· Pedro, na véspera da sua morte, era guardado por 16 soldados, sendo dois deles atados aos seus braços.
· Ainda assim, Pedro dormia.
· Porque confiava no Senhor.
· Tinha a sua vida entregue no altar do Senhor.
· Confiando que, se fosse liberto, o seria por Deus. Se não fosse, morreria para a glória de Deus.
· A vontade divina, seu poder onipotente e amor infinito, estavam diante de Pedro, como algo perfeito, bom e agradável, pela qual ele era instrumento de Deus, tanto na vida como na morte.
· Como aquele hino ouvido na Congregação Reformada do Bairro Bonsucesso, no domingo, “Deus é Deus”, revela-nos uma grande verdade:
“Dele vêm o sim e o amém
Somente dele e mais ninguém
A Deus seja o louvor
Se Deus fizer, Ele é Deus
Se não fizer, Ele é Deus
Se a porta abrir, Ele é Deus
Mas se fechar, continua sendo Deus
Se a doença vier, Ele é Deus
Se curado eu for, Ele é Deus
Se tudo der certo, Ele é Deus
Mas se não der, continua sendo Deus
Minha fé não está firmada
Nas coisas que podes fazer
Eu aprendi a Te adorar pelo que és”
· Deus é Deus! Não importa o que eu pense, no que eu creia, independente do que eu ache, do meu desejo ou frustração, Deus continua sendo Deus. Porque ele é muito antes de eu ganhar vida, ele é muito antes de eu sequer pensar nele a primeira vez. Ele continua Deus, e jamais cairá de sua condição divina.
· Ele não tem de satisfazer os meus desejos e anseios como se fosse um gênio da lâmpada. Se o fizesse, não seria Deus. Ele cumprirá exata e precisamente tudo aquilo que planejou na eternidade, colocando em ação a sua vontade.
· Ele não depende de ninguém, porque é autossuficiente em si mesmo; e a sua glória não pode ser dividida com ninguém. Ele continua, e sempre será, Deus!
· Certa vez, uma irmã, de uma igreja que defende a teologia da prosperidade, teve um baque muito grande. Sua filha, que estava de viagem com o noivo, envolveu-se em um acidente automobilístico, no qual o noivo morreu, e a filha esteve entre a vida e a morte, por semanas, no hospital. Ela me contou o ocorrido, o que me compungiu o coração, mesmo eu sabendo, por meio dela, que a filha já estava em recuperação e não corria mais risco de vida.
Durante o seu relato, ela me disse que exigiu de Deus a vida da filha. Não aceitaria que ela lhe fosse tirada. E assim o fez por dias, exigindo e ordenando que Deus satisfizesse a sua vontade.
Bem, aquilo me incomodou muito (e sobretudo a forma como ela o disse; de maneira imperiosa, determinada). Como as pessoas podiam se aproximar do trono do Altíssimo e exigir algo dele? Ainda mais de uma maneira belicosa, ingrata e mal-educada? Como se ele fosse um simples serviçal?
Acontece que Deus é Deus, e não será a satisfação ou não dos meus caprichos que lhe tirarão a honra e glória que somente ele merece.
· Fiquei imaginando se, por acaso, a filha daquela mulher falecesse... O que ele faria? Praguejaria? Se revoltaria? Acusaria a Deus?
· Pois bem, Pedro, na prisão, e sendo ele apóstolo, poderia reivindicar para si alguns benefícios divinos. Mais do que ninguém, ele poderia exigir de Deus a sua pronta liberdade.
· Mas este hino, também, além de revelar a natureza divina, revela e simplifica o sentimento de Pedro na cadeia, em Jerusalém. Ele descansava no Senhor, não pelo que pudesse lhe acontecer, segundo a visão humana triunfalista, ou pela descrença, mas pelo que Deus é.
· Acontece que a segurança dele não estava na certeza de ser liberto, de poder escapar dali, mas em Deus que faria conforme a sua santa vontade, usando-o para a sua glória.
· E Pedro buscava a glória de Deus.
· Penso mesmo, que Pedro considerava mais provavelmente a sua execução, e a libertação como algo menos provável. Mas é uma conjectura, já que o texto não nos dá margem para pensar nisso ou naquilo que ele não diz.
PEDRO ENTRE O SONO E O DESPERTAR:
· Pedro estava preso, e recusou-se a negar a sua fé. Não é um contraste com o antigo Pedro? Que durante a prisão, e julgamento do Senhor, negou-o três vezes?
