
Por Jorge Fernandes Isah
Por Jorge Fernandes
Deus nos fala de muitas formas; e nesta semana, Ele reforçou em meu coração dois conceitos bíblicos. Um sobre a nossa natureza, e outro sobre a Sua divina e perfeita natureza. Lendo o livro "E Agora, Como Viveremos", dos apologetas Charles Colson & Nancy Pearsey (CPAD), deparei-me com a narrativa de um obstetra americano, o Dr. Bernard Nathanson, o qual durante as décadas de 1960 e 1970, supervisionou mais de 60.000 abortos na clínica CRASH em NY (um nome, no mínimo, sugestivo para o local onde Nathason praticou assassinatos, inclusive, dois dos seus próprios filhos). Para ele, os fetos eram seres impessoais, dependentes completamente da vontade de suas "mamães", as quais detinham o"direito" de eliminá-los ou não. Assim, juntamente com grupos feministas e pró-abortos, fomentou a aprovação de leis que permitissem o extermínio em massa de bebês nos EUA.
Em 1973, tornou-se chefe da unidade de perinatologia do St. Luke's Hospital Center, passando a cuidar das mães e dos bebês (embora continuasse a praticar abortos). Sua função era monitorar os fetos eletronicamente, e tratar dos recém-nascidos doentes.
A ultrasonografia, lançada recentemente, era o que de mais moderno havia para se acompanhar o desenvolvimento do feto; e ele assistiu às imagens, pela primeira vez, juntamente com um grupo de residentes reunidos ao redor de uma paciente grávida. Durante o exame, ele percebeu que a sua mente abandonou o termo feto em favor do termo bebê. Tudo o que aprendera na faculdade de medicina fundiu-se às imagens na tela, e impactou a consciência de Nathanson, convencendo-o de que a vida humana existia no ventre desde o começo da gravidez (depois de apenas doze semanas, nenhum novo desenvolvimento anatômico ocorre no bebê; ele simplesmente fica maior e mais capaz de sustentar a vida fora do útero).
Em 1979, finalmente, decidiu não realizar mais abortos, qualquer que fosse a justificativa (ele ainda acreditava que o aborto, em casos especiais, era legítimo). Publicou livros, documentários, e realizou palestras contra o aborto, tornando-se um defensor da vida, o que lhe valeu a inimizade e o desprezo dos seus mais diletos aliados no passado.
Em 1989, após procurar alívio para sua alma em quase tudo: casas maravilhosas, carros da moda, esposas que exibia como se fossem troféus, adegas de vinho, cavalos, livros de auto-ajuda, terapia, drogas e misticismo, ele se converteu a Jesus Cristo [O Dr. Nathanson escreveu: "Eu estava morando com a suserania dos demônios do pecado, obviamente dedicando-me a tudo que estivesse vinculado ao aparente carnaval sem fim dos prazeres, a festa que nunca termina (como os demônios fazem acreditar)"].
Ao ler o seu testemunho, veio-me à mente Efésios 2:1: "E (Deus) vos vivificou, estando vós mortos em ofensas e pecados"; e, novamente, percebi o quão miseráveis e malditos somos, incapazes de nos achegar a Deus, e colaborar com a nossa salvação. Um pecador como Nathanson, como eu, como você, está morto em seus pecados, MORTO! Paulo diz em Efésios 2.3: "Entre os quais todos nós também antes andávamos nos desejos da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos por natureza filhos da ira, como os outros também"; harmonizando-se com as palavras de Cristo: "Por isso vos disse que morrereis em vossos pecados, porque se não crerdes que eu sou, morrereis em vossos pecados" (Jo 8.24). A única recompensa que fazemos jus é ao INFERNO, à punição de sermos condenados eternamente ao lago de fogo.
Mas aprouve a Deus, pela Sua graça, amor e misericórdia, nos resgatar das garras do maligno, e nos transportar para o Seu Reino de glória. Ele diz: "Eu, eu mesmo, sou o que apago as tuas transgressões por amor de mim, e dos teus pecados não me lembro" (Is 43.25); e ainda: "Porque isto é o meu sangue, o sangue do novo testamento, que é derramado por muitos, para remissão dos pecados" (Mt 26.28); enquanto Paulo conclui: "Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie" (Ef 2.8-9).
