e da transitoriedade da vida. Porém, ater-me-ei ao ponto 5): a natureza maligna do homem.
A dor, a angústia, as perdas de vidas e bens materiais são a causa ou a conseqüência da explícita impiedade do homem?
Situemo-nos primeiro: as imagens que nos chegam são de ruas alagadas, casas desabando, desabrigados amontoados em ginásios e clubes, água por todos os lados, barrancos desmoronando, pontes caídas, casas ilhadas, pessoas e animais mortos. A natureza, como objeto da criação de Deus, geme com dores de parto até agora (Rm 8.22), nas palavras divinamente inspiradas de Paulo; “porque a criação ficou sujeita à vaidade, não por sua vontade, mas por causa do que a sujeitou, na esperança de que também a mesma criatura será libertada da servidão da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus” (Rm 8.20-21).
O mundo criado por Deus era muito bom (Gn 1.31), até que o pecado do homem adentrou-o, corrompendo-o, trazendo o caos à existência. A desordem que o pecado gerou pode ser vivenciada dia após dia nos quatro cantos do globo: inundações, furações, maremotos, avalanches, secas, nevascas, terremotos... Todos esses fenômenos têm um culpado: o pecado de Adão e Eva no Éden, o qual é o nosso próprio pecado.
Porém, as cenas de saques a lojas e supermercados deixam ainda mais evidente o mal que habita no homem. Santa Catarina repetiu Nova Orleans em 2005, quando da passagem do furacão Katrina: o homem, para a sua infelicidade, vem-se superando no mal.
Recentemente, aqui em Minas, um caminhão transportando gêneros alimentícios acidentou-se. Enquanto dois ou três preocupavam-se em socorrer o motorista e ajudante feridos, uma horda encarregava-se de saquear o veículo, e, em questão de minutos, toda a mercadoria foi furtada (o mal age rapidamente, em fração de segundos, e suas conseqüências perduram por toda a vida). Em Nova Orleans, enquanto milhares sofriam as conseqüências devastadoras do Katrina, parte da população saqueava casas e apartamentos, e os poucos proprietários que se atreveram a defendê-las foram executados.
Há justificativa para tanta crueldade na tragédia? Ou utilizam-na como pretexto para dar vazão à imoralidade?
Eternamente Deus contempla a humanidade: “E viu o Senhor que a maldade do homem se multiplicara sobre a terra e que toda a imaginação dos pensamentos de seu coração era só má continuamente” (Gn 6.5). Por mais que se queira “dourá-lo”, o homem é mau, e nem é preciso desculpa para extravasar-se na dissolução, na injustiça. O homem tem-se especializado no cinismo, na cara-de-pau e frieza moral; “porquanto, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças, antes em seus discursos se desvaneceram, e o seu coração insensato se obscureceu. Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos... Estando cheios de toda a iniqüidade, fornicação, malícia, avareza, maldade; cheios de inveja, homicídio, contenda, engano, malignidade; sendo murmuradores, detratores, aborrecedores de Deus, injuriadores, soberbos, presunçosos, inventores de males, desobedientes aos pais e às mães; néscios, infiéis nos contratos, sem afeição natural, irreconciliáveis, sem misericórdia; os quais, conhecendo o juízo de Deus (que são dignos de morte os que tais coisas praticam), não somente as fazem, mas também consentem aos que as fazem” (Rm 1.21-22; 29-32). Aqui o mal é tanto daquele que pratica quanto do que consente na prática, ou seja, a omissão, a indiferença, o descaso, o fazer “vistas grossas” ao pecado é tornar-se cúmplice dele. A sociedade jamais entenderá isso, e caminha na direção da conivência em nome da “paz social”, onde cada um faz o que quer sem dar satisfação a ninguém, tudo em nome do prazer carnal e de uma aparente civilidade, as quais, cedo ou tarde, levá-los-á à destruição.
Tiago estabeleceu a seqüência do mal:
1) O homem é atraído e enganado pela própria concupiscência (1.14) – O desejo ardente de praticar o mal, de satisfazer os prazeres carnais (releia a lista de Rm 1.29.31);
2) Concebida a concupiscência, dá a luz ao pecado (1.15) – O desejo se realiza em transgressão, em desobediência a Deus, pois “não há temor de Deus perante os seus olhos” (Sl 36.1).
3) O pecado consumado gera a morte (1.15) – “Porque o salário do pecado é a morte” (Rm 6.23) – E essa morte é muito mais do que a agressão à vítima, porque no Éden o Senhor disse a Adão: “Mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dela não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás” (Gn 2.17); e ela é a separação de Deus; àquele que infringe e subleva a Sua Lei se reserva eternamente o castigo à escuridão das trevas (2Pe 2.17).
Portanto, nem a fome, nem o desemprego, nem enchentes, nem seca, nem a loucura, nem doença, ou qualquer motivo aparente, pode levar o homem a justificar o mal praticado; “Não erreis: Deus não se deixa escarnecer; porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará. Porque o que semeia na sua carne, da carne ceifará a corrupção; mas o que semeia no Espírito, do Espírito ceifará a vida eterna” (Gl 6.7-8).
Ao pecador resta-lhe:
1) Reconhecer-se pecador e o seu pecado, e que, por si só jamais deixará essa condição: “Tem misericórdia de mim, ó Deus, segundo a tua benignidade; apaga as minhas transgressões, segundo a multidão das tuas misericórdias... Porque eu conheço as minhas transgressões, e o meu pecado está sempre diante de mim” (Sl 51.1;3)
2) Como Davi, confessar os pecados a Deus: “Contra ti, contra ti somente pequei, e fiz o que é mal à tua vista” (Sl 51.4);
3) Crer em Jesus Cristo pois, “todo aquele que nele crer não será confundido” (Rm 10.11); o qual morreu na cruz para vencer o pecado, e ressuscitou, vencendo a morte, os dois inimigos do homem;
4) Arrepender-se “para que sejam apagados os vossos pecados, e venham assim os tempos do refrigério pela presença do Senhor” (At 3.19).
5) Gozar a eterna segurança da salvação na plenitude de Deus, o qual jamais permitirá que aqueles chamados à comunhão da Sua glória se percam e pereçam (Jo 10.28).
Ainda que você não seja um saqueador; mesmo que seja um benfeitor, um filantropo, nenhuma das suas boas ações, por si só, são meritórias para a salvação, e reconciliação com Deus; a qual não vem “pelas obras de justiça que houvéssemos feito, mas segundo a sua misericórdia, nos salvou pela lavagem da regeneração e da renovação do Espírito Santo, que abundantemente ele derramou sobre nós por Jesus Cristo nosso Salvador” (Tt 3.5-6).
O homem natural e carnal é derrotado; em seu lugar, surge o homem espiritual à imagem e semelhança de nosso Senhor, porque “onde o pecado abundou, superabundou a graça” (Rm 5.20); e Deus rompeu o liame da tragédia; e agora conhecemos que estamos firmes na liberdade com que nos libertou (Gl 5.1).
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