17 junho 2008

RUTILAR













Por Jorge Fernandes

Por toda a Bíblia vemos a glória de Deus revelada em magnitude, autoridade, onipotência, santidade, perfeição, amor, misericórdia, graça, soberania... na criação do universo; do homem à Sua imagem e semelhança; na queda da humanidade; nas alianças com o Seu povo; na redenção definitiva pela morte sacrificial e substitutiva do Seu Filho Amado Jesus Cristo; nas promessas de vida eterna aos Seus escolhidos; na condenação igualmente eterna de Satanás e seus demônios, e de todos aqueles que rejeitaram a Palavra da Vida... em inúmeros outros aspectos, fatos, execuções e promessas é visível a glória de Deus, manifestada em tudo que existiu, subsiste e existirá.
Mas há duas passagens que nos mostram, de uma forma especial, o que nos espera na eternidade, quando estaremos diante de toda a majestade do nosso Deus. A primeira, encontra-se em Êxodo 33 e 34, quando é impossível não se emocionar com as narrativas escritas ali. Moíses, um dos grandes profetas de Deus, foi contemplado com o privilégio de falar com Ele. Durante a jornada de 40 anos até Canaã, ele presenciou todos os feitos realizados pelo Senhor em favor do Seu povo; mas, também, presenciou o quanto esse povo era rebelde, de dura cerviz para com Deus. Moíses viu a glória de Deus, e a hediondez dos seus semelhantes. Contudo, não é disso que quero falar...
Por quarenta dias, o profeta Moíses esteve em comunhão íntima com o Senhor. Pisou em terreno santo, e pôde vislumbrar a santidade Dele. Durante quarenta dias, ele esteve exposto à glória de Deus, de uma forma fantástica e única, a qual poucos homens tiveram entrada. Deus se revelou a Moíses como poucas vezes o fez: “E falava o Senhor a Moíses face a face, como qualquer fala com o seu amigo” (v.33.11). É claro que o profeta não ficava “cara a cara” com Deus, “frente a frente” com Ele. O próprio Senhor alertou-o: “Não poderás ver a minha face, porquanto homem nenhum verá a minha face, e viverá”(v.33.20). A idéia a se passar é a de que havia uma comunhão íntima, um relacionamento pessoal entre o Senhor e Moíses; e de que esta era a vontade de Deus, de que o Seu povo compreendesse como era prazeroso e santo o relacionar-se com Ele. Através da submissão e obediência aos Seus mandamentos, o povo hebreu reverenciaria-O em adoração pura e santa. Nada parecido com a adoração pagã aos deuses mortos dos seus inimigos; “E habitarei no meio dos filhos de Israel, e lhes serei o seu Deus”(v.29.45).
A glória de Deus resplandecia no rosto do profeta, quando este desceu do monte Sinai, para levar as duas tábuas do testamento, a aliança de Deus com o povo de Israel: “Moíses não sabia que a pele do seu rosto resplandecia, depois que falara com ele”(v.34.29). O povo temeu chegar-se a Moíses; e ele era uma miniatura, quase um nada diante da santidade divina; e ainda assim, temeram, porque a iniquidade do povo estava manifestada frente ao testemunho do seu líder. Essa ínfima demonstração da glória de Deus, obrigou o profeta a pôr um veu sobre o rosto diante da congregação, até que entrasse para falar com Deus novamente (v.34.35).
Diante de um povo rebelde, inclinado ao mal, e sem arrepender-se (v.32.22; 33.3; 34.9), Deus em sua muita misericórdia não podia permanecer no meio dele, a fim de que a Sua glória não os consumisse, destruindo-os (v.33.5). E poderia fazê-lo, se não fosse a Sua graça, e a aliança que estabelecera com os patriarcas, “porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus” (Rm 3.23) . Então, ordenou o Senhor a Moíses que erguesse uma tenda fora do arraial, e ali, “todo aquele que buscava o Senhor saía à tenda da congregação” (v.33.7).
Moíses exultou, proclamou o nome do Senhor, ao vê-lo descer numa nuvem e se pôr ali junto a ele, apressou-se, inclinou a cabeça à terra, e adorou-O (v.34.5;8).
A segunda passagem, encontra-se no cap. 9 de Lucas. Estando Jesus orando, “transfigurou-se a aparência do seu rosto, e a sua roupa ficou branca e mui resplandecente. E eis que estavam falando com ele dois homens, que eram Moisés e Elias, os quais apareceram com glória, e falavam da sua morte, a qual havia de cumprir-se em Jerusalém. E Pedro e os que estavam com ele... viram a sua glória e aqueles dois homens que estavam com ele” (v.29-32).
Vimos que Moíses teve o rosto, apenas o rosto, resplandecente. Ele fora como um espelho, um reflexo, a revelar minimamente a glória de Deus; uma glória que não era sua, que não podia gerar, mas que pela graça de Deus, unicamente pela Sua vontade soberana, passou a pertencer-lhe; e pertence a cada um de nós que fomos predestinados, chamados, justificados e glorificados em Cristo Jesus (Rm 8.30).
Então, agora parece que vemos uma repetição do que aconteceu com Moíses, quando da transfiguração do Senhor Jesus Cristo. Mas ao contrário do profeta que refletia a glória de Deus, Cristo é a própria glória de Deus. Vemos Jesus transfigurado, e a palavra transfigurar significa transformar, modificar a figura. Moíses apreendeu um fragmento do esplendor de Deus, e o seu rosto resplandecia, e o povo o temeu. Imagino o que seria de Moíses se não fosse a graça de Deus. Ele seria destruído. E o que seria de nós? As misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos, porque as suas misericórdias não têm fim” (Lm 3.22).
Cristo é a própria glória de Deus, não um reflexo, um poder indireto, nem apenas um indicativo da fonte, aquele que aponta para Deus; mas o próprio Deus em unidade com o Pai e o Espírito Santo. A glória de Deus estava Nele, e era Ele (e está, e é Ele eternamente): “para que em tudo Deus seja glorificado por Jesus Cristo, a quem pertence a glória e poder para todo o sempre” (1Pe 4.11).
Pedro, extasiado com o que via, clamou ao Senhor para que se armassem três tendas, uma para Jesus, uma para Moíses, e outra para Elias (v.33). Mas a Bíblia afirma que ele não sabia o que dizia, mostrando a incapacidade de se compreender e absorver a vontade de Deus, quando o fazemos por nós mesmos, deliberados por nossa natureza corrompida.
“E, dizendo ele isto, veio uma nuvem que os cobriu com a sua sombra; e, entrando eles na nuvem, temeram”(v.34). Novamente, não resta ao homem mais nada diante da santidade e magnitude de Deus, do que o temor, em reverência e adoração.
“E saiu da nuvem uma voz que dizia: Este é o meu amado Filho; a ele ouvi”(v.35).
Moíses era o interprete de Deus junto ao povo de Israel. Ele transmitia-lhes tudo o que Deus lhe ordenou. Foi assim em relação aos mandamentos, à construção do tabernáculo, aos sacrifícios e cerimônias de consagração, às festas, ao sacerdócio dos levitas... aos trabalhos mínimos, como o cozer o pão sem fermento e a confecção de cortinas. Mas em tudo havia a vontade do Senhor para que assim fosse, e a tudo santificava; eram ordens a se cumprir, destinada ao Seu povo. Moíses, portanto, era o interlocutor da parte de Deus ao povo de Israel.
Cristo é o próprio Deus falando-nos. Sem a necessidade de um intermediário, por isso, o Pai exorta os discípulos a ouvi-lO. Não que Jesus seja uma voz solitária, individualista, não. Ele fala em conformidade com o Pai, porque tudo quanto o Pai faz, o Filho o faz igualmente (Jo 5.19): “Eu falo do que vi junto de meu Pai” (Jo 8.38), afirmou o Senhor; e exultamo-nos diante da harmonia eterna existente entre as pessoas da Trindade Santa.
Alguns estudiosos afirmam que Moíses viu a Jesus no monte Sinai, e que agora, diante dos discípulos, testemunhava a Sua divindade; o que João 5.46, parece confirmar: “Porque, se vós crêsseis em Moíses, creríeis em mim; porque de mim escreveu ele”. Por analogia, aceitamos que Moíses viu no monte Sinai a glória de Cristo, a qual Pedro, Tiago e João se deleitaram em contemplar (v.32).
Sem nos esquecer de que Moíses e Elias apareceram “com glória”, ao contrário de Jesus Cristo, pois Pedro e os demais ao despertarem, viram a “sua” glória. E regozijemo-nos; pois, na eternidade, receberemos a mesma glória que coube aos profetas, pela graça e para a glória de Deus.

