09 novembro 2020

A Jornada no Império - A vida do Dr. Robert Kalley, ou a mordaça secular que não silencia.

 




Por Jorge F Isah


    Biografia do Dr. Robert Reid Kalley, médico escocês, que possuía um forte chamado missionário; e, desejando ir à China, acabou na Ilha da Madeira (colônia portuguesa), em virtude dos cuidados que a sua esposa necessitava, acometida de tuberculose, e do clima ameno da ilha, favorável ao seu tratamento. Ali o Dr. Kalley realizou um trabalho filantrópico de atendimento aos necessitados, doação de medicamentos e internação em sua clínica particular, enquanto se dedicava à proclamar o Evangelho de Cristo aos moradores daquela colônia. 

    Como a evangelização suscitou a rebelião de forças religiosas antagônicas, o sucesso do trabalho missionário, com a crescente conversão de almas, provocou a perseguição ao Dr. Kalley e à Igreja estabelecida em Madeira. Muitos foram presos, deportados para colônias na África, e alguns condenados à morte por heresia e blasfêmia. O próprio Kalley permaneceu preso por seis meses; sem que, contudo, os crentes negassem Cristo e abandonassem a fé uma vez dada aos santos, mesmo sobre forte opressão e oposição das autoridades eclesiásticas e governamentais da ilha. 

   Kalley tinha um espírito independente, provocando-lhe vários dissabores (muitos decorrente do seu desejo em manter-se livre até mesmo da vinculação a uma denominação específica). 

     Por ser herdeiro de um rico comerciante, ele patrocinou a quase totalidade das despesas oriundas do seu trabalho missionário e filantrópico, consumindo não somente a integralidade do seu tempo e dons, mas a totalidade dos seus recursos, renunciando a qualquer conforto e primazia sobre o seu patrimônio. 

    A grande comissão era, e sempre foi, o seu grande desejo de realização, servindo ao nosso bom Deus, proclamando o Evangelho de vida e salvação de nosso Senhor Jesus Cristo. 

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     A perseguição sofrida pela Igreja foi amostra cabal do quanto o homem está em rebeldia contra Deus, e de como a Verdade é combatida por aqueles que amam a mentira e o engano. Desde a época dos apóstolos, crentes em nosso Senhor são perseguidos mundo afora, muitos pagando com seus bens, família, liberdade e a própria vida (Mc 8.34). Mas a Igreja do Senhor jamais será destruída (Mt 16.18), porque ele é quem a conserva, preserva, e separou-a exclusivamente para si, como parte do seu corpo, noiva e amada. 

    Fica o exemplo de vida cristã desses irmãos que perderam tudo por amor a quem os amou primeiro; especialmente nos tempos atuais onde a gratidão, o servir a Deus e ao próximo, a fé e o rigor dos princípios bíblicos, deram lugar à covardia, à omissão, à indiferença, ao egoísmo, à descrença, tornando muitos em “igreja morna”, a qual certamente será vomitada pelo Senhor (Ap 3.16), e dele ouvirá naquele dia: “Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vos que praticais a iniquidade”(Mt 7.23). 

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     William Forsyth escreveu um livro dinâmico, agradável e fácil de se ler (ainda que aponte o constante sofrimento e aflição dos servos dedicados ao ministério evangelístico, mas também a glória de sê-los guiados por Deus à realização de obra tão sublime e santa), recheado de fatos, incidentes e testemunhos, muitos deles relegados ao completo esquecimento, como se o exemplo do passado merecesse o ostracismo, a obscuridade, não havendo qualquer valor; obliterando os feitos dos verdadeiros heróis para, em seu lugar, erguer ídolos de papel, homens que jamais seriam dignos de sequer lustrar-lhes os calçados. Talvez, pela própria ineficiência, descaso e falta de compromisso de muitos dos crentes das últimas gerações, a lembrança deve ser apagada a fim de não revelar o verdadeiro desastre e fracasso em que estamos naufragando. Infelizmente, vivemos tempos em que a memória, para o bem e para o mal, tem de se refugiar na inutilidade dos desejos “modernos” contemporizados. 

