Por Jorge F. Isah 
PRIMEIRA
PARTE: INTRODUÇÃO
Bom dia, irmãos!
O 
Pastor Luiz Tibúrcio e sua família tiraram alguns dias de férias, 
descanso que não tinham há alguns anos, então, fui incumbido de pregar 
hoje, em nosso culto, uma honraria imerecida, mas que pela graça de Deus
 espero cumpri-la para a sua gloria. 
Esta 
honra se faz ainda maior por ser o primeiro culto do ano e, também, o 
primeiro sermão. Não por haver algo de excepcional ou encantado nesta 
data, o primeiro domingo de 2015, mas pelo fato de o Ano-Novo guardar 
uma expectativa e a promessa de novas realizações, decisões e 
empreendimentos, levando muitos a acreditarem em algo sobrenatural ou 
mágico apenas por iniciar-se um novo ciclo. Alguns esperam realizar o 
que não conseguiram no ano anterior, outros elaboram planos, projetos e 
metas a cumprir, como uma promessa inicial. Trabalhar ou estudar mais; 
descansar ou curtir a vida mais; emagrecer ou iniciar a prática de algum
 esporte; ler um certo número de livros; ficar noivo ou casar; ou seja, 
há um certo misticismo na virada de ano, uma esperança em realizar 
sonhos e expectativas. Talvez renovar as esperanças de cumprir o que 
prometera a si mesmo no penúltimo ano... Um compromisso de fazer o que 
prometeu e não realizou. 
Contudo,
 não há nada demais além da mudança de páginas no calendário. Este é um 
dia como outro qualquer, e para os crentes é mais um dia de 
agradecimento, louvor e glória ao nosso Senhor. O máximo permitido pela 
minha imaginação é elaborar um resumo de todas as bênçãos e providências
 divinas, agradecendo-o por tê-las dado. Assim devem ser todos os dias, 
em todos os anos, durante toda a nossa vida, seja aqui ou na eternidade.
 
Por 
isso, nada mais justo do que rendermos a Deus toda a glória devida; 
observando alguns mandamentos ou ordens deixadas por ele. 
Escolhi,
 então, o trecho mais importante em minha caminhada cristã (senão o 
mais, um dos mais), e que causou-me um grande impacto ao lê-lo pela 
primeira vez; e está na Carta de Paulo aos Filipenses, no capítulo 4, 
verso 1 a 4, e diz: 
“Portanto,
 meus amados e mui queridos irmãos, minha alegria e coroa, estai assim 
firmes no Senhor, amados. Rogo a Evódia, e rogo a Síntique, que sintam o
 mesmo no Senhor. E peço-te também a ti, meu verdadeiro companheiro, que
 ajudes essas mulheres que trabalharam comigo no evangelho, e com 
Clemente, e com os meus outros cooperadores, cujos nomes estão no livro 
da vida. Regozijai-vos sempre no Senhor; outra vez digo, regozijai-vos.”
SEGUNDA PARTE: CONTEXTO 
Entendamos o contexto em que o Apóstolo escreveu esta carta: 
1 – 
Esta carta é considerada uma das mais belas e amorosas do Novo 
Testamento. Nela, Paulo abre e derrama o seu coração aos filipenses, 
como uma igreja das que mais alegria trazia-lhe, pois sempre estiveram 
juntos do Apóstolo em todas as suas viagens, auxiliando-o de várias 
maneiras, seja na colaboração efetiva da pregação do Evangelho, seja no 
sustento material, em orações, ou seja, em muitos momentos, dos mais 
difíceis, a igreja de Filipos estava pronta, a disposição, para 
auxiliá-lo em seu trabalho. 
2 - Ele estava preso em Roma, acusado injustamente pelos judeus de levar gentios ao templo, o que era proibido. 