13 junho 2008

SUSTER








Por Jorge Fernandes


A vida cristã não é uma simples teoria, filosofia ou utopia, como já disse anteriormente; um processo exclusivamente racional que me levará, invariavelmente, a compreender a Deus. A vida cristã é para ser vivida, praticada, senão, não haveria a necessidade de santificação, e nem de se permanecer aqui na terra; tão logo convertéssemos, seríamos arrebatados ao Céu.
Tanto você como eu vivemos o mesmo dilema: como ser santo? Como agir como um cristão? Como esperar apenas em Deus, e nos confortar com a promessa de que Ele cuida e zela por nós? Como deixar de crer que somos capazes de cuidar de nós mesmos? Como abrir mão da imaginária segurança que supostamente temos quando quase o tempo todo somos afligidos pela intranquilidade? Se sequer obtemos êxito em parecer-se com um cristão bíblico?
Creio que apenas quando me entregar completamente ao senhorio de Cristo, colocando-me total e integralmente em Suas mãos, deixando de manter-me no centro enquanto Ele encontra-se periférico, serei capaz de compreender e de viver uma vida cristã. Essa é a promessa que Cristo nos dá: “Examinais as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de mim testificam; e não quereis vir a mim para terdes vida(Jo 5.40).
Em Gálatas 6.3, Paulo diz: "Porque, se alguém cuida ser alguma coisa, não sendo nada, engana-se a si mesmo". Não é isso que fazemos o tempo todo? Tentando ser alguma coisa, quando não somos nada? Buscando uma glória pessoal quando não há nada em nós do que se gloriar? Mas quando entendermos, pelo poder do Espírito Santo, que a subserviência a Cristo, que o lançar-me à periferia e Ele ao centro, cumprindo assim os propósitos de Deus para nossa vida me fará um servo fiel, então estarei apto por Deus a distribuir neste mundo e aos homens os dons que me foram dados pelo meu Senhor. Mas ainda assim, não há nada em que me orgulhar, não tenho mérito algum, visto que fiz apenas e tão somente aquilo que Ele ordenou: “Somos servos inúteis, porque fizemos somente o que devíamos fazer” (Lc 17.10). Como o barro nas mãos do oleiro, que segundo a sua vontade o modelará para a finalidade e o propósito que ele quiser, assim somos diante do Senhor (Rm 9.20-21).
Cada vez mais descubro que não há solução além de Deus. Não apenas para o mundo, as nações, culturas diferentes, os meus concidadãos, vizinhos e parentes, mas sobretudo, para mim mesmo. Como obtê-la? Esta talvez seja a nossa maior dificuldade: entender que o Evangelho não é somente para os outros, não é uma espécie de publicidade do tipo “faça o que eu digo, não faça o que faço”; mas a sua mensagem e o seu poder transformador foi dado pelo Altíssimo, em primeiro lugar, a mim mesmo. E é algo que tenho de vivê-lo para o meu próprio bem, e gozo; “Na verdade, tenho também por perda todas as coisas, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; pelo qual sofri a perda de todas estas coisas, e as considero como escória, para que possa ganhar a Cristo” (Fp 3.8).
Outra questão é a de que vivemos com o coração conturbado, atemorizado... “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo a dá. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize”(Jo 14.27). É preciso confiar no Senhor mesmo quando tudo estiver de cabeça para baixo, mesmo quando não há uma esperança aparente; quanto mais quando as coisas estiverem bem.
Hoje, as pessoas se afligem por qualquer bobagem: um cabelo que cai, o gol contra do zagueiro, o vizinho ranzinza, o latido do cão... tudo é motivo para nos inquietar, nos tornar infelizes, amargurados. Fico a imaginar se estivéssemos no lugar de Pedro, à noite, acorrentado, guardado na prisão por 16 soldados de Herodes, à espera da execução na manhã seguinte... Dormiríamos profunda e tranquilamente como ele, esperando apenas em Cristo nosso Senhor (At 12.5)?
Este é apenas um exemplo de como estamos mais suscetíveis às intempéries, ainda que não passem de uma inofensiva brisazinha. O homem está e é cada vez mais infeliz, porque encontra-se em desobediência a Deus, e não há temor de Deus diante dele (Rm 3.11;18). O homem está em guerra constante consigo mesmo. É um dilema, uma luta interior a qual a sua natureza o impele à rebeldia contra o Senhor, a opor-se às coisas de Deus, mesmo quando não é possível achar em si algo que o alegre; e o que encontra, lança-o em trevas profundas, na desilusão, na tristeza, na amargura, refletindo a sua natureza caída, pecaminosa: "maldito o homem que confia no homem, e faz da carne o seu braço, e aparta o seu coração do Senhor!" (Jr 17.5). E isso traz consequências trágicas para a sua vida (Gl 6.7-10), mantendo-o preso às cadeias que o tornarão mais e mais miserável; é um fardo insuportável de se levar, porque a “aflição e angústia se apoderam de mim”; mas, não se pode esquecer da esperança, a qual está unicamente em nosso bom Deus, pois “os teus mandamentos são o meu prazer”(Sl 119.143).
Portanto, o cristão é aquele que pode repetir a Paulo: “Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim” (Gl.2.20); e: “Porque para mim o viver é Cristo, e o morrer é ganho” (Fl 1.21), ainda que se saiba o miserável homem que é (Rm 7.24).

08 junho 2008

GRAÇA










Por Jorge Fernandes


O rosto dissolve-se em lágrimas,
Uma dor lacerante no peito,
Ergo o punho e soco o ar raivoso,
Há um grito difuso a teimar em não sair,
Estende-se por todos os músculos a agonia de tê-lO desprezado.


A alma miserável e imperfeita,
Tenta avançar em passos capengantes,
Apenas recua num grande esforço,
Deslizando na ladeira escorregadia,
Onde a carnalidade interior,
Soçobra os inexpressivos feitos.


Exaurido na inércia estéril,
Como ramo extirpado há dias da árvore,
A definhar numa terra infrutífera,
E o rigor da vergonha afugenta-me de Ti.


A vida despedaçada,
Partes largadas no caminho,
Repulsiva tentação que me arrasta a vasa,
Sem rogos, a cair em densas trevas.


No fôlego último,
Lembrei-me da Tua palavra,
“Fiz reverdecer a árvore seca”,
E derribado, elevou-me.


Disse.
E fez.


02 junho 2008

UM CORPO

Por Jorge Fernandes

Sabemos que há muitos irmãos perseguidos mundo afora. Neste momento, muitos estão privados da sua liberdade, da sua saúde, do sustento, do convívio famíliar, e, acabam de perder as próprias vidas por amor a Cristo (Mt 16.25) . Sabemos, igualmente, que os tempos estão difíceis, mas devemos guardar a nossa fé e esperança como um tesouro no nosso coração que nos foi entregue pelo nosso Senhor, o qual o manterá protegido do maligno.
É nosso dever, portanto, orar pelos crentes afligidos e perseguidos pelas trevas, implantadas por governos, comunidades, religiões e homens; em especial, por aqueles que residem nos paises comunistas e islâmicos. Mas não é preciso ir-se à China, Coreia do Norte ou Irã para vê-los. Muitas vezes, ao nosso lado, bem mais próximos do que imaginamos, irmãos sofrem em aflição, em angustia, em tormentos, sem que encontrem qualquer esperança. Devemos orar por eles, mas sobretudo, auxiliá-los naquilo em que Deus nos capacitou e tem capacitado a fazer, a fim de distribuirmos generosamente a Sua graça e justiça. Ore, mas sobretudo, aja. Não seja insensível, omisso e desobediente, para que não se ache ocioso nem estéril no conhecimento do nosso Senhor Jesus Cristo. Ele nos exortou a um só mandamento: “E, respondendo ele, disse: Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças, e de todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo” (Lc 10.27).
O apóstolo João, seguindo fielmente ao nosso Senhor, afirmou: “Se alguém diz: Eu amo a Deus, e odeia a seu irmão, é mentiroso, pois quem não ama a seu irmão, ao qual viu, como pode amar a Deus, a quem não viu?” (1Jo 4.20).O Evangelho do nosso Senhor não é um estratagema para o entendimento apenas intelectual. Muitos até compreendem-no mentalmente, como uma teoria, mas jamais serão tocados pela Palavra de Deus, porque ela não desceu ao seu coração. E para isso, é necessário que o Espírito Santo faça a obra de regeneração e transformação nesse coração, convertendo-o em carne, quando ele está endurecido como pedra. Portanto, o fazer, o agir são consequências dessa regeneração, do novo nascimento. Se você ainda não compreendeu essa necessidade, saiba que Deus o chama para as fileiras do Seu exército, para a luta, não para a arquibancada, como um mero espectador (ainda que seja um torcedor fanático).
Assim, compadecendo-nos do próximo, o nosso amor crescerá mais e mais em ciência e em todo entendimento, cheios de frutos de justiça para a glória e louvor de Deus (Fl 1.9;11); tendo ânimo para falar a Palavra confiadamente, sabendo que assim, testemunhamos o amor, a graça e a salvação que há em Jesus Cristo nosso Senhor.
“Regozijai-vos sempre. Orai sem cessar. Em tudo dai graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco. Não extingais o Espírito. Não desprezeis as profecias. Examinai tudo. Retende o bem. Abstende-vos de toda a aparência do mal. E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo; e todo o vosso espírito, e alma, e corpo, sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo. Fiel é o que vos chama, o qual também o fará” (1 Tes 5.16-24).

· Saiba mais sobre os irmãos perseguidos pelo mundo (e no mundo), e que necessitam de oração no endereço
www.portasabertas.org.br e www.martirescristaos.blogspot.com
· Leia a pregação do pr. Luiz Carlos Tibúrcio sobre os talentos (Usando os Talentos Para a Glória de Deus) , como um dom do Senhor, no endereço
www.tabernaculobatista.blogspot.com
· Estude o livro de Atos, as cartas Paulinas e as cartas Universais. Lá encontra-se o manual de ação da Igreja, e de todo crente, pela vontade de nosso Senhor.

31 maio 2008

DUREZ





Por Jorge Fernandes


Por quantas vezes,
Ouvirei aquela palavra,
E me sentirei morto,
Como um corpo conservado no gelo,
A alma intacta não se alui,
Insensível como ouvidos moucos,
Ao troar da lima no metal?

Quantas vezes ainda,
A espada me ferirá,
O sangue a jorrar anêmico,
Jaz-se em poça, se esvanece,
E nem mancha forja?

A quantas vezes,
Irei tropegar,
Qual velho a mover-se no pântano,
A resvalar a ponta do dedo,
Em algo que julga bálsamo,
Mas sequer pode-se entrever?

Dores a fustigar;
Entre golpes acolhidos,
A pasmar a consciência suína,
Não é ainda o nocaute...
Nem o espírito sepultado.