Portanto, a cada dia, devemos nos convencer da nossa condição amoral, pecadora e dissoluta diante do Deus Santo; e reconhecer que, ainda assim, Ele nos derrama a Sua graça, perdoando-nos, redimindo-nos, limpando-nos, regenerando-nos, tenha eu matado milhares de bebês indefesos ou não, pois, todos carecemos da salvação que somente há em Cristo Jesus nosso Senhor: "Ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que sejam vermelhos como o carmesim, se tornarão como a branca lã" (Is 1.18).
Que a salvação dada pelo Senhor Jesus Cristo, a qual não temos mérito algum, o faça exultar, glorificando a Deus por tê-lo elegido antes da fundação do mundo (Ef. 1.4), assim como fez ao Dr. Nathanson.
Somente Ele é capaz de transformar um assassino em santo, pois, "isto não depende do que quer, nem do que corre, mas de Deus, que se compadece" (Rm 9.16).
Texto escrito em 05/01/2008, publicado no extinto periódico "O Enviado".
Por Jorge Fernandes
Como adepto do existencialismo, vivi três meses de completa rejeição à idéia de Deus. Lá pelos meus dezenove anos, após “desviar-me” da igreja batista à qual era membro desde os dezesseis, vi-me seduzido pelo mundo, pela liberdade do mundo (livre para a devassidão), pela imoralidade, e o prazer carnal que ela trazia. A idéia de Deus que eu ouvira nas pregações, leituras bíblicas, e do testemunho de crentes fiéis não podia conviver com o meu novo estilo de vida, portanto, a primeira coisa a fazer era “matar” Deus, para não ter a consciência afligida, nem ninguém a cobrá-la.
E o que no princípio tornou-se uma festança, esbaldando-me em cada esquina, leviana e dissolutamente, foi dando lugar à dor, ao vazio e a desesperança. A mente, ao insurgir-se contra Deus, somente é capaz de ferir-se... desiludida, confusa, colide-se com o natural, e não é capaz de encontrar alívio em mais nada, apenas na própria dor. A mente flagela-se, dilacera-se, esmaga-se, não se aceita; incapaz de curvar-se, engendra saltos ainda mais profundos, e o que lhe resta é a própria autodestruição. O suicídio torna-se o alívio derradeiro: a suprema escolha ilógica do indivíduo, porque viver é por demais desalentador, é um esforço sobre-humano.
Como não há verdade objetiva nem absoluta, o existencialista sofre, angustia-se, revolve-se na existência frouxa da paixão, que, maquinalmente, o mergulha no poço da incerteza, ou na fuga à nulidade, à completa ignorância de si mesmo, do seu semelhante e do mundo.
Via-me como os personagens dos desenhos Looney Tunes que, invariavelmente, precipitavam-se no abismo ao serem perseguidos ou ao perseguirem alguém. Sequer percebiam o chão fugir-lhes sob os pés, e quando davam por si, estavam em queda-livre, de encontro à realidade, dura como o chão era para o Coiote, e quebravam a cara. A perseguição do Coiote ao ingênuo mas rápido Bip-Bip era irreal. Porém, o existencialismo despreza os outros, ridicularizá-os, ri-se deles enquanto chora convulsivamente diante do espelho... sem esperança... é patético.
Mesmo envolto em trevas, não me foi possível suportar o ateísmo [também os demônios crêem que há um só Deus, e estremecem (Tg 2.19)]. Porém, eu não queria abrir mão da imoralidade, da pretensa liberdade que me levava, única e exclusivamente, ao pecado, e a sugestionar e induzir outros incautos ao pecado [alguns nem tão incautos... outros, apenas a esperar um empurrãozinho]. Então, adeqüei-me ao deísmo, a idéia de que Deus não estava nem aí para a sua criação; como afirmei tolamente inúmeras vezes: “Deus fica no céu, e eu aqui! Ele não me incomoda, eu não mexo com Ele!”. Era o cúmulo da arrogância, da blasfêmia, da rebeldia contra Deus. Era a minha natureza caída opondo-se desavergonhadamente a Ele... Menos de um ano após a minha saída da igreja, eu acreditava em um deus impessoal, não cria no diabo, nem no inferno, e sentia-me confortado em saber que, no fim das contas, esse deus salvaria a todos, não condenaria ninguém, e que haveria um paraíso, mesmo eu sendo o que era, fazendo o que fazia. Mas esse aparente conforto não trouxe paz, porque a verdadeira paz, a paz interior, somente Cristo é capaz de propiciá-la [Jo 14.27]. Pelo contrário, quanto mais eu tentava fugir da idéia da morte, mais era atacado por ela, e as noites só eram possíveis após doses cavalares de álcool. De certa forma, mantinha-me anestesiado à noite, e anestesiava-me durante o dia, na espera da tarde chegar, e poder enfim embriagar-me novamente.
