Sammis Reachers*
Contista, romancista e crítico literário, em Jorge
F. Isah o poeta é persona bissexta. E isto, esse chegar pela tarde, é excelente
tanto para o beletrista quanto para os bons vinhos: seu verso é maturado e
emancipado, sob a têmpera de suas muitas influências e leituras.
Sua poesia rompe e funda seu rumo, feito jangada de
Caronte no rio metafísico; uma poética que emana e dimana uma angústia
soteriológica. Percepções e sentimentos patentes em um poema como Confessionale,
onde legendários pecadores da literatura (Mr. Hyde, Fausto, Dorian Gray)
preparam sua atuação, sua farsa citadina, enquanto "a beleza [jaz] exilada
em manguezais":
Confessionale
Cores, formas, geométricas e desiguais
Ruídos, cantos, afinados e dissonantes
Ouro, prata, cobres e portais
Récita, danças, frenesi e variantes
Ruas e casas em silêncio mortal
Corações e mentes presos em cofres
A beleza exilada em manguezais
Hyde está sobre holofotes
Fausto cala-se atrás do ralete
Gray compõe seu make-up
Versos eliotianos lindam versos surrealistas, num jogo hermético tão caro ao poeta, desde seus livros anteriores, A Palavra Não Escrita e Arpeggios Insulares. Ao leitor, embarcado/aluado na fruição, cabe desnudar-se para abarcar, com tal potência, a nudez do autor, suas flores e descalabros. Na fímbria entre brumas e rochas, podemos ouvir a voz dos moralistas franceses como La Bruyère e La Rochefoucauld, vaticinando contra os vícios deste mundo em descendente torvelinho.
Signos afloram em tensa caudalosidade, o vernáculo
entrega seus frutos à dor do poeta e sua cisma, convidando o leitor ao
labirinto. Ao seu final, a luz de Cristo, início e fim da vida e do poema, dá
seu vaticínio e irrompe do verboverso de ardências deste “Na Eira de Ornã”.
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