26 maio 2008

IRMÃO X IRMÃO














Por Jorge Fernandes

Recentemente travei um “embate” com um irmão a respeito do constante julgamento que nós, crentes, fazemos uns dos outros. E nos demos mal, ambos. Não que não haja nada a se discutir; nem que se deva mascarar os erros doutrinários e contemporizar com os falsos ensinos e testemunhos de muitos “evangélicos”. Mas é que, enquanto travamos uma batalha entre denominações, a guerra vai sendo vencida pelas forças inimigas. O apóstolo Pedro nos adverte de que “já é tempo que comece o julgamento pela casa de Deus; e, se primeiro começa por nós, qual será o fim daqueles que são desobedientes ao evangelho de Deus?”.
Mas o que se vê são reformados acusando batistas de heréticos por não batizarem crianças, que, em contrapartida, acusam os reformados de heréticos por realizarem o pedobatismo. Calvinistas não toleram arminianos, que consideram os calvinistas “filhos das trevas”. Pré-milenistas repelem pós-milenistas, que, por sua vez, desejam exorcizá-los. Então, a denominação a qual pertenço é a melhor, tanto na doutrina, como na pregação, como no serviço a Deus. Ando com um “neon” preso à testa com os dizeres “batista”, ou “presbiteriano”, ou “metodista”, ou o de outra congregação. As igrejas acabam parecidas com clubes de futebol, com agremiações esportivas, onde torcer e distorcer é o que importa:
“No domingo, vamos à 21a igreja?”.
“Que isso, mano! Eles não tão com nada! Vamo lá na 58a ! Eles são da hora!”.
E assim é só organizar a charanga, as teenleader, o mestre-de-cerimônias, os comes-e-bebes, e se tem um grande evento. Uma festa de arromba. E Cristo nosso Senhor? Onde Ele entra?... Nesse clube, o Santo de Deus não tem lugar; apenas a idolatria.
A carne grita tão desesperamente em nós, que a despeito de uma suposta espiritualidade e zelo para com as coisas de Deus, desprezamos irmãos que igualmente foram levados a Cristo pelo Pai (Jo 17.24), e com os quais passaremos toda a eternidade. No fundo, há muitos cristãos que se consideram melhores do que outros. Há muitos de nós que não querem se misturar; que em sua soberba e vaidade se julgam os únicos salvos pelo nosso Senhor, e vislumbram em si méritos suficientes para que Deus os escolha, ainda que não assumam, ainda que digam que são salvos apenas pela graça do Senhor. Muitas vezes, em nossa arrogância, pecamos, odiando e desprezando homens, lançando-os no fogo do inferno (se possível fosse), investidos de uma autoridade que não possuímos, nem nos foi dada. Como Paulo disse aos coríntios: “Todavia, a mim mui pouco se me dá de ser julgado por vós, ou por algum juízo humano; nem eu tampouco a mim mesmo me julgo. Porque em nada me sinto culpado; mas nem por isso me considero justificado, pois quem me julga é o Senhor. Portanto, nada julgueis antes de tempo, até que o Senhor venha, o qual também trará à luz as coisas ocultas das trevas, e manifestará os desígnios dos corações; e então cada um receberá de Deus o louvor... Já estais fartos! já estais ricos! sem nós reinais! e quisera reinásseis para que também nós viéssemos a reinar convosco!” (1Co 4.3-5;8).
O Senhor Jesus, porém, nos diz: “Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem; para que sejais filhos do vosso Pai que está nos céus”(Mt 5.44); e se devo amar aos meus inimigos quanto mais aos irmãos na fé; e não cometer a ofensa de me sentar em um trono de santidade e dignidade para falar mal de quem quer que seja, e viver dessa forma dissoluta; “porque para mim, o viver é Cristo”(Fil. 1.21).
Enquanto discutimos qual de nós é o melhor, caindo no mesmo pecado que os discípulos do Senhor cairam, indignamo-nos mutuamente (Mt 20.20-24), copiando-os naquilo que havia de pior. Em contrapartida, negligenciamos a exortação que o nosso Senhor nos deu: “E, qualquer que entre vós quiser ser o primeiro, seja vosso servo”(Mt 20.27). Por que é sempre mais fácil imitarmos o erro dos filhos de Zebedeu do que imitarmos a Jesus Cristo, o qual veio servir e não ser servido? Ainda que as Escrituras nos alertem, ainda que o Espírito Santo nos oriente, sempre tendemos a assumir o orgulho e a soberba diante de Deus e dos homens. Alguém se candidata a servo? A serviçal do seu irmão? “Todo aquele que quiser entre vós fazer-se grande seja vosso serviçal”(Mt 20.26). Pouquíssimos de nós anseiam esse posto, antes queremos manter a dignidade, a pompa de distinção, amando “os primeiros lugares nas ceias e as primeiras cadeiras nas sinagogas”(Mt 23.6). O holofote não é para o crente. Nem honrarias. Nem aplausos. Nem tapetes vermelhos. Aqui neste mundo, o qual nos odeia como odiou ao nosso Senhor (Jo 15.18), não buscamos nem esperamos honras, “porque a vós vos foi concedido, em relação a Cristo, não somente crer nele, como também padecer por ele”(Fp 1.29). Mas muitos se enganam com os tapinhas nas costas, com os títulos beneméritos, com as placas, medalhas, comendas e distinções insignes, e, sendo ilustres, estão no topo do Reino de Deus, assegurando-lhes o direito de tripudiarem sobre os ossos e carnes humanas, escarnecendo, ridicularizando e detratando-os, sem que aja qualquer amor, pois não há arrependimento. É como no boxe, onde os lutadores desejam, cada um a “desgraça” do outro, subjugando-o, impondo-se. Pelo menos, ao fim da luta, se cumprimentam... se um deles não for à UTI ou ao necrotério.
Não era para ser assim...
A Bíblia nos exorta a sermos santos, como é santo o nosso Pai que está nos céus (1Pe 1.15-16); a amarmos cordialmente uns aos outros com amor fraternal (Rm 12.10); a amarmos ardentemente uns aos outros com o coração puro(1Pe 1.22); unidos em um mesmo pensamento e em um mesmo parecer (1Co 1.10); e admoestando-nos uns aos outros, certos de que estamos cheios de bondade e de conhecimento (Rm 15.14); mas nós mesmos fazemos a injustiça e o dano, e isto a irmãos (1Co 6.8).
Se ainda estivéssemos na Idade Média, certamente muitos de nós condenariam à fogueira outros irmãos. Apenas porque ele não é batista, ou presbiteriano, ou metodista, ou assembléiano. Fica a parecer que não foi Cristo quem morreu por mim, que não foi Ele quem me redimiu e salvou-me da condenação, à qual eu merecia completa e justamente. Parece que foi uma denominação que padeceu na cruz por meus pecados.
Não será a hora de se parar com esta guerra estúpida de egos, de partidarismo religioso, e nos propormos a saber senão a Cristo, e este crucificado? (1Co 2.2). Foi o Senhor Jesus quem tomou o meu lugar, levando sobre Si a minha iniquidade, morrendo, ressuscitando, me salvou. A Ele prestarei contas, inclusive, do tempo mal gasto aqui, perdido em nulidades, vaidades, que em nada glorificam o santo nome de Deus.
Não proponho um neo-ecumenismo ou coisa parecida; nem é isso o que faço aqui. Muito menos que nos unamos debaixo de uma “bandeira”, de uma proposta ou meta, a fim de exercitar o pragmatismo. Nem mesmo a idéia de convenções, concílios, me agrada. Mas se cada um se preocupar em proclamar o Evangelho, em defender a fé, em honrar e glorificar o nome do Senhor ao invés de disputas inócuas de poder e do ser [“tende sal em vós mesmos, e paz uns com os outros”(Mc 9.50)]; o mundo não será insípido mas temperado, para a glória de Deus.
Enquanto isso, o movimento GLBT se une aos SEM-TERRA, que associa-se aos PRÓ-ABORTO, e aos PEDÓFILOS, à DASPU, aos MATERIALISTAS, à PESQUISA COM EMBRIÕES, aos IMORAIS, aos CORRUPTOS, aos ESQUERDISTAS, à MAFIA, aos LEGALISTAS, à PORNOGRAFIA, aos POLITICAMENTE CORRETOS, aos LIBERAIS, aos HIPÓCRITAS, às FEMINISTAS, aos MACHISTAS, aos LADRÕES, aos ASSASSINOS, aos TRAFICANTES, a PAIS que não educam SEUS FILHOS, a FILHOS que não respeitam SEUS PAIS...
O que esperamos? Que eles desistam? Que se unam a nós, e lutemos juntamente pelos princípios cristãos? Ou aguardamos o melhor momento para unir-nos a eles, e assim, desobedecer ao nosso bom Deus? Ou desistimos nós?
Assim evidencia-se o mal, o qual age livremente, enquanto viro a cara e torço o beiço ao irmão de Bíblia em punho.
Somente quando se vislumbra a cruz e a mensagem de Cristo, crendo que também é necessário que se morra para si mesmo, vive-se para Deus; e não se é mais instrumento de injustiça, mas justo como o nosso Senhor; e se é capaz de amar como Ele ama.

17 maio 2008

FUNERAL











Por Jorge Fernandes


Hoje chorei a morte dela,
Chorei por seus filhos,
Chorei a sua juventude carcomida pelo mal,
Chorei a vontade que ela tinha de viver,
Hoje seus lamentos e súplicas calaram-se,
Chorei a maligna doença a definhá-la,
Chorei a esperança posta na santa,
Chorei a TV ligada ao pé da cama.


O céu azul difuso,
A grama pálida,
O vermelho da terra surde do chão,
Há risadas,
Há lágrimas,
A sapiência dos silenciosos,
A tolice vulgar e infame dos tagarelas,
O desacato no olhar indiferente,
O alívio amparado nas colunas e paredes.


Quis o abraço fraterno,
Quis que me sentissem em dor,
Quis vê-los, e visto,
Quis o melhor que não dei,
Quis o afeto, o afago simples,
Quis, sem poder.


Achei que precisavam de mim,
De algo que não conjeturava,
Sem persuadir-me do meu papel,
O seu Nome exaltado,
Ainda que sem O proclamar.



Ali estava o desamparo,
A indulgência,
O amor desertor,
Qual cego numa ilha deserta,
A espera da noite chegar,
Para não se defrontar com a luz.


Em meio ao murmurio orei,
E seguiu um hino,
Errei dois ou três versos,
Esqueci mais alguns,
Encontrei-me no refrão:
“Entregarei tudo a Ti”, diz.
Era o certo, e único a fazer.


Quando a cova se abre,
O esquife desce,
Entoa-se um cântico à Maria,
A dor é insuportável,
Em vê-Lo desprezado.
E não sei se amá-Lo é suficiente,
Ou o amor é que não o é,
Não sei se os amo na dor,
Nem na alegria ou hora qualquer.
Numa prova, passaria?
Qual sacrifício disporia?
O corpo, a alma...
Algumas lágrimas a sobrevir.