O que ficou claro nesses vinte anos, é que a aparente trégua entre mim e Deus não me trouxe tranqüilidade. Ao manter a distância, afastando-me mais e mais d’Ele, sobreveio-me uma dor crônica, infligindo-me tormentos, abrindo feridas que não foram curadas, mesmo com todos os paliativos filosóficos, estéticos e sentimentais administrados. Coube-me buscá-los, aplicá-los, desfrutar de momentâneo alento, e rejeitá-los por sua ineficiência... são quando as frustrações tornam o viver um flagelo, algo insuportável. O tempo passa, os métodos também, e ao olhar-se para si mesmo, vê-se apenas o fracasso. Então, a morte que fustigava, revela-se como a amiga mais próxima, aquela que nos revelará exatamente o que somos, da maneira mais temível, dura e impiedosa: “és pó e em pó te tornarás” [Gn 3.19]. Segue-se a loucura as vezes, a apatia as vezes, a irresponsabilidade, ou a negação outras vezes... como se possível fosse abandonar a vida, apagá-la completamente, como se jamais tivesse existido.
Então, quando tudo parecia perdido, Deus, do qual mantínhamos uma grande distância, encurta-a, aproximando-nos d’Ele. Não há como explicar... Imediatamente, somos içados do fundo do abismo. Instantaneamente, toda a treva se faz luz; toda tormenta se torna em bonança; toda aflição se torna em alegria... uma alegria inconcebível e surpreendente, tão magnífica que nos lança ao chão, e de joelhos, choramos o arrependimento pela rebeldia, pela afronta à santidade de Deus, clamando pelo Seu perdão. Cristo, o justo que morreu pelos injustos, para levar-nos a Deus [1Pe 3.18], é a fonte de toda essa transformação. Num átimo, sabemos o que somos; sabemos quem é Deus, e o que Ele começa a promover em nós pelo poder regenerador do Espírito Santo: antes mortos, agora vivos! Antes, andando segundo o curso deste mundo, em ofensas e pecados, éramos filhos da desobediência [Ef 2.2]; agora, pela misericórdia de Deus, pelo Seu muito amor com que nos amou, deu-nos vida em Cristo nosso Senhor [Ef 2.4-5]. Antes, fazendo a vontade da carne, na imoralidade (porque todo ato que não glorifica a Deus é pecado), éramos filhos da ira; agora, ao recebermos a Cristo, crendo no Seu santo nome, pelo Seu poder, somos feitos filhos de Deus, “os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus” [Jo 1.12-13]. É indizível... e resta-nos somente quedar admirados, e render-nos gratos diante da intervenção pródiga que nos libertou dos laços da morte, fruto da graça e misericórdia do nosso Senhor, pois éramos arredios e andávamos dispersos, e Cristo nos reuniu em um só corpo, como filhos de Deus [Jo 11.52].
Então, a nossa mente rebelde, que em toda altivez se levantava contra o conhecimento de Deus, pelo Seu poder, foi levada cativa à obediência de Cristo [2Co 10.5], o qual levou cativo o cativeiro, para que Deus habitasse entre nós [Sl 68.18]. Porque somos novas criaturas, “as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo” [2Co 5.17]... Sonho? Delírio?... Não! Mas fé! Não uma fé humana, claudicante, flutuante, como “nuvens levadas pela força do vento, para os quais a escuridão das trevas eternamente se reserva” [2Pe 2.17]. Não. É uma fé viva, sobrenatural, que provém de Deus, sendo Sua doação a nós [Ef 2.8]; pois, “a graça de nosso Senhor superabundou com a fé e amor que há em Jesus Cristo. Esta é uma palavra fiel, e digna de toda a aceitação, que Cristo Jesus veio ao mundo, para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal” [1Tm 1.14-45].