    Dr. Kalley foi um missionário perseguido por onde passou. O seu trabalho resultou em frutos para o Reino em todas as classes sociais. Ao contrário do movimento social nas igrejas atuais, originado na elite intelectual (seria antes o remorso ou uma nova forma de demonstrar superioridade sobre os mais fracos?), Kalley pouco importava-se com a condição e reputação dos seus ouvintes; pregava tanto a brancos como negros, a ricos e marginalizados, homens e mulheres, nativos ou estrangeiros, crianças e velhos, como todo cristão faria ou deveria fazer. Não foi preciso ninguém alertá-lo quanto a “isonomia” na pregação do evangelho, ou seja, do chamado geral de todas as pessoas a Cristo (falo do chamado geral, não do chamado particular; já que esse somente é feito pelo Espírito de Deus), em tempos que, como os atuais, existiam preconceitos e impeditivos a tentar frear a propagação das “Boas Novas”. E esse é o cumprir verdadeiro da Grande Comissão (a qual devemos fazer por amor a Cristo e ao próximo. Qualquer outro motivo não passará de pecado, dissimulado ou factual); que vai muito além do simples discurso, da retórica, da “teoria” se sobrepor à prática: de que somos, como igreja, chamados a evangelizar, mas também viver o evangelho, mesmo à força de perdas, infortúnios, abusos e intolerância. 

    O "Lobo da Escócia", como foi alcunhado, estabeleceu a igreja evangélica no Brasil, atingindo o objetivo pelo qual muitos antes dele tentaram e pagaram com as próprias vidas, sem sucesso, como os franceses, holandeses e ingleses (Forsyth dá um apanhado geral da tentativa de cristãos europeus em fundar "colônias" protestantes no Novo Mundo, o que não ocorreu a seu tempo, rechaçados e dizimados por clérigos e governantes hostis). 

    Muito do que os protestantes conseguiram na liberdade de culto no país, ao desagrado da Igreja Católica (o que não impediu que fomentassem e insuflassem ataques populares ao patrimônio e à vida dos "hereges" calvinistas) se deveu a intervenção direta do Imperador D. Pedro II, que tornou-se amigo pessoal do Dr. Kalley. É claro que, tanto Kalley como o Imperador, foram alvos da soberana vontade de Deus, sem a qual nada do que foi feito seria feito, nem as sementes lançadas no passado germinassem em solo Tupiniquim, dando frutos para a glória do nosso Senhor. 

     Este livro é um alerta para toda a Igreja, de que não vale a pena se sentar nos louros do passado e acreditar que as perseguições, abusos e coerções cessaram, pois em um mundo que odeia Cristo, e afasta-se cada vez mais do seu Evangelho, o povo de Deus sempre será alvo das forças malignas e destrutivas, contudo, jamais vencedoras; daqueles que não desistem do anseio de remover à força a verdade, de apagar a vida, e em dispor ciladas e armadilhas a fim de disseminar a traição e mentira e morte. 

     E muitos, dentre nós, serão instrumentos para que a injustiça, o sofrimento e a tirania alcance o povo de Deus. Mas, ao contrário deles, devemos seguir os exemplos do Dr. Kalley e outros tantos servos fiéis, e nos negar a viver a pior entre todas as hipocrisias: o silêncio autoimposto, ou medroso, da mordaça secular. 

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    PS: Parece que até mesmo a Editora Fiel se sentiu "amordaçada" secularmente, ao esgotar a primeira edição e não republicar o livro, que se encontra fora de catálogo. 


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Avaliação: (***)

Título: A Jornada no Império - Vida e Obra do Dr. Kalley no Brasil

Editora: Fiel

Páginas: 256

Sinopse: 

"Jornada no Império retrata a vida de um médico que ousou desafiar os poderosos de uma época, colocando em risco a sua própria vida, por amor ao Senhor Jesus e às almas perdidas. 
Uma das mais desafiadoras e emocionantes biografias missionárias, que narra os esforços do escocês Dr. Robert Kalley, que, em meio a perseguições e dificuldades aparentemente intransponíveis, pregava ousadamente a palavra de Deus nas ruas ensolaradas da Ilha da Madeira e depois, no Rio de Janeiro.
Volte ao tempo do Brasil império e acompanhe a jornada do Dr. Robert Kalley. Veja um pouco do quadro da perseguição ao avanço no Evangelho na época do império português e o nascimento da igreja evangélica brasileira em meio às provações e sofrimentos do evangelismo em países tomados pela idolatria."





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