Não para Ele,
Nem para eles.
No que sou, é que me guardo,
Para o dia em que revelado O veja,
Aos Seus pés me arrependa,
E chore por não pregar as Boas Novas;
E nos túmulos,
Muitos ficaram sem tê-las.


Onde está o sal?
E a luz?
Não passo de trevas,
E insosso.


A resposta,
Debaixo da cama,
Jaz oculta,
Porquanto Cristo,
Não passa de digressão,
E contento em me ver,
Como sepulcro caiado.


E chorei,
Também por mim.

10 maio 2008

O CÉU REINA












Por Jorge Fernandes


“...entregando para a morte, quem é para a morte; e quem é para o cativeiro, para o cativeiro; e quem é para a espada, para a espada” (Jr.43.11)

Deus é soberano! Certamente, a maioria dos crentes concordará com esta afirmação. Mas de que forma Ele exerce esse poder? Muito se tem discutido até que ponto Deus é soberano, ou como a Sua soberania se manifesta. E em grande parte, a doutrina bíblica se mistura à filosofia, à cultura e tradições, prejudicando ainda mais o seu entendimento, e porque não, o seu real significado; ainda que, aparentemente, tudo pareça mais fácil e digerível para o homem e seu humanismo, ao não desejar abrir mão da sua liberdade, mesmo que ele não a possua no sentido de sê-la livre de influências, e o livre-arbítrio não passe de uma utopia proveniente do nosso coração rebelde.
Há uma enorme diferença entre o que acreditamos possuir e o que verdadeiramente temos; geralmente, fica mais fácil aceitar prontamente o que nos parece verdade (ainda que suspeita), o que se molda melhor com os nossos conceitos, se acomoda ao nosso ego, e nos traz alívio mesmo que apenas momentaneamente; fruto da indolência e desleixo com que tratamos a nossa relação com Deus (sobre o assunto da liberdade humana, ver o post
Senhor ou Escravo? ).
A Bíblia afirma, categórica e extensamente, que Deus é soberano, e de que, nada, mas absolutamente nada afasta-se do Seu propósito e vontade (Ef 1.11). Deus domina sobre todas as coisas, e todas as coisas estão sujeitas a Ele (1Tm6.15; Dn 4.35; Jó1.12; Sl 89.9; Mc 4.39); nada pode frustá-lO e a Sua vontade, sendo ela a causa final de tudo (veja bem: tudo! E não uma parte ou alguns itens).
No livro de Daniel, o Rei Nabucodonosor tem um sonho, e pede ao profeta para interpretá-lo: “Esta é a interpretação, ó rei; e este é o decreto do Altíssimo, que virá sobre o rei, meu senhor: Serás tirado dentre os homens, e a tua morada será com os animais do campo, e te farão comer erva como os bois, e serás molhado do orvalho do céu; e passar-se-ão sete tempos por cima de ti; até que conheças que o Altíssimo tem domínio sobre o reino dos homens, e o dá a quem quer. E quanto ao que foi falado, que deixassem o tronco com as raízes da árvore, o teu reino voltará para ti, depois que tiveres conhecido que o céu reina (Dn 4.24-26). E todas estas coisas vieram sobre ele, pois se cumpriu a palavra de Deus, a qual havia determinado acontecer ao rei Nabucodonosor, transcorridos 12 meses (Dn 4.28-33).
No Salmo 33, o salmista proclama a glória e a soberania de Deus como o criador de todas as coisas, como Aquele que controla e subjuga todas as coisas; mas também Aquele através do qual o crente alegra-se em esperar e confiar, pois é o seu auxílio, escudo e refúgio (v.20-22).
O domínio do Senhor antes de ser o motivo para o pânico (semelhante ao de uma ameaça terrorista), deve ser a causa do nosso júbilo(v.1-3; 12; 21), sabendo que somos sustentados por Ele, protegidos pela Sua misericórdia (v.18), guardados em Sua sabedoria, santidade e perfeição; O qual zela por nós, e nos mantém firmados na Rocha que é Cristo. Como o profeta Jeremias afirmou judiciosamente: “Bendito o homem que confia no Senhor, e cuja confiança é o Senhor... meu refúgio és tu no dia do mal” (Jr.17.7;17); e Paulo, extasiado, proclamou um cântico de louvor a Deus: “Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis os seus caminhos!” (Rm 11.33).
Ainda que não entendamos tudo sobre a vontade divina, e em muitos aspectos os Seus desígnios sejam inescrutáveis, não há como não aceitá-la, e reconhecer que os caminhos do Senhor são muito mais altos do que o nosso, e os Seus pensamentos mais altos do que os nossos, e que Ele fará o que lhe apraz (Is.55.8-11).
Há questões que vão além da nossa mente finita e corrompida, das quais não temos solução nem somos capazes de entender, que fogem ao nosso controle, e julgamos dissociáveis: como a soberania de Deus e a responsabilidade humana. A Bíblia afirma a existência de ambas: tanto Deus é soberano, como somos responsáveis por nossos atos. Contudo, não compreendemos como uma ação aparentemente livre, pode ser operada pela vontade de Deus e assim ser determinada. Resta-nos resignar, admitindo o quanto somos limitados; e humildemente reconhecer a nossa incapacidade para desvendar aquilo que o Senhor não quis nos revelar, contudo, estejamos confiantes, seguros e confortados com o que Ele quis nos manifestar através da Sua santa palavra, o que já é por demais grandioso e glorioso para a nossa exiquidade.
Infelizmente, parece mais fácil adequar os atributos divinos à nossa imperfeita e caída natureza do que avaliar submissa e espiritualmente os ensinamentos bíblicos, com temor e reverência, sabendo que se trata de algo muito elevado, muito além dos meros preceitos humanos, muito além do nosso juízo.
O importante é crer que as Escrituras são a fidedigna palavra de Deus, revelada ao Seu povo, e de que o Senhor é o Deus soberano e supremo de todo o universo; o que não exclui eu, você, ou qualquer outra coisa (seja mineral, vegetal, animal ou espiritual), de sujeitar-se à vontade divina, “porque falou, e foi feito; mandou, e logo apareceu” (Sl. 33.9).
Como Davi cantou, ao reconhecer sabiamente o que o Altíssimo fizera ao elegê-lo, libertá-lo e entronizá-lo como o rei de Israel:“ O Senhor é o meu rochedo, e o meu lugar forte, e o meu libertador; o meu Deus, a minha fortaleza, em quem confio; o meu escudo, a força da minha salvação, e o meu alto refúgio... Porque quem é Deus senão o Senhor?... O Senhor vive; e bendito seja o meu rochedo, e exaltado seja o Deus da minha salvação. É Deus que me vinga inteiramente, e sujeita os povos debaixo de mim” (Sl 18.2;31;46-47).

04 maio 2008

ONDE ESTÁ O SEU TESOURO?











Por Jorge Fernandes


“E tinha esta uma irmã chamada Maria, a qual, assentando-se também aos pés de Jesus, ouvia a sua palavra. Marta, porém, andava distraída em muitos serviços; e, aproximando-se, disse: Senhor, não se te dá de que minha irmã me deixe servir só? Dize-lhe que me ajude. E respondendo Jesus, disse-lhe: Marta, Marta, estás ansiosa e afadigada com muitas coisas, mas uma só é necessária; e Maria escolheu a boa parte, a qual não lhe será tirada”(Lc 10.39-42)