A morte já não exerce mais o seu domínio, pois passamos da morte para vida, pela vida que Cristo nos deu na Sua morte.
Por Jorge Fernandes
Frio,
Pés em modorra,
O silêncio,
A contemplar as pás girar.
Latido,
Revolve as tripas,
O sentido,
A latejar as pontas dos dedos.
Risco,
Lança-se ao desperdício,
O sonido,
A empilhar calafrios.
Rude,
Fustiga a pedra solta,
O sólido,
A fragmentar-se no moedor.
Freio,
Pedágio em terra estéril,
O sino,
A roer o osso.
Livre,
Rende-se à dor infinita,
O sono,
A fatigar em penas.
Inferno,
Não é apenas o torpor dos delírios.
Por Jorge Fernandes
O rótulo é algo inevitável para o homem que precisa se identificar e identificar aos outros, sendo muito mais uma definição estética que moral. E entre os evangélicos há tantos dísticos que ficamos perdidos; muitos deles apenas estéticos, e alguns nem tão morais. Por exemplo, a questão da salvação é algo moralmente distorcida em nossos dias. Prega-se que o homem pode "aceitar" a Cristo, e o mesmo que O aceitou pode"rejeita"-lO, como se fosse o escolher brócolis no almoço e filé no jantar. Não se pode tratar Deus como um tubérculo ou leguminosa acomodados no freezer, o qual retira-se e coloca-se quando e onde quiser. Jesus disse: “Não me escolhestes vós a mim, mas eu vos escolhi a vós” [Jo 15.16].
A causa de muitas profissões de fé falsas é a idéia errada de que posso aceitar e depois rejeitar a Cristo, e mais à frente aceita-lO novamente, e caso não queira mais, desprezá-lO quantas vezes quiser até que venha a “recebe”-lO, se houver tempo. Não é algo definitivo, nem mesmo é uma hipótese de definição, é efêmero e vacilante, podendo suceder-se por inúmeras vezes. Esse tipo de salvação é moralmente bíblico? Ele pertence à categoria do nascer de novo ao qual o Senhor Jesus afirmou ser necessário para se ver o reino de Deus? [Jo 3.3].
Ao depender de mim, da minha vontade e, especialmente, dos "métodos" para se"convencer" alguém de que uma vida com Cristo é o melhor, a minha salvação seria moral? Como pode um homem caído, separado de Deus em seus pecados ser moralmente apto para se reconciliar com o Senhor santo e justo? “Ora, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente” [1Co 2.14].
Ao aceitá-lO, sou o agente moral, e, portanto, habilitado a estabelecer a comunhão com o Todo-Poderoso, o qual é passivo, dependente da minha vontade? E ao aceitá-lO e rejeitá-lO diversas vezes sou moral ou amoral? Responda-me: é realmente melhor ser um cristão? Já imaginou os sacrifícios, os obstáculos, as renúncias que temos de fazer num mundo que odeia a Deus e que apela tão baixamente para o que de pior existe em nós? Se é tão bom ser crente, porque não o fomos antes? Porque somente agora e não um ano atrás? O que mudou em minhas convicções e natureza que me motivaram a aceitar Cristo e servi-lO? Porque “decidi-me” pelo Deus bíblico, ao invés de permanecer com o deus genérico, popularizado, mistificado e comercializado por tantas religiões e sistemas filosóficos?
O Deus bíblico, verdadeiro e único não pode ser passivo. Ele não fica de braços cruzados esperando as coisas acontecerem, alheias à Sua vontade, sem intervir direta e propositadamente, visto ser o Agente, o Autor de toda a criação, Aquele que atua na história, que determina todos os atos no universo [Ex 33.19; Is 14.24;27; Rm 9.15], os quais foram estabelecidos soberanamente antes da fundação do mundo. Portanto, o Deus bíblico não pode ser rejeitado impunemente. Não pode ser desprezado sem que aquele que o desprezou sofra as conseqüências do seu ato. O Deus bíblico não reconhece o homem como seu filho se ele permanecer "amoldado" à sua natureza pecaminosa. Para isso, é necessário que o nosso ser seja transformado, que esse homem renasça em Cristo, e pela ação do Espírito Santo, o caráter do Senhor seja implantado, pouco a pouco. Assim, regenerados, somos então capacitados a reconciliar-nos com Deus, ou a “aceitá-lO”; não sendo mais passivos no pecado, mas ativos em santidade. Sem isso, somos criaturas rebeldes, incomunicáveis com o Altíssimo, destinados à Sua ira, a perecer eternamente, sem jamais ser filhos e templo do Espírito Santo. Então, não é uma questão de escolha, mas de QUEM escolhe, e Deus escolhe, “Para que nenhuma carne se glorie perante ele” [1Co 1.29].