· Marcos 14.26-31:
“E, tendo cantado o hino, saíram para o Monte das Oliveiras.
E disse-lhes Jesus: Todos vós esta noite vos escandalizareis em mim; porque está escrito: Ferirei o pastor, e as ovelhas se dispersarão.
Mas, depois que eu houver ressuscitado, irei adiante de vós para a Galiléia.
E disse-lhe Pedro: Ainda que todos se escandalizem, nunca, porém, eu.
E disse-lhe Jesus: Em verdade te digo que hoje, nesta noite, antes que o galo cante duas vezes, três vezes me negarás.
Mas ele disse com mais veemência: Ainda que me seja necessário morrer
contigo, de modo nenhum te negarei. E da mesma maneira diziam todos também...”
Escandalizar = O sentido no texto é de vergonha; não querer ser associado a Cristo. Resultado do orgulho e amor-próprio, que impede o amor ao próximo, o sacrifício. O exemplo de Cristo foi amar mais o Pai e a igreja do que a si mesmo. Se ele amasse a si mais do que o Pai e os eleitos, jamais teria se entregado por favor de nós.
· Pedro estava convicto e certo da sua lealdade ao Senhor. Ele afirmou-o de forma enfática, assim como os demais apóstolos. Havia uma firme convicção e confiança em suas capacidades: coragem, destemor.
· Pedro depositava em si mesmo uma força e valor que não tinha.
· Ele também não entendia o real propósito de tudo aquilo. Como um homem forte, um pescador, afeito a todos os tipos de dificuldades, ele acreditava que passaria tranquilamente por aquela situação sem fraquejar.
· Pedro estava orgulhoso de si mesmo. Da sua capacidade de resistir. E, se dependesse dela, seria a sua completa ruina.
· Paulo, anos depois, nos alertaria:
“Assim, aquele que julga estar firme, cuide-se para que não caia” [1 Co 10.12]
· Podemos ver, alguns versículos à frente, qual foi a reação, o comportamento de Pedro.
· Cristo após a última ceia com os seus discípulos, foi para o Monte das Oliveiras orar, e ali foi preso. Levado ao Sinédrio, Pedro o seguiu, ao longe. Então, foi abordado por uma mulher.
· Marcos 14.66-72:
“E, estando Pedro embaixo, no átrio, chegou uma das criadas do sumo sacerdote;
E, vendo a Pedro, que se estava aquentando, olhou para ele, e disse: Tu também estavas com Jesus, o Nazareno.
Mas ele negou-o, dizendo: Não o conheço, nem sei o que dizes. E saiu fora ao alpendre, e o galo cantou.
E a criada, vendo-o outra vez, começou a dizer aos que ali estavam: Este é um dos tais.
Mas ele o negou outra vez. E pouco depois os que ali estavam disseram outra vez a Pedro: Verdadeiramente tu és um deles, porque és também galileu, e tua fala é semelhante.
E ele começou a praguejar, e a jurar: Não conheço esse homem de quem falais.
E o galo cantou segunda vez. E Pedro lembrou-se da palavra que Jesus lhe tinha dito: Antes que o galo cante duas vezes, três vezes me negarás. E, retirando-se dali, chorou.”
· Quando criança, na época da Páscoa, essa passagem era sempre lida, na missa. Eu me indignava com o apóstolo, pensando: “Por que Pedro negou o Senhor Jesus?”. E eu o considerava fraco, pois dizia para mim mesmo, que se estivesse no lugar de Pedro, jamais o negaria. Ou seja, agi como Pedro agiu, insuflado no meu orgulho, ainda que fosse um orgulho infantil.
· Esse sentimento perdurou até a minha conversão, e mesmo depois dela, eu tinha em mente que Pedro era um “bufão”, um fanfarrão, um contador de vantagens. Hoje, porém, tenho que Pedro era apenas humano, muito envaidecido consigo mesmo, muito senhor de si, mas humano, e desesperadamente carente da graça e misericórdia divina, assim como eu e você somos.
· Agora, na prisão, prestes a morrer, quão diferente era agora aquele homem? Pedro não era o mesmo. Não temia. Não se envergonhava. Se negava a rejeitar o seu Senhor.
· Um pouco antes, de ser encarcerado por Herodes, ele passara pela mesma situação, de prisão, de ter a vida em jogo. Deus o estava preparando para muitas e muitas perseguições e ameaças que viriam em seu ministério.