A Bíblia afirma que o crente é um ser separado. Separado para Deus, e do mundo. Estamos no mundo, mas não pertencemos a ele (Jo 17.16); antes, somos de Deus, propriedade Sua, comprados por alto preço (1Co 6.20). Então, porque a maioria de nós “devota” a totalidade do seu tempo, das suas energias, dos seus dons e talentos, do seu dinheiro, da sua atenção, do seu estudo, e de tudo o mais que o cerca, a fim de satisfazer-se no mundo, pelo mundo e para o mundo?
Vejo muitos falando de Cristo. Muitos o chamam de “senhor”. Alguns choram, emocionados. Outros demonstram uma confiança parecida com a que se deposita em um talismã. Como se o nome de Cristo fosse uma ferradura ou um pé-de-coelho, ou na melhor das hipóteses, uma chave que abrirá todas as portas... as que eu quero abrir, as quais me satisfarão. Crêem que o nome de Jesus tem um poder imanente, bastando proclamá-lo para que, num passe de mágica, tudo ao nosso redor se transforme em satisfação pessoal. E isso é mais do que o suficiente para elas. Falar de Cristo vez ou outra, sem compromisso. Pensar Nele como um “gênio da lâmpada”, pronto a realizar todos os nosso caprichos, como se nós fóssemos deuses, e Ele, criatura. Será isso conhecê-lO verdadeiramente?
Jó entendeu que o conhecimento de Deus é muito mais do que ouvir falar Dele, e repetir aos quatro cantos, como um papagaio, o que ouviu: “Por isso relatei o que não entendia; coisas que para mim eram inescrutáveis, e que eu não entendia. Escuta-me, pois, e eu falarei; eu te perguntarei, e tu me ensinarás. Com o ouvir dos meus ouvidos ouvi, mas agora te vêem os meus olhos” (Jó 42.3-5). Reconhecendo a dimensão do seu erro, ele concluiu: “Por isso me abomino e me arrependo no pó e na cinza” (Jó 42.6).
Estar no mundo não é pertencer a ele. Nem ao menos se agradar com ele, quanto mais viver em função dele. Essa não é a nossa glória. Nem a nossa atribuição. O nosso dever é o de obedecer ao nosso Senhor, proclamar o Seu Evangelho e glorificá-lO. Parece simples, e talvez por isso, negligenciamos tanto essa incumbência dada-nos por Cristo. Em muitos casos, desprezamo-la, em favor da nossa glória pessoal. Quantos não se empenham até o sangue por um diploma? Pelo cargo de executivo? Pelo carro novo, viagem, ou pelo novo desejo que se seguirá a outro desejo realizado? É um círculo vicioso, que nos domina, nos consome, e tira-nos do privilégio supremo de servir ao nosso bom Deus.
Quantos de nós não se encontram “encantados” pela tv, pelo sexo, pelo futebol, pelas festas e shows, que não têm um momento sequer para ler, ouvir e meditar na Palavra de Deus? Quantos de nós oram numa fração de segundo, enquanto passam horas e mais horas diante da tela do computador ou da tv envenenando-se, repetida e maciçamente, com as toxinas do mundo? Não ficam um dia sem eles, mas podem ficar semanas, meses e até anos sem ouvir uma pregação, sem comunhão com os santos, sem confortar um irmão, sem contribuir para a obra de Deus, sem interceder pelos que sofrem, pelos que morrem, e pelos condenados eternamente.
Pelo contrário, como luzes que deveriam iluminar o mundo, não o fazemos (Mt 5.14), antes nos misturamos às trevas, tornando-nos participantes dela (Lc 11.35). Seduzidos como o marido infiel pela amante (na verdade, seduzidos pelo nosso pecado, pela nossa rebeldia, pelo desprezo a Deus), voltamo-nos para o mundo, como se jamais tivéssemos saído dele.
No texto acima, Marta era uma discípula do Senhor. O amava, reconhecendo-O como o Cristo (Jo 11.27), queria agradá-lO naquele momento em que O recebia em casa. Estava atarefada, preocupada com os seus afazeres, distraída em muitos serviços; provavelmente, suas intenções eram as melhores, queria servir correta e adequadamente ao Senhor, queria que Ele se sentisse confortável e que desfrutasse da sua hospitalidade; inebriada em seu trabalho não percebeu como estava errada, e de como desperdiçava não somente o seu tempo, mas a sua energia, em ansiedade e cansaço. Marta, certamente, seria uma “workaholic” dos nossos dias, uma viciada no que faz, vivendo para o que faz, e não pelo que faz; ela seria uma das vítimas do stress, da estafa, talvez até mesmo da depressão pós-moderna. Por isso, o Senhor nos adverte: “Mas os cuidados deste mundo, e os enganos das riquezas e as ambições de outras coisas, entrando, sufocam a palavra, e fica infrutífera... Pois, que aproveitaria ao homem ganhar todo o mundo e perder a sua alma?” (Mc 4.19; 8.36). Paulo exorta-nos a não sermos conformados com este mundo, mas sermos transformados pela renovação do nosso entendimento, para que experimentemos qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus (Rm 12.2).
Marta não compreendeu o mesmo que sua irmã Maria, de que, ao invés de proporcionar conforto ao Senhor, era ela quem deveria desfrutar do Seu consolo. Como alguém que não vê além do próprio nariz, queixou-se a Jesus por “reter” a Maria que O ouvia, enquanto ela, pobre-coitada, se desdobrava em servi-lO. Foi, sem dúvida, um atrevimento da parte de Marta, uma repreensão tola e mal-educada (especialmente porque ela parecia querer agradar ao Senhor... ou queria mostrar a sua eficiência?), peculiar às mentes dominadas e minadas pelo pecado do individualismo, do egocentrismo. Marta, literalmente, “pisou na bola”. Em sua agitação despropositada, interessada em ser uma boa anfitriã, em atingir suas metas e obter os resultados pelos quais se esforçava, ela se esqueceu do mais importante: adorar ao Deus vivo. O seu erro foi agravado ainda mais pelo fato de considerá-lO um insensível: “Senhor, não se te dá de que minha irmã me deixe servir só?”. E a aflição e a insensatez da sua alma, levaram-na a julgá-lO equivocado na forma em que agia: “Dize-lhe que me ajude”.
Quantas vezes ignoramos, ou somos tentados a duvidar de Deus? E em outras a censurá-lO? Com qual direito agimos assim? “Ó homem, quem és tu, que a Deus replicas? Porventura a coisa formada dirá ao que a formou: Por que me fizeste assim?” (Rm 9.20).
Mas a Cristo coube uma advertência amorosa, pacífica, repleta de compaixão e misericórdia; contudo, imperativa, reveladora o suficiente para que ela pudesse aperceber-se de seu grave erro: “Maria escolheu a boa parte, a qual não lhe será tirada”.
A comunhão com Deus é a única indispensável a nossas vidas. Devemos buscar sempre, e em primeiro lugar, o Seu reino e a Sua justiça (Mt 6.33). O mundo e tudo o que nele há, passará. O que plantamos agora, daqui a pouco, de nada servirá, tornando-se inútil. E muito do que nos esforçamos em alcançar continuamente é irrelevante, supérfluo; “porque, onde estiver o vosso tesouro, ali estará também o vosso coração” (Lc 12.34).
Pois, se alguém ama a Deus, é conhecido dele (1Co 8.3); e para os filhos de Deus, somente isso é necessário... Como Maria entendeu gloriosamente, ao deleitar-se em conhecer o seu Senhor.

29 abril 2008

AINDA ASSIM

Por Jorge Fernandes

Tudo me deres,
E, ainda assim, orgulho-me de tê-las aceito,
Como se possível fosse tomá-las,
E pelo vigor, o céu se tornar azul,
Ramos a brotar da terra,
Enquanto suo gotas douradas de paladino.


Tudo me dás,
Mas no intelecto descanso,
Um sono atormentado e lívido,
Onde posso todas as coisas,
E, ainda assim, vejo-me cair em trevas,
Nem ao menos tocar o fundo,
Sem saber o que me esperas.


Tudo me darás,
E, ainda assim, ponho-me em insatisfação plena,
Onde o gozo difuso,
Me possui no segundo,
Para depois arder em prurido;
Análogo ao doador,
Julgo sê-lo,
Quando na verdade, não é o meu sangue,
Mas o Dele a verter em mim.


Risos, gargalhei,
Lágrimas, chorei,
Por mim,
De mim,
Estendi minha debilidade,
Como um cueiro a agasalhar-me o corpo,
Na elevada auto-estima,
Resisti-me nu,
Ao frio a vergalhar-me a carne,
Qual caça nas garras do predador.


Ainda assim, eu não O via
Suster-me em suas mãos,
A Palavra a gerar vida,
Nutriu-me a alma,
Os olhos fitos à Luz.


Não sou mais eu,
Nem o fui,
Mesmo como tresvario,
Anseio a morte,
E nem o mais sofístico kamikaze conceberia,
Que ao invés do logro,
Surge a verdade:
Ele vive em mim.


Se deu a Seu tempo,
Eternamente.

21 abril 2008

VELOZES...




















Por Jorge Fernandes


“Mas se alguém agir premeditadamente contra o seu próximo, matando-o à traição, tirá-lo-ás do meu altar, para que morra. O que ferir a seu pai, ou a sua mãe, certamente será morto. E quem raptar um homem, e o vender, ou for achado na sua mão, certamente será morto” Êxodo 21.14-16


No relativismo moral em que vivemos, o homem é caça, e refém da sua fraqueza e transigência. O homem ao julgar-se evoluir, apenas revela-se ainda mais débil do que já foi um dia. Estamos rodeados por governos fracos e inoperantes, famílias frágeis e desagregadas, vizinhança fugidia no individualismo medroso de sua própria omissão. O homem é um par de pernas ágeis, ainda que trôpegas, corredias ao esconderijo da covardia. E o troféu ganho pode ser a morte imediata, ou a impunidade, seguida de morte. Entre bandidos e mocinhos, ninguém se salva. Todos são culpados: os que matam, e os que se deixam morrer. Não há inocente, ainda que todos sejam vítimas. Todos são criminosos, mesmo que somente uma minoria seja condenada. A sociedade agoniza, como um doente terminal... Já se ouvem os últimos suspiros... mesmo que a esperança venha em minúsculas cápsulas de açúcar... Fatalismo? Realidade? Delírio?
Olhe ao redor. Abra os olhos, as narinas, os ouvidos. Veja. Cheire. Ouça. Ainda que Deus tenha criado um mundo maravilhoso, ordenado, funcional e aprazível, os resultados da “obra humana” encontram-se espalhados como vermes no monturo: feiúra, caos, desconforto. A Queda do homem proporcionou o colapso do mundo. O pecado foi e é o propulsor para o que vemos e não suportamos ver, para o que cheiramos e não suportamos cheirar, para o que ouvimos e não suportamos escutar, para o que não tocamos e suportamos não tocar. A humanidade decaí, minuto a minuto, morinbunda, sujeitando-se à sua inevitável impiedade.
Os jornais estampam a nossa vergonha. Publicam a nossa sordidez. Dissecam a nossa pobridão. Os corpos há muito estão despojados. A alma, cativa. Prazerosos, entregues ao algoz, pelejamos pela morte, como se viver fosse martírio.
Pais descuidados, filhos rebeldes, mestres inescrupulosos, alunos indolentes, maridos e esposas infíeis, sexo leviano, contratos inexequíveis, governos polutos... a refletir o que há de mais marcante na natureza humana: o ódio a Deus.
Não se engane. A idéia que você tem de Deus pode ser qualquer coisa, menos Ele. O que foi-lhe dito, pode trazer-lhe algum alívio, temporário e fracionado, pode trazer-lhe até mesmo uma espécie de conforto, mas ao confrontar-se com a verdade divina, descrita e pormenorizada na Bíblia, o que você sente? Desdém? Ira? Aversão? Abandona-a completamente? Ou como num self-service, colhe apenas e tão somente aquilo que não fere a sua consciência? Será possível agradá-lO sem obedecê-lO? E honrá-lO sem segui-lO? E glorificá-lO sem nos negar?
“Então disse Jesus aos seus discípulos: Se alguém quiser vir após mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz, e siga-me” (Mt 16.24).
A maioria das pessoas, ao ler este versículo, vê-o como um alívio para os seus problemas. Já ouvi muitas interpretações, e quase todas nos dizem para levar a nossa cruz e seguir ao Senhor, do jeito e como der. Quase todos se esquecem de que, não é possível seguir ao Senhor se não “renunciar-se a sim mesmo”. Em Mc 8.34 e Lc 9.23, lemos: “negue-se a sim mesmo”. E as palavras negar ou renunciar têm o mesmo significado. Não é uma negação simbólica, alegórica, irreal. Antes, é a recusa efetiva, é negar a nossa natureza pecaminosa, caída e depravada.
Você pode perguntar: “O que isso tem a ver com a sua exposição inicial?”. Respondo: “Tudo!”. O fato do homem encontrar-se em um beco sem saída, como o cão a caçar o próprio rabo, é que não há nem nunca haverá solução para ele e a humanidade em si mesmos. Enquanto iludirmo-nos de que podemos (mesmo que seja num futuro longinquo, fictício) consertar os erros criados por nós e nossos semelhantes; enquanto nos apegarmos a idéias utópicas de que o homem é bom, e basta um esforço para encontrar essa bondade nele, e de que é capaz de dividi-la com o próximo, a sociedade e o mundo (mesmo que não saiba onde ela está, e mesmo que defina sempre o próximo como ele próprio); enquanto continuarmos olhando para nós com autoindulgência e comiseração, e nos fazermos de pobres-coitados, de injustiçados, de vítimas oprimidas pelo sistema (seja lá o que isso representa); enquanto não olharmos para nós mesmos, não com os olhos encobertos pela dissimulação, pelo engano, mas olharmos para o que Deus nos revela sobre nós, estaremos irremediavelmente perdidos, obliterados pela cegueira.
É tempo de ver. E não de camuflar. É tempo de agir. Não como um piqueteiro inconsequente atirando pedras nos “fura-greve”. Não como alguém que vê somente o erro alheio. Como alguém que tem salvoconduto para a acusação. Deixar de olhar para a própria iniquidade, faz-nos odiosos diante de Deus. E os outros homens ver-nos-ão apenas como mais um inimigo, o qual se deve destruir (a destruição não somente física, mas psicológica, emocional, financeira...).
No tempo em que o temor a Deus está perdido, onde o homem relativiza tudo, onde ele mesmo não se julga culpado por nada, onde os outros são solidários em meus crimes apenas para que os seus também sejam absolvidos, onde “as verdades” são sofismas que nos levam à perdição, o homem precisa encarar o fato do que é: o próprio mal.
Estigmatizamos o diabo, e ele tem a sua culpa. Blasfemamos contra Deus, o que é abominável. Julgamos interiormente o próximo, ainda que não o façamos exteriormente, por vergonha de nós mesmos. Somos incapazes do auto-juízo, ainda que sejamos julgados, mais cedo ou mais tarde por Deus.
“E, como aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo depois disso o juízo” (Hb 9.27).
E o amor de Cristo, que nos constrange (2Co 5.14) é o único capaz de nos afastar de nós mesmos e da nossa natureza, e do mal que habita em nós. E de nos tornar possíveis para o próximo, para o mundo, para nós. Sem Cristo, somos incapazes de amar, da mesma forma que a areia jamais amará a pedra. Ao contrário, se O conhecemos, estamos reconciliados com Deus, e seremos cheios da Sua plenitude (Ef 3.19), e a vida se abrirá para nós, e sepultaremos, definitivamente, a morte.
“Em verdade, em verdade vos digo que, se alguém guardar a minha palavra, nunca verá a morte” (Jo 8.51).
Quanto ao homem natural, irreconciliável, rebelde, malévolo, resta-lhe a punição, a fim de se resguardar a vida, de tão alto valor, mas tão aviltada na atualidade. E que a sociedade, como remediadora (e não mediadora), corrija o mal praticado, e não seja cúmplice dos nossos crimes.