Se sou eleito de Deus, Ele jamais permitirá que eu me perca novamente, que eu volte ao reino de trevas, ao mundo caído de Satanás. Esta é a Sua promessa aos Seus escolhidos, porque “Todo o que o Pai me dá virá a mim; e o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora”, disse Jesus [Jo 6.37].
O arminianismo, e o seu pai, o pelagianismo, são a razão do vai-e-vem sem fim nas cadeiras das igrejas, onde os crentes de hoje serão incrédulos amanhã, podendo novamente ser crentes, e por fim, apostatarem tempos depois; visto que a salvação é como uma partida de pingue-pongue; e não consigo imaginar-me disputando um jogo em pé de igualdade com o Todo-Poderoso, Criador, Salvador e Senhor, e ainda por cima, derrotá-lO. A salvação passa a ser uma pilhéria, e o Senhor motivo de escárnio, tais as possibilidades de variações quanto ao estado de salvo e perdido, quanto a uma insegurança que denota a fragilidade de um deus criado na mente corrupta e insana do homem... que nada tem a ver com o Deus Tri-uno, poderoso e Senhor de todo o universo.
É possível que esse homem que crê deter o poder de "eleger" a Deus tenha a certeza da salvação? Visto que não há nada que a assegure, apenas e tão somente a vontade do próprio homem? O qual é fraco, volúvel, obstinado em sua pecaminosidade, bastando apenas o mudar para se perder outra vez? Ele pode afirmar-se salvo, se ele mesmo não o sabe nem tem certeza se o será?
O homem deu um tiro no pé! Ao supor-se detentor de um poder que não possui. É ilusório, terrível, maligno. Pois nos dá uma sensação de liberdade irreal, impossível de nos levar a decidir por Deus, na medida em que ela é incapaz e inadequada de nos levar a escolhê-lO; pois o livre-arbítrio pressupõe o homem tanto bom como mau, contrapondo-se ao ensinamento bíblico, o qual assevera ser o homem essencialmente mau; “porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus” [Rm 3.23]; “não há justo, nem um sequer” [Mq 7.2; Rm 3.10]; e “Porventura pode o etíope mudar a sua pele, ou o leopardo as suas manchas? Então podereis vós fazer o bem, sendo ensinados a fazer o mal” [Jr 13.23]... Logo, o homem encontra-se completamente incapacitado de vencer o seu pecado.
A presunção é de que, se fazemos coisas boas e ruins, escolhas boas e ruins, elas indicam que sou capaz de eleger a Deus (pois rejeita-lO já o faço naturalmente, de manhã à noite); e de que esta escolha é não influenciada por alguma força, seja ela exterior ou interior; de que é isenta de causalidade, neutra, o que é utópico, pois somos sempre tomados por algum poder... a liberdade morreu no Éden com Adão e Eva, e estaremos sob o domínio de satanás até que o poder máximo do Senhor restaure-nos, e a liberdade seja finalmente ressuscitada.
Ainda que não possamos "ganhar" ninguém para Cristo, pois esse papel cabe ao Espírito Santo, o qual dá o convencimento ao homem do pecado, da necessidade de arrependimento, e a compreensão da obra salvadora do Filho de Deus, não podemos nos escusar de levar o Evangelho aos perdidos [Mt 28.19-20]. É uma ordem expressa do Senhor, não sendo condicional, mas imperativa. Como instrumentos, Deus nos usará para alcançá-los, não nos cabendo questionar os Seus sábios métodos, mas certificar-nos de obedecê-lO prontamente.
