2- O comentário ao livro A Soberania Banida pode ser lido em http://kiestoulendo.blogspot.com/2008/05/soberania-banida.html
04 janeiro 2009
NEM UM NEM OUTRO... É POSSÍVEL?
2- O comentário ao livro A Soberania Banida pode ser lido em http://kiestoulendo.blogspot.com/2008/05/soberania-banida.html
01 janeiro 2009
FATAL
Por Jorge Fernandes
Gravemente pecou;
Chorou as lágrimas solitárias na noite inimiga,
A festa era porta fechada onde habitava a aflição,
E os suspiros desolados do errante repousavam nos caminhos tortuosos e devastados,
Onde o socorro não alcança, onde o fim não é lembrado.
As mãos folheavam o álbum, os retratos de tempos antigos,
O papel exaurido e as cores desbotadas pareciam zombar da ruína em que se tornou.
Gravemente pecou;
O pão, a nudez, o ouro no pescoço, a beldade, eram o troco da alma declinada,
Os ossos esmagados, a carne enfermada não podia mais comprar,
Nem mesmo adubar a grama, nem afastar a cerca ao redor.
A armadilha presa aos pés, avalanche sobre a cabeça,
Velhos mortos desatavam águas dos olhos, jovens convocavam a derrota na última batalha,
Vestir-se de trapos enquanto as luzes expiravam sorrateiras,
E a treva revolvia as entranhas como o fogo consome a lenha úmida.
Gravemente pecou;
A semente rejeitou a terra,
Mães arrastaram filhos pelas ruas,
A boca cuspiu fora os dentes,
No assobio, cabeças meneadas chocaram-se com muros,
E não se podia escapar da última palavra: a loucura não sara.
Multiplicou-se a ira de Deus,
Deu solenes gritos ao ver o lugar destruir-se,
Gemeu diante do esforço vão de quebrar os grilhões,
Devorou o dia pensando na noite, entrou por onde jamais sairia,
Guiou-se como alvo às flechas, fez um prato fundo de areia e lodo,
Escondeu os ouvidos da sinfonia como se esmigalhasse o único troféu.
Gravemente pecou;
A vida pulverizada como metal limado,
Esperar razão quando sobrevêm amarguras,
Põe a língua no pó, persiga as nuvens no céu,
Não se deixe fugir da morte, e ponha-a a salvo depressa,
Pois o castigo espreita, prestes a abater a caça implacavelmente.
Polir o lixo, a culpa não pode ser aplacada com uma desculpa.
Gravemente pecou;
Desviou-se, fugiu, andou lentamente erradio, perseguiu ciladas,
A pele presa aos ossos como cão vadio, sem dono,
Foi-lhe posto o último fôlego, o negrume a vaguear como cego tocando o vazio,
Debaixo da sombra viu covas enfileiradas, nunca mais se morará ali,
Serviu-se o alimento, e água suficiente para acabar com a sede,
Porém, contaminado pelos seus pecados, cumpridos os seus dias,
Consumiu-se no fim como a descobrir uma recompensa... que não chegou.
Gravemente pecou.
26 dezembro 2008
O HOMEM É UM FANTOCHE?
Por Jorge Fernandes
Não, o homem não é um fantoche de Deus, mas se fosse, não haveria problema algum; de certa forma até seria preferível, pois assim a certeza de agradá-lO estaria assegurada em 100%. Igualmente, não há capacidade no homem de escolher entre o bem e o mal sem que Deus o regenere, transformando a sua natureza caída, e “assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo” (2Co 5.7). Como está escrito em Ezequiel 36.26: “E dar-vos-ei um coração novo, e porei dentro de vós um espírito novo; e tirarei da vossa carne o coração de pedra, e vos darei um coração de carne”; portanto, se Deus não transformar o coração de pedra em carne, ele continuará e sempre será um coração impossível de reconhecer que o bem é tudo o que procede de Deus. O homem é pecador porque quer, a sua natureza assim o quer, e será santo somente se Deus quiser. Sem o novo-nascimento, sem a transformação que somente Ele opera no ímpio, nada de salvação nem santidade; permanece-se morto em delitos e pecados.
A eleição e predestinação é a realidade da escolha de Deus e não a realidade do homem, pois esse homem, realmente, escolherá sempre pecar. O problema é que, visto alguns serem aparentemente boas pessoas (não furtam, mentem, difamam, falam palavrões, se prostituem... ajudam ao próximo, fazem caridades, como os espíritas e filantropos), isso nos leva a crer que foram capazes de escolher o bem. Porém, qualquer coisa que não seja para a glória de Deus é pecado, mesmo as aparentes boas ações (já que provêm unicamente do esforço próprio, com o objetivo de se alcançar uma vantagem pessoal, um prêmio), mas quando fizer algo, não faça “para serem vistos pelos homens. Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão” (Mt 6.5).