17 abril 2008

CUMPRA-SE!












Por Jorge Fernandes

"O que era desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que temos contemplado, e as nossas mãos tocaram da Palavra da vida... O que vimos e ouvimos, isso vos anunciamos, para que também tenhais comunhão conosco; e a nossa comunhão é com o Pai, e com seu Filho Jesus Cristo. Estas coisas vos escrevemos, para que o vosso gozo se cumpra” (1Jo 1.1;3).


O apóstolo João foi testemunha ocular das maravilhas que Cristo nosso Senhor realizou aqui na Terra. E no momento de maior sofrimento do nosso Salvador, no Calvário, quando estava expiando os pecados do Seu povo, da Sua Igreja, João também estava lá. Imaginemos a dor que o discípulo amado sentiu ao ver o Seu Senhor morrer na cruz. Ao vê-lo humilhado, padecendo, o corpo marcado por açoites, por ferimentos, o sangue escorrendo através dos cravos, através dos espinhos com os quais o “coroaram”; o Seu lado vertendo água e sangue; ouvindo as blasfêmias, os insultos e o escárnio dos judeus e romanos, os quais zombavam do Mestre.
Mas esses não foram os motivos pelos quais o Senhor mais se afligiu. É claro que como homem, Jesus Cristo sofreu na carne, na pele; lançaram-lhe em rosto a abominação de toda a maldade existente na alma humana; mas, certamente, a maior angústia pela qual o nosso Senhor passou foi a de carregar os pecados de todos aqueles que seriam remidos pelo Seu sacrifício. Jesus, o Deus-Filho eterno, sem o qual nada do que foi feito se fez (Jo 1.3), o santo, puro, imaculado e justo, levou sobre si toda a nossa iniquidade, todos os nossos pecados, carregou a nossa natureza caída; e, ali no Calvário, Ele expiou-nos, reabilitou-nos pelo Seu castigo, livrando-nos da ira de Deus, e reconciliando-nos com Ele.
Provavelmente, João ainda não entendia isso. Mas ali, diante da cruz, testemunhou o sacrifício do Santo de Deus. E testemunhou o sepulcro vazio, os lençóis no chão, e o lenço enrolado num lugar à parte; e viu, e creu (Jo 20.5-8). E em outras ocasiões, João viu, tocou, foi tocado e falou com o Senhor após a Sua morte e ressurreição (Mt 28.17-18; Mc 16.14; Jo 21.7; At 1.1-9; Ap 1.17-19).
Por isso, ele nos escreve, anunciando que o seu testemunho é para a nossa comunhão com os santos e com Deus; para que o nosso gozo se cumpra (aqui, "o nosso gozo" é tanto o do apóstolo João, como o meu, o seu, como o de toda a Igreja, mas também é o de Deus).
É fantástica a forma como o Senhor cuida de nós, como Ele se preocupa com os mínimos, e muitas vezes, desapercebidos detalhes. Deus reservou para o Seu povo, para as Suas ovelhas, o gozo, o prazer de usufruirmos da comunhão consigo mesmo. Ele poderia nos reservar apenas a salvação (o que já é indescritível, visto o tamanho e a intensidade de nossos pecados e iniquidades), fazer-nos escravos e sujeitos unicamente à Sua autoridade e Senhorio. Mas Deus nos ama, e quer que tenhamos gozo, que desfrutemos Dele e de toda a Sua glória.
Em João 17.13, Jesus diz: “Mas agora vou para ti, e digo isto no mundo, para que tenham a minha alegria completa em si mesmos”. Deus quer que tenhamos em nós, completamente, a Sua alegria. E o que é essa alegria? Em Atos 13.52, Lucas nos diz: “E os discípulos estavam cheios de alegria e do Espírito Santo”. Paulo complementa em Rm 14.17: “Porque o reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo”.
Vemos então, que a alegria a qual o Senhor Jesus se refere é a alegria do Espírito Santo. É Ele que nos revela a nossa iniquidade (o que nos enche de profunda tristeza - Ef 4.30; 2Co 7.10), mas Ele mesmo nos consola mostrando-nos o perdão em Cristo (1Jo 1.9); abrindo-nos os olhos para as maravilhas que Deus tem guardado para aqueles que não são negligentes, mas são imitadores dos que pela fé e paciência herdam as promessas divinas (Hb 6.12).
Cristo, o justo, morreu por nós, os injustos, para levar-nos a Deus (1Pe 3.18); e na comunhão que temos com Ele, em obediência, é que se encontra a totalidade do nosso prazer; e é assim que deve e deveria ser.
Em Jo 15.9-11, Cristo diz: “Como o Pai me amou, também eu vos amei a vós; permanecei no meu amor. Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor; do mesmo modo que eu tenho guardado os mandamentos de meu Pai, e permaneço no seu amor. Tenho-vos dito isto, para que o meu gozo permaneça em vós, e o vosso gozo seja completo”.
O gozo ao qual o Senhor fala não é uma mera manifestação de sentimentos. Não é um fluxo momentâneo ou um estímulo fugaz, nem mesmo um arrepio ou uma sensação de súbito frescor. O gozo ao qual as Escrituras se referem é um gozo perene, longevo; em nós implantado diariamente pelo Espírito Santo, e que, muitas vezes, se manifestará nas dificuldades e reveses da vida; porque não nos gloriamos apenas na esperança da glória de Deus, mas nos gloriamos igualmente nas tribulações (Rm 5.2-5). Portanto, se o nosso gozo fosse apenas reservado aos momentos de alegria, não seria completo. É isso que o Senhor diz. Que a alegria independe do instante, podendo manifestar-se ao ganharmos um presente, como ao sermos perseguidos. Se ocorre apenas em uma das situações, o gozo está incompleto, e não provém de Deus. Devemos entender que Deus nos abençoa de múltiplas formas, tanto na alegria como na dor; e é no sofrimento que, muitas vezes, vislumbramos a face do nosso misericordioso Senhor.
A fonte para que o gozo se realize totalmente em nós é a obediência a Deus. O Senhor Jesus guardou os mandamentos do Pai e teve gozo. E o Senhor nos ordena a guardar os Seus mandamentos para que também tenhamos gozo, e que ele seja completo. O princípio é o da obediência, de não apenas ouvirmos, mas de praticarmos aquilo que o nosso Mestre supremo nos ordenou.
Guardar os Seus mandamentos é reter a Palavra da Vida, o próprio Cristo, em nós; a fim de nos mantermos Nele e Ele em nós, e permaneceremos no Seu amor. Jesus usa o exemplo da videira, onde Ele é a videira verdadeira (a única, não havendo outra; sendo as demais falsificadas), o Pai é o lavrador e nós somos os ramos. E de que o Pai é glorificado quando nós, os ramos, damos muito fruto; e assim, seremos recebidos como discípulos do Seu Amado Filho (Jo 15.1-8).
O gozo, portanto, é o sacrifício de Cristo na cruz; a alegria da salvação; é desfrutar do Seu perdão e do Seu imenso amor; é viver cheios do Espírito Santo; é obedecermos os Seus mandamentos; é glorificá-lO tanto na alegria como nas tribulações; é darmos frutos para a Sua glória, testemunhando as maravilhas que Ele fez em nós. E conforme o apóstolo João disse: isso anunciamos para que tenham, também, comunhão com os santos.
Somente assim, Cristo será gerado e permanecerá em nós, “para que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim, e eu em ti; que também eles sejam um em nós... para que o amor com que me tens amado esteja neles, e eu neles esteja” (Jo 17.21;26); e o nosso gozo se cumpra.