E, para que não reste dúvidas quanto à minha posição, creio na doutrina da Eleição do homem por Deus, e de que Deus escolhe quem salvará; é uma obra completa d’Ele, na qual somos como barro nas mãos do oleiro [Rm 9.21], em vista de sermos incapazes de “escolher” salvar-nos; pois jamais o homem escolheria a salvação se Deus não o movesse a ela... É uma discussão que se arrasta há séculos, mas a Bíblia é clara quanto ao assunto: a eleição é de Deus, e não do homem! Como acertadamente disse o profeta: “Do Senhor vem a salvação” [Jn 2.9], pois a glória é somente e completamente d’Ele...
Ah... ia me esquecendo... quanto ao rótulo, podem chamar-me monergista.
Por Jorge Fernandes
Em poucos anos de conversão, tenho ouvido muitos crentes dizerem-se avessos à teologia. O argumento mais usual, distorcido e surreal é afirmar que a “letra mata e o espírito vivifica” [2Co 3.6], abrindo espaço para todo o tipo de sandice dita espiritual que abunda nas igrejas [Paulo alude claramente à impossibilidade de salvação pela lei, pela letra, a qual é capaz de trazer apenas a condenação ao homem, visto que a lei não salva, mas revela-nos o nosso pecado e nos dá a condenação. Somente a obra consumada de Cristo pode livrar-nos do inferno. Portanto, o versículo não é uma proibição para se estudar as Escrituras].
O pouco convívio com a Bíblia, a falta de senso crítico, e o estímulo que muitos líderes imprimem à experiência pessoal, a qual ganhou uma relevância ímpar em nossos dias, acentuada pela ignorância teológica dos seus defensores, levam os crentes, de uma forma geral, a negligenciar o zelo que os irmãos de Beréia tinham [At 17.11], e a uma espécie de torpor espiritual que os faz aceitar de bom grado tudo o que lhes é proposto sem examinar as Escrituras, conduzindo à morte da razão. No pouco ou nenhum conhecimento da Palavra eles são abatidos pelas armas que satanás lhes dá, as quais julgam provir do Senhor mas nem remotamente percebem que ao puxar o gatilho tornam-se alvos de si mesmos.
O conhecimento de Deus passou a ser subjetivo e cada um pode tê-lo a seu modo, facilitado pela completa alienação doutrinária; amoldando-o a qualquer recipiente blasfemo, herético e diabólico.
Parece-me que os crentes estão meio que perdidos; são tantos os ataques do inimigo [e o seu desejo é a destruição da igreja, visto que o Senhor Jesus morreu por ela], são tantas as suas artimanhas, que os crentes não têm idéia do que seja uma vida cristã [a base que se tem dado aos crentes é muito frágil, e “ninguém pode pôr outro fundamento além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo” (1Co 3.11). Não se prega a Bíblia expositivamente (2Ti 4.2-3); é psicologismo pra cá, humanismo pra lá, e individualismo por todos os lados; não se estimula os crentes a ler teologia, a ler livros que os levem à santidade, a aprofundar-se nas doutrinas; e muito porcamente dizem que as Escrituras são a única regra de fé. Mas como isso é possível sem conhecê-la, sem entendê-la?].
Parte disso é culpa dos acadêmicos [muitos deles inconvertidos e educados em seminários e faculdades nitidamente opositores do Evangelho], que tratam o estudo da Bíblia com mais frieza do que um legista disseca um cadáver; é como um labirinto onde se tem a certeza de que jamais se sairá dali; visto que o homem cada vez mais está preocupado com a sua glória pessoal, “porquanto, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças, antes em seus discursos se desvaneceram, e o seu coração insensato se obscureceu” (Rm 1.21); “e, como eles não se importaram de ter conhecimento de Deus, assim Deus os entregou a um sentimento perverso, para fazerem coisas que não convêm” (Rm 1.28); pois, “o deus deste século cegou os entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus” (2Co 4.4).