Engana-se quem acha que eles escolheram ser bons. Essa bondade foi controlada e decretada eternamente pelo Senhor, e assim o homem permanece indesculpável diante dEle, impossibilitado de reivindicar qualquer mérito por algo que Deus produziu e forjou nele. Por isso, Cristo diz àqueles que não o confessam como Salvador: “se não crerdes que EU SOU, morrereis em vossos pecados” (Jo 8.24)... mesmo não fazendo o mal, mesmo fazendo o bem. O pecado é algo muito diferente de atitudes boas e más. O pecado afronta a Deus, é rebeldia, inimizade para com Ele, é não admiti-lO como Senhor; e não será a doação de alimentos, atravessar velhinhas na rua, ou adotar uma criança abandonada que o aproximará. O erro está em não professar como verdadeira a obra expiatória de Cristo, o Seu sacrifício na cruz do Calvário para a remissão dos pecados; sem Jesus, nada feito! Ser bom (o que não implica em santidade; e todo aquele que se aproxima do Todo-Poderoso tem de ser santo), envolver-se em causas humanitárias, ou ser um religioso praticante, não é o passaporte para a vida eterna. É necessário muito mais do que isso...
Primeiro, ser um eleito de Deus, porque não é o homem quem escolhe, mas Ele. Segundo, Deus operará no homem, pelo poder do Espírito Santo, o novo-nascimento, e o converterá infalivelmente, tornando-o nova criatura em Cristo, o qual será Senhor e Salvador, por Sua obra completamente consumada na cruz. Isso é graça, algo imerecido, mas recebido porque Deus quis dá-la, e torná-lo filho adotivo, co-herdeiro de Cristo. Isso é misericórdia, pois, apesar de merecer a condenação no Inferno, poupou e absolveu-o do castigo eterno. Terceiro, com a mente de Jesus, é-se atraído a Ele, à Sua oferta de sacrifício, ao Seu perdão, ao arrepender-se dos pecados, a lamentar a vida dissoluta e bárbara em que esteve, a entristecer-se por have-lO desprezado.
Portanto, com a mente corrompida, com a velha natureza, não é possível sujeitar-se ao senhorio de Cristo. Somente quem tem o novo-nascimento é capaz de tê-lO como Senhor, porque é impossível ao homem resistir às maravilhas de Deus, tanto a Sua graça, misericórdia, autoridade, poder e amor. É como o caso do filho cativo por seqüestradores, e que vê o pai entrar pela porta de repente, correndo para os seus braços a fim de libertá-lo. Será que o filho o rejeitará? (o exemplo é tosco, e está muito aquém do que Cristo faz). Então, fique tranqüilo, não somos títeres mas filhos escolhidos por Deus a participar da Sua eterna glória; porém, se você não confessou Jesus Cristo como Salvador da sua vida, comece a arrancar os cabelos, porque é impossível ao homem “ir” a Deus sem que Ele opere o desejo, a restauração, e um coração segundo o coração do Seu Filho Amado.
Apesar de que seria melhor tanto para você como eu sermos fantoches, não foi assim que Deus quis; e quem pode questionar os preceitos e decisões do Senhor? Como disse: “agindo eu, quem o impedirá?” (Is 43.13). Cabe-nos obedecê-lO e proclamar o Evangelho da Graça. É dever, mesmo sabendo que a maioria permanecerá cauterizada, condenada, “pois, isto não depende do que quer, nem do que corre, mas de Deus, que se compadece... Logo, pois, compadece-se de quem quer, e endurece a quem quer” (Rm 9.16;18).
Deus é soberano em tudo, seja na salvação ou no homem. E isso é imutável, como o próprio Deus.
19 dezembro 2008
COMENTÁRIO A JOÃO 12.1-11
Maria tomou um arrátel de ungüento de nardo puro, caríssimo, “ungiu os pés de Jesus, e enxugou-lhe os pés com os seus cabelos; e encheu-se a casa do cheiro do ungüento” (v.3). Há uma discussão se Maria era uma prostituta, e mesmo se seria Maria Madalena, conforme parece indicar Lucas 7.37-38 (Creio que as duas passagens são diferentes, e não se referem à mesma pessoa). Não vou entrar no mérito da questão, até porque não é isso o que de mais importante nos é revelado (na verdade, é irrelevante). O fato é que tanto Maria como os outros convivas eram pecadores, independente se seus pecados eram públicos ou secretos. Para Deus não há acepção de pessoas (Rm 2.11), no sentido de que todos somos pecadores e, portanto, não merecemos privilégio especial, “porque todos os que sem lei pecaram, sem lei também perecerão; e todos os que sob a lei pecaram, pela lei serão julgados” (Rm 2.12).