Lucas 
relata os motivos pelos quais Paulo foi preso, e os irmãos certamente 
hão de lembrar pois o Pr. Luiz tem desenvolvido esse estudo expositivo 
no livro de Atos: 
“E 
quando os sete dias estavam quase a terminar, os judeus da Ásia, vendo-o
 no templo, alvoroçaram todo o povo e lançaram mão dele, clamando: 
Homens israelitas, acudi; este é o homem que por todas as partes ensina a
 todos contra o povo e contra a lei, e contra este lugar; e, demais 
disto, introduziu também no templo os gregos, e profanou este santo 
lugar. Porque tinham visto com ele na cidade a Trófimo de Éfeso, o qual 
pensavam que Paulo introduzira no templo.” [At 21.27-29] 
3 – 
Depois de preso e levado a Roma, Paulo ficou sob os cuidados da guarda 
pretoriana, a elite do exército romano, os soldados mais bem treinados, e
 responsáveis pela proteção do imperador. 
4 - Os cristãos eram perseguidos, presos e mortos tanto por judeus como por romanos. 
5 - 
Ser cristão era o mesmo que estar condenado à morte, no primeiro século.
 A acusação básica dos judeus era a idolatria, acreditar que o Pai, o 
Filho e o Espírito Santo era Deus. A acusação dos romanos era a 
desobediência cristã em não adorarem os seus deuses, especificamente o 
César, o Imperador, que era o poder divino instaurado na terra. 
Não é 
difícil perceber, naquele tempo, que as coisas não eram fáceis, pelo 
contrário, havia todo o tipo de provações e sofrimento para os cristãos.
 Mas, como o próprio Apóstolo reconheceu, “De maneira que as minhas 
prisões em Cristo foram manifestas por toda a guarda pretoriana, e por 
todos os demais lugares; e muitos dos irmãos no Senhor, tomando ânimo 
com as minhas prisões, ousam falar a palavra mais confiadamente, sem 
temor” [Fl 1.13-14]. Mesmo diante da limitação de pregar e levar o 
Evangelho, posto estar confinado a um espaço exíguo, provavelmente 
algemado a dois soldados, ele levou a Palavra a toda a guarda 
pretoriana, evangelizando-a, e, por causa desse testemunho, muitos 
irmãos sentiram-se fortalecidos e, ousadamente, proclamavam a palavra de
 Deus em todos os lugares, sob todas as condições. 
É 
nesse ambiente hostil, tendo a sua liberdade cerceada, acusado 
injustamente de um crime que não cometeu, privado de levar pessoalmente o
 conforto, o ensino, a orientação aos irmãos nas muitas igrejas 
plantadas por si, e impedido de evangelizar livremente, que Paulo 
escreveu aos filipenses. Acontece que nada impede os desígnios divinos, e
 estava decretado que ele haveria de levar Cristo até Roma, para dentro 
do palácio imperial, para os corredores e salões da elite romana, sob as
 barbas do tirano e assassino, Nero; ocasionando na conversão de muitos,
 como atesta ao fim da epistola: 
“Todos os santos vos saúdam, mas principalmente os que são da casa de César” [Fp 4:22]. 
Podemos
 ver que não há desculpas para não evangelizarmos, pois assim como 
Paulo, todo lugar, toda condição, toda situação é propícia para levarmos
 a mensagem de vida, o Evangelho das Boas-Novas, de que Cristo, o Filho 
de Deus, morreu para ajuntar a si um povo santo. 
 
TERCEIRA PARTE: PRIMEIRAS EXORTAÇÕES 
 Pois
 bem, além deste momento, você já parou para pensar na profundidade do 
que Paulo nos diz, e de termos uma ordem e não uma opção a qual podemos 
ou não aceitar? 
No início do capítulo 4, há ordenanças ou obrigações apontadas por Paulo para a igreja de Filipos. Senão, vejamos: 
Verso 1: “Portanto, meus amados e mui queridos irmãos, minha alegria e coroa, estai assim firmes no Senhor, amados.” 
Primeiramente,
 Paulo chama os filipenses de “meus amados e mui queridos irmãos”. 
Declarando o seu contentamento, alegria e amor sentidos por aquela 
igreja, capaz de leva-lo a exortá-los com carinho, fraternidade e 
bondade. Os filipenses são a sua alegria e coroa, como um troféu do seu 
ministério, uma honraria na qual se deleitava por tê-los como irmãos e 
auxiliadores; aqueles irmãos que auxiliaram o seu ministério com orações
 e petições a Deus, mas também materialmente, na Macedônia, em Corinto, 
em Tessalônica, sendo a única, em vários momentos, a comunicar-se com 
ele, para o efetivo avanço do seu ministério. 