Então, prefiro autores que conciliam doutrina com doxologia, ao estilo de Lloyd-Jones, John Owen, Charles Spurgeon, Jonathan Edwards, Arthur Pink, John Piper, John McArthur... Guardadas as devidas proporções, eles tentam repetir o que Paulo fazia divinamente inspirado: “Porque não nos pregamos a nós mesmos, mas Cristo Jesus, o Senhor” (2Co 4.5); “para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra” (2Ti 3.17). Enquanto isso, os Warrens, Malafaias, Cavalcantis, Mclarens, Hinns e Yansens da vida ganham cada vez mais espaço nas livrarias, nas estantes, e em mentes loucas, porque o que eles fazem é meio que anestesiar a consciência, um inibidor que impede as pessoas de pensarem como crentes, os quais devem ter a mente de Cristo [1Co 2.16], transformados pelo Evangelho; e não mantidos em coma pelo humanismo/secularismo/místico com que são tratados, tornando-as em zumbis intelectuais, em natimortos espirituais. Na vaidade das suas mentes, “entenebrecidos no entendimento, separados da vida de Deus pela ignorância que há neles, pela dureza do seu coração... se entregaram à dissolução, para com avidez cometerem toda a impureza” [Ef 4.18-19].
Só há um antídoto: a leitura diária, devocional e reverente da Palavra em espírito de oração; porque “toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redargüir, para corrigir, para instruir em justiça” [2Ti 3.16], e a “tua palavra é a verdade desde o princípio, e cada um dos teus juízos dura para sempre" [Sl 119.160]; sabendo que os pensamentos de Deus são mais altos do que os nossos, e os Seus caminhos são mais altos do que os nossos [Is 55.9]; “porque, quem compreendeu a mente do Senhor? Ou quem foi seu conselheiro? Ou quem lhe deu primeiro a ele, para que lhe seja recompensado? Porque dele e por ele, e para ele, são todas as coisas, glória, pois, a ele eternamente. Amém” [Rm 11.34-36].
Então, não nos furtemos a “conhecer os mistérios do reino de Deus”, o qual nos é dado pela revelação das Sagradas Escrituras, mas aos outros é dado “por parábolas, para que vendo, não vejam, e ouvindo, não entendam” (Lc 8.10).
Por Jorge Fernandes
Ao me converter, Deus colocou em meu coração o desejo de ler a Bíblia integralmente, começando por Gênesis, claro! Ao caminhar por suas páginas, descobri a soberania, a graça, o amor de Deus para com os homens, o que não O impediu de julgar povos, tribos e indivíduos rebeldes a Si. Contudo, ao atingir o livro de Levítico entristeci-me por todos aqueles sacrifícios (fruto da minha ignorância e imaturidade espirituais), e o que muitos julgam fazer parte do "mar de sangue" do Antigo Testamento (igualmente fruto da ignorância e cegueira espiritual alheias). Foi difícil lê-lo e entender o porquê de tudo aquilo, ainda que Deus já tivesse colocado no meu coração que aquelas páginas eram fruto da Sua sabedoria, e como tal, eu deveria crer na sua urgência.
Em Levítico, vemos a providência de Deus para o Seu povo, a misericórdia com que Ele nos deu o escape, ainda que para isso o Seu Filho Amado tivesse de padecer em nosso lugar, para não sermos condenados à perdição eterna. E esta é a maior prova do Seu amor.
Hoje, passados três anos, estou novamente lendo o terceiro livro da Bíblia, e maravilhando-me. Ao invés de provar a "crueldade", vejo a manifestação da graça e misericórdia de Deus. Em suas páginas, a descrição detalhada dos sacrifícios de animais a fim de que sacerdotes, indivíduos e o povo de Israel expiassem os pecados, levá-nos até a crucificação do Cordeiro de Deus, Jesus Cristo, a Segunda Pessoa da Trindade Santa. O ritual de purificação era um prenúncio, um sinal, a indicar o que ocorreria quando o eterno Filho de Deus encarnasse, se fazendo homem igual a nós e, na cruz do Calvário, nos substituisse pagando os nossos pecados e reconciliando-nos com Deus [2Co 5.18-21]. O sangue dos animais ali derramado significava o sangue imaculado do Senhor que se verteria por nós. Aqueles animais, primogênitos e perfeitos em sua natureza (macho, sem manchas ou defeitos) anunciavam o Cristo, o unigênito Filho de Deus, perfeito e sem pecado [Hb 7.26], que por Seu muito amor, fez-se iniquidade para que os Seus eleitos fossem salvos.