Por outro lado, evidencia-se a hipocrisia dos indignados, os quais esperavam fazer o bem com algo que não lhes pertencia e não lhes custara nada. Em seu estúpido juízo, esperavam a aquiescência do Mestre, mas o que ouviram foi a Sua reprovação, uma ducha de água fria: “Deixai-a; para o dia da minha sepultura guardou isto; porque os pobres sempre os tendes convosco, mas a mim nem sempre me tendes” (v. 7-8)*. Provavelmente, a compaixão deles para com os miseráveis resumia-se em frases de efeito e no imediatismo farisaico de acusar o próximo, senão, porque Jesus diria: “podeis fazer-lhes bem (aos pobres), quando quiserdes” (Mc 14.7)?
11 dezembro 2008
COMENTÁRIO A JOÃO 11.47-57
Por Jorge Fernandes
Após ressuscitar a Lázaro (11.43), converter muitos a Si (11.45) e de, novamente, ser alvo da intriga dos judeus (11.46), Jesus não aparece no conjunto final do capítulo 11. Ouve-se falar dEle, e sabemos que está retirado no deserto junto com os Seus discípulos, na cidade de Efraim (v.54), distante 20 km de Jerusalém; enquanto os fariseus e os sacerdotes maquinavam contra a Sua vida. Mas Ele retornará a Betânia, visto que seis dias antes da páscoa encontrou-se com Lázaro, Marta e Maria numa ceia (12.1-2), e os judeus aguardavam a páscoa para prendê-lO em Jerusalém.
O que salta-nos aos olhos é a campanha perpetrada pelos sacerdotes e fariseus, movida a inveja e ódio, em resposta às obras divinas que o Senhor operou. Pois esses sinais testificavam que Jesus era o Messias, o Filho de Deus, do qual os profetas falaram. Aliás, Cristo denunciava como obras das trevas toda a estrutura religiosa, tradicional e humana do judaísmo, atacando diretamente a hipocrisia dos escribas e fariseus (Mt 23.13.39), ao ponto de considerá-los “serpentes, raças de víboras! Como escapareis da condenação do inferno?” (Mt 23.33). O Senhor pronuncia vários “Ais”, indicando os motivos pelos quais os líderes judeus seriam julgados. Para piorar ainda mais a situação deles, peremptoriamente, Jesus afirmou que alguns gentios seriam os que, no juízo, condená-los-iam pelos seus testemunhos: os ninivitas, “porque se arrependeram com a pregação de Jonas” (Mt 12.41), e a rainha do sul, “porque veio dos confins da terra para ouvir a sabedoria de Salomão. E eis que está aqui quem é maior do que Salomão” (Mt 12.42).
Mateus 12.45 culmina com uma sentença terrível para os judeus, os quais são comparados com uma casa que, desocupada, varrida e adornada, recebe o espírito imundo e “outros sete espíritos piores do que ele e, entrando, habitam ali; e são os últimos atos desse homem piores do que o primeiro. Assim acontecerá também a esta geração má”. Note-se que esta profecia refere-se à morte de Cristo na cruz do Calvário, a qual é obra máxima da maldade humana, tanto nossa como dos judeus, mas para a sua infelicidade, foram eles que a consumaram, matando o Santo e o Justo (At 3.14-15); e assim, esse ato se tornou pior do que os anteriores.
Os sacerdotes e fariseus formaram o conselho de que não há como deter Jesus, porque Ele faz muitos sinais, “se o deixarmos assim, todos crerão nele, e virão os romanos, e tirar-nos-ão o nosso lugar e a nação” (v. 47-48). É evidente a preocupação dos líderes judeus com as suas posições e a possibilidade de perdê-las caso os romanos considerassem Jesus um revolucionário. Ainda que sob o jugo de Roma, eles não tencionavam privar-se do pouco que ainda lhes restava: uma nação escravizada, esfacelada, miserável mas orgulhosa, e que de certa forma pertencia-lhes, ao menos naquilo que os romanos concediam dar-lhes. Por isso Jesus tinha de morrer pois, além de tudo, Ele apontava para a corrupção deles: “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Pois que fechais aos homens o reino dos céus; e nem vós entrais nem deixais entrar aos que estão entrando” (Mt 23.13).