Em 
seguida, ele exorta-os: “estai assim firmes no Senhor”. Ora, não é um 
mero pedido, um conselho, ou uma possibilidade dada à igreja, mas uma 
ordem. O verbo “estai” está na forma imperativa, como uma necessidade, 
um dever, um compromisso assumido ao qual se deve submeter. 
Mas 
eles deveriam estar firmes em quem ou no quê? No Senhor! Não é em 
qualquer coisa ou em si mesmos. Não podemos nos firmar em nós mesmos 
pois somos inconstantes, imperfeitos, falhos, e, caso dependêssemos de 
nós mesmos não alcançaríamos nada além da justa condenação por nossos 
pecados e fraquezas, culminando na garantia de um lugar no Inferno. 
Se nossa dependência é completa e total de Deus, somente podemos estar firmes se estivermos nele. Como o salmista diz: 
“O 
Senhor é o meu rochedo, e o meu lugar forte, e o meu libertador; o meu 
Deus, a minha fortaleza, em quem confio; o meu escudo, a força da minha 
salvação, e o meu alto refúgio” [Sl 18.2] 
E, ainda: 
“O 
Senhor é a minha luz e a minha salvação; a quem temerei? O Senhor é a 
força da minha vida; de quem me recearei? Quando os malvados, meus 
adversários e meus inimigos, se chegaram contra mim, para comerem as 
minhas carnes, tropeçaram e caíram. Ainda que um exército me cercasse, o
 meu coração não temeria; ainda que a guerra se levantasse contra mim, 
nisto confiaria. Uma coisa pedi ao Senhor, e a buscarei: que possa morar
 na casa do Senhor todos os dias da minha vida, para contemplar a 
formosura do Senhor, e inquirir no seu templo. Porque no dia da 
adversidade me esconderá no seu pavilhão; no oculto do seu tabernáculo 
me esconderá; pôr-me-á sobre uma rocha” [Sl 27.1-5]. 
Em 
nenhum momento o salmista se exaltar ou se vangloriar com a sua própria 
força, por estar firme em si mesmo, por ser ele o seu libertador, ou em 
quem confia. Sabendo que foram escritos por Davi, o homem segundo o 
coração de Deus; que quando ainda um jovem derrotou o temido gigante 
Golias; que liderou o exército de Israel em dezenas de batalhas 
vitoriosas contra os seus inimigos; foi Rei, conquistou e erigiu a mais 
forte nação do Oriente Médio à época; não é interessante ele não fazer 
nenhuma menção aos seus dons, feitos e habilidades? À sua força, 
valentia, inteligência e liderança? Pois bem, ele sabe quem é, e sabe-se
 totalmente dependente e sujeito a Deus, não colocando nenhuma esperança
 em si mesmo, posto reconhecer-se incapaz sem os favores e bênçãos 
divinas. 
Sabendo
 disso, Paulo exorta, conclama, ordena, a igreja de Filipos a manter-se 
firme no Senhor. Este é o primeiro ponto abordado pelos profetas, não 
confiar em si mesmo, não depositar as esperanças em si mesmo. E qual o 
segundo? 
Se não
 devemos e podemos confiar em nós mesmos, devemos confiar em outrem; o 
qual não é outro senão o Senhor da glória, Cristo! Se estamos nele, e 
ele em nós, precisamos de uma comunhão constante, ininterrupta e 
arraigada nele. Este segundo ponto fala da perseverança dos santos, de 
mantermo-nos firmes em Cristo até o fim. É claro que não fazemos isso 
por nós mesmos, já que é o Senhor quem nos preserva, nos sustenta, e 
garante a nossa santidade. Mas há um componente humano, transformado e 
motivado pelo Espírito: queremos e ansiamos permanecer firmes em Cristo,
 crendo inabalavelmente que nos conservará, impedindo-nos de cair na 
vida miserável e desgraçada de antes, de voltarmos, como o cão ao 
próprio vômito e a porca lavada ao espojadouro de lama [2Pe 2:22]. De 
uma maneira maravilhosa, sabemos ser o Senhor quem nos suporta e ampara 
nesta caminhada, mas também ansiamos permanecer nela, pelo seu poder, 
graça e favor. 