Ao escolher o animal conforme Lv 1.2-3, o ofertante colocava a mão sobre a cabeça do animal, numa simbologia a qual o animal "recebia" os pecados dele, e então, era sacrificado, e os sacerdotes aspergiam o sangue da vítima em redor do altar para expiação dos pecados. Parece cruel e injusto um inocente, ainda que seja um animal, ser morto para que os pecados do homem fossem purgados... Mas não foi o que aconteceu com o Senhor? Sendo Deus, eterno, puro, santo e justo, Cristo fez-se como nós, e escolheu padecer na cruz para que tivéssemos a vida eterna [Fl 2.6-8]. Não é injusto?... Não! Pois assim aprouve a Deus fazer [Is 53.10]. Era necessário que a nossa iniquidade, os nossos pecados, a desobediência e a afronta a Ele fossem pagas. E como não fomos capazes de cumpri-la, Ele decidiu fazê-lo por nós [Jo 10.17]. Há algo mais maravilhoso? Saber que mesmo imerecidamente, ainda que sejamos iníquos, que não possuamos nada com o qual Deus se alegre, merecendo a condenação eterna no fogo do inferno, somos feitos justos por Ele, justificados eternamente pelo sangue derramado do Cordeiro no Calvário! Que Deus maravilhoso! Que grande libertação! Glória eterna ao Senhor!
As religiões pagãs sacrificam seus filhos. Milhões de bêbes foram mortos e ainda são em favor dos seus deuses; esposas foram sacrificadas juntamente com seus maridos mortos; virgens foram ofertadas para aplacar suas "iras"; velhos, doentes e aleijados encontraram a morte para afugentar os "maus espíritos" e as consequências de tudo o que eles representavam... Em meio as densas trevas que satanás impos a esses povos, eles continuaram e continuam sob a ira de Deus, e se tornaram apenas em assassinos frios e cruéis; pois a ignorância que os conservou não servirá de desculpa para os seus crimes diante do Tribunal de Cristo.
Mas Deus não escolheu sacrifícios e sacrificados para Si [Hb 10.8]. Ele mesmo se fez sacrifício por nós, imolando-se a Si mesmo em favor dos Seus escolhidos. Ele não quis nada de nós, antes nos deu tudo. Não exigiu nada, e nem esperou que fóssemos capazes de atender a alguma exigência, pelo contrário, "E aos que predestinou a estes também chamou; e aos que chamou a estes também justificou; e aos que justificou a estes também glorificou" [Rm 8.30] ; capacitando-nos pelo Espírito Santo a crer, sermos fiéis, e instrumentos para a realização da Sua boa obra no mundo. Nem quis nossos corpos autoflagelados, nem autopenitentes, nem que "pagássemos promessas" a fim de agradá-lO, nem o cumprimento de qualquer ritual, nem peregrinações e romarias, nada, absolutamente nada! Porque? Simplesmente por que não há algo que possamos fazer que Cristo não fez. Nem há nada que agrade mais ao Pai que Cristo não tenha feito. Se Ele, o Filho Amado, cumpriu todas as exigências da justiça divina, como melhorar o que já é perfeito? Se pensamos em fazê-lo, desmerecemos a obra consumada do Senhor Jesus, e queremos nos fazer iguais a Ele, e estamos condenados, porque jamais alcançaremos a salvação por mérito próprio. Antes, devemos nos rejubilar pelo que o Senhor fez em nosso favor, quando éramos inimigos de Deus [Ef 2.5;Cl 1.21]. Os sacrifícios não são mais necessários [Hb 7.27], pois o próprio Deus se encarregou de fazê-lo em nosso lugar [Ef 5.2]. Cristo nos substituiu, pagando a dívida que tínhamos para com Deus e a Sua justiça. Somos livres, e estamos livres unicamente pela Sua graça e amor.
Se você, como eu no passado, não compreendia os sacrifícios de animais em Levítico, saiba que os pagãos o achariam simples em demasia para os seus padrões de impiedade, e saiba que isso é fruto da corrupção da alma; e de que somente através da obediência, da subserviência e da entrega total de nossas vidas ao Senhor, encontraremos finalmente a paz, reconciliando-nos com o Princípe da Paz [Is 9.6], Rei dos reis e Senhor dos senhores [1Tm 6.15]. Pois não é necessário mais nenhum sacrifício, porque Cristo é o único holocausto que satisfez a Deus [Hb 10.12]... agora há somente o gozo de saber que Ele jamais se lembrará dos meus pecados e iniquidades... e desfrutar da Sua glória e salvação eternas.