Caifás argumentou que “convém que um homem morra pelo povo, e que não pereça toda a nação” (v.50). Inconscientemente, o sumo sacerdote profetizou que Cristo “devia morrer pela nação. E não somente pela nação, mas também para reunir em um corpo os filhos de Deus que andavam dispersos” (v.51-52). Como o apóstolo João explicitou, o Senhor não morreu por todos, e aqui a nação representa o povo de Deus, tanto judeus como gentios, mas somente aqueles que são membros do corpo de Cristo (a Igreja, o Israel de Deus), pois reunirá os que andavam dispersos. Portanto a morte de Cristo não foi de caráter universal, no sentido de que todos poderiam apropriar-se dela e serem salvos. Ele morreu pelos Seus eleitos espalhados pela terra em todas as épocas, dos quais afirmou: “rogo por eles; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus” (Jo 17.9), e “ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou o não trouxer” (Jo 6.44).
Pedro escrevendo à Igreja de Cristo: “vós sois geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” (1Pe 2.9). Um pouco antes diz: “Eis que ponho em Sião a pedra principal da esquina, eleita e preciosa; e quem nela crer não será confundido... E uma pedra de tropeço e rocha de escândalo, para aqueles que tropeçam na palavra, sendo desobedientes; para o que também foram destinados” (1Pe 2.6;8). Note que a palavra “eleita” no v. 6, relaciona-se com a palavra “destinados” no v. 8, indicando que a “geração eleita, o sacerdócio real, a nacão santa, o povo adquirido” (adquirido tem o significado de comprado pelo sangue de Cristo) foi escolhido por Deus, assim como aqueles que tropeçam na pedra principal “também foram destinados” (aqui no sentido de reservados, designados). Tanto eleitos quanto destinados contém a idéia de determinação antecipada, ou seja, Deus determinou os eleitos, os que seriam o Seu povo adquirido, como determinou os condenados, aqueles que foram destinados ao tropeço, à desobediência.
Da mesma forma, a morte de Cristo na cruz não foi algo acidental, mas igualmente determinado na eternidade, meticulosamente planejado, segundo o perfeito decreto de Deus. Por isso, desde aquele dia, a sentença de morte de Jesus foi promulgada (v.53). E correu entre os judeus a ordem para que, “se alguém soubesse onde ele estava, o denunciasse, para o prenderem” (v. 57), já que todos esperavam que Cristo subisse da região de Efraim para Jerusalém, antes da páscoa, para celebrar os rituais de purificação (v.54-55). Não havia melhor oportunidade de prendê-lo, o que de fato aconteceu pela aleivosia diabólica de Judas Iscariotes; porém, não porque o Senhor estivesse indefeso, pois como disse: “pensas tu que eu não poderia agora orar a meu Pai, e que ele não me daria mais de doze legiões de anjos?” (Mt 26.53); mas porque assim Cristo o quis: “dou a minha vida para tornar a tomá-la. Ninguém ma tira de mim, mas eu de mim mesmo a dou; tenho poder para a dar, e poder para tornar a tomá-la” (Jo 10.17-18).
Na Sua morte, morremos com ele; e na Sua ressurreição, “segundo a sua grande misericórdia, nos gerou de novo para uma viva esperança” (1Pe 1.3):
A vida eterna.
Leia o comentário a João 11.17-46 em http://kalamo.blogspot.com/2008/11/comentrio-joo-1117-46.html e João 11.1-16 em http://kalamo.blogspot.com/2008/11/comentrio-de-joo-111-16.html
05 dezembro 2008
TRAGÉDIA E GRAÇA
Por Jorge Fernandes Isah
A tragédia das chuvas em Santa Catarina deixa-nos perplexos por vários motivos:
1) A morte de centenas de pessoas, e o sofrimento de outras milhares;
2) O prejuízo material, onde famílias perderam tudo o quanto amealharam durante a vida;
01 dezembro 2008
EPÍLOGO
Por Jorge Fernandes
O suor a instilar pelo corpo, a última água a jorrar da fonte seca;
Em breve, haverá apenas a terra árida,
E o sopro do vento gelado a corroer o ânimo combalido em que me arrasta.
Os olhos que me vêem são os mesmos com que vejo,
As peles exalam o cheiro que me pertence,
Os suspiros, o ar derradeiro a inflar os pulmões,
Nem o zunido a ecoar tem o sentido das palavras.
Cabelos brancos a esvoaçar, folhas estorricadas a farfalhar,
Rugas crispadas, fendas no rochedo,
Não há mal que perdure,
Enquanto houver a esperança de que o bem surja e nos alcance.
Ainda a correria desenfreada,
O tempo a escoar, a barragem quebrada,
Num alívio que se esvai,
Há agonia, a carne lavrada,
Nenhum grão a semear.
Ao querer rejeitá-la,
Fui derrotado pelo laço, o nó paralisante,
Faz o sangue jazer inerte em meio às artérias obstruídas,
Cômodo... partilhar o colapso dos sentidos,
O redemoinho em que o delírio forja a imagem de que não sou
Sequer fui, pode ser que seja...