Então,
 particular e individualmente (talvez porque elas, mais do que outros, 
necessitavam deste encorajamento, visto haver uma divergência entre elas
 ou entre elas e a igreja), roga a Evódia e a Síntique que sintam o 
mesmo, viver em paz, em unidade, e em harmonia entre si e com a 
congregação. Muitas vezes, este é um sério problema na igreja; por um 
desentendimento ou mesmo falta de compreensão, um irmão se aborrece com a
 igreja e pensa em abandoná-la, ou então permanece destilando a sua 
insatisfação. É claro que não existe uma igreja perfeita e, penso, não 
existiu nem existirá uma na terra; e damos vazão à carnalidade e ao 
pecado quando promovemos dissensões ou disputas dentro dela. Deus deu um
 dom para cada um dos irmãos, e é a unidade e harmonia desses dons que 
fará a igreja crescer, podendo crescer numericamente, mas, sobretudo, em
 maturidade espiritual, na realização da sua obra. 
Paulo 
cita especificamente Evódia e Síntique, duas irmãs, o que seria, nos 
tempos atuais, um absurdo na igreja. As pessoas vêm-se como 
independentes, donas dos seus narizes, num estado de autonomia tal que 
ninguém, nem mesmo a igreja, tem algo a ver com a sua vida. Por isso, há
 um número cada vez maior de pessoas que se dizem crentes e estão fora 
da igreja, não congregam, não têm comunhão, não realizam a obra de Deus,
 nem compartilham do grande ministério de ajudarem-se mutuamente, 
consolando, exortando, orando, instruindo e sendo instruído. Já imaginou
 se o pr. Luiz Carlos, por exemplo, exortasse irmãos nominal e 
publicamente a apaziguarem os seus corações e viverem em unidade com os 
demais? 
Imagino
 a resposta: “Mas o que o pastor tem com isso? Não é problema seu, mas 
meu!”; “A igreja cuida da vida dela e eu cuido da minha”, ou alguma 
desculpa similar. 
Há uma
 geração inteira de “crentes” que acreditam piamente na falácia de haver
 uma distinção entre as suas vidas e a vida cristã, de maneira que 
apenas algumas horas por semana são devotadas à última, e, quanto ao 
restante do tempo, a face não-eclesiástica, ninguém, muito menos a 
igreja tem algo com isso. O crente autônomo está em conformidade com o 
pensamento mundano e deste século, no qual ele está sujeito a 
praticamente tudo, às normas e regras do Estado, do seu empregador, do 
mercado (caso seja o empregador), do seu condomínio, no trânsito, na 
escola, no hotel, ou seja, onde estiver ele deve se submeter a regras e,
 caso não o faça, arcará com as consequências pecuniárias, de espaço 
(sendo impedido de entrar nos locais onde é um indesejado ou é-lhe 
vedado), e até mesmo com a privação física (a prisão ao descumprir uma 
lei capital). Mas, quanto a se sujeitar à igreja, a qual foi constituída
 por Cristo como o seu Corpo, ah, isso jamais! 
Em 1 
Co 5:11-13, Paulo ordena à igreja para tirar o iníquo de dentro dela. 
Por que? Para que seja julgado por Deus, pois é ele quem julga os que 
estão fora da igreja (v.13); mas, na igreja, o Corpo é que tem a 
prerrogativa e autoridade para fazê-lo, não se deixando eximir da 
responsabilidade dada (v.12). 
Ao se 
retirar um ímpio da igreja, ele perde a proteção eclesiástica e, 
portanto, será julgado por Deus; pois a igreja não será julgada, posto 
Cristo ter morrido por ela, e limpado-a de todos os seus pecados. 
Então,
 a conclusão não é outra senão a seguinte: os “crentes” que insistem em 
permanecer fora da igreja, por estarem em desobediência, ao terminarem 
suas vidas assim, serão julgados por Deus, pois é ele quem julga os de 
fora, o que não é uma coisa boa, estar passível e sujeito ao julgamento 
divino. O estado desses “crentes” é o mesmo de um não-crente, um ímpio, e
 por isso, mesmo achando que são melhores (e o fato de não haver uma 
igreja boa o suficiente para eles demonstra um grau exacerbado de 
superioridade e orgulho pessoal), estão se colocando entre os piores, 
entre aqueles que serão julgados por Deus. Cristo diz: 
“Quem não é comigo é contra mim; e quem comigo não ajunta, espalha” [Mt 12.30];
 uma clara alusão à posição do homem diante da neutralidade, ou seja, 
nenhuma. Ninguém é neutro diante de Cristo. Ou se está com ele ou não se
 está; ou se trabalha com ele ou não. 