05 abril 2008

OVELHAS DESGARRADAS

Por Jorge Fernandes

Diante do número de irmãos que têm optado em não congregar, e que não integram uma igreja local, resolvi escrever sobre o assunto, pois o considero de extrema gravidade e danoso à vida do cristão. O intuito não é o de uma critica pura e simples mas uma exortação, mostrando que a Bíblia não abre precedentes para o crente viver sem congregação, a despeito de uma “teologia moderna” que se dissemina e procura afastar o cristão do seu compromisso com Deus e a igreja (e o aproxima cada vez mais de si mesmo e do seu individualismo).
Nem tão-pouco quero fazer-me superior ou melhor do que qualquer pessoa, visto que sou um mísero pecador, resgatado e regenerado pela graça de nosso Senhor e Salvador. Portanto, espero sinceramente que o texto sirva como ajuda e reflexão, para que os irmãos assumam os seus postos no reino do bendito Senhor Jesus, conforme o chamado que Ele fez (e faz) a cada um.

A) PRINCIPAIS ARGUMENTOS DOS “SEM IGREJA”:

a) A igreja apostatou; portanto, estou desobrigado de pertencer a ela.
b) Já que sou salvo, para quê igreja?
c) Você não conhece a minha vida, ela é difícil demais! E as circunstâncias me impedem de congregar.
d) Respeito a sua opinião, mas não vejo a igreja como imprescindível na vida do crente, afinal, os tempos são outros...

B) REFUTAÇÃO AOS ARGUMENTOS DOS “SEM IGREJA”:

(As respostas não seguem a mesma ordem das questões, e muitas vezes, se intercambiam):
1 - Começando pelo fim, pouco importa a minha opinião ou a de qualquer crente, seja quem for, se ela não estiver embasada nas Escrituras. O importante é o que Deus quer e nos manda fazer. E a Sua vontade está claramente expressa na Bíblia de tal forma que somente em desobediência nos recusamos a cumpri-la; ou por negligência, quando deixamos de buscá-la diariamente. Se não refletimos a vontade de Deus, como testemunhas da transformação que Ele operou em nós, por melhor intenção que haja, estaremos errados e fadados ao engano e tropeço. E a minha opinião será sempre irrelevante diante da vontade soberana, santa e justa do nosso bom Deus.
2 - O Senhor Jesus Cristo morreu por Sua Igreja, a qual resgatou com o seu próprio sangue, exclusivamente para livrá-la deste mundo (Atos 20.28; Ef. 5.25). Portanto, não podemos minimizar a sua importância e achar que por causa da apostasia quase absoluta entre as denominações, o Senhor “abandonou” e se esqueceu do seu povo. Cristo morreu na cruz do Calvário pela Sua igreja, que é o corpo do qual Ele é a Cabeça (Col. 1.18); para que, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo e cheguemos à unidade da fé, e ao conhecimento do Filho de Deus, o homem perfeito, e não segundo a vaidade da nossa mente (Ef. 4.13-17).
Crente “Big Brother” que somente se interessa com o que se passa na própria “casa”, preocupado exclusivamente com seus afazeres diários, subsistência e disputas pessoais, e em ganhar o "jogo", no mínimo, está equivocado quanto ao seu chamado, se é que entende o que venha a ser o chamado de Deus. Ouçamos a sentença do Senhor em Mt 16.25: “Porque aquele que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á, e quem perder a sua vida por amor de mim, achá-la-á”.
Valorizar os problemas, eximindo-nos da nossa responsabilidade e dever, e esquivando-nos de cumprir a nossa obrigação como cristãos, é escamotear e não se comprometer com Cristo; é preocupar-se unicamente consigo mesmo em detrimento da obra de Deus e da igreja; é lançar um fardo extra nos ombros de irmãos que fazem exatamente o que eu e você desprezamos, mas não cansamos de alardear que fazemos: esses irmãos evangelizam, confortam, assistem ao próximo, e glorificam e honram ao nosso Senhor obedecendo-O (“as minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu conheço-as, e elas me seguem” – Jo 10.27; “E por que me chamais, Senhor, Senhor, e não fazeis o que eu digo?” Lc 6.47).
Em contrapartida, “A sociedade de consumo diz: ‘Fique em casa, feche a porta, assista à televisão, tenha suas coisas e seja você mesmo do seu jeito’. Esta não é a vontade de Deus... Devemos estar em comunidade, em nossa vizinhança, na igreja, na família, em vez de viver o individualismo de nossa sociedade. Ande no Espírito. O Espírito busca reunir a igreja. Você está em sintonia com ele?... Que cada um de nós esteja comprometido com Cristo na prática, nos trabalhos de sua igreja, na perseverança para alcançar o reino de Deus, na divulgação do evangelho e na busca em servir uns aos outros em Cristo”1
3 - Deus sabe tudo; conhece cada célula do nosso corpo muito melhor do que jamais saberemos. Ele reconhece as nossas dificuldades, os nossos problemas, mas, se como disse antes, os valorizamos ou nos utilizamos deles para não fazer aquilo que Ele quer e nos ordena fazer, não agimos contrariamente ao que dizemos? Se falo que a minha vida está nas mãos de Deus, se afirmo que espero Nele, e somente Nele, mas me curvo diante das circunstâncias, elas se tornam maiores do que Deus; e não somente são obstáculo e empecilho, mas transformam-se no fio condutor que nos levará a uma vida apenas secular, guiando-nos na contramão do verdadeiro cristianismo (e a Igreja é parte dele).
Ao dizer que amo a Cristo, e Cristo me ama, e que Ele é incapaz de me sustentar e capacitar, e que sou incapaz de servi-lO, não ajo antagonicamente? Será que passaríamos por provas pelas quais Estevão, Pedro, Tiago e Paulo passaram? Ficaríamos confinados por 14 anos na prisão por recusar-nos a negar a Cristo como John Bunnyam e Richard Wurmbrand? Sacrificaríamos a vida, a família e a saúde por amor a Deus e ao próximo como o fizeram William Tyndale, John Hus, William Carey e David Brainner?
4 - Vejo muitos irmãos sofrendo, tanto na igreja como fora dela. Mas os irmãos que congregam têm o conforto da Palavra, da exortação e admoestação da pregação, a comunhão com os santos, o auxílio e consolo que Deus providenciará a cada um, pois Deus é muito formidável na assembléia dos santos, e para ser reverenciado por todos os que o cercam” (Sl 89.7).
Por sua vez, esses irmãos confortarão igualmente outros irmãos, exortando e auxiliando naquilo que Deus os capacitou como instrumentos de bênçãos na igreja (“... para que também possamos consolar os que estiverem em alguma tribulação, com a consolação com que nós mesmos somos consolados por Deus” – 2 Co 1.4). Estando eles debaixo da autoridade e proteção de Deus e da autoridade e proteção que Deus outorgou à Igreja (Mt 18.15-20), a qual é responsável pela sustentação dos santos e pela realização da obra do Senhor na terra.
O sofrimento pode até ser o mesmo, mas Deus usará de santificação e edificação no primeiro caso, enquanto os crentes em rebeldia estarão sob a disciplina e correção do Senhor. Paulo, em Hebreus 10.25, diz: "E consideremo-nos uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras, não deixando a nossa congregação, como é costume de alguns, antes admoestando-nos uns aos outros; e tanto mais, quanto vedes que se vai aproximando aquele dia".
5 - A história mostra a Igreja do Senhor, desde os tempos apostólicos, sendo perseguida. Satanás, de todas as formas, tentou frustrar os planos de Deus (e ainda hoje ele tenta), trazendo dor, tribulação, perseguição e morte à Igreja. Contudo, movidos pelo amor de Cristo, o poder do Espírito Santo e o serviço dos santos, ela cresceu, expandiu-se, refletindo a autoridade que Deus lhe investiu. Muitos sacrificaram seus bens, reputação, a família e a própria vida. Cristãos e mais cristãos foram levados para as arenas com seus familiares, e desde o filho menor ao chefe da casa, todos foram martirizados. Qual era o objetivo dos romanos? Qual o objetivo do diabo? Que adorassem a César e rejeitassem a Cristo; e assim a igreja desapareceria, e com ela o Evangelho e a salvação do homem... O que jamais ocorrerá, visto que o próprio Senhor nos diz: "edificarei a minha igreja e as portas do inferno não prevalecerão contra ela" (Mt 16.18).
Na idade média, a igreja romana perseguiu, torturou e martirizou milhares de crentes fiéis, que não se submetiam ao seu jugo diabólico; e igualmente esses irmãos perderam tudo, e bastaria negar a sua fé, mas preferiram a morte. Como Pedro disse diante dos seus inquisidores em Atos 5.29: “Mais importa obedecer a Deus do que aos homens” (e aqui, “aos homens”, inclui-se a obediência que devotamos a nós mesmos. Pois temos o amargo gosto de satisfazer as nossas vontades julgando-as como de Deus, quando são apenas apelos carnais. Que cada um de nós ore ao Senhor, e um dia possamos dizer como Paulo em Gl 6.4: “Mas longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo”).
Hoje, não sofremos qualquer ameaça, pelo menos no Brasil e por enquanto. Podemos nos reunir livremente em qualquer lugar, a qualquer hora, sem sermos ameaçados por nada (talvez por isso, somos tão acomodados e inoperantes).
No mundo, especialmente o islâmico e comunista, crentes no Senhor são privados de conforto, de acesso a água, comida, escolas, hospitais, de assistência; são caçados, encarcerados, mortos; perdem os poucos bens que possuem, perdem o lar, os filhos, a esposa ou marido, perdem a própria vida, mas resistem a negar a Cristo (há material vasto e informações atuais no endereço http://www.portasabertas.org.br/ e também em http://www.vozmartir.org/ 2).
Serão eles melhores do que nós? Ou o nosso Deus menor que o deles?