No fundo, enquanto estraçalhado,
Não sinto a dor que me perpassa,
Nem o pavor a consumir,
Há somente o hálito morno a expulsar-me de mim,
Como um exército em retirada,
Sem ter aonde abrigar-se.
Quisera poder chorar,
Rasgar a carne com as unhas,
Cuspir no rosto, amaldiçoar o dia em que nasci,
É tudo o que poderia fazer,
Apesar de nada disso remediar o pecado, e absolver.
Sou um condenado à morte infinita,
A eterna agonia de jamais vê-lO,
E após a iminente sentença, a culpa confirmada,
Quis instar-lhE o perdão, era tarde... impossível...
Os grãos debulhados jamais retornam ao sabugo.
Não havia como resgatar-me.
Em toga, agora era Juiz.
27 novembro 2008
"O CAVALEIRO DAS TREVAS"
Por Jorge Fernandes
1) Assisti ao filme “O Cavaleiro das Trevas” com o meu filho, dias atrás. A direção é do Chris Nolan, um diretor de qualidade, responsável por bons produtos como “Amnésia” e “Insônia”. A partir de “Begins”, ele assumiu a direção da grife criada pelo lendário Bob Kane nos anos 30. Batman é um personagem interessante, conflituoso, e que ainda mantém certa moralidade mesmo nos tempos pós-modernos e relativistas de hoje (o que prova que o homem comum tem no seu íntimo a Lei Moral de Deus).
O filme é permeado por disputas morais e éticas, onde o bem e o mal se digladiam numa luta sem fim. Não vou entrar nos méritos da produção, direção e interpretação. Há pessoas mais qualificadas para isso. Ater-me-ei ao fato que julgo principal no filme, e que Nolan destaca: a fé no homem.
Desde o início existe uma confrontação entre a justiça e a injustiça, entre polícia e bandidos (alguns infiltrados no governo), entre moral e imoral (ainda que os limites da moral estiquem-se para além da moralidade), entre ético e antiético, entre bem e mal. Esse dualismo, se não me engano, remete a Descartes e Locke, mas talvez a algo mais distante: os gnósticos, Aristóteles e Sócrates. O mundo da ficção é assim mesmo, e o dos quadrinhos nem se fala, mas no mundo criado por Deus não há dualismo. O mal não é uma força antagônica a Deus, antes sujeita-se, servindo-O como tudo o mais no universo.
2) Para a indústria do cinema Deus é um espectador. Durante as duas horas e meia do filme Ele está ausente, excluído do mundo, ainda que do mundo fictício. Sobra espaço para a sorte, o acaso, o destino e outros tons místico/fatalistas (o promotor Dent lançando o “cara ou coroa” antes de executar as suas vítimas é um exemplo). No mundo de Gothan onde sobra maldade, delitos e desordem, o homem rejeita Deus, mantendo-se mais e mais distante enquanto afunda-se na destruição. Para o homem pós-moderno o pecado individual não existe, há somente o pecado institucional e coletivo; e a sociedade, desesperadamente, busca um salvador, mas nem Estado nem cidadãos estão aptos. Um super-herói talvez. Mas será ele capaz?
3) Ainda que Gothan City esteja dominada pelo submundo do crime: Máfia, corrupção policial, tumulto social, etc, o inspetor Gordon, o promotor Dent, e o Homem-Morcego, representam o lado “benigno” da raça humana. Eles são os guardiões, os paladinos, nos quais a cidade deposita a sua esperança. Há um tom otimista em meio ao pessimismo, de que no limiar da crueldade os homens poderão redescobrir a bondade esquecida, e buscar em si mesmos o fio de esperança que tornará o mundo um lugar justo e melhor para se viver. Mas o próprio filme encarrega-se de destruir esse paradigma.
4) Batman é o herói anti-herói: incompreendido, rejeitado, acusado (inicialmente as pessoas se fantasiam de Homem-Morcego, e se sentem estimuladas a combater o crime)... e, por fim, culpado. Ele vê todo o seu esforço em manter a paz e a ordem em Gothan culminar num encadeamento de tragédias onde todos os planos redundam, um a um, em estrondosos fracassos (mesmo quando aparentam vitórias). Neste ponto, Batman, Dent, Gordon e Gothan têm o mesmo sentimento: vulnerabilidade; e estão à mercê da insanidade catastrófica do Coringa. O mal toma as suas feições, e parece invencível. Batman e Dent são alçados aos postos de heróis, de salvadores, mas a impressão é de que o mal triunfará; personificado no caos fomentado pelo Coringa, o qual, implacável, derrota cada investida do trio do bem (não há aqui a alusão à Trindade Santa como nos filmes “O Senhor dos Anéis” e “Matrix”).