 Alguns
 apontarão que Paulo está a falar de uma igreja universal e invisível, 
mas ao destinar a sua carta a igreja de Corinto, de citar pecados e 
omissões dos irmãos de Corinto, e de ordenar que coloquem para fora o 
ímpio da igreja de Corinto, não há como se pensar em igreja universal e 
invisível, mas em corpo local, congregacional e visível (por isso a 
redundância intencional em repetir a qual igreja ele destinava a sua 
ordem). E os dentro da igreja serão julgados por ela, como irmãos salvos
 e remidos pelo sangue de Cristo (convenhamos, um julgamento muito mais 
brando do que o divino), a corrigirem o seu caminho, a voltarem à 
verdade, arrependerem-se dos seus pecados, serem perdoados pela igreja, o
 corpo, e pela cabeça, Cristo. 
 Voltando
 ao texto de Filipenses, no verso 3, o apóstolo exorta um companheiro na
 fé a ajuda-las, Evódia e Síntique, na reconciliação, no trabalho e 
harmonia dentro da igreja dos filipenses. Há um componente interesse no 
relato do Apóstolo: essas duas mulheres haviam trabalhado com ele, na 
propagação, na difusão do Evangelho em Filipos, juntamente com Clemente e
 outros colaboradores, como puderam então se distanciarem, ao ponto de 
uma não mais cooperar com a outra na igreja? 
Infelizmente,
 algumas vezes, damos vazão aos dardos inflados de Satanás, deixando o 
nosso orgulho e vaidade se sobreporem ao amor, à piedade, à unidade 
laboral. Como já disse, cada um de nós recebeu um dom do Senhor, e a 
união desses dons é que fazem a igreja progredir e crescer no 
conhecimento de Deus e da sua vontade. Evódia e Síntique, duas irmãs 
empenhadas no auxílio ao ministério de Paulo, trabalharam em outros 
tempos juntas, em comunhão, visando um único bem, levar o nome de Cristo
 ao conhecimento dos filipenses. Provavelmente, elas passaram por muitas
 lutas, obstáculos e provações, e, agora, a igreja estava plantada mas 
elas não se entendiam. Não sabemos os motivos pelos quais 
antipatizaram-se mutuamente, mas creio que o motivo foi, pois via de 
regra é, a falta de perdão, motivada pelo orgulho. Há um ditado mineiro 
que diz: quando um não quer, dois não brigam. E pode ser aplicado na 
vida por qualquer pessoa, mas, especialmente os cristãos devem estar 
imbuídos do espírito de não contenda, de inimizade. 
Em 
Gálatas 5:20, Paulo relaciona a inimizade como fruto ou obra da carne, 
algo a ser combatido pelas igrejas. Porém, o problema parece muito mais 
frequente, ao ponto de haver sectarismo, desde os primórdios do 
Cristianismo. Aconteceu até mesmo no grupo seleto do Senhor Jesus. Em 
Mateus 20.20, a mãe de Tiago e João, juntamente com os filhos, 
aproximaram-se de Jesus para adorá-lo e fazer um pedido. E qual era o 
pedido? Que os seus dois filhos assentassem, um à direita e outra 
esquerda do Senhor (v.21). Cristo respondendo-a, disse: “Não sabeis o 
que pedis. Podeis vós beber o cálice que eu hei de beber, e ser 
batizados com o batismo com que eu sou batizado?” (v.22). Eles disseram 
que sim, podiam. Jesus confirmou, afirmando que eles beberiam do seu 
cálice e seriam batizados como mesmo batismo com que ele era batizado, 
“mas o assentar-se à minha direita ou à minha esquerda não me pertence 
dá-lo, mas é para aqueles para quem meu Pai o tem preparado” (v.23). 