Atos 5.14-25 diz:
“E a multidão dos que criam no Senhor, tanto homens como mulheres, crescia cada vez mais.
De sorte que transportavam os enfermos para as ruas, e os punham em leitos e em camilhas para que ao menos a sombra de Pedro, quando este passasse, cobrisse alguns deles.
E até das cidades circunvizinhas concorria muita gente a Jerusalém, conduzindo enfermos e atormentados de espíritos imundos; os quais eram todos curados.
E, levantando-se o sumo sacerdote, e todos os que estavam com ele (e eram eles da seita dos saduceus), encheram-se de inveja,
E lançaram mão dos apóstolos, e os puseram na prisão pública.
Mas de noite um anjo do Senhor abriu as portas da prisão e, tirando-os para fora, disse:
Ide e apresentai-vos no templo, e dizei ao povo todas as palavras desta vida.
E, ouvindo eles isto, entraram de manhã cedo no templo, e ensinavam. Chegando, porém, o sumo sacerdote e os que estavam com ele, convocaram o conselho, e a todos os anciãos dos filhos de Israel, e enviaram ao cárcere, para que de lá os trouxessem.
Mas, tendo lá ido os servidores, não os acharam na prisão e, voltando, lho anunciaram,
Dizendo: Achamos realmente o cárcere fechado, com toda a segurança, e os guardas, que estavam fora, diante das portas; mas, quando abrimos, ninguém achamos dentro.
Então o sumo sacerdote, o capitão do templo e os chefes dos sacerdotes, ouvindo estas palavras, estavam perplexos acerca deles e do que viria a ser aquilo.
E, chegando um, anunciou-lhes, dizendo: Eis que os homens que encerrastes na prisão estão no templo e ensinam ao povo.”
· Ele estava disposto a tudo por amor daquele que o amou antes da fundação do mundo, e o resgatara das trevas para a luz, da morte para vida.
· Estava pronto a morrer por Cristo. E nem mesmo a iminência da morte o perturbava, ao ponto dele dormir.
O NOVO PEDRO:
· Voltando ao texto de hoje:
“E quando Herodes estava para o fazer comparecer, nessa mesma noite estava Pedro dormindo entre dois soldados, ligado com duas cadeias, e os guardas diante da porta guardavam a prisão.
E eis que sobreveio o anjo do Senhor, e resplandeceu uma luz na prisão; e, tocando a Pedro na ilharga, o despertou, dizendo: Levanta-te depressa. E caíram-lhe das mãos as cadeias.
E disse-lhe o anjo: Cinge-te, e ata as tuas alparcas. E ele assim o fez. Disse-lhe mais: Lança às costas a tua capa, e segue-me!”
· E o sono de Pedro era profundo.
· Nem mesmo a luz ofuscante e resplandecente, irradiada pelo anjo do Senhor, foi capaz de acordá-lo.
· É notório notar que quando estamos aflitos, preocupados, inseguros, a dificuldade de dormir se torna quase impossível. Se existe o sono, ele é tumultuado, intermitente, quase uma vigília.
· Alguém pode dizer: “Mas Pedro estava tranquilo porque já havia passado por situação semelhante, e Deus mandou um anjo para libertá-lo. A segurança dele estava no fato de ter sido salvo uma vez, e ele esperava que Deus o salvasse novamente”.
· Acontece que Tiago também estava entre aqueles que foram salvos da primeira vez, e agora, enquanto Pedro estava preso, ele já não mais existia neste mundo, pois estava morto.
· Se podemos deduzir algo, o certo era que Pedro talvez pensasse muito mais na morte avizinhando-se do que a libertação.
· Seja como for, ele dormia, indicando não haver nele ansiedade quanto a uma coisa ou outra, quanto à morte ou a vida. Ele estava seguro no Senhor!
· Ecoava no seu coração as palavras de Cristo, das quais ele fora testemunha:
Mateus 6.25, 31-34:
“Por isso vos digo: Não andeis cuidadosos quanto à vossa vida, pelo que haveis de comer ou pelo que haveis de beber; nem quanto ao vosso corpo, pelo que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o mantimento, e o corpo mais do que o vestuário?... Não andeis, pois, inquietos, dizendo: Que comeremos, ou que beberemos, ou com que nos vestiremos? Porque todas estas coisas os gentios procuram. Decerto vosso Pai celestial bem sabe que necessitais de todas estas coisas;
Mas, buscai primeiro o reino de Deus, e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas.
Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã, porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal.”
· Pedro experimentava, e era ensinado pelo Senhor, a esperar somente nele, na certeza do cuidado, favor e misericórdia divina. Aquelas palavras de Cristo faziam parte, agora, da sua vida: ele buscaria primeiro o Reino de Deus, e era o que fazia, como apóstolo, levando o evangelho aos perdidos, aos inimigos de Deus.
· Ele buscava a justiça divina. Cristo As preocupações, quanto às coisas da vida, revelam a pouca confiança que temos em Deus; demonstra o quão inseguro estamos quanto ao seu cuidado; e de que desconfiamos ser ele capaz de suprir nossas necessidades, e preservar-nos, mesmo nas vicissitudes da vida.
· Pedro demonstrou ter aprendido tudo aquilo que antes havia rejeitado, quando negou o Senhor. Ele havia depositado toda a sua fé em si mesmo, ao dizer que todos podiam se escandalizar de Jesus, mas nunca ele se escandalizaria.
· A confiança de Pedro, em si mesmo, e posta no lugar errado, precisava ser revelada com algo frágil e inútil. Ele precisava coloca-la no lugar certo, na medida certa, na pessoa certa: Cristo!
· E é isso que ele faz. Ao invés de postular-se um “super-homem”, reconhece a sua fragilidade e dependência necessária do Senhor, reconhecendo nele, apenas nele, o Senhor da sua vida, mas também a rocha na qual ele estaria firmado.
Em João 21.15-22:
“E, depois de terem jantado, disse Jesus a Simão Pedro: Simão, filho de Jonas, amas-me mais do que estes? E ele respondeu: Sim, Senhor, tu sabes que te amo. Disse-lhe: Apascenta os meus cordeiros. Tornou a dizer-lhe segunda vez: Simão, filho de Jonas, amas-me? Disse-lhe: Sim, Senhor, tu sabes que te amo. Disse-lhe: Apascenta as minhas ovelhas.
Disse-lhe terceira vez: Simão, filho de Jonas, amas-me? Simão entristeceu-se por lhe ter dito terceira vez: Amas-me? E disse-lhe: Senhor, tu sabes tudo; tu sabes que eu te amo. Jesus disse-lhe: Apascenta as minhas ovelhas.
Na verdade, na verdade te digo que, quando eras mais moço, te cingias a ti mesmo, e andavas por onde querias; mas, quando já fores velho, estenderás as tuas mãos, e outro te cingirá, e te levará para onde tu não queiras.
E disse isto, significando com que morte havia ele de glorificar a Deus. E, dito isto, disse-lhe: Segue-me. E Pedro, voltando-se, viu que o seguia aquele discípulo a quem Jesus amava, e que na ceia se recostara também sobre o seu peito, e que dissera: Senhor, quem é que te há de trair? Vendo Pedro a este, disse a Jesus: Senhor, e deste que será? Disse-lhe Jesus: Se eu quero que ele fique até que eu venha, que te importa a ti? Segue-me tu.”
· E foi o que Pedro fez, seguindo-o, e observando a sua vontade. De forma que, assim como Paulo professou, ele, Pedro, já não vivia mais, mas Cristo vivia nele. E todo o seu serviço não era mais para mostrar-se forte, valente ou intrépido, mas para revelar a glória de Cristo, revelar o evangelho de vida e verdade, promover o reino de Deus, e fazer os perdidos, aqueles que buscavam como ele anteriormente a justiça própria, de que ela somente era possível em Cristo.
CONCLUSÃO:
· O que era a morte? O que era o sacrifício? O que era a vida? Senão viver e morrer por aquele que se fez justiça para que Pedro fosse tornado justo?
· Portanto, por isso, e por causa disso, Pedro dormia. Na certeza de despertar, seja aqui, seja nos céus, para cumprir o propósito divino, e glorifica-lo.
· Esforçando-se na pregação da paz, no auxílio aos necessitados, na evangelização dos perdidos, curando enfermos, expulsando demônios, ou simplesmente recostando-se no chão duro e frio e adormecendo, Pedro desejava satisfazer ao seu Senhor.
· E nós?!! O que queremos e buscamos?
· Ele, o Senhor que se entregou por nós, derrame graça e misericórdia, a fim de podermos, como o apóstolo, viver e morrer para que ele cresça e diminuamos.