5) Na seqüência em que o Coringa coloca bombas em dois barcos, um abarrotado de cidadãos fugindo do caos e outro com os prisioneiros mafiosos transportados para fora da cidade; ambos são alvos da ira do vilão. Dois detonadores são colocados nos barcos, e cada um deles tem o poder de destruir o outro barco. O Coringa coloca em xeque a moral ou a amoralidade da população. Trava-se uma luta pela ética: até que ponto tem-se o direito à vida alheia? Deve-se apertar o botão e destruir centenas de vidas a fim de se salvar? Há uma tensão moral, uma disputa na mente das pessoas entre o certo e o errado, e em alguns momentos a indecisão ou covardia parece ser o ponto determinante.
Fico a imaginar se esta cena fosse real. Não haveria uma disputa para se apertar o botão primeiro e mandar aos ares o barco “inimigo”?
O desfecho da cena sugere que a salvação do homem encontra-se no coletivo, na consciência social, e de que ela será capaz e suficiente para resgatá-lo do mal.
6) De certa forma, Batman assemelha-se a Cristo, ainda que seja uma semelhança estética, fragilmente delineada. O filme parece mesmo uma alegoria à Bíblia. Batman é o homem encarregado de redimir o povo de Gothan, assim como Cristo redimiu os Seus eleitos. Batman, ao assumir os crimes cometidos por Dent, torna-se criminoso, sem, contudo, ser condenado. Cristo, ao assumir os pecados dos escolhidos, tornou-se criminoso, pagando o preço com a própria vida, derramando o Seu sangue na cruz do Calvário. Batman era incompreendido pelos cidadãos de Gothan. Apenas Alfred, Lucius, Gordon e o filho, sabiam de sua inocência. Cristo foi rejeitado até por Seus discípulos. Batman foi perseguido. Cristo também, culminando em sua morte expiatória. Batman foi odiado. Cristo, idem.
7) Batman jamais salvará Gothan (ele tem de conviver com os seus pecados, erros, e consciência aflita), por mais altruísta que seja, o super-herói não está disposto a morrer por Gothan, e ela sabe disso: nunca estará livre do mal, do Coringa e do caos, mesmo que Batman se decidisse pelo sacrifício. Cristo não tem pecados, e entregou-se voluntariamente pelos Seus como o único meio pelo qual o homem é salvo. Batman não tem controle sobre si mesmo. Ele simplesmente reage aos fatos. Cristo tem completo controle sobre Si (Jo 10.17); sobre todas as coisas (Jo 1.3), inclusive o pecado, a morte e o mal (Hb 4.15; Rm 6.9; 2Co 5.10).
8) O Cavaleiro das Trevas é uma ficção, como o homem que deseja salvar a si mesmo também vive uma ficção. E olhará para si, e se verá condenado. Assim como Bruce Wayne está confinado ao estigma do morcego, o homem está preso às correntes do pecado, e por si só é impossível livrar-se.
9) Ao contrário, Cristo é o poder real, o único e suficiente salvador do homem: “E em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos” (At 4.12). A realidade irrefutável de que Deus não é um mero espectador e não pode ser alijado do universo (a despeito da vontade e dos esforços sobre-humanos), é que Ele opera a redenção na vida dos eleitos pelo Seu Filho Amado.
10) Cristo é a luz verdadeira, que ilumina a todo o homem, mas o mundo não o conheceu. E como Batman, o homem cavalga nas trevas, rumo à condenação.
21 novembro 2008
COMENTÁRIO A JOÃO 11.17-46
Por Jorge Fernandes Isah
Jesus partiu de além do Jordão para a Judéia; ia de encontro a Marta, Maria e Lázaro. Havia quatro dias que “aquele que tu amas” morrera. Lázaro estava sepultado, e suas irmãs recebiam o consolo de muitos judeus. Marta, ao saber da chegada do Senhor, correu para recebê-lO. Novamente, somos confrontados pela objetividade de Marta.
Marta demonstra uma fé segura ao afirmar que “se tu estivesses aqui, meu irmão não teria morrido” (v.21). Cristo lhe diz que Lázaro ressuscitará. Ela interpreta como sendo a ressurreição eterna, no último dia.
Marta havia dito ao Senhor: “sei que tudo quanto pedires a Deus, Deus to concederá” (v. 22). Ela o relaciona com o v. 21, que se Jesus tivesse chegado antes da morte de Lázaro, ele ainda estaria vivo. Cabe uma reflexão: se Marta cria no poder do Senhor para salvar Lázaro da morte, por que Ele não o ressuscitaria? O que era mais difícil: ressuscitar o corpo corrompido no último dia, ou ressuscitá-lo ali, alguns dias da sua morte quando ainda existia um corpo?