Após 
ouvirem o diálogo, como se comportaram os outros dez apóstolos? Se 
indignaram contra os Tiago e João (v.24). Nesse momento, temos uma 
disputa entre eles; de um lado os filhos de Zebedeu, do outro, os demais
 apóstolos. E qual o motivo da disputa? Um lugar especial ao lado do 
Senhor. Ora, mas todos queremos um lugar mais próximo de Cristo, não é? 
Porém, esse lugar não pode ser exigido, pois, se o for, demonstrará 
haver um mérito pessoal, um destaque especial, para se alcançar o posto.
 E, felizmente, essa prerrogativa não é do homem mas de Deus. O erro, em
 algum momento, foi Tiago e João considerarem-se merecedores daquela 
posição, de estarem sentados lado a lado do Senhor. Houve um pouco de 
tudo, arrogância, ambição, e desprezo aos demais apóstolos. De alguma 
maneira, eles se consideravam mais merecedores daquela posição do que os
 demais, uma honra destinada apenas a eles, ao ponto de, alertados pelo 
Senhor quanto ao absurdo do pedido, algo impróprio e inadequado (“Não 
sabeis o que pedis”), eles não titubearam, mesmo quando Jesus 
acrescentou: Podeis beber do cálice que ei de beber e ser batizados com o
 batismo com que eu era batizado?, e disseram: Sim, Senhor, podemos! 
Será que por algum momento eles tiveram a noção exata do que viria a ser
 o cálice bebido por Cristo e o batismo no qual ele estava batizado? 
Será que no afã de terem os seus lugares ao lado do Senhor, uma honra e 
uma glória pessoal, responderam sem meditar nas consequências, sem saber
 o que representavam verdadeiramente, e de uma maneira autômata estavam 
dispostos a tudo, mesmo o que não sabiam ao certo, para ocuparem aqueles
 lugares de destaque? 
Fato é
 o Senhor ter-lhes respondido que beberiam o seu cálice e seriam 
batizados com o mesmo batismo. Mas, o que isto representa? Cristo estava
 a falar do seu sofrimento, da sua agonia, culminando com a morte na 
cruz. O cálice bebido era amargo, triste, doloroso, e, mesmo 
inconscientemente, João e Tiago aceitavam um sacrifício desconhecido, ou
 seja, como não sabiam o que pediam, também não sabiam o que respondiam 
ao Senhor, pois não tinham ideia do significado daquelas palavras, nem 
conheciam o destino que lhes estava reservado; se a pergunta foi tola, a
 resposta foi ainda maior, tudo para obterem um lugar de destaque no 
Reino. E não sei até que ponto surpreenderam-se com a resposta de Jesus,
 de que beberiam do mesmo cálice e seriam batizados com o mesmo batismo;
 mas acredito que o orgulho deles aumentou, e a consciência de merecerem
 o lugar de destaque aumentou, já que a prova apresentada seria 
realizada, mesmo sendo-lhes, naquele momento, algo obscuro, um enigma. 
Cristo, porém, encarrega-se de dar-lhes um banho de água fria, ao 
proferir que a incumbência de escolher quem estará à sua direita e à sua
 esquerda não é ele, mas o Pai o destinará a quem tem preparado tal 
honraria. 
Em 
seguida, os outros discípulos, observando o desenrolar da conversa, 
indignam-se com João e Tiago. Eles sentiram-se inferiorizados, 
menosprezados, humilhados pelo pedido dos “filhos do trovão” (Lc 
9:51-56). De alguma maneira, eles se colocaram como vítimas da ofensa 
dos irmãos, mas, não agiriam eles igualmente? Em Lucas 9:46-48, o texto 
fala-nos de uma discussão, entre todos os apóstolos, para se saber qual 
era o maior entre eles. Esse não era um sentimento apenas dos filhos de 
Zebedeu, mas havia uma disputa interna, na qual o Senhor sempre os 
repreendia, a fim de entenderem a verdadeira mensagem de que, assim como
 ele, sendo Deus fez-se homem para ajuntar para si um povo, 
humilhando-se na cruz, o maior seria o menor e o menor seria o maior. 
