Por Jorge Fernandes
O suor a instilar pelo corpo, a última água a jorrar da fonte seca;
Em breve, haverá apenas a terra árida,
E o sopro do vento gelado a corroer o ânimo combalido em que me arrasta.
Os olhos que me vêem são os mesmos com que vejo,
As peles exalam o cheiro que me pertence,
Os suspiros, o ar derradeiro a inflar os pulmões,
Nem o zunido a ecoar tem o sentido das palavras.
Cabelos brancos a esvoaçar, folhas estorricadas a farfalhar,
Rugas crispadas, fendas no rochedo,
Não há mal que perdure,
Enquanto houver a esperança de que o bem surja e nos alcance.
Ainda a correria desenfreada,
O tempo a escoar, a barragem quebrada,
Num alívio que se esvai,
Há agonia, a carne lavrada,
Nenhum grão a semear.
Ao querer rejeitá-la,
Fui derrotado pelo laço, o nó paralisante,
Faz o sangue jazer inerte em meio às artérias obstruídas,
Cômodo... partilhar o colapso dos sentidos,
O redemoinho em que o delírio forja a imagem de que não sou
Sequer fui, pode ser que seja...
No fundo, enquanto estraçalhado,
Não sinto a dor que me perpassa,
Nem o pavor a consumir,
Há somente o hálito morno a expulsar-me de mim,
Como um exército em retirada,
Sem ter aonde abrigar-se.
Quisera poder chorar,
Rasgar a carne com as unhas,
Cuspir no rosto, amaldiçoar o dia em que nasci,
É tudo o que poderia fazer,
Apesar de nada disso remediar o pecado, e absolver.
Sou um condenado à morte infinita,
A eterna agonia de jamais vê-lO,
E após a iminente sentença, a culpa confirmada,
Quis instar-lhE o perdão, era tarde... impossível...
Os grãos debulhados jamais retornam ao sabugo.
Não havia como resgatar-me.
Em toga, agora era Juiz.
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