Leia o comentário a João 11.1-16 em http://kalamo.blogspot.com/2008/11/comentrio-de-joo-111-16.html
13 novembro 2008
F1 E A SOBERANIA DE DEUS
Por Jorge Fernandes
O último GP Brasil de Formula 1, trouxe-me a seguinte reflexão:
Diante do final surpreendente da corrida, culminando com Lewis campeão e Felipe quase, como se deu a ação de Deus?
Relembrando: Para o inglês ter o título, era necessário que terminasse em 5º lugar, independente da posição ocupada pelo brasileiro, 2º colocado no Mundial (não se pode esquecer do tempo instável em SP. Durante a prova houve momentos de chuva, o que modificou o desempenho de pilotos e carros). Faltando três voltas para o final, Lewis estava com a taça na mão quando o alemão Sebastian Vettel ultrapassou-o. Hamilton foi deslocado para o sexto lugar, e o Mundial passava às mãos do brasileiro, que ocupou a liderança durante toda a prova. Esta combinação dava:
Massa em 1º lugar;
Hamilton em 6º lugar;
Campeão: Felipe Massa
Quando tudo parecia resolvido, a pouco mais de 500 metros do fim da prova, Vettel e Hamilton ultrapassaram o alemão Timo Glock que ocupava o 4º lugar. Numa reviravolta inesperada, o inglês voltou a ocupar o 5º posto e, após a bandeirada, tornou-se o mais jovem campeão mundial, aos 23 anos e 9 meses. Aconteceu a combinação necessária:
Massa em 1º lugar;
Hamilton em 5º lugar;
Campeão: Lewis Hamilton.
Como fica a soberania de Deus numa prova em que o resultado foi alterado duas vezes, em questão de minutos?
Pode-se analisar o fato de algumas formas:
a) Deus não está nem aí para F1. O que definiu o campeonato foi o trabalho das equipes e dos pilotos.
b) Deus deu a vitória ao inglês.
c) Deus fez Massa perder.
d) A sorte ou acaso foi quem determinou o vencedor.
A Bíblia é clara em afirmar que Deus é soberano. Que tudo está sob o Seu controle, e nada pode escapar-lhE das mãos (Sl 10.14, 24.1, 115.3, 148.5; Rm 13.1; 1Co 10.26): “Bem sei eu que tudo podes, e que nenhum dos teus propósitos pode ser impedido” (Jó 42.2).
Você pode perguntar: o que tem Deus a ver com a F1?
Como soberano, Deus não pode ter controle apenas sobre algumas coisas, como as chuvas, secas, o nascer da erva, o trazer a neve e a geada (Sl 147.8-18), mas sobre tudo, absolutamente tudo: “Não se vendem dois passarinhos por um ceitil? E nenhum deles cairá em terra sem a vontade de vosso Pai. E até mesmo os cabelos da vossa cabeça estão todos contados” (Mt 10.29-30). Portanto, todo o universo está sob o constante olhar do Senhor, e o Seu reino domina sobre tudo (Sl 103.19).
Por que a Fórmula 1 (por mais insignificante que seja) seria deixada ao “acaso” por Ele? Primeiro, porque não existe acaso. Esse é o típico jargão usado por aquele que não quer honrar a Deus, pelo contrário, quer desprezá-lO ou ignorá-lO. O tolo, que não O conhece, esconde-se neste tipo de artifício mental para revelar o que existe em seu coração: completa e total descrença, total e completa rebeldia a Deus.
Segundo, Deus zela por Sua glória, e jamais permitirá que ela seja transferida a quem quer que seja (Is 48.11), ainda que à inexeqüível e improvável sorte: “Eu sou o Senhor; este é o meu nome; a minha glória, pois, a outrem não darei” (Is 42.8). Paulo disse de Deus: “Porque dele e por ele, e para ele, são todas as coisas; glória, pois, a ele eternamente. Amém” (Rm 11.36). Então, não há porque o Senhor negligenciar uma simples disputa numa curva no GP Brasil. Mesmo que jamais houvesse uma corrida em Interlagos, o autódromo seria alvo da soberania de Deus. Ele está ali com um propósito: glorificá-lO!
Mas como Deus pode ser glorificado por uma pista asfaltada?... Voltemos à corrida.