Diferentemente da forma como as coisas se conduzem no mundo, um mundo 
caído, contaminado e dominado pelo pecado, onde os grandes e poderosos 
exercem autoridade sobre os pequenos e fracos, entre os seus discípulos 
não seria assim; aquele que quiser fazer-se grande ou o primeiro seja o 
que serve. E explica porquê: “o Filho do homem não veio para ser 
servido, mas para servir, e para dar a sua vida em resgate de muitos” 
(v.28). 
Ora, 
se Cristo, sendo o Filho unigênito de Deus, aquele no qual está toda a 
glória e poder e honra e perfeição, veio ao mundo para servir, por que 
os homens cogitariam algum privilégio que não fosse o servir, também? Se
 o Mestre estava a serviço de muitos, o que dizer dos discípulos, cuja 
missão era somente aprender e praticar o ensino ministrado? Desta forma,
 Jesus ensina-lhes o caminho da humildade e da servidão, antagonicamente
 oposto ao caminho trilhado pelo homem natural, onde o poder, a soberba e
 o status de ser servido é o senso comum, um reflexo da condição 
pecaminosa da humanidade de se exaltar e fazer de si mesmo um ídolo 
efêmero, cujos tropeços espelham o estado de queda espiritual no qual 
subsiste. 
Outro exemplo de 
disputas dentro da igreja foi relatado por Paulo em 1 Coríntios 3:3-7. 
Aquela igreja vivia divisões insanas, formando grupos distintos e 
rivais, usando-se da figura de Cristo, Paulo e Apolo para criar uma 
competição onde havia unidade. Paulo e Apolo não eram rivais, mas 
estavam unidos em um só propósito, em uma única missão, levar o 
conhecimento, a palavra e a fé em Cristo para os incrédulos. Cada um tem
 a sua missão, segundo o dom dado por Deus, e não há motivos também de 
vangloria, mas de humilhação, pois nem quem planta ou rega é alguma 
coisa, mas Deus quem dá o crescimento. Uma semente pode ser jogada no 
solo, regada e não brotar. De nada adiantará o trabalho da semeadura e 
de molhar a terra, se ela não germinar, crescer e der frutos. Deus 
utiliza-se da instrumentalização humana para realizar a sua obra, mas a 
obra é dele, não dos instrumentos. Como já disse algumas vezes, somos 
como um bisturi nas mãos de um cirurgião, que pode usar o laser ou outro
 artefato para realizar a operação, enquanto o bisturi, por si mesmo, 
não pode fazer nada. Paulo e Apolo eram instrumentos, assim como João, 
Pedro e tantos outros irmãos foram nas mãos providentes de Deus, e é ele
 quem opera, usando os seus servos. Seremos glorificados? Sim. Por 
nossos méritos? Não. Mas pela graça infinita de Deus, porque ele quer 
partilhar a sua glória conosco, e isso o alegra e o apraz.
CONCLUSÃO:
Pois bem, Paulo, seguindo os passos de Cristo, distribui a honra do seu ministério com todos os seus colaboradores, homens e mulheres, cada um com o seu dom e missão dentro da igreja; cada um como instrumento de Deus na realização da sua obra; cada um cumprindo o propósito estabelecido por ele antes da fundação do mundo; logo, qualquer orgulho, vaidade e, não nos esqueçamos da inveja, são pecados plantados pelo diabo para trazer transtorno, para atrapalhar a missão à qual a igreja foi constituída, para embaralhar os irmãos, fazendo-os tropeçarem em seus próprios pés e caírem. 
 A
 igreja é unidade de propósitos, de ações, visando exclusivamente a 
glória de Deus e a expansão do reino de Cristo. Qualquer outro motivo, 
não importando qual, levando a igreja a divisões, dissensões, disputas e
 rivalidade em seu Corpo, traz em si mesmo a marca do inimigo, da 
carnalidade, do distanciamento e rebeldia a Deus. Há de se ter cuidado, e
 zelar pela unidade do Corpo, pois Cristo, nosso Senhor, morreu e 
derramou o seu sangue por ele. 
SAUDAÇÃO FINAL:
"A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo seja com todos vós. Amém"! 
Notas: 1 - Não fiz uma revisão do texto, portanto, desculpem se houver algum erro ortográfico, de concordância ou de digitação.
 2
 - Há partes tocadas no texto que não puderam ser tocadas na pregação e 
vice-versa. Portanto, sugiro tanto a leitura como a audição do sermão.