C) CONCLUSÃO:
Respeito opiniões, sejam as de qualquer um. E respeito os que julgam a igreja descartável. Contudo, creio que os crentes têm e devem espelhar-se em Cristo Jesus, o qual é o nosso exemplo, e quem nos move a agir e a decidir em prol de uma vida cristã. É Ele quem opera em nós tanto o querer como o fazer, segundo a Sua vontade (Flp 2.13), mas "que cada um de vós saiba possuir o seu vaso em santificação e honra" (1Tes 4.4); "a batalhar pela fé que uma vez foi dada aos santos" (Jd 3). Oro para que Deus nos guie no cumprimento da Sua vontade, porque é pela igreja que a multiforme sabedoria de Deus faz-se conhecida dos principados e potestades nos céus (Ef. 3.10).
E cada um dos irmãos que não congrega atualmente, ore a Deus para que Ele lhes dê uma igreja local onde possam servir, honrar e glorificar o Seu santo nome...
E que venham a amá-la como Cristo ama.

1 - Cristãos em uma Sociedade de Consumo - John Benton - Ed. Cultura Cristã - pg. 103/123

2 - O site Voz dos Martíres mudou de provedor, portanto, estará "fora do ar" temporariamente, voltando em Maio/08 à normalidade.

24 março 2008

SENHOR OU ESCRAVO?















Por Jorge Fernandes Isah


O homem não é senhor, nem jamais o será. O homem não é senhor sequer de si mesmo, e jamais o será. O homem só pode ser servo, e isso ele é, e sempre será. Resta saber a quem ele servirá, se a Deus, ou ao Diabo e o pecado.

Se alguém se propuser a dizer que controla a própria vida, bem... ele não é humano, mas o próprio deus. Ele deve fazer parte de algum clã divino que o “possibilita” a gerir a própria existência. Haverá um de nós que pode afirmar tal coisa?

Comecemos pelo nascimento... Alguém escolheu onde nascer? De quais pais nascer? O país, cidade e hospital? Alguém escolheu o próprio nome, sexo, o tipo sanguíneo, a cor dos olhos ou da pele? Qual seria a sua professora no maternal, ou se teria habilidade suficiente para ser um craque em squash? Alguém pode decidir, minimamente, sem ser influenciado pelos amigos, pelo sistema, pela mídia, pela moral? Até mesmo o imoral parte da pressuposição da moral para a sua imoralidade, ainda que não a compreenda, e se rebele contra ela.

É possível comprar-se um creme dental sem que aja qualquer influência em nossa decisão? Seja ela econômica, estética, odontológica? Ou mesmo que pudesse ser aleatória, o que não é (talvez pela proximidade do tubo; ou por estar na prateleira de baixo ao meu alcance; ou porque o repositor esqueceu-se e deixou apenas uma marca em estoque... Visto que a minha altura, a da prateleira, e a incompetência do estoquista não são casuais mas causais), ainda assim haveria uma motivação, uma influência para se colocar o creme dental no carrinho de compras, seja qual for. Pois a própria decisão de comprar o dentifrício já é desencadeada por alguma persuasão, por forças que sequer conhecemos ou entendemos.

Se levarmos esse exemplo para todas as decisões na vida, veremos que elas jamais deixam de sofrer uma influência externa, que se acomoda internamente, formando o que se chama de vontade, escolha, desejo; que, contudo, não é livre e independente.

É fácil perceber o desgoverno de nós em nós mesmos, e que muitos fatores levam-nos à optar pelo azul ao invés do vermelho, a ser advogado ao invés de lenhador, a ouvir Bach e não o MC bolinha. Temos, assim, debilitada a noção de liberdade que julgamos ter, e da qual não queremos abrir mão, ainda que ela seja intangível e se afaste cada vez mais de nós na medida em que a entendemos. E pode nos fazer servos de um ou de outro senhor, mas jamais nos fará senhores, nem das situações, nem das escolhas, nem de nossas vidas.

Basta olhar o nosso guarda-roupas ou a nossa discoteca para percebermos o quanto a nossa "vontade" é servil, subjugada, escravizada. Não há autonomia, e crer nela é o mesmo que dar um placebo a um tetraplégico, e esperar encontrá-lo no próximo domingo pulando na arquibancada do Mineirão. O homem vive de sonhos, e o maior sonho é fazer-se dono de si mesmo e da sua vontade. O que nos faz voltar à pergunta inicial: de quem sou servo? Visto que não há como ser senhor, pelo menos devo saber a quem me submeto.

Jesus Cristo, em Mt 6.24, diz: "Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de odiar um e amar o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom" (uma entre tantas divindades criada pelo homem). E questionado pelos fariseus, afirmou: "Vós tendes por pai ao diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso pai. Ele foi homicida desde o princípio, e não se firmou na verdade, porque não há verdade nele. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso, e pai da mentira" (Jo 8.44); e ainda: aquele que me ama, fará a minha vontade. Portanto, a Bíblia confirma que temos um senhorio. Se de Cristo, a viver eternamente no Seu reino de glória; sem Cristo, a morrer eternamente para Deus, e para sempre ser castigado e lançado no inferno, onde o fogo não se extingue jamais.

Muitos dirão que Deus não existe. Apenas e tão somente o “poderoso” acaso; o qual aleatoriamente escolhe a morte para uns, a vida para outros, a miséria para um terceiro e a opulência para um quarto. O destino tornou-se o "deus" de milhares de homens durante a história da humanidade, e ele exerce uma força dominadora tão grande nas pessoas, que elas o ergueram ao pedestal de onisciência e soberania, como se nele houvesse inteligência, juízo, sabedoria, ou na pior das hipóteses, um poder caótico, desordenado; mas, ainda assim, capaz o suficiente para estabelecer diretrizes à vida.

Portanto, os ateus não podem esquivar-se a refletir: “somos peões nas mãos de um enxadrista, mesmo que ele não conheça e entenda o ‘jogo’”. O que os faz servos do seu deus, mesmo que seja um deus estúpido, estouvado e inconsequente, que bata a cabeça em paredes, volte e bata novamente, ignorando o que seja parede e o que seja cabeça.

A Bíblia afirma que Satanás é o pai da mentira, que ele veio para roubar, matar e destruir (Jo 10.10). Ele gosta de confundir, de fazer as pessoas parecerem originais em sua soberba e vaidade. No fundo, como um rebelde ensandecido, pai do caos, e um mentor diligente, ele explora esse sentimento arraigado no homem caído, visando convencê-lo da inexistência de Deus e dele próprio, pois ao negar-se, ele nega o pecado, a queda e o Altíssimo. É uma tática surrada, de um velhaco, mas que surte efeito em mentes arrogantes e incautas, em corações endurecidos.

Elas buscam independência e autonomia utópicas, levando-as a abominarem toda e qualquer referência ao único e verdadeiro Senhor (O Deus bíblico), a fim de viverem uma pseudoliberdade, de deter uma pretensa autoridade, insana, vã; tornando-os em insurgentes, aptos a viverem absolutamente na dissolução e pecaminosidade, em nome de um aparente prazer e superioridade.

Mas você, prontamente, gritará uma outra opção: “EU SIRVO A MIM MESMO! NÃO QUERO SABER DE DEUS! SOU DONO DO MEU NARIZ, E FAÇO O QUE QUERO, QUANDO QUERO!”. Pergunto-lhe: como fazê-lo se não é senhor? E se a sua vontade está presa, sujeita ao pecado? No máximo, o que fizer será sob ordens, no domínio do seu superior, sob o comando e a serviço de outrem. Jesus diz: "em verdade vos digo que todo aquele que comete pecado é servo do pecado" (Jo 8.34).

Não há meio termo, não há como conciliar e condescender. Rejeitar a Cristo e ao Evangelho é desprezar a Deus, é permanecer morto espiritualmente, e escravo da vontade do outro "senhor", o qual tem os dias contados, e um lugar de tormento reservado para ele e suas legiões de demônios.

A liberdade encontra-se exclusivamente em Jesus Cristo, o único capaz de quebrar os grilhões que nos mantêm aprisionados; pois Ele, em seu muito amor com que ama os seus servos, nos transporta do reino de dor, aflição, mentira e conceitos farsescos, para o reino de amor, verdade, paz e plenitude da Sua glória.

Como Paulo afirma (quando do retorno glorioso do Filho de Deus, como Rei dos reis, e Juiz do universo): “Para que ao nome de Jesus se dobre todo o joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra, e toda a língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai"(Flp 2.10-11).

Então, naquele dia, os homens que negaram a Deus e se mantiveram em insubordinação, Satanás e os anjos caídos (que na sua loucura pretenderam ser iguais ao Altíssimo), e aquele que crê, seja lá em que deus for, terá de se curvar, de quebrar a sua cerviz, porque estará diante do Senhor eterno e supremo; e a Sua glória o constrangerá de tal forma, que somente haverá lamento e choro por causa de toda a insanidade e tolice do homem.

Ao afastar-se definitiva e eternamente de Deus, e vislumbrar a Sua glória das densas trevas (se possível for), trará apenas a desolação e a lembrança de uma vida inútil na terra... e a constatação de uma vivência aterrorizante, flageladora... por toda a eternidade.

E onde estará o seu senhor? Aquele que o levou a se confrontar com a justiça de Deus, induziu-o ao erro de se considerar inocente, quando, ao praticar o crime de desprezar o Todo-Poderoso tornou-se condenado?... Estará ao seu lado, em indescritível tormento...

Concluo com a descrição libertadora de George Matherson:

“Faz-me um cativo Senhor e livre então serei;
Obriga-me à entregar a espada e serei um conquistador;
Nos alarmes da vida me afundo. Quando estou só;
Aprisiona-me em teus braços; e forte minha mão será”

Que Jesus Cristo, o Deus misericordioso e gracioso, sujeite-o ao Seu senhorio, para o seu próprio e eterno bem.