As chances de Lewis ser campeão eram maiores do que as de Massa. Isto é probabilidade matemática. Eram de 5 x 1 a favor do inglês. Alguns dirão que as chances de Massa eram maiores, pois havia vinte carros na prova e Lewis poderia terminar do 6º ao 20º lugar, o que daria a vitória a Felipe se terminasse em 1º, 2º ou 3º lugares, dependendo da colocação do inglês. Hamilton poderia sofrer um acidente (a torcida do Galvão Bueno e seus colegas chegaram à morbidez, ou seria sordidez?), ser desclassificado, ter uma “pane seca”, ou outro incidente que o fizesse abandonar a disputa. Mas, diante da capacidade de Lewis e da Mclaren durante a temporada, era pouco provável que isso acontecesse. Por isso, chega-se à conclusão de que as chances de vitória de Hamilton eram maiores do que as do Felipe; ele dependia apenas de si mesmo e do seu equipamento. Mas havia a chuva, o calor, as trocas de pneus, os reabastecimentos, e toda a parafernália que controlava o carro, que poderia falhar. Além do quê, Lewis poderia sofrer um mal-estar, uma tonteira, vertigem, queda de pressão, afetando o seu desempenho. Se verificarmos, cuidadosamente, são muitas as variantes que interferem no resultado. E pode o “acaso” cuidar de todas ao mesmo tempo? E, aleatoriamente, provocar um resultado que não desejou? Pode a sorte desejar, ou não desejar? Se cremos que pode, fazemo-la o nosso deus!... Porém, diz o Senhor: “Eu sou Deus, e não há outro Deus, não há outro semelhante a mim. Que anuncio o fim desde o princípio, e desde a antiguidade as coisas que ainda não sucederam; que digo: O meu conselho será firme, e farei toda a minha vontade” (Is 46.9-10).
A maioria dirá que o campeonato foi decidido pelo talento, esforço e capacidade do inglês. É verdade. Ele é hábil e treinado para dirigir um F1 como somente os melhores pilotos podem fazê-lo. Este é um talento que Deus lhe deu, a fim de se cumprir a Sua eterna vontade. Provavelmente, se eu treinar a vida inteira e for colocado no cockpit da Ferrari ou Mclaren não dará em nada. Apenas prejuízos para a equipe, para mim mesmo, para os outros pilotos... e o público, que veria um “roda-dura” imbatível (desculpem o trocadilho infame).
Então, é claro que Lewis fez por merecer a vitória. Mas Massa também não mereceria? Ambos não são grandes pilotos, estão em equipes de ponta, cercados da melhor tecnologia e patrocínios disponíveis? Por que a F1 não terminou empatada?... Porque não foi esta a vontade de Deus (Dn 4.35). Ele quis que houvesse um campeão: o inglês Lewis Hamilton. Por quê? Apenas posso responder que essa foi a Sua santa vontade, e que ela aconteceu como Ele havia decretado eternamente (mesmo os vários critérios de desempate presentes no regulamento da competição estão ali segundo o propósito divino). E ao cumprir-se, Ele foi glorificado. Alguém pode dizer: “bem, quem lhe garante que não foi o diabo que deu a vitória ao inglês?”. Eu lhe digo que, ainda assim, a soberania de Deus permanece intocável, pois Satanás é um servo dEle, e não é livre para fazer o que quiser, mas tem a sua vontade subordinada ao Senhor (Jó 1.12; 2.6). Assim como todas as criaturas do universo, justas ou não, puras ou não, servem aos propósitos de Deus. Mesmo que o diabo tenha dado a vitória a Lewis, não o fez sem que a vontade do Senhor estivesse manifesta. Não uma mera constatação, como o pai que após anos tentando fazer do filho um craque de futebol percebe enfim que ele não passa de um perna-de-pau. Algo completamente alheio à sua vontade; que apesar do esforço, do investimento em tempo e dinheiro, vê cair por terra os seus intentos. Deus não é um expectador que se surpreende com o final do filme. Como roteirista e diretor é Ele quem determina como será o final. E nada, nem ninguém, seja eu, você, ou o próprio diabo, poderá frustrá-lO.
Então, ao lembrar-me das vitórias do Airton Sena (quando eu era um descrente), não me aflige mais a antipatia que nutria por ele. Sei que cada pole-position, cada volta rápida, cada pódio e campeonato foram traçados e planejados meticulosamente por Deus, e cumpridos ao seu tempo. Resta-me apenas render-me à Sua soberania, sabendo que “o caminho de Deus é perfeito; a palavra do Senhor é provada; é um escudo para todos os que nele confiam” (Sl 18.30).
Na F1, seja com a vitória do Massa, Lewis, Kubrica, Alonso ou outro piloto, Deus está no controle, tudo foi criado por Ele, Seus propósitos cumprem-se e cumprir-se-ão infalivelmente, e nada foge-lhE ou contraria a vontade. Seja na alegria de uns ou na tristeza de outros, sabeis “que o Senhor é Deus; nenhum outro há senão ele” (Dt 4.35).